quinta-feira, 9 de julho de 2009

Zoroastro, Buda e Cristo

Zoroastro, Buda e Cristo

por Jorge Bertolaso Stella (*) -- 1971
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Apresentação


ZOROASTRO, BUDA E CRISTO

Apresento apenas um apanhado ligeiro de cada uma destas religiões.

Como existem certas semelhanças entre elas resolvi enfeixá-las em um só volume.

Essas semelhanças e suas diferenças observam-se de modo particular no último dos três estudos: «O cristianismo e as outras religiões».
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ZOROASTRO

Zoroastro foi um antigo profeta do Irã. Personagem histórico, afirmado por tôda a antiguidade clássica, viveu provavelmente entre o VI e o VII século antes de Cristo.
A significação do seu nome é variadíssima. Zoroastro é do Avesta Zarathustra. Dizem ter o sentido de «o proprietário de velhos camelos», «amigo do fogo», «banhado de ouro», «prata derretida», «esplendor de ouro», «estrêla de ouro», etc. É chamado também «Zarathustra Spitama» e algumas vêzes somente «Spitama».

O título «Spitama» é a designação de família e o nome é oriundo de um ancestral do profeta, um herói epônimo do clã. A derivação dêste patronímico «Spitama», usado como um apelativo, é evidentemente do Avesta, raiz, spit -- «ser branco» e a designação é provavelmente «descendente da alvura».

Muito se tem escrito sobre Zoroastro e há quem duvide da sua existência.
As Gâthâs, que constituem os documentos mais antigos e autorizados, apresentam, no entanto, traços tão vivos a respeito dêle que não é lícito considerá-lo um mito. Sua existência é inegável, embora seja cercada de fatos legendários.

As opiniões variam quanto à época do seu aparecimento. Uns o colocam em tempos mais recentes, outros emprestam-lhe uma antiguidade fabulosa. É assim que Hermippo assinala o seu aparecimento cinco mil anos antes da guerra de Tróia; Aristóteles no terceiro século a.C. e Eudoxo seis mil anos antes de Platão.(1)

O Bûndahîsh (nono século da era cristã), que derivava grande parte o seu material dos livros do Avesta, que mais tarde

(1) Pizzi, Zarathustra, pág. 49.

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se extraviaram, afirma que Zoroastro iniciou o seu ministério profético 258 anos antes de Alexandre Magno.

Interessante é o estudo que Messina fêz do termo «mago», para provar a época em que Zoroastro viveu.

Ermodoro, Theopompo e Aristóteles, afirmam que a doutrina dos magos é constituída de pontos fundamentais do ensino de Zoroastro e os mesmos autores dizem serem os magos discípulos dêsse iluminado e chamam-no o primeiro mago e o iniciador da sua escola.

Além disso o nome que se encontra nas Gâthâs magavan e no Avesta posterior moghu -- e no antigo persa magu -- não apresenta senão um composto adjetival, com dois diversos sufixos, do nome maga e tem o significado de «participante do dom». Que, enfim, sob o termo maga (dom), seja compreendida a doutrina de Zoroastro, que é considerada dom de Ahuramazdah é evidente pela análise dos passos nas Gâthâs, em que tal substantivo se encontra «participante do dom» não é pois outra coisa senão participante da doutrina de Zoroastro, isto é, ser seu discípulo. Ora, os discípulos de Zoroastro, são mencionados no século VII a. C. e a isto se deve acrescentar a data de Xanthos, testemunha de grande valor pelas suas relações com os Mazdeus, o qual dá a época de Zoroastro como sendo 600 anos antes da campanha de Xerxes contra os gregos (480 a.C.), isto é, no século V a. C.

Um fato em abono à antiguidade do Zoroastrismo está em se ter descoberto num dos papiros que se relacionam à colônia militar judaica residente na ilha Elefantina no Egito, um certo Arsana -- governador, ou sátrapa do Egito, na segunda metade do século V, na época da ocupação persa sob Dario II, que (424-405) é chamado mazdayasma, isto é, «mazdeista», própriamente «adorador de Mazda». Mazdayasma é no Avesta o termo técnico para designar os seguidores da boa religião, a de Zarathustra.
Isto mostra a antiguidade de Zoroastro .(2)

(2) Turchi, Storia delle Religioni, volume 1, pág. 435.

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Quanto ao local de origem de Zoroastro é assunto complexo. Uns fazem-no rei da Bactriana, outros, rei dos Medas, a tradição dos pársis coloca na Média o local de nascimento de Zoroastro; na Média propriamente não, mas, precisamente na região de Ragha (Ragae, Rai), (não longe de Teheran), ou antes na Média Atropatene (região de Urnia), onde, perto do rio Draga (Darga), teria sido a residência dos Pitamas até Porusaspa, Tourushapa (Torush-aspa-poluippos) o pai de Zoroastro.

Segundo uma tradição mais recente, no oriente, afirma-se que Zoroastro morreu aos 77 anos em Bakhdi, isto é, Bactrae, por ocasião de uma guerra religiosa, provocada pelo rei dos infiéis, Argataspa.

Um modo de conciliar essas opostas tradições consistiria em supor que ele fosse nascido na Média, mas não tendo encontrado em sua pátria o acolhimento que seria de se esperar, como aconteceu com quase todos os outros profetas, emigrou para a Bactriana, onde pôde realizar sua obra. Outros tentam resolver o problema admitindo vários indivíduos com o nome de Zoroastro.

Das Gâthâs se depreende que o sucesso de Zoroastro foi em parte devido ao rei Vislitasp que se convertera à sua doutrina. Outros seus protetores foram o sábio Jamaspa e seu irmão Frashaosthra. Zoroastro casou-se com Avovi, filha dêste último e deu em casamento a Jamaspa sua própria filha Pourucista, oriunda de outro matrimônio.

Dentre os primeiros convertidos de sua família cujos nomes são mencionados, figura seu sobrinho e primeiro apóstolo Maidyoi-Maonha. Um convertido de origem turânica, Fryana, é alvo de grande consideração por parte do profeta, dada a sua piedade e generosidade.

A tradição coloriu muitos fatos e a lenda envolveu Zoroastro. Atribuiu-se-lhe nascimento miraculoso e que ele tenha operado milagres vários. Sua vida juvenil foi uma constante luta contra os poderes maléficos.

Aos vinte anos retirou-se do mundo para se entregar a meditação. Um espírito, Vohu Mano, o levou perante a divindade suprema, Ahuramazda, que lhe fêz a revelação e. colocou em suas

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próprias mãos o livro sagrado, o Avesta. Ahura Mazda ao chamar Zoroastro para sua missão, o constituiu «Pastor dos Pobres».

Aos trinta anos começou sua vida pública. Quando Zoroastro voltava à Terra, o espírito malígno, sabendo que, com a revelação da lei suprema, recebida de Deus, salvaria o mundo, procurou com violência assaltá-lo, com a mentira, prometendo-lhe o domínio, procurando desviá-lo do seu propósito. Tudo porém em vão. O profeta venceu a tentação. A tentação que o Vendidâd narra a respeito de Zoroastro se parece muito com a de Jesus.

A biografia legendária de Zoroastro encontra-se no Zerdusht Nameh. Afirma-se que o profeta morreu aos 77 anos, assassinado por um sacerdote da velha religião; segundo alguns, massacrado com os sacerdotes do templo, enquanto estava perante o altar do fogo, pelas hordas tirânicas de Arjasp. Na tomada de Balkh, afirma ao contrário o Shah Namek.

Ao concluir êste capítulo, queremos trazer algumas considerações do Prof. T. Pizzi, em torno de Zoroastro. Na sua opinião é quase certo que Zoroastro é oriundo de uma região que ficava ao ocidente do Irã ou pelo menos da parte mais ocidental, junto do lago Urmia, isto é, de uma região irânica mais próxima dos povos semitas, se não é, como alguns já pensam, oriundo de um país semítico. Isto estaria nas linhas da sua doutrina monoteísta, pois pregavam os profetas hebreus, justamente na época em que se supõe que viveu Zoroastro.

Não teria sido ele um semita que foi pregar no país irânico procurando impor a doutrina monoteísta do seu país?

Acresce que a etimologia do nome Zarathustra não encontra explicação plausível nas línguas irânicas antigas ou modernas e tem uma fisionomia de língua estrangeira. Resta encontrar alguma explicação nas línguas semíticas. Outro fato a tomar em consideração, é o modo como a tradição o apresenta, não só como sendo um reformador, mas também como alguém que, havendo recebido da Divindade o alto ofício de pregar a um povo uma nova doutrina até a morte, cumpriu tal dever. Assemelha-se ele aos profetas reformadores ou legisladores semitas e distingue-se

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dos legisladores ou reformadores de religião não semita. Os não semitas não são mensageiros de divindade alguma, se bem que preguem em nome da divindade. Um caso interessante é o de Buda que pregava a sua religião, ou antes, filosofia, que era atéia. Buda é o tipo do reformador ou legislador ariano ou Indo-Europeu, enquanto que Zoroastro é legislador e reformador do tipo semítico, isto é, do tipo de Moisés e de Samuel, de Isaías e de Jeremias, entre os hebreus. Tudo faz crer que Zoroastro possuisse algo de semita.

É interessante observar que há uma tradição muçulmana que o considera discípulo de Jeremias, que viveu no século VI a.C., sendo portanto, contemporâneo dêste profeta. Que Zoroastro seja identificado com êsse vulto do Velho Testamento é matéria que teremos ocasião de apreciar mais adiante.

AVESTA E ZEND-AVESTA

Várias tentativas foram feitas no sentido de esclarecer a origem e o significado do termo Avesta. Damos apenas algumas mais prováveis.

Oppert, tendo encontrado nas inscrições de Dario a forma antiga e o sentido da palavra Avesta: «aparity âbastâm upariyâyani» -- «eu governo segundo a lei», deduziu que a palavra persa «âbastâ» ou «abashtâm» deve significar a lei. Dá, portanto, à Vesta, o sentido de lei.

Porém, Jackson, visitando em 1903 e examinando a rocha de Behistam em que se encontra a célebre inscrição e o termo que estamos procurando conhecer, julgou ter lido «ârasta» - que quer dizer caminho reto (estrada direita, caminho do bem). Veio assim confirmar as conjecturas de Foy, encontrando ao que parece o verdadeiro sentido do termo.

As inscrições de Behistûn são sobremaneira interessantes. No antigo confim Médio, não longe da moderna cidade de Kermanshah, surge um monte chamado Behistûn, muito escarpado, acima do plano que circunda, de pouco mais de 1.000 metros.

Na rocha, a 180 metros da base, podem-se divisar as inscrições mais curiosas que têm resistido as injúrias do tempo.

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A superfície da rocha foi polida para receber aquelas inscrições e as lacunas que se apresentavam pelas irregularidades naturais foram preenchidas com pedras, unidas e niveladas com tanto cuidado que é difícil perceber as linhas de conjunção. Sobre esta superfície e na antiga escritura cuneiforme, encontram-se os admiráveis testemunhos de Dario.(1) E se algumas sílabas ou palavras foram mutiladas pelas estações das chuvas, podem ser restauradas com facilidade, recorrendo-se aos lugares onde as mesmas sentenças são repetidas e ainda conservam-se intactas. (2)

Messina tem outra opinião. A palavra Avesta significa provavelmente o texto fundamental (upa-stâ) em oposição à versão ou comentário que era chamado Zand. Juntos se costuma chamar Avesta e Zenda, daí o inglês Hyde e o francês Anquetil Duperron formarem Zendavesta, e com o nome Zend indicarem a língua do Avesta, pensando que Zend se referisse a língua.

Como se vê, Zand (Zend literalmente «conhecimento»), significa comentário e não língua. Zendavesta significa própriamente o «Avesta e o seu comentário» ou explicação. Zend não designa portanto nem um texto, nem uma língua.

Em rigor poder-se-ia empregar para designar o texto pehlvi, mas nunca o texto Avesta e muito menos sua língua.

A PÁTRIA E ÉPOCA DO AVESTA

Tarefa árdua é provar onde foi escrito o Avesta. O Avesta menciona muitas regiões do clã oriental e ocidental. Parece, porém, que prevalece o conhecimento da parte oriental. Sucede entretanto, que grande parte dos nomes, das regiões, dos países, das águas, que se lê no Avesta, são de natureza mítica e fabulosa. É assim que ninguém, por exemplo, saberá dizer em que parte do mundo se encontra o monte Haraberezaiti, que circunda a terra ou o lago Kansava, do qual virá o Salvador no fim dos tempos.

Pensava-se, com maior probabilidade que a Pátria do Avesta fosse no Iran ocidental e propriamente na Média.

(1) Mills, Avesta, Oxford, 1914, pág. 8.

(2) Mills, Avesta, Oxford, 1914, pág. 20.

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Ao tratar de Zoroastro tivemos, até certo ponto, ocasião de referir-nos à época em que o Avesta foi escrito. Vejamos agora alguma coisa mais particular sobre o assunto.

O professor Geldner, que se prende o mais possível à tradição mazdea, sustenta que as partes mais antigas do Avesta remontam à época de Zoroastro mesmo, e devem ser do século VI a. C.

O professor Bartholomae e o seu discípulo Reicheld admitem a composição das Gâthâs, anterior ao século VII a.C., enquanto que o prof. MilIs está disposto a dar a época de 1000 ou 1200 a. C.

As razões que levam a crer que as partes mais antigas do Avesta não são posteriores ao século VI a.C., são resumidas por Carnoy como seguem: 1) o testemunho da literatura grega prova a existência de uma literatura religiosa na Pérsia de época antiga. Heródoto fala de uma teogonia ou genealogia dos deuses, que os Magos recitavam por ocasião do sacrifício. Hermippo de Esmirna do III século a.C. faz referência aos escritos de Zoroastro. As mesmas referências fazem Nicola de Damasco e Dione Crisostorno; 2) a tradição pehlvi é unânime em falar de um Avesta escrito 300 anos antes de Alexandre, que mandara queimar a cópia oficial; 3) não é possível que o Avesta fosse escrito durante o reinado dos Sassânidas, em uma língua há muito extinta. Isso é comprovado pelo fato de que se sentiu naquela época a necessidade de uma tradução pehlvi e de longos comentários que tornassem inteligível um texto que não se compreendia mais, como provam os numerosos erros de tradução. O prof. Geldner demonstrou que os redatores do Vendidâd ignoravam a estrutura métrica dos textos que colecionavam.

A língua do Avesta representa um estado da língua irânica, tão distante do pehlvi quanto o latim do francês.

Nas moedas dos reis indo-citas do primeiro e segundo séculos da era cristã, os nomes reais ocorrem já em forma pehlvi inteiramente modificados. Semelhante transformação dêsse caráter pressupõe que hajam decorridos vários séculos. Não há dúvida que o dialeto avéstico poderia ter sido escrito como língua morta,

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também numa época em que como língua falada se usava apenas o médio persiano, porém, isto se compreendia somente se naquela língua existisse uma copiosa literatura religiosa, cuja origem dever-se-ia procurar nos tempos em que o avéstico era falado, isto é, numa época não muito distante daquela dos primeiros reis Acherminides, porque êstes reis usavam nas suas inscrições um dialeto bastante afim ao avéstico.

A evolução religiosa, menos do que da língua, pode efetuar-se de um momento para outro. O nome do deus é, para Dario, Auramazdá, enquanto que nas Gâthâs, não somente os dois nomes Ahura e Mazdah aparecem separados, mas em regra se encontram na ordem inversa e freqüentemente se encontram em um só nome. Vohu Manah e Khstra são dois conceitos das Gâthâs e aparecem como abstração apenas personificadas, porém o primeiro em Estrabão e já deus Uranós e a sua fisionomia é extraordinàriamente modificada. O segundo se encontra no primeiro século, como um nome pessoal, sobre as moedas indo-citas, porém na forma fixa é apenas reconhecível de Saorêvas (pehlvi Shahrevar).

Há opiniões diametralmente opostas a estas.

Darmesteter em sua obra clássica sustenta que o Avesta foi completamente destruido no período alexandrino e que a restauração mazdea deu ocasião a compilar um livro novo no qual a sobrevivência das idéias antigas foram recolhidas em uma espécie de filosofia religiosa grandemente influenciada pelo gnoticismo e platonismo. Os argumentos em favor da opinião de Darmesteter são os seguintes:

1) Os historiadores árabes referem-se à parte importante que houve na restauração religiosa, sob Ardashêr, efetivada pelo sacerdote lansar e o definem um «platônico».

2) No Avesta encontram-se alusões a acontecimentos muito recentes, como o reino de Alexandre, o budismo, os árabes.

3) Os escritores gregos e as inscrições dos Acheminides apresentam a religião persa como um culto muito elementar da natureza.

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4) As Gâthâs falam constantemente de um reino cuja vinda é esperada pelos fiéis; este conceito chama à nossa mente o judaico do reino de Deus. É provável que essa idéia tivesse sido adotada dos livros hebraicos, nas Gâthâs.

5) O conceito gathico de Vohu Manach chama a atenção às idéias do LOGOS neoplatônico, especialmente como é apresentado no sistema do judeu alexandrino Filão.

6) Em regra se afirma que o sistema gathico é muito abstrato e filosófico para ser antigo, e o padre Lagrange diz que supô-lo antigo é supor o desenvolvimento da filosofia antes dos gregos.

O campo ainda está aberto e não se pode assegurar com certeza a época em que foi escrito.

Uma coisa é certa, porém; o livro contém partes de diversas épocas, das quais algumas podem ser antiquíssimas, outras relativamente modernas.

HISTÓRIA DA TRADUÇÃO DO AVESTA

Os escritores latinos e também do medievo, davam notícias, embora incertas e confusas, de livros de Zoroastro, mas, ninguém, sabia dizer ao certo onde estavam, se existiam, e quais eram.

Nas bibliotecas da Europa e particularmente nas de Copenhague, de Oxford e de Paris, viam-se manuscritos do Avesta, mas ninguém sabia lê-los e se realmente eram verdadeiros. Assim chegou-se até o século XVIII quando um jovem francês veio mudar o curso das coisas com o seu exemplo abnegado em prol da ciência. Trata-se de Abraão Jacinto Anquetil Duperron.

Em 1734, com vinte anos de idade e aluno da Escola de Línguas Orientais, viu ele , por acaso, em casa do orientalista Leroux Deshanteroyes, quatro folhas calcadas sobre o Vendidâd d'Oxford, que haviam sido enviadas alguns anos antes a Etienne Fourmont, tio e mestre de Deshanteroyes.

Estas folhas decidiram sua vocação e resolveu dar à França os livros de Zoroastro e a primeira tradução dêsses livros.

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Para realizar seu intento enfrentou duras vicissitudes. Ingressou como simples soldado no serviço da Companhia das Índias, já que não podia esperar auxílio da Acadêmia das Inscrições. Embarcou dia 24 de fevereiro de 1755 em Lorient levando consigo uma Bíblia e um Montagne. Após três anos de aventuras e travessias de toda a sorte, chegou a 20 de abril de 1758 a Surate, que deveria ser, durante três anos, o centro de suas pesquisas. Depois de ter passado cêrca de 10 anos na Índia, em que se fêz discípulo de um sacerdote de Zoroastro chamado Durab, e sob sua direção traduziu o Avesta, regressou à França, tendo publicado a primeira tradução do Avesta com o seguinte título: «Zendavesta, ouvrage de Zoroastro, contenant lés Idées theologiques, physiques e morales de ce legislateur, lés cerimonies du cult religieus qu'il a etabli et plusierus traísts importants relatif a rancienne histoire des Perses» -- 3 volumes, Paris, 1771.

Sua obra continha, porém, defeitos sérios. Em primeiro lugar relacionava-se ao texto do Avesta e não se sabe se pelo engano do mestre ou por outro motivo ignorado, sua tradução foi baseada na versão pehlvica, pouco segura. Em segundo lugar a ignorância das coisas concernentes ao Avesta, de sua parte e por parte de Durab, vazio de conhecimentos como tantos outros seus correligionários.

A publicação de Anquetil trouxe grande celeuma e crítica amarga da parte de W. Jones.
O célebre filólogo Rash, já pelo ano 1820, pensou em decifrar o verdadeiro texto do Avesta, em vista da versão pehlvica ter-se mostrado insuficiente. Serviu-se dos manuscritos da biblioteca de Copenhague. Seus trabalhos assinalam o princípio de uma verdadeira pesquisa racional.

Esta foi sàbiamente trilhada pelo genial filólogo Eugênio Bournouf, que entre 1833 e 1835 publicou sua obra com o seguinte título: «Comenter sur le laçna, l'un des livres religieux de Perses, ouvrage contenant le text Zend expliqués pour Ia primeire fois, lés variantes des quatre manuscrit inedit de Mériosengh».

Serviu-se para decifrar a língua ignorada da comparação do persa e do sânscrito.
Bournouf aceitava, porém, a tradução dos

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Pársis e serviu-se também, mas com cautela, da versão pehlvica, sobre a qual Anquetil fizera o seu trabalho. Teve discípulos e seguidores como Spiegel, Justi, De Harlez, Geiger, que nas pegadas do mestre muito fizeram na interpretação e esclarecimento do Avesta.

Bournouf criou a filologia do Avesta e foi fundador da escola que é chamada tradicional porque, interpretando o Avesta, baseava-se em grande parte na tradição, naquilo em que ela pudesse ser auxílio apreciável. Surgiram sanscritólogos como Benfey e Roth. Esta escola entendia que o texto do Avesta devia ser explicado somente com o auxílio do sânscrito, repudiando inteiramente toda a tradição. Confrontando, pois, a língua do Avesta com a dos Vedas, à força de etimologias e derivações, tentavam fazer a tradução do Avesta. Desde o princípio dos estudos zendas, Bournouf tinha reconhecido que uma parte do Avesta, as Gâthâs, eram escritas em versos, porém sem determinar em que métrica era ela composta. Westphal com rara sagacidade, traçou as principais leis da métrica das Gâthâs. As pesquisas nessa direção foram continuadas com grande êxito por Carlos Gedner que em 1877 publicou um trabalho de grande mérito, relativamente à métrica do Avesta, trazendo esclarecimentos de valor excepcional.

Além de muitos outros, lembramos Darmesteter, que publicou de 1892 a 1893 «Le Zen Avesta - Traduction Nouvelle avec Comentaire Historique e Philologique».

Esta obra é uma das mais preciosas sôbre o assunto e com muita propriedade Messina disse ser «uma mina de informações».

O AVESTA, ÉPOCA DE SUA COMPOSIÇÃO E O CÂNON

O texto do Avesta foi conservado durante vários séculos, unicamente por tradição oral.(1)

O Avesta, livro de orações(2) é monumento literário e religioso dos mais importantes da antiguidade. Código sagrado,

(1) Garcia Ayuso F., Los pueblos Iranios, Zoroastro, Madrid 1874, pág. XVIIII.
(2) Henry V., Le parcisme, pág. 150.

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revela o saber daqueles tempos remotos, compreendendo a moral e a religião, a ciencia médica e a jurídica, além dos cantos à Divindade, os hinos de natureza entre a épica e a lírica(1), as invocações e as súplicas rituais do culto.

O Avesta não é um livro orgânico, não é obra de um só autor, mas é a reunião de fragmentos de mais obras que se extraviaram. Êste livro, dada a natureza das partes que o compõem, interessa ao filósofo e ao teólogo como código sagrado de uma das religiões mais elevadas da antiguidade, interessa ao historiador, ao literato, ao poeta, na parte que se refere à vida e aos costumes, e as idéias que se referem a gente que viveu em época remota. (4) Interessa ao filólogo, pois o estudo das Gâthâs, é um dos mais árduos problemas da filologia irânica, senão de toda a filologia. (5)
A tradição nacional atribui o Avesta a Zoroastro. Para ela Zoroastro é o autor da obra, ou melhor, o livro foi a ele revelado pelo próprio Ahura Mazda, o criador do mundo e de tudo o que há de bom no mundo. Supõe-se entretanto e com algum fundamento, que de Zoroastro são oriundas as Gâthâs, os primeiros e mais vetustos hinos que anunciam uma doutrina elevada, monoteísta. As outras partes do Avesta são oriundas primeiramente dos seus discípulos e depois dos continuadores, nos séculos seguintes, que souberam converter em dualista a sua doutrina monoteísta, tornando-a de acordo com os conceitos religiosos naturalísticos do grosso da nação.(6)

Segundo a tradição dos pársis Kavi Vishtâspa, o protetor de Zarathustra, ou o seu ministro Giamaspa, escreveu sobre 12. 000 peles de boi em caracteres de ouro o Avesta e o comentário (Zand), tendo-o colocado no tesouro real de Shiz, enquanto que, uma cópia do mesmo foi remetida para os arquivos de Stachr (Persepolis). (7)
Antes que Alexandre Magno entrasse na Ásia, existia já formada a ampla coleção dos livros do Avesta. Depois de Ale-

(3) Pizzi L, Zarathustra, pág. 31-32.
(4) Pizzil., Zarathustra, pág. 11.
(5) Messina, Storia delle Religione, V. 1, pág. 293.
(6) Pizzi L, Zarathustra, pág. 37-49.
(7) Messina, Storia delle Religioni, Ventusi vol. 1, pág. 294.

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xandre foram dispersos, perdidos em grande parte e por obra criminosa do mesmo Alexandre. A primeira coleção organizada dos fragmentos que subsistiram, foi feita por ordem do rei Valklash, da dinastia dos Parthos. Uma nova coleção foi organizada no tempo do rei Ardeshir (226-24 depois de Cristo), primeiro rei dos Sassânidas, por obra do arqui-mago Tausar ou Tosar.

Outra revisão foi processada na época do rei Shahpur (240-271 depois de Cristo). Finalmente, a redação definitiva do Avesta, como chegou até nós, foi ordenada e conduzida a bom termo pelo rei Shahpur II (310-379) depois de Cristo. O rei publicou um decreto, ordenando aos súditos que reconhecessem como autêntica e canônica a última redação do Avesta ordenada por ele e executada pelo arqui-mago Azer-pad. O decreto real foi obedecido a tal ponto que ainda hoje os pársis, quando fazem a sua profissão de fé, declaram também aceitar e reconhecer o Avesta somente na forma em que o arquimago Azer-pad a apresentou. (1)

O Avesta que agora possuímos e que passou por tantas modificações, revisto e refeito muitas vêzes, não é, pois, senão o último trabalho dos redatores de mais gerações, desde o tempo do rei Vologese, aquêle de Shapur II, cujo reinado vai até 379 da era cristã. O último compositor, ou ordenador, ou redator, se quiser, foi o arqui-mago Azer-pad. Porém, observa Pizzi, (9) o critério com que o arqui-mago Azer-pad realizou a difícil e importante obra, é coisa que não se pode desvendar.

O AVESTA E OS LIVROS QUE O COMPÕEM

O Avesta que possuimos hoje é mais ou menos um quarto daquele que existiu no tempo dos Arsacides e dos Sassânidas, o qual formava uma ampla e vasta enciclopédia não somente jurídica, mas teológica, sobretudo litúrgica. O Avesta que atualmente temos, está para com o Avesta antigo, como o breviário ou passos escriturísticos do breviário estão para com a Bíblia. Não chegou, pois, completo aos nossos dias. Por exceção um

(8) Pizzi L, Zarathustra, pág. 44-45.
(9) Pizzi 1, Zarathustra, pág. 47.

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único livro chegou inteiro -- o Vendidâd -- e é por isso lido em grande estimação.

Êsse Avesta antigo a que nos referimos, compreendia vinte e uma partes, capítulos ou livros chamados Nash, ligados em três séries de sete cada uma.

O Vendidâd que chegou a nós completo, formava o capítulo ou livro dezenove.
Estas informações nos são dadas por um livro pehlvico de grande valor, do século IX da era cristã, chamado Dên-Kart, isto é, o tratado da religião, segundo o qual os livros ou partes do Avesta eram de fato em número de vinte e um.

Dos títulos de cada parte pode-se avaliar o assunto de que cuidavam. Pelos títulos percebe-se que tratam da criação, cerimonial litúrgico, do ofício sacerdotal, direito criminal, história do gênero humano, etc., formando assim um precioso tratado de todo o saber daqueles tempos.

Êsses livros eram ordenados e dispostos em três classes. A primeira era uma coleção de cantos e hinos, a terceira era tôda de natureza jurídica e a segunda, parece, ficava entre a primeira e a terceira.

Os pársis como os hebreus e outros povos essencialmente religiosos, do oriente, tinham especial cuidado em contar as palavras, as sílabas e as letras das partes mais sagradas dos seus livros revelados.

O Avesta que possuimos hoje, consta de quatro partes com os seguintes títulos: Yasma, também grafadoYaçna, Vispered, Vendîdâd, lash ou Khôsda-Avesta.

O Yasma, livro essencialmente litúrgico, que significa «adoração, oferta sacrificial, sacrifício», compreende os textos em prosa e em versos, os quais devem ser recitados durante a liturgia sacrificial, especialmente durante o preparo do haôma. É dividido em setenta e duas partes chamadas hâite ou melhor hâ. A primeira (1-27), contém as rubricas do rito juntamente com as instruções teológicas e profissão de fé zoroastriana; a segunda (28-53)

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contém as Gâthâs ou hinos do sacrifício; a terceira (54-72) louvores.
Destas três partes, a segunda é a mais antiga e a mais importante, contendo o genuino pensamento de Zarathustra: são as Gâthâs. Estas Gâthâs são unidas em cinco coleções chamadas: Ahunavaiti, Ustitavaiti, Spentâmainyêr, Vohû-Khshathra, Vahistâ-istês.

AS GÂTHÂS

Gâthâs etimológicamente significam «Cânticos», «Cantos de louvor»; são tomadas no sentido de hinos, são sermões em versos, chamados «salmos». O próprio Yaçna as chama as «santas Gâthâs».

As Gâthâs, textos em forma métrica, são a parte mais antiga, o coração do Avesta, não só pelo lado linguístico, como já vimos, mas também pelas idéias que encerram. As Gâthâs são consideradas partes do Avesta, quer citadas, quer invocadas, como a mais santa parte do livro sagrado. Sua importância é incontestável: «tôdas as obras e todas as leis que aparecem no Avesta, diz Neriosengh, Zoroastro revelou nas Gâthâs.

Êstes misteriosos poemas formam a parte mais arcaica e mais santa do Avesta.»
As Gâthâs são obscuras, não uma obscuridade de fundo, mas de forma: obscuridade de estilo. Os conceitos das Gâthâs são muito elevados.

As Gâthâs antes de serem escritas foram transmitidas provavelmente por tradição oral, não se sabendo por quanto tempo. Aliás, os Vedas, os textos sagrados da Índia, também antes de terem sido fixados pela escrita, foram transmitidos, de geração em geração, por tradição oral. As Gâthâs, no meu modo de entender, estão para o Avesta, assim como os Evangelhos estão para o Novo Testamento. Elas se transportam para os «tempos evangélicos» e «tempos apostólicos». As Gâthâs; encerram um monoteísmo muito mais avançado do que os mais elevados hinos védicos, a Varuna: Ahura Mazda não tem companheiros, nem rivais. Nenhum outro deus é denominado nas Gâthâs.

O Vendidâd (avéstico, vîdaêvo, dâtem -- «a lei contra os demônios»), dado contra os demônios, é um código ritual que

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lembra no budismo o Vinâya e muito de perto o Levítico; foi chamado o Levítico pársi.
O Vendidâd era o livro de purificação, o mais importante dos livros legais para os sacerdotes, e talvez por isso mesmo preservado. Êle se ocupa principalmente das purificações e expiações, tudo do ponto de vista indicado pelo título do livro, que em zenda é vîdaêva dâta -- «o código antidemoníaco», ou que significa «Leis anti-demoníacas», pois aquilo que é impuro é da esfera da ação dos espíritos malígnos.

Êsse livro é dividido em 22 capítulos, chamados fargard (é o único que chegou completo até os nossos dias). O livro contém prescrições higiênicas, prescrições contra a contaminação dos demônios. É um documento importante para se conhecer as idéias geográficas daqueles tempos. Trata do poder concedido por Ahura Mazda ao belo e virtuoso Yinia, filho de Vivanhant, que foi, na terra, propagador da fé e iniciador, entre os homens, da agricultura, que é muito exaltada e tida em grande consideração pelos persas. Faz também referência a um dilúvio em que se salvaram o Yinia, chamado o Noé irânico, com os homens bons, com os animais mais belos e mais fortes, em um recinto de que o próprio Ahura Mazda dera o desenho ou modêlo. Contém a tentação que sofreu Zarathustra por parte do demônio AnraMainyu, vencido, repelido por ele , que tem certa semelhança com a tentação que Cristo sofreu da parte de Satanás, como se lê nos Evangelhos -- Mateus 4:1 -11; Marcos 1:12-13; Lucas 4:143.


O Vîspered (avesta vispe tatavô -- «todos os senhores») é um livro curto, dividido em 24 capítulos, chamados Karda e contém principalmente hinos, súplicas e invocações a «todos os deuses da criação boa de Ahura Mazda». Observa-se que o Vîspered deve ser considerado não propriamente um livro à parte, mas um apêndice do Yaçna e como livro litúrgico usado em ocasiões particulares para ser recitado nas funções religiosas imediatamente depois do Yasna.

Êstes livros formam o Avesta propriamente dito ou o Grande Avesta.

Segue-se o «Pequeno Avesta» (Khordah Avesta), constituído Yasht.

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O Yasht (avéstico yashtai). A palavra yasht (zend yéshti) é da mesma raiz e tem mais ou menos, o mesmo sentido do termo yasna, cuja recitação é elemento essencial do culto consagrado aos diversos yazata (deuses inferiores ou anjos). Yasht são, pois, hinos e cânticos posteriores às Gâthâs, usados pelos laicos, em que se desenvolve amplamente tudo quanto se refere à mitologia, às tradições heróicas dos deuses avésticos de ordem inferior. Contém 21 livros, havendo entre êles, alguns hinos belíssimos, dirigidos a Mithra.

Entre os livros pehlvis que são importantes para o estudo do zoroastrismo, na época dos Sassânidas, mencionamos os seguintes:

Dênkard «atos de religião», compilados no nono século da era cristã. Contém uma vasta e preciosa coleção de particularidades sobre doutrina, costumes, tradições, história, literatura, etc., dos tempos do mazdeismo. Especialmente notável é a coleção de tradições a respeito da vida e pregação de Zoroastro.

Bûndahîsh, «princípio da criação», é uma gênesis; narra a criação do mundo, dos sêres
divinos e dos homens, o conflito entre as criaturas de Ahura Mazda e as de Ahaiman, dissertações sobre a natureza de várias criaturas e das nações, relativas à escatologia, geografia e história mística do Iran. A época de sua composição é posterior aos Sassânidas, mas o conteúdo é precioso e foi tirado dos textos mais antigos que estão em grande parte agora perdidos.

Mainyô-i-Khard, ou Maionôg-i-Khirat, ou ainda MênôKhard («a sabedoria divina») ou («espírito de sabedoria»), contém a resposta deste espírito a 62 perguntas sobre a religião, propostas por um sábio. É da época dos Sassânidas.

Arâ-Uirâf-Nâmâk (livro de Ardâ, filho de Virâf), chamado a «Divina Comédia» dos zoroastrianos. Narra a descida do sacerdote Ardâ durante a visão pelo espaço de sete dias e sete noites, nas regiões além túmulo, e descreve as penas reservadas aos maus e a recompensa preparada para os bons. Pertence à época dos Sassânidas.

Entre as obras escritas em persa, de que se podem tirar informações proveitosas, convém citar o Shâh Namâh, «livro dos Reis»,

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poema de Firdusi, fim do século X da nossa era, que conta os mitos e as lendas do povo irânico, e de tal forma que projeta luz sobre os nomes e fatos contidos, especialmente nos hinos do Pequeno Avesta. Outras fontes apreciáveis para o estudo da religião de Zoroastro, são encontradas nos escritores gregos elatinos.


A LÍNGUA DO AVESTA

O Zenda é a língua dos livros sagrados persas.

No Irã, como é natural, não se falou sempre a mesma língua. Muitas línguas, embora todas irânicas, houve, faladas e escritas.

Da língua do Avesta não se conhece bem nem o nome, nem a pátria. Há quem pense que a língua do Avesta fosse o velho bactriano, mais provavelmente o antigo meda.

Os Vedas e o Avesta tinham, em sua origem, uma língua comum.

O Prof. Oldenberg afirmou, no seu livro «A Religião Vêdica», que a língua dos velhos hinos védicos se aproxima das partes do Avesta, mais do que aquêles do Mahâbhârata. Daí a expressão de Mills: «Veda é Avesta e Avesta é Veda.'^'

Várias opiniões surgem quanto à afinidade entre o avéstico e o agfan moderno, a língua dos assete (cáucaso), margiana e sogdiana.

Foi chamada na Inglaterra e na França, impropriamente zend, denominação erronea porque a palavra não designa uma língua, enquanto que na Alemanha e em outros lugares preferem chamá-la avéstica, nome do livro em que foi escrita.

Não há dúvida que essa língua pertença à parte do norte do Irã, enquanto que a parte sul pertence a língua das inscrições de Ciro, Dario e Xerxes, que é o persa antigo, estreitamente afim ao sânscrito da Índia antiga e muito mas afim ainda à língua avéstica ou irmã, não porém a mesma como alguns erroneamente pensavam.

A êste mesmo ramo meridional pertence também a língua pehlvica ou «língua dos Parthes», para a qual foi traduzido o

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Avesta no tempo dos Sassânidas, e que é a língua de todo o medoevo irânico, desde o III ou VII e VIII séculos da era cristã. É uma língua muito singular porque usa palavras de origem aramaica ou siríaca, que o leitor deve ler com os correspondentes irânicos. A outra língua chamada comumente pársi ou parzend parece ser a mesma pehlvica, vazia de palavras estrangeiras. O neopersiano, que vai do ano 1.000 até os nossos dias, em conseqüência da conquista dos persas pelos árabes, é misto de termos árabes.

As Gâthâs, que constituem a parte mais arcaica, o núcleo primitivo do Avesta e encarnam o pensamento genuíno de Zoroastro, são compostas em uma língua ou dialeto afim, mas não se lhe conhece a pátria.

A língua é arcaica tanto na fonética como na formação das palavras e da sintaxe, ela contém formas e palavras que desapareceram do zend vulgar e não se encontram mais, senão na língua védica. Dado o fato de que algumas partes do Avesta são também de época relativamente recente, nada impede de supor-se que, cessado o uso da língua avéstica em uma época que sabemos determinar, fosse utilizada, como língua douta ou língua sagrada pela casta dos magos da Média, do mesmo modo como a língua latina e a sânscrita foram utilizadas pelos sábios e sacerdotes quando já há muito não eram mais faladas.

As Gâthâs, com sua forma tão concisa e abstrata, oferecem no campo da interpretação, um dos mais árduos problemas de filologia irânica, senão o mais difícil de toda a filologia, diz Messina.

O AVESTA E A BÍBLIA

Darmesteter na sua obra clássica, apresenta analogias ou semelhanças entre o Avesta e a Bíblia:(1)

1. O Avesta tem 21 Nask (livros, partes, capítulos) em três séries: Dâta ou Lei, Gâthâ ou Metafísica, Hadhamâthra ou assun-

(1) Darmesteter - Le Zend Avesta, vol. III, LVII-LIX.

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tos mistos, isto é, a classificação do Antigo Testamento. As Dâta correspondem à Thora, a Lei; as Gâthâs aos Nebiim ou Profetas; as HadhaMâtra aos Ketubin ou Escritos diversos.

2. O Pentateuco e o Avesta são os dois únicos livros religiosos conhecidos em que a legislação vem do céu, numa série de relações entre o legislador e o seu deus: «Jeová diz a Moisés» -- «Ahura Mazda diz a Spitama Zarathustra». Um e outro livro tem por objeto a história da criação e da humanidade, e na humanidade a raça superior, e nessa raça a religião verdadeira. Ambos êsses livros têm por objeto revelar aos fiéis todas as regras da vida. Eis algumas concordâncias que mostram esta unidade de planos:

I - Criação do mundo: 1) Jeová criou o mundo em seis dias; criou sucessivamente a luz, o céu, o mar, a terra e as plantas, os luminares do céu, os animais e o homem.
2) Ahura Mazda criou o mundo em seis períodos: criou sucessivamente o céu, a água, a terra, os luminares do céu, os animais, as plantas, o homem.

II - Criação do homem: 1) A humanidade no Gênesis, descende toda de um só casal, homem e mulher, Adão e Eva. A palavra Adão, significa homem. 2) A humanidade no Avesta descende toda de um só casal, homem e mulher, Mashya e Masliyâna. O termo Mashya significa homem. O pecado começou na terra com o primeiro homem, com Adão no Gênesis, com Mashya no Avesta.

III - O dilúvio: 1) Jeová destruiu a humanidade pecadora, mas salvou Noé com sua família e casais de animais, protegendo-os dentro da arca que o Senhor mandara construir. 2) Ahura, por intermédio do rei Yima, salvou um casal de animais, de plantas e espécimes mais belos dos homens, do grande cataclisma.

IV - Divisão da terra: 1) Noé teve três filhos, Sen, Can e Jafet, ancestrais de três raças que dividiriam o mundo entre si. Thraêtaona, sucessor e vingador de Yima Khshâeta, teve três filhos: Airya, Sairiina e Tura, entre os quais se divide o mundo. Airya recebe o Iran, centro da terra, Sairiina recebe o Ocidente e Tura recebe o Oriente.

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V - A revelação: 1) Zoroastro fala com Ahura, na montanha das santas revelações, como Moisés fala com Jeová no Monte Sinai. Moisés não foi o primeiro a receber os favores divinos. Um primeiro pacto tinha sido feito com Noé. Assim Zoroastro não recebeu a revelação senão na modesta recusa do Noé iraniano, Yina Khashaêta. Moisés tinha sido precedido e anunciado por três patriarcas, Abrão, Isac e Jacó. Assim o aparecimento de Zoroastro foi precedido e anunciado pelo aparecimento de três precursores no culto: Vîvanhâo, o irmão de Yina, Athroya pai de Thraêtaoha, Thrita, pai de Urvâkhshaya e de Keresâspa.

No Êxodo se diz que o Deus de Israel se charnava Yahveh, que quer dizer o Ser, isto é, o Ser Supremo, o Ser por excelência, o único Ser. No Avesta o nome de Deus supremo - Ahura, significa Ser.

O monoteísmo entre os dois livros é tal, que revela um encontro insofismável. Há quem afirme que Zarathustra «patriarca» dos iranianos, encontrou-se com Abrão, patriarca tios hebreus, em Haran, estando Haran a etapa no caminho de Ur para a Palestina (Geri. 11:31-32) precisamente A (i) vyana vaega do Avesta.

Muito se tem escrito, mostrando as relações entre Zoroastro e os profetas do Velho Testamento. Uns o fazem discípulo de Jeremias, outros o identificam com Ezequiel, com Baruque, com Elias, etc. Também tem-se procurado mostrar o encontro entre o cristianismo e a doutrina do Avesta. A pergunta surge naturalmente: qual dos dois livros ou religião foi a originária? Foi, em outras palavras, o Avesta quem tirou êsses fatos da Bíblia ou a Bíblia do Avesta? As correntes são várias e o problema é árduo.

No pensar de Darmetester a Bíblia é a fonte originária. Se há semelhança, há também profundas diferenças.

O messianismo, mais naturalmente, ter-se-ia transmitido dos hebreus para os iranianos e o dualismo talvez mais naturalmente, passou dos iranianos aos hebreus.(2)

O campo está aberto e as pesquisas poderão trazer novas luzes sobre o assunto.

(2) MilIs L., Avesta saggi di Le.

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A RELIGIÃO DOS PERSAS OU IRANIANOS

A religião dos persas e mais genericamente iranianos, tem vários nomes, conforme o ponto de vista sob o qual é considerada.

1) O próprio Avesta a chama «religião ahuriânica», do nome Ahura Mazda; 2) chama-se mazdeismo, do nome do seu deus supremo Ahura Mazda, de quem os outros deuses são apenas as criaturas e os servos gloriosos; 3) avestaismo, do seu cânon litúrgico ou nome do seu livro sagrado o Avesta; 4) magismo do nome tão respeitado dos seus grandes sacerdotes ou sacerdócio; 5) parsismo, do nome dos seus adoradores atuais, os quais são todos senão de nacionalidade, pelos menos de origem persa, chamados pársis e que ainda hoje o praticam na Índia, fugindo da invasão política religiosa dos Árabes; 6) zoroastrinismo do seu célebre fundador Zarathustra; 7) dualismo, dadas certas particularidades da doutrina dualista.

Os persas são também impropriamente chamados os adoradores do fogo. O parsismo é também chamado «religião do fogo».

MONOTEISMO E DUALISMO NO AVESTA

A religião primitiva das estirpes irânicas devia ter sido um culto naturalístico, politeístico, afim ao védico, trazido consigo das estirpes desde a sede originária comum, até tornarem-se estirpes indo-européias.

Veio de fora uma doutrina da parte de um legislador ou profeta Zarathustra, diametralmente oposta, doutrina monoteísta, que encontrou como era natural, obstáculos sérios e forte oposição, conforme queixa-se o próprio Zoroastro.

De Zoroastro são as Gâthâs, que anunciam uma doutrina elevada, pura, monoteísta.

As outras partes do Avesta foram em primeiro lugar obras dos seus discípulos. Depois, no correr dos séculos, seus seguidores converteram em dualista a doutrina monoteísta do profeta, adaptando-a aos conceitos religiosos naturalísticos com o grosso da nação.

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É bom notar que só as Gâthâs, que encerram o pensamento genuino de Zoroastro, contém a doutrina monoteísta, compreendendo também passos que mostram admitir a doutrina dualista. Imagina-se que Zoroastro considerando que no indivíduo são inatas duas inclinações diversas, opostas entre si, uma voltada para o bem e outra para o mal, e que uma e outra são consideradas e tratadas como dois espíritos diversos, contrários entre si, dos quais procedem as ações do homem: as boas procedem do bom espírito -- Ahura Mazda, as más do mau espírito -- Anra Mainyu.

Do conceito dêsses dois espíritos surgiu o dualismo: o princípio do bem e o princípio do mal. O mundo interior do indivíduo foi transportado para o mundo exterior.

A reforma de Zoroastro foi a reforma da religião precedente. Foi uma doutrina nova que constituiu sobre um fundo antigo. Novo foi o espírito, novo em parte também o conteúdo, mas por outro lado antigo, transmitido de tempos imemoriais. Zoroastro mesmo compreende sua obra como um aperfeiçoador. . . Há uma certa semelhança com a obra de Jesus, que não veio destruir, mas cumprir, espiritualizar, reformar, Mateus 5:17. A idéia central da reforma foi o monoteismo. O dualismo não é a negação do monoteísmo. É o mesmo monoteísmo em dois aspectos opostos e contrários.

TEOLOGIA DO AVESTA

A teologia avéstica estabelece e reconhece duas hierarquias inimigas: uma celeste, tendo a frente Ahura Mazda; outra infernal, possuindo como chefe Anra Mainyu.

A primeira compõe-se de sete Amesha Spenta ou Imsaspandi, isto é, dos sete santos imortais, e entre êles está compreendido, por sua vez, o próprio Ahura Mazda e uma infinita plêiade de gênios, designados no Avesta com o nome de Yazata, que significa os veneráveis.

A segunda compõe-se de Anra Mainyu mesmo, e de infinitos sêres maus e essencialmente réus, de demônios, que se chamam Daêvi ou Devi, inimigos de todo o bem, prontos sempre a contaminá-lo.

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Nesta altura convém observar que quando se compara o sistema do mazdeismo com as religiões da india, nota-se que a palavra dêva que significa «deus» em sânscrito e são divindades boas, protetoras dos homens, significa em zend «demônio», daêva. Por outro lado a palavra asura, que significa «demônio» em sânscrito, é no avesta o nome supremo da divindade - Ahura Mazda.

AHURA MAZDA E AS OUTRAS DIVINDADES

Vejamos agora algo a respeito de Ahura Mazda e das outras divindades.

Ahura Mazda é composto de Ahura «o Senhor», é um derivado de ahu, «o senhor»; Ahura tem valor genérico de «ser divino». Tem o mesmo sentido de Jeová. A outra parte é Mazdâo, Mazda ou ainda Mazdâh, «o grande sábio». Ahuramazda é fixado em um composto, significando a primeira parte «senhor» e a segunda «sábio»; daí sábio Senhor.
Nas Gâthâs o nome do deus supremo flutua entre Ahura, Mazda, Ahura Mazda e Mazda Ahura. Só mais tarde a denominação fixou-se em um composto Ahuramazda, grego Hôromazês.

Ahura Mazda o nome do Deus supremo, é pois «o Senhor, o grande sábio», em pehlvi Ahuramazd, em persa Ormazd ou Ormuzd.

Ele trás além disso doze novos nomes sagrados e vinte e dois nomes acessórios.(1)
No trecho que vamos citar do Yasna, encontramos os atributos de Ahura Mazda, o Deus Supremo. Ele é o «Criador», Ahura Mazda, resplandecente e glorioso, o maior, o melhor, o mais belo (dos sêres), o mais constante (firme) o mais sábio, o mais perfeito na forma, supremo na justiça (santidade), sábio em fazer, que dá alegria a seu bel prazer, que nos criou, nos formou, nos sustenta, ele é o espírito mais benéfico.

Ahura Mazda é «o Senhor onisciente, o espírito mais benéfico, o criador do mundo material, o Justo». Êle é «il Dio che

(1) Hume R. E., Las religiones vivas, 1931, pág. 13.

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vede tutto, ricorda tutto, é omnisciente, omnipotente, supremo, sovrano, buono, benefico, misericordioso. Egli é il creatore dei dieci Amesha Spenta, de-li Yazata, dei Paradiso, della Volta de cielo, dei sole ardente, dèlIa vita, dei vento, dell'aria, dei fuoco, dell'acqua, della terra, delle piante, degli animali, dei metali e dell'uome» (Carnoy-Storia delle Religioni, V. li, pág. 46 Firenze, 1914).

Eis outro trecho que revela as suas qualidades: «Protetor eu sou», diz Ahura Mazda, criador eu sou, conhecedor e espírito santíssimo eu sou» (Yast I, Ormazd Yasta, 12), «Eu me charno aquêle que muito vê, eu me chamo aquêle que melhor vê longe, eu me chamo aquêle que conhece, eu me chamo aquêle que melhor conhece» (Yast I, 12-13); eu me chamo aquêle que não engana, eu me chamo aquêle que é isento do engano» (Yast I, 14). O venerável Ahura Mazda, diz Zarathustra, «eu me volvo a ti como verdadeira palavra te peço, responde-me tu que sabes, infalível tu és, dotado de infalível inteligência, infalível onisciência» (Yast 12:1); «não é possível iludir Ahura, que observa tudo (Yasna 45,4). Seus atributos são os mais elevados e puros e têm muita analogia com os atributos do Ser Supremo da Bíblia.

Os santos imortais (Amesha Spenta, sendo «spenta» (bom, beneficente), depois de Ahura Mazda são Vohumanah, que se assemelha a idéia do LOGOS THEIOS DE Filão e do LOGOS de Platão, que Plutarco chama THEOS EUNOIAS, isto é, o bom Pensamento, a boa Intenção; Asa-Vahista Theo aletheias, isto é, a melhor Retidão; Ksathra vairya, theós eunomías, isto é, o mais eleito govêrno; Spenta-Armaiti, Theós sofias, a Santa Piedade, que é o Gênio feminino da terra; Hanrvata Ploútos a integridade e finalmente Ameredat, a Imortalidade.

Estes santos imortais são como anjos ou arcanjos, ministros de Ahura Mazda, que executam as suas ordens.

Multidão de espíritos santos, porém de dignidade menor, são os Yazata ou «gênios», que ocupam toda a criação espiritual e corporal. Diógenes Laércio diz, segundo julgam os persas, que todo ar está repleto dêles. Porém os principais dêsses santos são

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somente vinte e quatro. O seu ofício é executar, como anjos, as ordens de Ahura Mazda; favorecer, proteger os homens bons, defender todas as criaturas contra os assaltos de Anra Mainyu e dos seus demônios. Dividem-se em espirituais e em corporais ou terrenos, porém o senhor de todos é sempre Ahura Mazda.

Segundo, porém, a sua natureza podem ser classificados também de outra maneira. Alguns deles procedem da antiga e primitiva religião naturalística, são mesmo os antigos e primitivos deuses da nação. Outros são os resultados da especulação sacerdotal e teológica e são portanto personificações de conceitos abstratos, como também os santos imortais. À primeira fila pertencem o Fogo, as Águas, o Sol, a Luz, a Estréla Sírio, aos quais a especulação posterior, para cancelar o caráter místico, acrescentou para cada deus um Gênio custódio.

Pertencem a outra ordem, entre outros, Sraosa, que é o Gênio da obediência, Daena, o gênio da religião, Verethraghana, o genio da vitória, Rasmu, o gênio da justiça, e as Fravasi, cujo ofício é comparado ao «anjo da guarda».

1. Fogo é o primeiro dos Gênios bons. É tanto elevado e santo na consciência dos iranianos, que se afirma serem chamados impropriamente, «os adoradores do fogo». Eles ao contrário, o consideram como o melhor símbolo de Ahura Mazda, filho dêle, dígno de louvor e veneração. Tinham o cuidado de mantê-lo sempre aceso. Havia o culto do fogo, o altar do fogo e o parsismo é também chamado vulgarmente «religião do fogo».

As manifestações do Fogo são cinco, como filho de Ahura Mazda: aquêle que é oculto no seio da terra, o calor do corpo humano, aquêle que é oculto nas madeiras e em toda a matéria combustível, o relâmpago e o raio e finalmente a luz que envolve Ahura Mazda e todas as criaturas celestes. Outra epifania ou manifestação divina do Fogo é o nimbo ou auréola luminosa que circunda a cabeça dos monarcas iranianos dos tempos heróicos dos sacerdotes zoroastrianos, semelhantes à auréola dos santos da igreja Católica. O nimbo é o sinal visível da dignidade real ou majestade real.

II. As Águas são todas personificadas na deusa Ardvi Sura Anahita. Sua morada é no cimo do monte Hukairya e envia as

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águas a regar e fecundar as regiões do mundo. É também fecundadora dos sêres vivos e às mulheres que a invocam, concede um parto feliz. À par com ela há outra divindade das Águas, divindade masculina, que o Avesta chama Aparnnapat, e descendente ou o filho das Águas. É um deus misterioso. Habita no místico lago Vourukasa, em cujas águas ele protege e guarda a régia majestade, que é a auréola luminosa que cinge a fronte dos monarcas do tempo antigo.

III. O Sol é figurado no Avesta como quem guia por regiões celestes velozes cavalos, que purifica o ar, a terra, as águas, quando de manhã reponta luminoso no Oriente. É qualificado de esplêndido, de imortal e é também chamado o «olho de Ahura Mazda».
Associado a ele está Mithra, o deus da luz que alegra os céus e a terra. Como antiga divindade naturalística, ele é o Gênio salutar do tempo que vai do despontar do sol ao meio dia. Diante do sol, o que mais tarde foi identificado, aponta Mithra a manhã do mítico monte Hara-berezaiti que fica nos confins da terra, que é onde mora, onde não há nem trevas, nem noites, onde não sopra vento algum, nem quente, nem frígido. É onisciente e nada no céu e na terra passa despercebido dele. Os crisântemos, de vívida côr roxa, lhe eram consagrados.

Mithra é considerado como guardador dos pactos, dos contratos, pois Mithra significa «contrato», que os mortais conhecem entre si, fiador da justiça e da confiança reciproca e pune os transgressores. Os persas juravam em seu nome. Duas divindades estão ao seu lado: Rasmu e Sraosa, as duas personificações da justiça e da obediência. Criado por Ahura Mazda, foi feito à sua imagem e eleito por ele foi proclamado seu primeiro sacerdote. Ela tem «mil orelhas e dez mil olhos».

IV. A Luz é adorada e invocada a par do sol. A Lua contém em si, em custódia, os germes do gado, doadora também à terra, de luz e de águas que fecundam.

V. Os outros corpos celestes, segundo o Avesta, são todos dispostos ao redor de Sírio, que é o condutor. É considerado como

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o astro benéfico, chamado também magestoso, o reluzente, que dá as águas à terra e a fecunda.

VI. Sraosa é personificação da obediência a Ahura Mazda e à sua lei. O Avesta lhe dá muitos atributos, mas o mais singular é que ele é chamado a pessoa mesma da palavra divina.

Foi o primeiro a ensinar a lei divina. Protege e alimenta os pobres, guarda o mundo e acompanha Mithra pelos espaços celestes. Tôdas as manhãs, ao romper da aurora, desperta o galo para que com o seu canto expulse dos vivos que dormem o demônio do sono.

VII. Plêiade de sêres divinos muito interessante é chamada Fravasi. Cada indivíduo tem a Fravasi como o anjo da guarda, já criada desde o princípio por Ahura Mazda e residente no céu desde o princípio, sendo enviada depois à terra, ao lado da alma do indivíduo, quando ele nasce ou é concebido. Protegem e defendem as crianças no ventre das mães, contra as insídias do demônio Asto-vidotus. Combatem constantemente contra as ondas do mal. Presidem entre os homens a divisão dos bens terrenos.

VIII. Verethraghna, o gênio da vitória, que o Avesta diz ter sido criado por Ahura Mazda, invocado pelos guerreiros para conseguirem a vitória.

IX. O Haoma, haoma, hom «amarelo», (2) antiga divindade indo-irânica, é o gênero da planta que os botânicos chamam as asclépias ácida, ou então, Cynanchum vininale. Esta erva cresce nos campos Chilan, próximo de Yezd, no Mazenderan e produz flores amarelas. Das suas hastes, prepara-se, com água, uma bebida de sabor acre que o sacerdote vai bebendo enquanto recita as sagradas orações. É esta a oferta sacrificial e o uso remonta aos tempos védicos, pois, no Rig-Veda e em toda a literatura litúrgica dos Vedas, é feita frequentemente menção da bebida, chamada a soma (que é o haona irânico). Até aqui o Haoma é a bebida sacrificial.

Mas há também o branco Haoma, chamado Gaokerkna, que cresce no meio do mítico lago Vourukasa, em um lugar mis-

(2) Elaide, Storia della Religioni, pág. 301.

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terioso, protegido por um infinito número dos Fravasi e pelo peixe Kharmahi que afasta os animais nocivos. É há também o Haoma divino, o gênio da própria planta, ao qual o Avesta tributa muita honra. O Haoma, o gênio da própria planta, faz prosperar todos os seres terrenos, afasta a morte dos vivos e a quem aplica, concede saúde, prosperidade, abundância de bens, etc.


ANRA MAINYU E OUTROS SÊRES MALIGNOS

Os sêres do mal são em número infinito e em ordem hierárquica, como os do bem. Há três ordens. Ã primeira delas pertence Anra Mainyu; a segunda é constituída dos Daêvi e a terceira pelos outros sêres diabólicos e infernais.

Anra Mainyu «espírito Malígno», literalmente o «espírito destruidor», conhecido também por Ahrarman ou Ahriman. Sobre Je se acumulam todos os atributos do mal. Foi ele que pôs o veneno nas plantas e infligiu à humanidade nada menos de 4.333 espécies de enfermidades. Tem-se procurado demonstrar o seu contacto com o ser maligno de outras religiões, porém não é tarefa fácil e é assim que se relaciona com o mítico Ahir do Rigveda e talvez com o Satanás dos Hebreus.

Os Devas, com outros sêres malígnos, formam a tenebrosa milícia de Anra Mainyu.

Quando êste em um primeiro assalto contra Ahura Mazda foi derrotado, em contraposição aos sete mortais, criou sete Devi maiores do que os outros. Sete arquidevas contra os sete arcanjos. São êles: Ako-manah, Sauru Naonhaithya, Taurvi, Zairica e o sétimo é o mesmo Anra Mainyu, como o sétimo dos Santos é o próprio Ahura Mazda.

Há porém muitos outros sêres, conforme se lê no Yasna, IX. 46, que andavam sobre a terra com aspecto humano. Outro devaé Asmadeo. É o demônio malvado da ira, como indica o seu nome, da rebelião, fúria, raiva, discórdia. Seu adversário é Sraosa que o vencerá na última batalha no fim do mundo.

Araska é o demônio da igreja. Zaurva, o demônio da velhice, Azi o da avidez e da cobiça.

O demônio do sono Busyasta, que tem as mãos compridas com as quais fecha os olhos dos mortais. Êle foge de manhã

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quando o galo canta. Outro Deva é Vizareza, a qual durante três noites e três dias gira em torno do cadáver do extinto, examina a alma e ao ver que ela é pecaminosa a leva ao inferno.

Astovidatus é o demônio que separa (arranca) a alma do corpo. (Drug) engano, fraude, mentira. São sêres femininos que difundem o mal o mais que podem. Uma das principais delas é chamada Nasu, o demônio da morte, isto é, da contaminação que sai de todo o cadáver, apenas tenha exalado o último suspiro e que se apega a todos quantos tocam tal cadáver.

A Drugia Azi-Dahaka (significando Dahaka a serpente que morde), parece ser a pior que Anra Mainyu haja criado. O Avesta a descreve com três cabeças, com três faces, com seis olhos.

Há portanto, um eterno combate entre o bem e o mal na esfera moral, a eterna luta cósmica na ordem natural. Nessa batalha, com a vitória do bem, o mal é destruido e desaparece.

Começou a grande guerra desde o princípio do mundo ou das coisas, quando segundo o conceito zoroastriano, o tempo era ainda infinito. A guerra entre os dois poderes superiores foi fixada num período de 12.000 anos e êsses anos designam também a duração do mundo presente. O período de 12.000 anos foi subdividido por sua vez em quatro períodos de 3.000 anos cada um, de tal modo que no curso deles será compreendida toda a história do mundo, toda a ação do grande drama cósmico, desde * princípio da criação até a ressurreição dos mortos.

O quarto e último período dos 3.000 anos se inicia com a vida do grande reformador. Êste é o período em que atualmente está o mundo e que acabará com a ressurreição dos mortos.

Se Zoroastro viveu no século VI a.C., dos 3.000 anos, dêste último período, faltam mais ou menos 500 anos.

No fim do período dêste 3.000 anos, Anra Mainyu será aniquilado da morte, que é obra de Anra Mainyu, deverá ser restituido a êles, não podendo nunca anular um dom divino.

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O SALVADOR E A RESSURREIÇÃO DOS MORTOS

Esta batalha final e a ressurreição dos mortos estão ligadas à vinda de um tardo e póstumo filho de Zoroastro, que o Avesta denomina Saozyant, isto é, Salvador ou Reparador. Nascerá ele da jovem Eredatdedri, a qual, banhando-se em mítico lago que fica no extremo Oriente, onde está guardada a pura semente de Zarathustra, será fecundada e o dará à luz no fim dos séculos. Do oriente virá o Saisyant, coroado com doze estrêlas e o acompanharão, armados com suas armas reluzentes, os heróis da antiguidade, ressuscitados dos seus túmulos.

Esta renovação do mundo da parte do Salvador e a ressurreição, requerem o espaço de cinqüenta e sete anos. Primeiramente será ressuscitado Gayômart, o primeiro homem depois Mâshya e Mâshyoi, o primeiro casal, finalmente todos os outros homens, quer justos, quer mentirosos. Todos os justos e maus ressuscitarão onde morreram. Seus ossos serão restituidos da terra, o seu sangue da água, os seus cabelos das plantas e sua vida ao fogo aos quais foram entregues, de modo que o corpo possa reconstruir-se com os mesmos materiais de antes.

A doutrina cristã é igual a esta como se vê. Todos se reunirão sobre a face da terra e cada um verá suas próprias ações boas ou más. Nesse meio de tempo o cometa Gurz-sehr, caindo do céu, incendiará toda a terra e serão liquefeitos todos os metais e as rochas. Pela torrente de fogo passarão os homens que ressuscitaram do túmulo e daí os réus experimentarão penas terríveis, enquanto que os bons e os justos terão a impressão de terem sido emergidos numa corrente de leite tépido. Aquela corrente lavará as culpas cometidas e sairão purificados para sempre. Superada a prova, cada um reconhecerá com júbilo aspessoas que amou em vida e o esposo será reconduzido à espôsa, . espôsa, o filho ao pai, o irmão ao irmão, o amigo ao amigo, e nada mais os separará. Todos falarão uma só língua e louvarão em voz alta Ahura Mazda e os arcanjos. «Multae terricalis linguae, celestibus una».

Daí Shaoshyant sacrificará o boi Nadhayos e com a sua gordura misturada com o Haoma branco será preparada a ambrósia (hush) que será oferecida a todos os homens como alimento

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da imortalidade. Os adultos, homens e mulheres, serão restaurados à idade de quarenta anos, e as crianças à idade de quinze anos. Cada homem terá a sua própria mulher e reconhecerá a própria progênie; a vida será semelhante a deste mundo, mas não haverá mais geração.

Travar-se-á a última batalha, entre as milícias celestes e as infernais, em que Anra Mainyu perecerá com todos os seus sequases. O inferno será tirado ou purificado, os montes serão aplainados e o mundo será ampliado para dar lugar ao princípio de uma vida nova, toda íntegra e pura eternamente.

Não haverá penas eternas porque então o mal seria eterno, o que é contra o princípio do Avesta ou do Mazdeismo. Do dualismo não ficará traços. A idéia de que o mundo presente deve perecer nas chamas, o zoroastrismo a possui em comum com o cristianismo, com o Brahamanismo e com a antiga religião teutônica.

A VIDA MORAL E RELIGIOSA

Porém até que as coisas cheguem ao termo que descrevemos, o homem, na terra, durante toda a sua vida, deve facilitar e auxiliar com boas obras e vitória final de Ahura Mazda, sendo assim grato ao seu senhor e criador.

Desde o nascimento até a morte, até os funerais, as obras dos pais dele em primeiro lugar, quando ainda é criança e nada conhece do bem e do mal, e depois as suas, após a adolescência devem cooperar e aspirar êste grande fim.

Nascida a criança é lavada. No princípio a tradição atribuiu a êste banho higiênico, um sentido religioso. Os pais que não cumprem tal cerimônia terão de prestar contas um dia. Até a adolescência os pais são responsáveis pelos atos dos filhos. A criança do sexo masculino deve passar junto das donas de casa os cinco primeiros anos e somente entreter-se em coisas da sua idade. De cinco a dezessete anos ingressava no número dos jovens, quando lhe era imposto um cinto aos flancos, segundo as cerimonias prescritas no Avesta. Este cinto sagrado, que ele não devia tirar a não ser para dormir, indicava que tinha entrado

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para a comunidade dos zoroastrianos, fazendo parte dela e assumindo os deveres impostos pela religião.

Em um passo do Avesta (Vendidâd IV, 130), se diz que o homem que tem uma esposa e, no sentido moral, superior ao homem que vive celibatário e que o chefe de uma família é igualmente superior àquele que a não tem. Fazer abortar uma criança é crime.

A aspiração da moça era o matrimônio. Havia oração para lhe proporcionar um espôso. Aos 15 anos, podiam as moças se casar. É obra meritória segundo Avesta, que o casamento se efetue entre os parentes mais próximos (Yasna, XIII, 28).

Nesta altura referimo-nos à oração Ahuna Vairya, que é a oração mais santa, santíssima, entre todas as orações. É a oração mística por excelência, é um talismã. É tal o seu valor que é chamada O Pai Nosso» do zoroastrianismo. Atribui-se a ela um poder muito grande. Ahuna Vairya: Ratus ashã ât hacâ vanheush dazdâ manhnhô shyaothenanâm anheus Mazdâi khshathremcâ Ahurâi â yim dadat vâstârem. O desejo do Senhor é a regra do bem. Os bens de Vohu Manô as obras feitas neste mundo por Mazda! Êle fêz reinar Ahura, aquêle que socorre o pobre».

Zoroastro a pronunciou pela primeira vez; porém, não é conhecida a sua origem; é a palavra eterna de Ahuraniazda (Yasna, 19); é a espada mais forte com que o anjo Serosh vence os Devas; é a mais poderosa de todas as fórmulas sagradas (Yasna, 57,22), que serve para afugentar os demônios (Vend. 19,2). No vendîdâd determinam-se alguns casos em que se deve recitar esta oração; em alguns dêles, quatro vêzes, como (Vend. 10, 11, 11, 11, 18, 43) ou três ou mais até nove (Vend. 17, 6, 11, 3, 8). O maior número de vêzes deve recitar-se quando uma casa se contaminou pela presença-de um cadáver; a pessoa que o tocou deve recitá-la duzentas vêzes (Vend. 19, 22). Longas e minuciosas são as cerimônias fúnebres e tem por fim evitar que o cadáver contamine algum ser vivo, o ar, a água, o fogo, a terra. O cemitério é aberto e os cadáveres entregues às aves e aos cães que são considerados entes sagrados e de alta valia; os mais úteis aos homens possuindo alguma virtude oculta.

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É opinião entre os pársis modernos, como o foi entre os antigos, que morto o homem tomam posse do seu corpo os Devas ou demônios.

O Avesta tem poucos dogmas mas inculca nos fiéis preceitos elevados: admite a vida futura, promete a vida no fim do mundo, quando surgirão os mortos, de um Salvador; dá recompensa aos bons e castigo aos maus, que não poderá ser eterno, porque o mal virá a desaparecer, inculca uma moral elevadíssima.

O mesmo tríplice preceito de não pecar jamais por pensamentos, por obras, por palavras, (tal moral mazdeista está prêsa às três palavras, bom pensamento (coisa bem pensada), boas palavras (as coisas bem ditas), boa ação (coisas bem feitas), que se encontra também entre os preconceitos do cristianismo, reune e compreende na sua rigidez, todo e qualquer outro preceito que tenha por fim guiar o homem na terra. As maiores virtudes recomendadas eram a justiça, a beneficência, a generosidade, a piedade. A pureza também ocupa um lugar de destaque nestas palavras de Ahura Mazda: «Lá pureti est, aprés Ia naíssance, lê premier bien pour 1'homme» (Darmesteter-Zenda vest). Os persas tinham horror à mentira. É dever do indivíduo dizer sempre a verdade a todos, também aos inimigos. Dario, na sua grande inscrição de Behistún recomenda ao seu sucessor dizer sempre a verdade e punir o mentiroso: Liv Darius lê roi dèclare: O toi qui serás roí aprês moi ... punisle severement, et, si tu rignes ainsi mon pays será puissant».(1)

Entre os trabalhos, o mais santo, o mais útil, é o da agricultura, ensinada pelo próprio Ahura Mazda ao primeiro rei Yisna e de Yisna propagado como exemplo entre os primeiros mortais. Cortar uma árvore era considerado pecado. Porém o que semeia o grão, semeia o bem.

(1) J. Mènant, Les Acliménides et les inscriptions de Ia Perse», Paris, 1872, pág. 120.

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O CÉU, O ESTADO INTERMEDIÁRIO E O INFERNO

Segundo um passo do Avesta, a alma, apenas separada do corpo, por três dias e durante três noites, gira em torno do corpo. Dada a consciência do bem e do mal que haja praticado, experimenta gozo ou dor. Mas depois, ao alvorecer do quarto dia, emigra longe desta terra e daí, se é boa e eleita, sente como que a fragância de brisa perfumada e, se é ré, sente como que o fedor do vento fétido. À alma boa, sai-lhe ao encontro para recebê-la, uma graciosa jovem e à má, uma mulher de forma horripilante.

Depois ei-la à ponte que conduz aos lugares eternos, onde esperam três juízes severos, Mithra, Sraosa e Rasnu. Esta ponte é chamada no Avesta a ponte que reune (civant-perethu) e para almas boas se mostra cômoda e espaçosa, mas às almas más aparece tão árdua e apertada ou estreita, como o fio de uma navalha e que precipita aos precipícios infernais. As almas boas ao contrário agilmente atravessam para subirem aos céus.

O Paraíso que se designa com vários nomes, ora de luz infinita, alegre morada, ora morada dos pios pensamentos, ora de lugar alegre, é disposto em ordem de sentido racionalmente moral porque antes de chegar ao império onde está o trono de Ahura Mazda, encontram-se três lugares respectivamente colocado nas estrêlas, na luz e no sol. No primeiro são premiadas as almas que sempre retamente pensaram; no segundo aquêles que sempre retamente falaram; no último aquêles que sempre retamente praticaram o bem. Jesus usou o termo «paraíso».(1)

Igualmente em três graus é disposto o Inferno, chamado lugar pecaminoso e triste, morada dos demônios de Anra Mainyu. Fica como sede dos demônios no fundo do frio e tenebroso setentrião. No primeiro grau estão apenas as almas que tiveram sempre pensamentos maus; no segundo aquelas que sempre tiveram palavras más; no terceiro aquelas que sempre cometeram obras más. Lá existem trevas infinitas, tão densas a ponto de se apertá-las com as mãos. Há nele toda a espécie de mal. Porém o pior dele consiste, no fato de cada alma, com o senso de

(1) Nells, Avesta, pág. 43.

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desesperada desolação sentir-se só e abandonada no meio de tantas outras miseráveis, em número denso e infinito.

O inferno é chamado o «mundo da mentira».

Há outro lugar, estado intermediário, em que estarão sem premio e sem penas todas aquelas almas cujas boas obras foram equivalentes às más. Este lugar é localizado entre a terra e a esfera das estrêlas; é chamado o Hamêstegân, isto é, o Imóvel. Nele não se purifica ou expia pecado algum, não se goza, não se sofre. Como foi dito, este lugar e o inferno cessarão, serão purificados quando Ahura Mazda, na última batalha vencer o mal, implantando o bem.

Um livro tradicional, talvez do século V a. C. escrito em pehlvi narra a viagem que o pio sacerdote Arda, filho de Viraf, fêz nas regiões do além. Esta visão corresponde àquela de Er, o Pamfilio de Platão, de Enoch, do Apocalípse de Pedro. Este sacerdote no tempo do rei Ardesis fundador da dinastia dos Sassânidas, ter-se-ia atormentado no templo do fogo. Sua alma, saída do corpo, visitou, guiada pelo deus Fogo, primeiramente o Paraíso e depois o Inferno. O Inferno e Paraíso são descritos com cores muito pálidas em relação à descrições que outros fizeram. O autor é considerado um predecessor de Dante. Há mesmo quem julgue que Dante teve conhecimento desse trabalho.
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Fim do estudo sobre Zoroastro.
Estudo sobre Buda em http://www.geocities.com/projetoperiferia5/buda.htm
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Zoroastro
http://www.geocities.com/projetoperiferia5/zoroastro.htm
Buda
http://www.geocities.com/projetoperiferia5/buda.htm
Cristo
http://www.geocities.com/projetoperiferia5/cristo.htm
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(*) Jorge Bertosaso Stella nasceu na Itália, em 1888, vindo para o Brasil com 3 anos de idade. Professou sua fé em Jesus Cristo aos 15 anos. Até os 20 anos era quase analfabeto, vivendo no meio rural onde trabalhava. Aprendeu as primeiras letras com um seu tio e posteriormente ingressou no Seminário Presbiteriano Independente. Foi ordenado Ministro Evangélico em 1919. Pastoreou diversas Igrejas do interior, vindo para São Paulo em 1933 onde permanece como pastor da primeira Igreja Presbiteriana Independente de São Paulo desde então, sendo nos últimos doze anos seu pastor emérito. É membro efetivo do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo, do Instituto Histórico e Geográfico de Pernambuco, Santa Catarina, Paraíba, Bahia e Espírito Santo. Membro da Societé des Americanistes de Paris e da Societé de Linguística de Paris. Sócio fundador da Sociedade de Estudos filológicos de São Paulo. Fêz parte da comissão de revisão da tradução da Bíblia. Lecionou em ginásios, e seminários protestantes e depois de jubilado lecionou na Faculdade de Teologia da Igreja Independente, a cadeira de História das Religiões. Integrou bancas examinadoras de concursos da Universidade de São Paulo. Organizou notável biblioteca, com incontáveis obras raras, que recentemente doou a entidades culturais de São Paulo, biblioteca essa especializada em teologia, filosofia, geografia, história, sânscrito, história das religiões, glotologia, linguística, arqueologia, paleontologia, matérias essas que estudou em profundidade, quase tôdas como auto-didata. Senhor em línguas. Membro da Academia Evangélica de Letras com sede no Rio de Janeiro. Espírito cristão na mais elevada accepção do termo, vem infatigavelmente desenvolvendo seu precioso labor de pastor de almas, não obstante sua avançada idade.
Jorge Bertolaso Stella, entre outros publicou os seguintes trabalhos:


Monogenismo Linguístico, 1927
As Línguas Indígenas da América, 1928
Conexão Linguística Basco-americana, 1929
A Língua Etrusca, 1930
Vestígios da Língua Primitiva, 1933
A Vida Científica de Trombetti, 1933
Glotologia e pré-história, 1934
As Sete Cartas do Apocalipse, 1945
História da Glotologia, 1945
A Língua Basca, 1954
Provérbios da Índia, 1956
O Pai Nosso, 1958
O Rig-Veda, 1958
As Descobertas dos Papiros do Mar Morto, 1960
Orações da Alma, 1967
A Oração na História das Religiões, 1968
Introdução às Upanichades, 1969
A Bhagavad-Gita, tradução do sânscrito, 1970
Introdução à História das Religiões, 1970
A Religião da Índia, 1971 (no prelo)
História do Indianismo, 1971 (idem)
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Edição Eletrônica pelo Coletivo Periferia
http://www.geocities.com/projetoperiferia
Projeto Periferia, Travessa do Anfiguri 47, CEP 08050-570, S. Miguel Pta. S.Paulo-SP, Brasil
railtong@gmail.com
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BUDA

OS LIVROS RELIGIOSOS DO BUDISMO

O Budismo, informa Puini, possui o cânon sagrado mais extenso e mais rico do que qualquer outra das religiões, que têm um código escrito.

No Prajnâpâramitâ assevera-se que Çâkyamuni pronunciou 84.000 instruções e no Ratnakûta se diz que desde o principio a Doutrina era composta de 100.000 capítulos.
No Abidharma Kôsha Vyakiã se narra que todos os livros da religião búdica são em número de 6.000.

Decoravam os ensinos e os transmitiam de memória. O cânon somente foi formado cêrca de 400 anos após a morte de Buda. A memória é um arquivo precioso entre os hindus.
Todos os documentos que se referem ao Budismo são originários de dois grandes centros indianos, o do norte com sede em Nepal e o do sul com sede na ilha de Ceilão. Os escritos sagrados dessas duas origens diferem entre si: 1) pela língua, sendo os escritos setentrionais (norte) redigidos em sânscrito e os meridionais (sul) em pâli, dialeto que está para com o sanscrito como o português para com o latim; 2) pela forma, porque os documentos em pâli são mais completos e melhor ordenados, enquanto que os documentos em sânscrito, embora formem um verdadeiro cânon, não só tem pouca ordem como, também, possuem alguns elementos heterogêneos; 3) pela difusão, porque enquanto os documentos setentrionais se espalharam além do Himalaia, no Tibet, na China, no Japão e no Anam, os documentos setentrionais se espalharam além do Himalaia, no Tibet, na China, no Japão e no Anam, os documentos meridionais difundiram-se no Ceilão, na parte meridional da Indochina (Birmânia e Sião).

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Os escritos do cânon pâli de que Turchi faz um excelente apanhado, chamam-se Tripítaka (são escritos Tripítaka) ou as «três cestas», porque se dividem em três secções: o Vinaya-pitaka, o Sutta-pitaka e o Alihimmapitaka. A cesta de Vinaya ou da «disciplina», contém as regras da vida monástica e se divide como segue:

1) Pârâjika, espécie de código criminal que cataloga as culpas que provocam a expulsão de um monge da comunidade religiosa.

2) Pâcittya, complemento do precedente, em que estão expostos os motivos das sanções e das regras expostas na Pârâjika. Estes dois livros são conhecidos sob o nome de Vibnhanga e podem ser considerados como o comentário da primeira regra budista em oito capítulos, chamada Pâtimoka, em torno da qual está entrelaçada toda a cesta Vinaya.

3) Mahâvagga, a «grande secção», contém normas gerais para admissão na comunidade: o ritual, as vestes, os atos canônicos, etc.

4) Cullavagga, a «pequena secção», que contém processos disciplinários, obrigações da vida diária e a narrativa dos concílios de Râjagaha e Visâli.

5) Parivâra é como um apêndice, que resume os quatro livros precedentes e constitui quase um catecismo ritual em forma de perguntas. A cesta do Sutta (Sútra em sânscrito) contém os discursos do mestre, mistos de poesia e de prosa, subdivididos em várias coleções que são:

I - Dêgha-nikâya ou «coleção longa»;
II - Majjhima-nikâya ou &laquuo;coleção média»;
III - Samyutta-nikâya ou «coleção mista»;
IV - Anguttar-nikâya ou «coleção numérica».

A estas acrescentou-se, posteriormente, uma quinta, em que são recolhidos os escritos que não cabiam em outro lugar, ou seja:

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V - Khudka-nikâya ou «coleção menor», que compreende quinze subdivisões menores das quais lembramos apenas:

a) o Sutta-nipâta, notável porque reflete os tempos mais antigos, a mentalidade e a vida dos primeiros heremitas do Budismo;

b) o Jâtaka «renascimento», com partes métricas, que contém 547 narrativas dos nascimentos anteriores de Buda. A esta se pode acrescentar:

c) o Carijâ-pitaka, narrativa em versos dos nascimentos anteriores de Buda;

d) o Dhammapada, elegante coleção de 423 estâncias das sentenças de Buda, que se constituem um verdadeiro tesouro;

e) Thera e Theri-gâthâ, dupla coleção de versos compostos por monges e monjas mais antigos, veneráveis, onde se encontram belos trechos de poesias, ao lado de profundas sentenças morais, conforme a metafísica budista.

As duas cestas Vinaya e Sutta são as mais antigas e pretendem conter, em parte, o pensamento genuíno do mestre e as práticas mais vetustas e preciosas da sua congregação. A ela acrescentou-se a cesta Alhidhamma que contém em sete tratados a metafísica do Budismo.

A descrição dos elementos do cânon sânscrito é muito mais difícil por ter passado por várias modificações nos países onde ele foi difundido. Seguem apenas os dados principais:

a) no Nepal, em lugar da divisão clássica das três cestas, há uma coleção de nove dharma ou «leis», dentre as quais as mais notáveis são:


1) O Saddharmapudarîka ou «loto da boa lei», livro de edificação, contendo parábolas que ilustram a vida religiosa;


2) O Lalita-Vistara ou «desenvolvimento dos divertimentos», espécie de «evangelho da infância», de Buda, onde estão narrados, aplicando-lhe na idade infantil, mitos naturais com toda a sua puerilidade, elegantíssima do ponto de vista literário.

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A estes textos é preciso acrescentar outros, compilações, especialmente:

3) O Mahâvastu e o Divyâvadâna que formam parte da coleção dos avadânas, isto é, «narrativas» de ações meritórias, cumpridas por Buda ou por outros santos ou santas da congregação. Estas duas compilações são no fundo parte do Vinaya-pitaka.

b) No Tibet se encontra todavia uma rica literatura sagrada, dividida em duas coleções, o Kanjur que é a Escritura ou seja a palavra de Buda e o Tanjur que é a Tradição ou seja, os documentos preparados pelos mais autorizados representantes do Budismo. O Kanjur se divide em sete secções, a primeira das quais(Dulva) que corresponde ao Vinaya e a última (Rgyud) que é um manual de magia. As cinco intermédias são sútra ou coleções de sentenças subdivididas em vários volumes.

c) Na China conservou-se a tradição das três cestas, divididas segundo as duas grandes divisões do Grande e do Pequeno Veículo; a despeito das alterações, reproduzem um esquema que se aproxima do cânon pâli.

Os indianistas ainda discutem qual dos dois cânones deve ter preferência.

Praticamente o cânon pâli é o mais accessível, o mais completo e o melhor preparado, e permite assim um estudo sistemático da religião. É claro que nem tudo nêle contido deve ser considerado ensino de Buda. Muita coisa se refere à especulação das comunidades budistas, em torno do núcleo primitivo, oferecido pelo mestre. É preciso notar que o canon foi fixado lentamente por obra dos monges. O corpo de doutrina tem várias classificações: sûtra, gâthâ, jâtaka, etc., que permanecem nos dois cânones.

OS NOMES DE BUDA

Buddho é a forma pâli. Buddha é a forma sânscrita. Êle, recebeu os nomes de Gótama (Gautama em sânscrito), derivado provavelmente de sua irmã chamada Gotarni, que o criou como filho, em razão da morte de sua mãe, Siddhalta (Siddhârta em sânscrito), «aquêle que consegue o seu escopo» «próspero em

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tudo»; é o nome de batismo, diríamos nós, e, como tal, restou entre os membros da sua família.

Outros apelativos com os quais, mais tarde, ou nas inscrições, ou ainda no cânon, ele foi designado, são: Samana Gótama (sânscrito Çramana Gautama), «o Asceta Gotamide», Sâkhyamuni «o Sábio de Sâkhya» (inscrição do século III), «o Anacoreta da família dos Sâkhyas», ou Sâkhyasimha «o Leão da família dos Sâkhyas»); Tathâgata «Aquêle que está em possessão da verdade», o «Claro vidente, o Grande, o Perfeito», epíteto êste que ele frequentemente usava para designar-se a si mesmo - Bhagavâ (sânscritoBhagavat) «Eminente Senhor, Venerável»; «Sattha» o «Mestre». A última denominação usada pelos seus mais longínquos discípulos, com a qual ele passou para a história, foi a de Buddha ou Sambuddha, «o Iluminado, o Despertado, o Sábio».

Em rigor dever-se-ia escrever Buddho, forma pâli, no sentir de Neumann, porque a terminação do nominativo singular masculino do pâli, língua sagrada do Budismo, é sempre representada por -- o -- nunca pela vogal -- a. «Diz-se Buddho e assim está escrito em todos os manuscritos do pâli e assim pronunciam todos os budistas».

A FAMILIA DE BUDA

A data mais provável do nascimento de Buda é o ano 560 a.C. Há, porém, estudiosos que divergem. É assim que Lassen dá o ano de 543 como certo. Buhler e Max MüIler supõem ser 477, Winternitz 480, Gopala Aiyer 487, Kern 388, etc.

Buda nasceu próximo de KapilavattIu. (sânscrito Kapilavastu), capital do domínio dos Sâhkyas, destruida segundo a tradição no início do século V a.C., cujas ruínas jazem sepultadas ao norte da região de Basti, nos confins do Nepal com a India inglêsa; talvez seja a hodierna Pijrâvâ ou Tilaura Kot. Seu pai chamava-se Çuddhodana e sua mãe Mâyâdevi ou Mãyâ. A mãe, morreu sete dias depois do nascimento do filho, e o menino foi criado por Mahâpajâpati (sânscrito Mahâprajâpati), irmã de Mâyâ, outra esposa de Çudhodana, que mais tarde lhe gerou um outro filho e uma filha.

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Parece que Buda casou-se três vêzes. Suas esposas foram Gopî (ou Gopikâ ou ainda Gopâ), Yaçodhara e Bhaddakacchâ. Da última, aos 29 anos, nasceu-lhe um filho chamado Râhula, razão por que foi ela designada RâhulaMâtâ, «a mãe de Râhula». Há quem afirme que Yaçodhara foi a mãe de Râhula e também que a terceira esposa chamava-se Margajâ.

BUDA E A ARQUEOLOGIA

Tarefa árdua é reconstruir, nos seus elementos reais e genuinos, a biografia dos fundadores das grandes religiões, porque as suas figuras tendem a despojarem-se daqueles resíduos históricos que fragmentariamente sobrevivem nas tradições mais antigas, saídas dos círculos dos imediatos discípulos e a assumir um caráter sempre mais legendário e divino, à medida que os tempos passam e se alarga o número dos fiéis. É o que se pode dizer de Buda.

O indianista Senart tentou demonstrar que a vida de Buda é um mito do naturalismo solar que significa o caminho do sol, da aurora ao poente.

As descobertas arqueológicas vêm demonstrar que Buda não é um mito, mas teve existência real.

Entre as várias descobertas, convêm assinalar o fato de haver W. C. Peppé, em 1898, descoberto num stúpa (túmulo funerário), próximo de Piprâvâ, uma urna contendo relíquias de ossos cremados de Buda e a seguinte inscrição decifrada por Pischel e
confirmada por Bühler, como sendo o mais antigo documento sakyo: iyam salianidhane Budhasa Bhagavato sâkiyanam sukiti Bhatinam sabhaginikanam saputadalanam. «Esta é a urna funerária do sublime acordado, doação dos sâkyas, dos irmãos com as irmãs, com filhos e as mulheres».

Isto estava de pleno acordo com aquilo que os textos tinham transmitido, isto é, que após a morte de Buda os seus restos mortais tinham sido repartidos entre os príncipes e nobres presentes na última cerimônia. Entre êsses encontram-se justamente os sâkhyas de Kapilavastu, os poucos que escaparam do morticínio realizado por Vidúdubha, rei de Kosala.

VIDA DE BUDA

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Além dos dados já apresentados, Buda, sentindo o desejo pela solidão, abandonou a família e dedicou-se à vida ascética, durante a qual conseguiu estabelecer a fórmula da libertação. Empenhou-se em torná-la conhecida como um dom magnífico e encontrou discípulos, homens e mulheres, que a seguiram voluntariamente sob certa disciplina. Morreu após um ministério ininterrupto, lá pelo ano 480 a.C., tendo ele 80 anos de idade. O seu corpo foi cremado aos primeiros raios do sol, fora das muralhas da cidade de Kusinara e as suas cinzas foram divididas em oito partes para serem distribuidas.

Não houve um só Buda; parece que houve mais três antes dele. Ele é o quarto Buda e é chamado Gótama isto é, o «Buda Histórico», Buda chamado «o grande médico das almas».

BUDA E AS LENDAS

Muitas e extensas são as lendas em tôrno da vida de Buda. Damos aqui somente o resumo das principais.

Ele nasceu em forma miraculosa por concepção e parto virgem, nos jardins de Lumbini a pouca distância de Kapilavastu. Sua mãe Mâyâ morreu sete dias após ter dado à luz.

Prodígios vários acompanharam sua infância. Assim é que, apenas nascido, ele anda e dos seus passos desabrocham flores de loto; quando entra no templo caem as estátuas dos ídolos; ainda criança, sabia expor os sessenta e quatro modos de escritura, ignorados pelos mestres.

A sua juventude transcorre em prazeres, quando um dia, ficou profundamente abalado com três encontros: um velho decrépito, um febrento, um cortejo fúnebre, isto é, velhice, doença e morte, o termo fatal de toda a existência humana. Buda caiu em profunda meditação, quando a resposta muda e eloquente lhe foi dada pelo encontro com um asceta que caminhava tranquilo, pedindo esmola. Foi para ele uma voz irresistível.

No avanço da noite, lançou um último olhar às dançarinas adormentadas e decompostas, sem saudar a esposa querida por temer não resistir

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a separação e fugir, não obstante a vigilância recomendada pelo seu pai: era aquela uma noite de plenilúnio.

Durante sete anos permaneceu nas selvas a meditar sobre a dor da vida e sobre os meios da libertação, sob a orientação de dois brahmanes, Arâda (Alâra em pâli) e Uddaka, que depois abandonou por não se sentir satisfeito, tendo posto em prática nesse meio tempo as severas medidas ascéticas que as escolas em voga sugeriam, porém, tudo isso, em vão. Quando um dia, abandonado pelos cinco outros heremitas, que o tinham acompanhado no bosque de Uruvela, tentado debalde por parte de Mâra, o malígno, que lhe apresenta sob as formas mais agradáveis, os prazeres da vida, ele no silêncio da noite, debaixo da árvore que o protege na meditação, diante das águas que correm tranquilas, recebe num instante a iluminação sagrada (bôdhi) e compreende, então, finalmente, a verdade da dor e as outras que explicam a sua origem e conduzem à sua extinção. A partir dessa noite ele foi o Buda «o acordado» ou o desperto.

Passou ainda, um mês a meditar na doutrina instituida, a desenvolvê-la na sua mente, a resistir a tentação de Mâra que temia a sua propaganda. Finalmente resolveu comunicar aos homens a libertação, tendo realizado em Benares o seu célebre discurso, que tem sido chamado «O Sermão do Monte» do Budismo.

Buda peregrinou, fazendo prosélitos, tendo atingido um número elevado. Entre os primeiros convertidos notam-se os quinze ascetas, que o haviam abandonado na floresta, Sâriputa e Mogallâna, dois jovens brahmanes, Ananda, o discípulo amado, que o assistiu nas últimas horas, Upali, o barbeiro dos Sâkhyas e o canonista-teólogo da comunidade, Râhula, o filho de Buda, Bambisara rei de Magadha, a região natal do Sublime, Pasenadi, rei de Kosala, Devatta, seu sobrinho que mais tarde se separou por inveja e ambição. Êste é o Judas do Budismo.

Os seus discursos foram proferidos, de preferência, próximos de Savatthi no parque de Jetavana; na colina de Gijjha Kûta e no bosque de bambu, Veluvana.

Na sua avançada idade, por ter comido carne de porco salgada ou fungos venenosos, adoeceu e quis recolher-se no bos-

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que, perto da cidade de Kusinara, onde deu as suas últimas instruções e depois recolheu-se e entrou êxtase que lhe serviu de caminho para o nirvâna. Prodígios da natureza, terremoto e trovão comemoraram a sua partida, enquanto que Brahma e Indra proclamavam que o Sublime tinha entrado na glória.

Os restos do cadáver cremado foram distribuidos em oito partes àqueles que participaram dos funerais.

A DOR E O CURSO DA VIDA DE BUDA

A impressão profunda do sofrimento humano levou Buda a abandonar a casa paterna com o intuito de resolver o problema da dor e da morte. Na ocasião em que o pai lhe suplicava que não o abandonasse e não abandonasse o reino, a espôsa e o filho pequenino, ele disse estas palavras que merecem reflexão:

«Quatro coisas eu desejo, Senhor: se tu m'as podes conceder, eu não te deixarei, eu renuncio a partida. Desejo que a velhice nunca me surpreenda, que a minha beleza e juventude não tenham fim; que a saúde nunca me abandone, nem jamais a morte me surpreenda; que sempre a felicidade esteja ao meu lado e nunca a dor».

O pai, como era bem de ver, não pôde satisfazer as condições que o filho impunha e êste, afastando-se, seguiu o seu ideal, procurando resolver o problema da dor ou do sofrimento humano.

A CULTURA DE BUDA

Buda «o mais sábio dos homens», no dizer de Bournouf, é uma figura extraordinária. Sua vida é «tecida de lendas», como vimos. Porém, purificada do exagero, pela crítica sensata, ele atrai a todos os estudiosos pela sua atitude, pela sua mente e pelos seus ensinos ou doutrina. Buda é chamado o Platão do oriente. As notícias biográficas de Gótamo são concordes em afirmar que ele, homem de gênio, estudou todas as filosofias, todas as escolas e todas as religiões e quis passar pela experiência dessas filosofias e dessas religiões. Depois de um longo período penoso, emancipou-se do ensino de outros e independente ele sepôs a pesquisar a verdade. Foi discípulo dos dois maiores filósofos

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da época, de Aráda e de Udraka. Pela sua intuição maravilhosa e finíssima, ele compreendeu a vida em toda a sua variedade e extensão, vida sua e dos seus, vida humana, animal e universal. Ao ensinar porém, não se preocupava com locubrações filosóficas, ele era prático.

Ignora-se a língua que Gótamo usou para pregar os seus sermões. Como passasse de cidade em cidade e de província em província, é de crer que se servisse dos vários dialetos. O que ele desejava era ser compreendido pelo povo e com certeza não se serviu de uma língua que não fosse compreendida pela massa. É preciso considerar que fazia parte da educação de um príncipe aprender as diversas línguas faladas na India e sendo Buda um princípe, é claro que conhecia os vários dialetos e transmitia por êles o seu ensino.

O BUDISMO É RELIGIÃO OU FILOSOFIA

Várias são as opiniões no tocante ao Budismo. Uns afirmam que é uma religião, outros que é uma filosofia, outros que é uma filosofia e uma religião, e outros ainda que não é nem filosofia, nem religião. Cada um, conforme o seu ponto de vista, tem uma parcela de razão. Não é tarefa fácil afirmar que o Budismo é só uma religião ou só uma filosofia. Ao estudar o Budismo é necessário ter a mente hindu, sem o que não se poderá compreender como ele é. Ao abrir, por exemplo, o Rig-Veda ou um Brahmana ou ainda uma Upanishada, encontramos misturados religião, filosofia, ciência, literatura. Não sabemos se definimos o autor de um hino védico, como um poeta, um teólogo, um pensador ou um retórico. Nós classificamos o saber em vários campos, os hindus o consideram um todo. Possuimos uma mentalidade diferente ao julgarmos êsses estudos e fazemos, em regra, distinção entre filosofia e religião. Depende também do estudioso separar uma da outra e considerar a esfera e o fim de uma e de outra.

Ninguém de certo contesta que elas têm profunda afinidade. Sabe-se que pesquisando as origens de ambas, encontram-se muitas coisas em comuns e que se auxiliam mútuamente nos problemas de Deus, do universo, dos sêres e do homem. Há quem afirme, com sobeja razão, que o Cristianismo é também

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filosofia, além de ser essencialmente religião. Certamente o Cristianismo é a «ciência, a filosofia, a sabedoria de Deus».

Buda não foi original segundo alguns, mas ele somente mudou em religião aquilo que seus mestres, antes dêle, haviam ensinado como filosofia.

Certo sábio declara que o Budismo, melhor do que uma religião ou uma filosofia, é fé, fé na palavra, na autoridade do Mestre, fé nas dores da existência e da libertação, fé na obrigação que têm os homens de fazer todo o esforço para conseguir o duplo nirvâna. Morrer para a dor nesta vida, morrer para a morte incessante nos ciclos das existências. Para os hindus Budismo é religião.

EVOLUÇÃO DO BUDISMO

Em regra, não se deveria dizer Budismo, mas Budismos, no plural, tanto a antiga e genuina doutrina do Mestre modificou-se através do séculos, atendendo a mentalidade dos diferentes povos que a receberam como norma religiosa. O Budismo do Ceilão é muito diferente do Budismo do Tibet e o do Tibet por sua vez do Budismo do Ceilão.

Assim, fala-se num Budismo chinês e num Budismo japonês. Na realidade os 450 milhões de budistas não crêem na mesma coisa e se o Iluminado tornasse a nascer não reconheceria entre os 450 milhões nem sequer um só, digno de chamar-se seu discípulo.

Com certa diferença, o mesmo se poderia dizer de Cristo, tanto os cristãos modificaram o seu Evangelho no ensino e na prática.

O Budismo pode ser distinguido nos três períodos seguintes:

1) Período representado pelo Budismo primitivo, como é pregado por Sákhyamuni;
2) Período representado pelo Budismo, quando começou a elaborar doutrinas filosóficas, que o fêz aproximar-se do Brahmanismo;
3) Período representado pelo Budismo, que além do simbolismo brahmânico, compreende muitas crenças e superstições, que estavam em vigor nos países onde ele foi introduzido.

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OS CONCÍLIOS DO BUDISMO

Como o cristianismo, o Budismo tem suas várias escolas de interpretação, não faltando hereges e heresias.

Após o falecimento de Sâkhyamuni, seus discípulos reuniram-se em Rajâgaha para colher e fixar os sermões do Mestre. Foi este o primeiro dos chamados Concílios. Os sermões foram fixados, mas não por escrito. Fixado o cânon oralmente, foi ampliado 100 anos mais tarde no Concílio de Vesâli e definitivamente ultimado no terceiro Concílio sob o Imperador Açoka, que reinou de 264 a 277 a.C., chamado o Constantino do Budismo. O cânon foi vasado na língua pâli, algumas décadas antes da era vulgar, isto aproximadamente 400 anos após a morte de Buda.

O CAMINHO DA VIDA DE BUDA

Depois de haver declarado ser preciso evitar os dois extremos -- o caminho do gozo e o caminho da mortificação, Buda afirma aos discípulos ter descoberto o caminho do centro, o qual abre os olhos, abre a inteligência, conduz à paz, ao conhecimento, à lúcida visão intuitiva, ao nirvâna. Este é o caminho que consiste em oito virtudes:

1 - reto ver,
2 - reto pensamento,
3 - reta palavra,
4 - reta ação,
5 - reto modo de viver,
6 - reto esfôrço,
7 - reta lembrança,
8 - reta contemplação.
Largas considerações seriam necessárias para explanar essas sentenças condensadas.

Os mandamentos éticos de Buda são cinco:

1 - Não matar nenhum ser,

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2 - Não roubar,
3 - Não cometer adultério,
4 - Não dizer falso,
5 - Não beber bebidas alcoólicas.

O ÂTMAN


O universo é chamado o macrocosmo e o homem, o eu, o microcosmo. Há muita relação entre os dois mundos.

Existe uma hierarquia entre as forças vitais, disse o deus Indra a Pratardana. Ora, mesmo privado da palavra, vive o mudo, privado da vista, vive o cego, privado do ouvido, vive o surdo, privado do intelecto, vive o néscio, privado de braços e pernas, vive o mutilado, porém o Prâna, o espírito vital, é quem dá aos olhos a faculdade de ver, aos ouvidos a faculdade de ouvir, etc. Desaparecendo o Prâna desaparece do corpo todo o fenômeno da vitalidade. Reconhecido, pois, em nós, este espírito vital, superior aos sentidos e ao próprio intelecto, reconhecida essa força básica do nosso ser, último resultado da análise do nosso eu, compreende-se porque se chama Âtman «o eu mesmo», porque é elevado ao supremo princípio das coisas. Se a vista, a audição, o gosto, o cheiro, o tato existem como sentidos cósmicos, o Âtman, o recôndito sustento de todos os fenômenos vitais do meu ser existirá sem dúvida também fora de mim, será a arcana mundial que penetra e anima o todo. No fundo de todas as causas existe o Âtman e fora doÂtman, desta única realidade, existe o fenômeno transitório e mutável, a ilusão. O Âtman não se define. OÂtman que está no universo, fora de mim. O Budismo ensina: ama a teu próximo, porque o teu próximo é oÂtman, porque tu mesmo és o teu próximo.

O KARMAN

Gótamo afirma que o homem é um ser livre e taxa de herético quem afirma o contrário. O homem é o artífice de si mesmo; é o salvador de si próprio. É interessante a doutrina do Karman. O Budismo é contra o materialismo. Há uma coisa que não desaparece: é a ação. Os efeitos das nossas boas ou más

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ações subsistem depois da morte, são a única realidade inerente a minha pessoa na eternidade. Não posso dizer, raciocina o budista, que o ôlho é meu, porque envelhece, posso perdê-lo, morre; o pensamento não me pertence, porque muda, posso perdê-lo, morre; nada posso chamar meu, porém a ação, sim, esta é minha. A ação, êste último resíduo da análise praticada no meu ser, no mundo todo que me cerca, me salva do materialismo, constitui o elo de conjunção entre o visual e o invisível, é o sustentáculo da Metafísica. Consigo aferrar-me a uma realidade, posso finalmente dizer que «eu sou enquanto opero, enquanto quero». Êste operar, êste querer é livre, porque é justamente meu, constitui o meu ser. A liberdade de querer constitui uma axioma budista. Sâkyyainuni disse: «Eu ensino que existe uma obra, uma ação, um querer».

O processo do universo é uma constante transformação dos mesmos elementos, dá origem a novas formas sempre na base da mesma substância. Daí o fato da morte não ser destruição, porém, somente, transformação, renovação, evolução. Cita-se êste pensamento: «Tudo o que nasce morre... tudo aquilo que morre nasce». Nascimento e morte são dois termos correlatos, um pressupõe o outro. Ora, a força que mantém um ato, o processo mundial, é o Karman, isto é, a ação cujas raízes profundas se encontram na arcaria natural, sêde de viver. A ação produz necessàriamente um produto que lhe corresponde, é em outros termos, diz Formichi, causa de um efeito bem determinado. A lei da casualidade domina não somente o mundo físico, mas também o mundo moral.


A TRANSMIGRAÇÃO DA ALMA

O dogma da transmigração da alma, segundo alguns estudiosos, vem de muito longe, da pré-história, do homem selvagem e foi-se formando pouco a pouco.

No mais antigo monumento literário da india, o Rig-Veda, 1.500 a.C., na opinião de Belloni-Filippi e outros, não se encontra traços da metempsicose (sanmsâra). Aí se fala de celestes gozos, ultra terrenos, prometidos aos bons e de profundos lugares de trevas destinados aos maus. Uma vez decidida a sorte de uns e de outros, falta qualquer referência à volta do outro a êste

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mundo. Há no entanto quem pense que no Rig-Veda, 10. 16-3, baseado no sanscritólogo S. Levi, se encontra vestígios dessa doutrina. Eis o trecho: «que l'oeil aille au soleil; au vent, le souffle; au ciel va-t'en; à Ia terre, selon le loi; au bien aux, va-t'en, si c'est ton bien; dans le plantes installe-toi avec tes membres».

Na opinião de Formichi, na literatura brahamânica já se encontram essas idéias mais claras. Porém, onde essa doutrina encontra larga messe é nas Upanishadas do VI séculos a.C.

No Budismo não é lícito falar em transmigração da alma ou de metempsicose, porém só em reencarnação.O que o Budismo admite continuar a subsistir depois da morte do indivíduo é somente o efeito das suas ações (Karman), o qual constringe as disposições ou tendências do indivíduo a encarnar-se sem que nada migre do corpo deposto no novo que se assume. Sucede mais ou menos aquilo que se dá quando uma lâmpada acende outra. No diálogo entre o rei Milinda e o sábio Nâgasena, deparamos com o trecho seguinte:

«disse o rei -- Bhande Nâgasena, como pode o renascimento acontecer sem que nada transmigre? Dá-me um exemplo.

Suponde, Magestade, que alguém acenda uma luz de uma outra luz; ora, a primeira lâmpada é porventura passada na segunda?

Não, na verdade, Bhante.

E precisamente da mesma forma o renascimento sucede sem que alguma coisa transmigre».

A SÊDE DE VIVER

Há certos pensamentos, tão interessantes, que encerram um mundo de idéias: «vida é dor, diz Buda, renúncia é libertação». Porém de onde se origina essa dor tão real? Origina-se da sêde de vida e de felicidade. Quem mata o corpo sem juntamente suprimir o trsna, o desejo de viver e ser feliz, não destroi a dor. «Em substância, diz Deussen, é a mesma coisa o que Budha chama trsna e considera como causa da dor é aquilo que Jesus chama epithymia, mau desejo, e considera a causa do pecado. . .»

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Marcos 4:19. Ambos os termos têm, no fundo, o mesmo sentido, sêde de viver, o que constitui fonte na qual derivamos dôres da existência e os pecados.

O NIRVÂNA

Nirvâna eis um termo complexo e de não fácil estudo. Deveria ser tratado em um artigo à parte tal é a sua importância. O Budismo em suas várias etapas de evolução, interpreta de modo diferente esta palavra. O que interessa aqui, por ora, é saber o que Buda queria dizer com o termo nirvâna. Há quem diga que a palavra é composta de ni e vana, desejo, total emancipação dos desejos, total cessação de existências. Outro, com maior razão, afirma que é composta de nir partícula negativa e va vento, sôpro, movimento. O termo nirvâna, pois, significa não movimento, cessação de movimento, da vida.

Grande número de estudiosos sustenta que nirvâna significa o nada, extinção. Sâkhyamuni porém considera herético quem afirma que depois da morte tudo acaba. «Disse Jambukhâdoka a Sâripputta:Nirvâna, nirvâna, dizes tu, ó Sâripputta. Que coisa é então o nirvâna? O extinguir-se da paixão, o extinguirse do pecado, o extinguir-se da perturbação, isto se diz nirvâna». O nirvâna é sinônimo da imortalidade, é a coroa de uma vida santa. «Como a medicina é contra a morte, assim o nirvâna é contra a morte».

Diz Anna Maria Recupito: «O nirvâna começa onde termina êste mundo terreno».

A SÚPLICA NO BUDISMO

No budismo antigo a súplica não existia na forma de adoração. Ele nega a existência de Deus e dos deuses. Também não poderia pedir uma bênção ou graça, porque graça e favores são a negação doKarman, a negação da lei férrea da casualidade, que é o dogma de ciência e de fé. No Universo não há lugar para graças e favores; no universo toda a causa produz o seu efeito, cada semente o seu fruto, cada ação recebe bom ou mau castigo. O homem de alguma forma é o artífice de si mesmo: o seu bem ou o seu mal depende dêle. Buda ensina que a oração é a boa

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conduta. Amar o ser puro eis o que seja orar, para ele. Orar, para Buda, não é pedir, mas é oferecer-se, é fazer o bem em toda a extensão. Só com o correr dos tempos houve modificação. Chegou-se a considerar Buda um deus e surgiram orações várias.

DIFERENÇAS E SEMELHANÇAS ENTRE BUDA E CRISTO

Têm-se feito vários estudos para demonstrar a afinidade entre o Budismo e o Cristianismo. Pergunta-se qual é a fonte originária que pode explicar essas idéias comuns. Nem o Budismo influiu na Cristianismo, nem o Cristianismo no Budismo, pensam vários estudiosos.

Um indianista afirma que os Evangelhos são independentes dos textos budistas. Há certas verdades em filosofia e em religião que são comuns, porque são universais.

Há diferenças notáveis entre o Cristianismo e o Budismo, como também há entre êles grandes semelhanças.

Apresentamos apenas alguns exemplos, porque o campo é vasto.

A doutrina de Buda é difícil, é doutrina só para os sábios: «A minha doutrina, diz ele, é profunda, difícil, árdua, para ser compreendida: sublime e digna de somente ser conhecida pelo sábio». Embora seja fato que Buda se dirige a todas as pessoas sem distinção, apresenta entretanto conceitos que deixam à margem as crianças, as mulheres, as quais, afirma ele , «não podem obter o céu», e considera os humildes, os ignorantes, as massas, como «Vil vulgo».

Jesus, ao contrário, se dirige às crianças nêsse convite que emociona: «Deixai vir a mim os pequeninos.» Dirige-se ainda a todos nestes termos: «Vinde a mim todos...» Mateus 11:28. «Sim, vinde a mim, as mulheres, os miseráveis, os pobres e os pobres de espírito».

O Budismo ensina que o homem se salva por si mesmo, pelos seus próprios esforços. O

Cristianismo ensina que o homem é salvo por Cristo, mediante a fé.

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O Budismo é a religião da dor.

O Cristianismo é a religião do amor.

Ambas são religiões da salvação, porém há grande diferença entre uma e outra na maneira de alcançá-la.

Por outro lado há, entre elas, grandes semelhanças, as quais impressionam a muita gente.

O nascimento de Buda foi miraculoso, como foi miraculoso o nascimento de Cristo.

Buda foi tentado pelo demônio Mâra, Cristo foi tentado pelo Diabo no deserto.

Buda foi chamado a «luz». Jesus afirmou: «Eu sou a luz do mundo».

Buda disse a seus discípulos: «Vós sois a luz». Jesus, por sua vez afirmou aos discípulos: «Vós sois a luz do mundo».

Buda mandou pregar a sua lei a todos os homens: «A minha lei, disse ele, é uma lei de graça para todos, pois a lei que ensino é absolutamente pura, ela não faz distinção entre patrícios e plebeus, entre ricos e pobres».

Cristo afirmou aos discípulos: «Ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda a criatura», Marcos 16:15.

Buda na hora de morrer disse aos discípulos: «Eu estarei sempre no meio de vós, como no meio de todos aquêles que praticam a doutrina que ensinei».

Cristo afirmou aos seus seguidores: «Eu estarei convosco todos os dias até a consumação dos séculos».

Buda ao morrer, disse: «Dá-me um pouco dágua, tenho, sêde e quero beber».

Cristo na cruz, afirmou: «Tenho sêde».

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Há semelhança entre o sermão de Buda em Benares e o Sermão de Cristo, no Monte. Buda fala por síntese, Jesus fala por análise; Buda fala à inteligência, Cristo fala ao coração.

Se é fato que Buda é «o mais sábio dos homens», Cristo é o mais divino dos homens.

Ao estudar essas religiões é preciso ter a mente aberta e tomar em consideração as diferenças e as semelhanças e pesquisar e ver onde essas verdades eternas se encontram.

A verdade não teme confronto e Cristo, de uma feita, disse: «Eu sou a verdade».
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Fim do estudo sobre Buda.
Estudo sobre Cristo em http://www.geocities.com/projetoperiferia5/cristo.htm


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CRISTO

O CRISTIANISMO E AS OUTRAS RELIGIÕES

Todas as religiões têm muita coisa em comum. Elas possuem um mesmo ideal.

Se há diferenças entre elas, há também muitas semelhanças que revelam um propósito elevado: -- o encontro, aqui e no além com o Ser Supremo. Isso não admira, porque todo o indivíduo possui um mesmo coração, e Deus se manifesta a ele, seja quem fôr, em qualquer época, por intermédio da sua consciência.

Nêste trabalho, como foi dito no breve prefácio, apresento alguns fatos que mostram certas semelhanças e diferenças entre o cristianismo, o budismo e o zoroastrismo.


OS LIVROS SAGRADOS OU FUNDAMENTAIS

Todo o código sagrado pressupõe a evolução da religião.

Espinhosa é a questão do estudo dos documentos em que se apoiam as religiões, que os consideram textos básicos.

Os livros sagrados do Jainismo são os Agamas, preceitos, e os Siddhânta, tratados. A autoridade dêsses livros é ponto de controvérsia entre as seitas do, Jainismo. A seita Sthanakvase reconhece somente a autoridade de trinta e três documentos, ao passo que a Svetambara reconhece a de quarenta e cinco. Alguns Jainistas reclamam para si uma lista mais ampla, a de oitenta e quatro.

Pensa-se que os primeiros grupos de livros sagrados, foram adotados no Concilio do Patna, 300 a.C. O cânon Jainista propriamente, terminou em 504 da era cristã, no Concílio de Vâlahli.

O budismo possui o Tripitaka, que significa «os três cestos» da sabedoria, e compreende O Vinaya Pitaka, o Sutta Pitaka e o Abhidhamma Pitak.

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O Corão é o livro por excelência do Islamismo. É opinião de alguém, que Maomé não escreveu sequer uma palavra do Corão. Jesus também não escreveu nenhum de seus ensinos.

Mais ou menos um ano após a morte de Maomé, Abu Bekr, seu sucessor, ordenou fosse feita uma nova compilação do ensino do Profeta, conservada pelos seus discípulos.

Cêrca de onze ou doze anos mais tarde, após a morte de Maomé, dadas as variantes e confusões que surgiram, quanto aos discursos atribuídos a ele, Otman, o terceiro califa, ordenou uma revisão, e ao mesmo tempo a destruição de todas as cópias existentes, da anterior compilação. Assim sendo, o texto atual do Corão, não é o da primeira edição mas da segunda.

O Avesta é o código sagrado dos persas. Refeito muitas vezes, passou por incontáveis modificações.

O Avesta é o último trabalho dos redatores de várias gerações, desde o tempo do rei Vologese, aquêle de Shapur 11, cujo reinado vai até 379 da era cristã. O último redator foi o arquimago Azer-pad. Observa porém, o Prof. Pizzi, que o critério com que o arquimago Azer-pad realizou a difícil e importante obra, é coisa que não se pode desvendar.

O Novo Testamento precisaria de uma reestruturação. É claro que o assunto ofereceria um campo ou uma tarefa árdua e complexa, pois decorrente dêsse estudo crítico, haveriam de surgir novas considerações e posições diversas sobre Jesus e seus ensinos.

A catequese ou o ensino oral processou-se durante uns 35 a 40 anos após a morte de Cristo, e era muito mais ampla do que fôra fixada nos evangelhos canônicos. Essa catequese larga, que não se encontra nos evangelhos, contém muitas palavras de Jesus, que se acham registradas nos livros chamados apócrifos ou nos livros dos heréticos.

Nenhum concílio, incluído o de Nicéia, 325 a. C., por exemplo, é infalível ao declarar canônico este ou aquêle livro. As descobertas arqueológicas, podem trazer a lume documentos que, provados criticamente conterem palavras de Jesus, devem entrar

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para o cânon. O cânon jamais deve estar fechado, mas sempre aberto.

Vários livros formaram o cânon, e entre eles, o do Apocalípse; no comêço foi difícil reconhecê-lo como dígno de ingressar na lista. Somente com o tempo foi recebido como canônico.

Que dizer dos capítulos 1 e 2 de Mateus e de Lucas, sobre o nascimento de Jesus, que constituem trechos de livros chamados apócrifos? Ficamos pensativos quando nos lembramos que em meados do século V d.C., o bispo oriental Teodoreto de Ciro, fazia constar que mais de duzentos livros «não canônicos» que ainda circulavam na sua diocese, ordenando a sua eliminação e substituição pelos quatro evangelhos.

Não havia nêsses duzentos livros, uma idéia nova de Jesus que devesse entrar para os evangelhos atuais? Por que destruir êsses documentos?

Outro fato notável: em 1945, uma família egípcia encontrou entre as ruínas do cemitério de Khenobioskion, uma jarra de barro cozido, que continha quatorze pequenos volumes de folhas de papiro. Trata-se provàvelmente da biblioteca de uma comunidade cristã, que viveu no Egito, entre o fim do século II e o fim do século IV. A análise revela o título de alguns trabalhos: o Evangelho da Verdade, o Evangelho de Tomaz, o Evangelho de Felipe, o Evangelho de Matias, o Diálogo do Salvador, o Livro Secreto de
João, o Apocalípse de Paulo, o Verdadeiro Discurso de Zoroastro, a Sapiência de Jesus, etc.(1) Êstes trabalhos estão sendo publicados.

Eu torno a perguntar, se não haveria nêles algumas palavras de Jesus, que não se encontram nos evangelhos.

O jainismo e o budismo, ao confeccionarem os seus livros, rejeitaram totalmente os Vedas, considerados inspirados pelos hindus.

O cristianismo porém, não repeliu o Velho Testamento, livro sagrado dos judeus, mas recebeu-no no seu cânon, e o considerou de valor igual ao Novo Testamento.

(1) A. Donini, Breve História das Religiões, tradução de Luiz Mario Gazzaneo, pág. 321-322, Editora Civilização Brasileira -- Rio de Janeiro.

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NASCIMENTO

Mahavira (599-527 a.C.), significa grande heroi, e se chama Jaina, que equivale a discípulo de Jina, nôvo título honorífico do seu venerando Vencedor, ou conquistador; era filho de um pequeno rajá da cidade de Vasali, na índia.

Buda (560-480 a.C.), «iluminado», chamava-se Gautama ou Gotama. Era filho de um rico
rajá da família de Sakya, da cidade de Kapilavastu, ao norte de Benares.

Jesus, que significa «Salvador» era filho ou descendente de Davi, Mateus 1:1.

Todos eles, como se vê, eram procedentes de família real ou nobre.

Um livro sobre Jina, escrito cêrca de 1.000 anos depois da sua morte, ocupou-se principalmente dos milagres vinculados com o seu nascimento, como por exemplo, os quatorze sonhos maravilhosos de sua mãe, interpretados como profecias, que lhe nasceria um filho prodigioso, súbita prosperidade da famílias e muitas circunstâncias favoráveis ao seu nascimento.

Jina era reverenciado como onisciente. Conhecia o pensamento de todos os sêres. Possuia conhecimento e intuição ilimitados.

Lao-Tse (604-517 a.C.), nasceu na província de Honan, na China Central, uns 50 anos antes de Confúcio.

Lao-Tse foi contemporâneo de Confúcio, de Zoroastro, de Jina e de Buda, e também dos grandes profetas hebraicos do destérro: Jeremias, Ezequiel e Isaías.

Lao-Tse, «velho menino» por haver nascido de cabelos brancos e ter sido preconcebido sábio; afirmou-se que o seu nascimento foi sobrenatural, não de criança, mas de pessoa adulta, e que esteve no ventre de sua mãe pelo espaço de 72 ou 81 anos.

Mâyâ, mãe de Buda, sonhou a respeito da concepção não humana do filho e do seu nascimento sobrenatural de uma rainha mãe, que tinha 45 anos.

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Seu filho nasceu para o bem do mundo, sem dor, nem enfermidade. Assim foi o seu maravilhoso nascimento e muitos prodígios acompanharam o seu aparecimento. Um santo hindu profetizou a futura grandeza do menino, como Simeão com respeito a Jesus.

O nascimento de Jesus foi miraculoso, Lucas 1:2. O anjo anunciou a Maria que daria à luz um filho, concebido pelo Espírito Santo e Filho de Deus.

Mateus, capítulo 2, conta que os magos do oriente o visitaram com suas especiarias e regressaram à Pérsia, sua terra.

Jesus revela grande sabedoria, Lucas 2:52, no seu crescimento -- 2:40. Os doutores do templo maravilharam-se do seu conhecimento, tendo Ele apenas 12 anos.

Zoroastro (660-583 a.C.), teve também o seu nascimento sobrenatural. A glória de Ahura Mazda transmitiu-se à jovem que veio a ser sua mãe, com 15 anos de idade.

Inúmeras maravilhas se realizaram com a jovem. A vida do menino foi miraculosamente preservada muitas vêzes. Na conversação, quando menino, Zoroastro já manifestava sua sabedoria, maravilhando a todos pela sua inteligência poderosa e circunspeção, face as outras crianças da mesma idade.


A TENTAÇÃO

Buda foi tentado por Mâra, para deixar sua missão em prol da humanidade, porque ela percebeu que seria salva pela sua doutrina e exemplo. Porém Buda resistiu a essa tentação e prosseguiu no seu ideal.

Zoroastro, de igual modo, teve que se submeter à tentação de Anra Many, que é o supremo espírito hostil, quando iniciou, aos 30 anos, a sua vida pública.

Sabendo que Zoroastro recebera o Avesta, o livro sagrado, das mãos de Ahura Mazda, e que salvaria as criaturas humanas por toda a forma, procurou dissuadí-lo do seu propósito, tentando-o, mas Zoroastro venceu.

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Jesus, ao iniciar o seu ministério público, foi levado para o deserto a fim de ser tentado pelo Diabo.

Os Evangelhos Sinóticos registram a narrativa dessa provocação, Mateus 4:11; Marcos 1:12-13; Lucas 4:1-13.

No tocante a tentação, há muitas semelhanças entre Cristo, Buda e Zoroastro. Jesus também venceu a tentação e realizou o seu ministério de salvação.

Não deixam de impressionar tais acontecimentos, tão semelhantes, que se deram com êsses iluminados, ao se entregarem à tarefa de conduzir os indivíduos ao alvo supremo.

Atribui-se a êsses três fundadores de suas religiões, uma natureza divina.
De Buda, dizem os seus discípulos, que não teve faltas, e foi o mais nobre dos homens, como o mesmo Indra. Os sêres celestiais, como Brahma... o adoram, buscando o seu favor. Os deuses e os homens o adoram como ao «Grande que transcende o tempo». Não há no momento nada que o iguale.

Zoroastro teve origem sobrenatural, e é, juntamente com Deus, Ahura Mazda e outros sêres canônicos, dignos de adoração religiosa. Foi Zoroastro o mais sábio de todos os sêres em perfeição e em santidade. Pré-existiu 3.000 anos antes do seu nascimento físico, vivendo durante êsse espaço de tempo com os arcanjos.

Jesus é considerado divino, Filho de Deus, sem pecado e com atributos iguais a Deus e ao Espírito Santo. Jesus fêz referencia a sua pré-existência: «Antes que Abrão fosse eu sou», João 8:58.

Todos os outros reformadores declararam que eram homens. Somente Jesus asseverou que era Filho de Deus, e Deus portanto. Possuia uma natureza humana, santa. Os Evangelhos contêm afirmações suas a respeito da sua natureza divina. «Eu e o Pai somos um», João 10:30; «Quem me vê a mim, vê o Pai», João, 14:9; «Quem me acusará de pecado?».

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Ele foi um reformador. Não veio destruir a Lei, nem os Profetas, mas completar, Mateus 5:17. O Mestre deu à religião uma interpretação divina e universal.

Estes três vultos apresentam, como vimos, não só muita semelhança entre si, mas também, diferenças.


O SEXO FEMININO

O sexo feminino é absolutamente condenado nos livros do Jainismo.

Mahavira, para quem as mulheres eram a causa de todo o ato pecaminoso, viu o verdadeiro estado do mundo.

As mulheres são a maior tentação do mundo. Isto declara o sábio. Ele não deve falar de mulheres, nem olhá-las, nem conversar com elas, nem reclamá-las como suas, nem fazer o seu trabalho.

Não obstante, admitia-se as mulheres como monjas, em ordem monástica, à parte.
A posição de Buda, nêsse assunto, não é diferente. Um discípulo do Mestre, de nome Ananda, que era para com Buda o que João fôra para com Jesus, interrogou-o certa vez, como deveria comportar-se em relação às mulheres:

«Não olhar para elas, Ananda.

Mas se não pudermos deixar de olhar para elas?

Não falar com elas, Ananda.

Mas se não pudermos deixar de falar com elas?

Toma muito cuidado, Ananda».

Em outra feita, Ananda perguntara porque não queria conceder às mulheres o mesmo grau e os mesmos direitos dos homens. Buda respondeu:

«Ruins, Ananda, são as mulheres, ciumentas, Ananda, são as mulheres, estúpidas, Ananda, são as mulheres».

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Pertence a Buda também êste conceito:

«As armas das crianças são as lágrimas, as armas da mulheres, a cólera».

Jesus tinha uma atitude diferente para com a mulher. Digna de melhor sorte, pois de sobejo fôra escrava e incompreendida no mundo, precisava reerguê-la e colocá-la em seu lugar honrado, como mãe do gênero humano.

A mulher é a humanidade.

Da mulher cananéia, Jesus elogiou a fé, quando esta lhe fêz o pedido para que curasse sua filha, Mateus 15:22-28.

Indo ao poço de Jacó para estancar sua sêde, travou palestra com a mulher samaritana, considerada gente desprezível pelos fariseus. Com êsse encontro quebrou o preconceito que havia entre o homem e a mulher, João 4:6-30.

Quando trouxeram a Jesus certa mulher apanhada em adultério, a qual deveria ser apedrejada, o Mestre a defendeu e a despediu em paz, João 8:3-11.

A outra que lhe lavara os pés com lágrimas e os enxugara com seus cabelos, Jesus despediu tranquilamente, salvando-a, Lucas 7:37-48.

Cristo curou muitas mulheres que lhe agradeciam e o auxiliavam na sua tarefa, Lucas 8:2-3.

Não muito afastadas da cruz estavam algumas mulheres, Mateus 27:55-56. Outras encontravam-se ao seu lado na hora de morrer, João 19:25.

Após a sua ressurreição, Jesus apareceu primeiro a Maria Madalena, João 20:11-17.
Êle socorria as mulheres como a qualquer outra criatura. Simpatiza-se com elas, dado o seu sofrimento.

Jesus, como universal, não tinha preconceito.

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FALTA DE DADOS HISTÓRICOS

Não se conhece o dia, mês e ano do nascimento dos fundadores das religiões que vimos estudando. A data exata é incerta, duvidosa; vacila por esta expressão «mais ou menos».

Quanto a Jesus, dá-se o mesmo fenômeno. Não se sabe o dia do seu nascimento, não se conhece o mês, e, o que é mais grave, nem o ano.

Outros dados indispensáveis sôbre Cristo são desconhecidos. As opiniões populares nêsse sentido, variam como havemos de observar.

O ano certo do nascimento de Jesus é ignorado.

Dionísio, «o pequeno», no ano 532 da era cristã, propôs chamar «um» o ano do nascimento de Jesus, computando os anos decorridos, segundo o modo dos latinos e dos bárbaros. Sabendo-se que Jesus nasceu quando Herodes era vivo, os estudiosos estão de acôrdo em afirmar, que na verdade, a morte de Herodes deu-se vários anos antes da era chamada cristã. Ignorando-se ao certo a data da morte de Herodes, não se pode saber também a data do nascimento de Jesus. Pensa-se que Jesus nasceu no ano 748 de Roma, ou 6 anos a.C. Outros propõem 4 anos a.C. Somente em época posterior, a Igreja Cristã comemorou o Natal no dia 25 de dezembro. Outras datas foram propostas, como 28 de março, 18 e 19 de abril, 29 de maio. No Oriente, continuava-se a aceitar, em geral, o dia 6 de janeiro, no qual passou a ser comemorada a festa da Epifânia.

Crisóstomo foi o primeiro no Oriente, a lembrar a data de 25 de dezembro. Quanto ao Ocidente, parece que se deve a Libério, bispo de Roma 550, a instituição da comemoração natalícia nesta data fixa.

É a seguinte a razão por que o nascimento de Jesus é festejado no dia 25 de dezembro: os romanos, de acôrdo com seu calendário do IV século, consideram aquela data como a da fundação do templo edificado em Roma em 274, pelo imperador Aureliano, consagrando esse dia à festa anual do «sol invictus», o deus solar da cidade de Palmira.

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Fortificando-se o cristianismo, foi evidente e espontânea a passagem da celebração do «deus solis» para o natal de Jesus, o «sol da Justiça», Malaquias 4:2. 1

Quanto ao local do seu nascimento, as opiniões divergem.

Mateus 2: 1, afirma que foi em Belém de Judéia e tem o apoio de quase a totalidade dos cristãos.

O Prof. Hartimut Stegemann, da Universidade de Bonn, defende a idéia de ter Jesus nascido em Carnaum.

Outros entendem que ele nasceu na cidade de Nazaré. Alguns ainda, afirmam ter Jesus nascido em outro local, na Galiléia.

Relativamente à sua infância, sabe-se muito pouco. O Evangelho de Marcos, o mais curto e o mais antigo, nada diz da infância de Jesus.

S. Pedro, no seu discurso em Atos, 1:22, fala do comêço do Evangelho com a apresentação do Batista.

João, 19:25-27, que levara Maria para a sua casa e que deveria saber muito nêsse sentido, silencia.

A não ser por intermédio de Lucas, 2:40-52, aliás o único a se referir que Jesus com 12 anos, estêve, entre os doutores do templo, nada mais se sabe sôbre o ocorrido durante os 30 anos da sua existência, quando ele aparece para anunciar a sua doutrina.

Onde estêve Jesus êsses 18 ou 30 anos? Há um silêncio profundo, um mistério em tôrno dEle. Problema intricado que talvez não tenha solução.

As opiniões, também aqui, variam muito.

Uns afirmam que Ele estêve na Grécia, na Pérsia, no Egito e na India, aonde conseguiu grandes conhecimentos. Outros ainda são de opinião que Ele não saiu da Palestina, tendo, porém, estado entre os essênios.

Há quem julgue que a sua vida pública somente durou menos de um ano, talvez apenas três ou quatro meses, e não três anos conforme se crê.

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De igual modo no tocante ao ano da sua morte, as opiniões divergem. os primeiros cristãos da Anatólia, sustentavam que a crucificação de Jesus se verificara em 45, na época do imperador Cláudio, e que Jesus morrera com 49 anos e não com 33 como se afirma pela versão oficial.

Por essas e outras razões, críticos há que entendem que Jesus é um enígma.

Os papiros do Mar Morto poderão trazer, com o correr dos tempos, luzes sôbre êsses vários assuntos.

O SERMÃO DO MONTE

O Sermão do Monte é a quinta-essência dos ensinamentos de Cristo.
Lucas e Mateus tratam dêsse sermão, sendo que o registro mais amplo é encontrado no livro de Mateus, capítulos 5 a 7.

As lições que ele encerra são sobremaneira importantes.

Buda também tem o seu Sermão de Benares, que pode ser confrontado com o de Jesus.
É assim constituído, dada a tradução do PâIi, confrontado com o texto sânscrito, segundo o Prof. C. Farmichi:

«Ó monges, há dois extremos, dos quais quem quer dedicar-se à vida espiritual, deve conservar-se igualmente longe. Quais são êstes dois extremos? Um, é uma vida de gôzo, dedicada ao lazer e ao prazer; ela é vil, ignóbil, contrária ao espírito, indígna, vazia. O outro extremo é uma vida de auto maceração; essa é dolorosa, indígna, vazia.

Dêsses dois extremos, ó monges, o Bemvindo conservando-se igualmente longe, descobriu uma via que está no meio, e que abre os olhos, a inteligência, conduz à paz, ao conhecimento, à lúcida visão intuitiva, ao Nirvâna. E qual é, ó Monges, esta via que está no meio, que o Bemvindo descobriu, a qual abre a inteligência, conduz à paz, ao conhecimento, à lúcida visão intuitiva, aoNirvâna? Ela é a santa via que consiste em oito virtudes, ou seja: reto ver, reto pensamento, reta palavra, reta ação, reto modo de viver, reto esfôrço, reta lembrança, reta contemplação. Esta é, ó monges, a via que está no meio, que o

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Bem-vindo, a qual abre os olhos, abre a inteligência, conduz à paz, ao conhecimento, à lúcida visão intuitiva, ao Nirvâna.

E eis, ó monges, da dor, a nobre verdade: cheio de dor é o nascimento, cheia de dor é a velhice, cheia de dor é a doença, cheia de dor é a morte; cheio de dor é estar junto de quem não te é querido, cheio de dor é estar separado de quem te é querido, dor de te trazer tudo o que desejas e que não obtens; enfim, os cinco elementos que originaram o apêgo a existência, são dor.

E eis, ó monges, a nobre verdade da origem da dor: é a sêde que leva a renascer, que acompanha a alegria e apegos, que, ora aqui, ora ali, encontra o seu prazer: a sêde de prazeres, a sêde da vida eterna, a sêde da eterna morte.

E eis, ó monges, a nobre verdade da supressão da dor: a emancipação inteiramente daquela sêde, abandonando-a, expulsando-a, desvestindo-se dela, não lhe dando mais quartel.

E eis, ó monges, a nobre verdade do caminho que leva à supressão da dor: essa é a santa via consistente em oito virtudes que são: reto ver, reto pensamento, reta palavra, reta ação, reto modo de viver, reto esfôrço, reta lembrança, reta contemplação.

I -- «Tal é a nobre verdade da dôr»; assim, ó monges, dizendo a mim mesmo, abriram-se-me os olhos sôbre êstes conceitos, dos quais ninguém antes me havia deslumbrado, abriu-se-me o intelecto, abriu-se-me a razão, mostrou-se-me a ciência, relampejou-me à vista da verdade.

II -- «Esta nobre verdade da dor precisa ser compreendida pelos homens»; assim, ó monges, dizendo a mim mesmo, abriram-se-me os olhos sôbre êstes conceitos, dos quais ninguém antes me havia deslumbrado, abriu-se-me o intelecto, abriu-se-me a razão, mostrou-se-me a ciência, relampejou-me à vista da verdade.

III -- «Esta nobre verdade da dor eu a compreendi»; assim, ó monges, dizendo a mim mesmo, abriram-se-me os olhos sôbre êstes conceitos, dos quais ninguém antes me havia deslumbrado, abriu-se-me o intelecto, abriu-se-me a razão, mostrou-se-me a ciência, relampejou-me à vista da verdade.

I -- «Tal é a nobre verdade da origem da dor; assim, ó monges, dizendo a mim mesmo, abriram-se-me os olhos sôbre êstes

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conceitos, dois quais ninguém antes me havia deslumbrado, abriu-se-me o intelecto, abriu-se-me a razão, mostrou-se-me a ciência, relampejou-me à vista da verdade.»

II -- «Esta nobre verdade da origem da dor precisa ser compreendida pelos homens; assim, ó monges, dizendo a mim mesmo, abriram-se os olhos sôbre êstes conceitos, dos quais ninguém antes me havia deslumbrado, abriu-se-me o intelecto, abriu-se-me a razão, mostrou-se-me a ciência, relampejou-me à vista da verdade.»

III -- «Esta nobre verdade da origem da dor eu a compreendi; assim, ó monges, dizendo a mim mesmo, abriram-se-me olhos sôbre êstes conceitos, dos quais ninguém antes me havia deslumbrado, abriu-se-me o intelecto, abriu-se-me a razão, mostrou-se-me a ciência, relampejou-me à vista da verdade.»

I -- «Tal é a nobre verdade da supressão da dor; assim, ó monges, dizendo a mim mesmo, abriram-se-me os olhos sôbre êstes conceitos, dos quais ninguém antes me havia deslumbrado, abriu-se-me o intelecto, abriu-se-me a razão, mostrou-se-me a ciência, relampejou-me à vista da verdade.»

II - «Esta nobre verdade de supressão da dor precisa ser compreendida pelos homens; assim, ó monges, dizendo a mim mesmo, abriram-se-me os olhos sôbre êstes conceitos, dos quais ninguém antes me havia deslumbrado, abriu-se-me o intelecto, abriu-se-me a razão, mostrou-se-me a ciência, relampejou-me à vista da verdade.»

III -- «Esta nobre verdade da supressão da dor, eu a compreendi; assim, ó monges,
dizendo a mim mesmo, abriram-se-me os olhos sôbre êstes conceitos, dos quais ninguém antes me havia deslumbrado, abriu-se-me o intelecto, abriu-se-me a razão, mostrou-se-me a ciência, relampejou-me à vista da verdade.»

I -- «Tal é a nobre verdade do caminho que conduz à supressão da dor; assim, ó monges, dizendo a mim mesmo, abriram-se-me os olhos sôbre êstes conceitos, dos quais ninguém antes me havia deslumbrado, abriu-se-me o intelecto, abriu-se-me a razão, mostrou-se-me a ciência, relampejou-me à vista da verdade.»

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II -- «Esta nobre verdade que conduz à supressão da dor, precisa ser compreendida pelos homens; assim, ó monges, dizendo a mim mesmo, abriram-se-me os olhos sôbre êstes conceitos, dos quais ninguém antes me havia deslumbrado, abriu-se-me o intelecto, abriu-se-me a razão, mostrou-seme a ciência, relampejou-me à vista da verdade.»

III - «Esta nobre verdade do caminho que conduz à supressão da dor, eu a compreendi; assim, ó monges, dizendo a mim mesmo, abriram-se-me os olhos sobre estes conceitos, dos quais ninguém antes me havia deslumbrado, abriu-se-me o intelecto, abriu-se-me a razão, mostrou-se-me a ciência, relampejou-me à vista da verdade.»

«E enquanto, ó monges, eu não possuia na sua clareza esta duo décupla e por tríplice divisa do conhecimento e entendimento veraz das quatro nobres verdades, eu não podia sentir, ó monges, haver alcançado a mais alta e perfeita sabedoria que jamais fôsse possível nêste mundo e nos mundos celestes, no mundo de Mâra e de Brahma, entre todos os sêres, ascetas, brahmanes, deuses e homens.»

«Mas, desde que, ó monges, possuo na sua clareza esta duo décupla e por tríplice divisa do conhecimento e entendimento veraz das quatro nobres verdades, eu sinto já, ó monges, ter chegado a mais alta e perfeita sabedoria que é possível adquirir nêste mundo e nos mundos celestes, no mundo de Mâra e deBrahma, entre todos os sêres, ascetas, brahmanes, deuses e homens. E conheci e vi: a minha alma para sempre se libertou; êste é o meu último nascimento; não são mais possíveis para num os renascimentos».

O próprio Prof. Formichi se encarrega de mostrar a semelhança e a diferença entre o célebre Sermão de Benares de Buda, e o Sermão do Monte, de Cristo.

O Sermão de Benares, com as suas enumerações várias, quanto mais lido, mais dúvidas traz, e as idéias se acumulam na mente. Diferente é o Sermão da Montanha, na sua forma, onde domina a clareza, sendo relativamente a ele, supérfluo qualquer comentário; no meio de sua divina harmonia e prosa, vê-se a

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mais eleita poesia. Convém, porém, sermos imparciais e dar a cada um o que merece.

Buda procede por síntese, no seu Sermão; Jesus por análise no Sermão do Monte; Buda propõe e apresenta os temas, Jesus desenvolve e esgota; Buda, calmo e pacato, arrazoa; Jesus, inspirado e concitado, fala aos corações. Observai quantas variações faz Jesus sôbre um só tema, por exemplo, aquêle da pureza da intenção íntima e escondida, não da ação externa e clara, qual norma suprema da moralidade; não basta abster-se de matar, é preciso não dizer raca ou louco ao próprio irmão; é necessário abandonar internamente tôda a ira contra ele, reconciliar-se com ele; não cometer, materialmente, o adultério, não basta; é preciso não desejar nem de longe a mulher de outrém; não é mérito dar esmola em público, é preciso fazê-lo de modo que a mão esquerda não saiba o que faz a direita; é hipocrisia orar diante dos homens nas igrejas, ostentando temor de Deus; é necessário entrar no próprio quarto, fechar e mostrar no aspecto exterior os sinais dêsse sacrifício; convém, quando se jejua, ungir à cabeça, lavar o rosto e aparecer calmo e alegre.

Esta forma de ensinar chama-se, e é análise. Tomai o Sermão de Benares e encontrareis o mesmo princípio estatuído, em fórmula concisa, que como qualquer outra palavra daquele sermão, exige amplas declarações, longos comentários. Buda contenta-se em dizer, pelo muito que Cristo diz, simplesmente: «reto pensamento, reta palavra, reta ação». Esta outra maneira de ensinar, chama-se e é síntese. Sei que geralmente a análise agrada mais do que a síntese, como a Ave Maria de Gounod comove mais corações, do que o tema de Bach sôbre o qual foi bordada aquela suavíssima melodia.

Porém, em Bach, há mais música do que em Gounod. Comentai o Sermão de Benares e sereis edificados. Jesus é grande naquilo que disse, Buda naquilo que faz pensar e dizer. Jesus age direta e imediatamente. Buda por sugestão. Jesus usa uma linguagem eloqüente e é o discípulo dos antigos profetas de Israel. Buda utiliza-se do sûtra, da concisa fórmula científica dos brahmanes, dos quais ele é discípulo e herdeiro.

Demos então a Jesus aquilo que pertence a Jesus, e a Buda aquilo que pertence a Buda.
O Sermão do Monte é para nós uma jóia, como bem demonstra a comparação que acabamos de fazer.

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AS PARÁBOLAS

Jesus não inventou a parábola. Ela é uma figura universal. Aristóteles a mencionou na Retórica, ao lado da fábula, declarando que ambas são meio de persuasão.

As parábolas aparecem no Velho Testamento e na literatura rabínica que se conserva no Talmud. Célebre foi o rabi Hillel, a quem os judeus consideram o mestre dos parabolistas.

O Mestre aperfeiçoou êsse gênero de literatura. As parábolas de Jesus representam uma volta à natureza. Por isso Oscar Wilde chamou Jesus, o fundador do romantismo.
Jesus quis imprimir nas parábolas a parte viva do seu ensino. Na realidade, elas são o «evangelho».

Para se conhecer a base do pensamento de Jesus e do seu ensino, é indispensável aprofundar o conhecimento das parábolas.

Se os evangelhos viessem a desaparecer, com exceção das parábolas, o espírito do evangelho permaneceria.

Na literatura universal não se encontra coisa mais bela do que as parábolas de Jesus. Por isso alguém o definiu como «o maior dos poetas». As parábolas são joias da literatura cristã.

Pedro deixou impresso num dístico, que o propósito das suas fábulas era provocar o riso. Ao contrário, as parábolas de Jesus, pérolas celestes de sabedoria, conduzem o indivíduo à admiração, à concentração e à meditação.

As parábolas foram compostas com tão delicada arte, que se pode afirmar não terem elas uma palavra a mais, nem uma palavra a menos.

Nessas pequenas e variadas narrativas vive Jesus.

Buda proferiu inúmeras parábolas e uma delas é conhecida como a do Filho Pródigo.
O Evangelho Lotus narra que um moço deixou a sua casa por 50 anos, durante os quais seu pai enriqueceu, enquanto que o filho permaneceu pobre. Êle volta e faz para seu pai trabalhos mesquinhos, mas não o conhece. O pai, sim, o reconhece, mas

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se oculta. Entretanto, por ocasião da sua morte, deixa-lhe todos os seus haveres.
Aquêle Evangelho termina com uma aplicação religiosa.

«Assim também, ó Senhor, nós representamos os filhos do Tathâgata e o Tathâgata diz-nos: vós sois os meus filhos, como fêz o pai».

Pensa-se que Lucas colheu dados no Budismo. Parece que devido ao fato de ter colhido o material na Perea, onde o judaísmo não revelava certa influência, enquanto que a civilização grega tinha aí grandes centros, dada a passagem das caravanas para o oriente.

A parábola de Lucas sôbre o Filho Pródigo, encontra-se no capítulo 15:11-24.

O PAI NOSSO DO ZOROASTRISMO

Santíssima, entre tôdas as orações, estranhas às Gâthas, mas escrita em dialeto gâthico, é esta oração dos persas, Ahuna Vairya, assim denominada pelas palavras com que começa yathâ ahú viaryô.

Em todos os tempos o piedoso persa tem começado os seus sacrifícios ou cerimônias religiosas e tôdas as suas ocupações, desde as mais ordinárias, com esta breve invocação, podendo ser comparada com afâtijiha dos muslimes ou ao ôm dos brâmanes.

Zoroastro pronunciou-a pela primeira vez; não se conhece, porém, sua origem; é a palavra eterna de Ahuramazada (Yaçna, 19); é a espada mais forte com que o anjo Serosh vence as trevas, a mais poderosa de tôdas as fórmulas sagradas (Yaçna, 57, 22) que serve para afugentar os demônios (Vend. 19,2).

No Vendidad determinam-se alguns casos em que se deve recitar esta oração; em alguns deles quatro vêzes (Vend. 10, 11, 11, 11, 18, 43) ou três, ou até nove vêzes (Vend. 17, 6, 11, 38). O maior número de vêzes em que deve ser recitada, é quando uma casa está contaminada pela presença de um cadáver; a pessoa que o tocou deve recitá-la duzentas vêzes (Vend. 19, 22)(1)

(1) Garcia Ayuso Fr., Los Pueblos Iranios y Zoroastro, Madri, 1874, pg. 122.
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Damos a tradução desta oração:

«Como Ahura Mazda é Senhor pela sua própria vontade, assim ele é também moderador pela fôrça da sua própria santidade.
Os dons do bom espírito são frutos das boas obras realizadas no mundo que pertence a Mazda.

A Ahura pertence a soberania do mundo, a soberania que ele deu qual defesa a tôdas as misérias aqui em baixo».(2)

O sentido desta oração, que tem valor de fórmula mágica potentíssima, é obscuro e incerto, no sentir de Pizzi. Há várias traduções, mas tôdas diferentes, como sejam a de Anquetil de Purron, de Oppert, de Roth, de Spiegel, de Haug, de Justi, de Harlez, de Kossowiecz(3)

O PAI NOSSO DO ISLÃ

Esta sura, hino belíssimo de louvor a Deus, malgrado a sua brevidade de sete versos apenas, está colocada no comêço do Corão.

É tal o seu valor que o célebre arabista Goldziher a denominou o Pai Nosso do Islam(1)

Eis como está concebida a oração:

«1 -- No nome de Deus, clemente, misericordioso!

2 -- Louvor a Deus, o Senhor do Criado!

3 -- O Clemente, o Misericordioso!

4 -- O Protetor do dia do Juízo!

5 -- A Ti nós adoramos, a Ti invocamos em auxílio;

6 -- Guia-nos pela reta via;

7 -- A via daqueles sobre os quais derramaste a tua graça, a via daqueles com os quais não estás irado, a via daqueles que não vagueiam no êrro!»

Comparemos agora essas orações com o «Pai Nosso» de Cristo:

Pai nosso que estás nos céus, santificado seja o Teu nome;

(2) Pizzi L, Zarathustra, L'Avesta, Milano, 1914, pág. 156, 157.
(3) Hovelacque, Avesta, pág. 452, 454.
(1) Il Corano: traduzione, introduzione e commento de A. Bausani, p. Firenze,

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Venha o Teu reino, faça-se a Tua vontade, assim na terra como no céu;
O pão nosso de cada dia dá-nos hoje;

E perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós temos perdoado aos nossos devedores;

E não nos deixes cair em tentação; mas livra-nos do mal, pois Teu é o reino, o poder e a glória para sempre. Amém.

Vemos que a oração de Jesus é mais precisa, é mais humana e universal, é mais divina e espiritual.

DEUS, PAI

Deus criou o homem a sua imagem e semelhança, Gênesis 1:26-27.

Deus é portanto seu Pai. Ele não é Pai somente de uma parte do gênero humano, mas de tôdas as criaturas: Deus é Pai universal. Todos os homens constituem uma só família, e Jesus expressou essa união na frase: «Pai nosso», Mat. 6:9.

Nos livros do judaísmo, há vinte e oito passagens em que se faz alusão a Deus ou a Jeová como um Pai, porém, sempre como Pai do povo de Israel ou daqueles que o temem, Salmo 103-13.

Porém, na evolução progressiva da concepção de Deus, Jesus, seu intérprete por excelência, apresenta-O com a característica de Pai; encontra-se o nome Pai nos evangelhos, cêrca de cento e cincoenta vêzes, em diversas circunstâncias:

«O Pai», encontra-se em sessenta e um versículos;

«ó Pai», em oração a Deus, em dezessete versículos;

«Meu Pai», em cinqüenta versículos;

«Vosso Pai», às vêzes, «vosso Pai celestial», em dezoito versículos;

«Pai Nosso», em Mateus 6:9 e Lucas 11:2.

Em resumo, o termo Pai, referindo-se a Deus, é encontrado aproximadamente trezentas e tantas vêzes no Nôvo Testamento.

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São Paulo também empregou este pensamento de grande valor: « ... Há um só Deus, o Pai», 1 Cor. 8:6.

Pai é uma palavra que mostra o infinito amor de Deus para com as suas criaturas. «Êle amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho», João 3:16. Quando Jesus quis dar um exemplo do afeto paternal de Deus, ensinou a sublime parábola do Filho Pródigo, Lucas 15:11-24. Se um pai terreno ama seu filho, Deus, como Pai, o ama muito mais.

Deus como Pai é também uma concepção familiar entre os hindus. O Rig-Veda escreve:

«Sê próximo a nós como um pai para seu filho, habita conosco, ó Senhor, resplandecendo e abençoando-nos», 1, 1, 9.

O Yagur-Veda igualmente diz: «Ó Senhor, tu és nosso pai, instrui-nos como um pai», XXX VII, 20.

Um dos deuses do céu chama-se Dyaus Pitar -- «o Pai Céu». No Rig-Veda encontramos estas palavras: «o céu é meu Pai, Progenitor! Ali está a minha origem», I:164:33.
Porém, R. E. Hume, observa que o Nôvo Testamento é o único documento entre os livros canônicos religiosos do mundo, que ensina ser a Suprema Divindade, um Pai Celestial universal.(1)

O CRISTIANISMO RELIGIÃO UNIVERSAL

Quando digo Cristianismo, não me refiro ao dos nossos tempos, que é um Cristianismo pesado, sobrecarregado de teologia e de doutrinas, mas refiro-me ao Cristianismo do Nôvo Testamento, e de modo muito particular ao Cristianismo de Cristo, como se encontra nos Evangelhos, que, embora, não registrem tudo quanto Jesus ensinou, disse e praticou (João 20:30, 31; 21:25, Atos 1:1), são contudo a parte mais viva, mais espiritual e, podemos dizer, inspirada, não só de todos os livros religiosos do mundo, mas também de tôda a Bíblia.

O Cristianismo tem características que o revelam como a Religião Universal.

1961, pág. 3, 501, 502.
(1) Roberto Ernesto Hume, Las Religiones Vivas Versian por M. Beltoy, Buenos Aires, 1931, pág. 283.

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É a religião que encara o indivíduo, seja quem for, homem ou mulher, grande ou pequeno, rico ou pobre, livre ou escravo, sábio ou ignorante, feliz ou desgraçado, e procura resolver os seus problemas complexos: materiais, sociais, intelectuais, morais e especialmente espirituais, no presente e no futuro. Se outras podem resolver alguns dêsses problemas, o Cristianismo, não como uma religião, mas a religião, tem poder para esta tarefa divina.

O Cristianismo satisfaz a todas as aspirações da alma, na vida presente e na vida futura.

Damos algumas características:

O termo «Evangelho» sintetiza a religião de Jesus, Marcos 16:15.

RELIGIÃO DE «SALVAÇÃO»

A obra de Cristo se resume no termo «salvação».

O verbo «salvar» em primeiro lugar significa simplesmente «sarar», «livrar da doença», Marcos 6:56, Lucas 6:9. Em segundo lugar, o verbo exprime o oposto de estar perdido, de «ter-se extraviado», como ovelha errante que precisa ser reconduzida ao aprisco, Lucas 15:4. Dêste sentido próprio ao figurado, de um extravio moral e de um reconduzir ao verdadeiro caminho, a distância é pequena: «Não sou enviado senão às ovelhas perdidas da casa de Israel», Mateus 15:24. Assim, «salvar» exprime duas idéias: a da cura e a de ganhar o indivíduo moralmente.

A religião salvadora encara o indivíduo em tôdas as suas três partes: corpo, alma, espírito, 1 Tess. 5:23, ou em duas partes, considerando os termos «alma» e «espírito» como sinônimos.

Jesus, revelou no homem, a alma, uma parte preciosa que pode viver eternamente feliz com Deus, e que não tem o destino do corpo, isto é, não morre. A outra parte, também importante, o corpo, precisa ser mantido, nutrido, conservado com saúde. Tudo faz o homem, em favor do seu corpo, e às vêzes com tal intensidade, que descura da outra parte do seu ser, isto é, da alma.

Preocupa-se o homem cristão com a saúde, fundando hospitais, asilos, orfanatos, casas de socorros ou sociedades benefi-

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cientes, tudo fruto do ensino do Mestre. Não descuida também do cérebro, mas alimenta-o, cuida dêle, instruíndo-o com conhecimentos, visando, desde a instrução primária até a mais elevada possível. A instrução é luz, é fôrça, é alimento, a instrução é divina. A ignorância, é egoísmo, é guerra, é crime.

O homem possui outra parte superior que é o órgão do espírito, com o qual como antena, apanha as ondas da revelação espiritual de Deus e de Jesus. O cristianismo não asfixia, mas, ao contrário, apresenta o horizonte largo, imenso, infinito, de modo que nas religiões passadas e nas consciências presentes, tem a criatura um campo vasto onde pode enriquecer e alimentar êste instrumento, pelo qual se apanham e se alcançam as bênçãos, e o alimento para a consciência. É a faculdade com a qual se aferra a Deus.

Só o cristianismo humano preocupa-se em salvar a alma, e não encara o homem em seu todo. A religião salvadora de Cristo é diferente da religião dos homens.

Compete ao cristianismo executar as leis que visam o bem estar de tôdas as criaturas, na expressão, igualdade e fraternidade, e em tudo quanto se relaciona com o indivíduo, seja ele quem for, na esfera material, intelectual, moral e espiritual.

O mundo em que vivemos é a primeira fase do céu, e o cristianismo o traz, conservando-o para o bem de tôdas as criaturas; quando o indivíduo morre, passa para a outra fase do céu, mais viva, mais espiritual e eterna.

Poderoso é o evangelho da salvação, Efésios 1:13.

Jesus deixou estas palavras imortais:

«Eu sou o caminho, a verdade e a vida».

Êle é o elo entre as criaturas e o Criador.

RELIGIÃO DO «PODER DE DEUS»

A religião dos homens tem fôrça, poder, para destruir. Há a religião do egoísmo, do ódio, da separação e da destruição. Vimos tudo isso na guerra há alguns anos terminada, e

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o quanto pôde a fôrça humana, o ódio destruiu a civilização, ceifando milhares de vida, sacrificando lares e sêres humanos. Se tôda essa fôrça fôsse expendida para o bem da humanidade, ter-se-iam solucionado os problemas da geração presente e alguns da geração futura. Porém, tôda a fôrça humana é incapaz de resolver os males que há no mundo e que cada indivíduo traz dentro de si. Só o poder de Deus tem capacidade para tudo isto.

Mentalidades bem intencionadas, no correr dos tempos, têm-se preocupado em resolver os múltiplos problemas dos sêres humanos, procurando mudar as coisas, transformar os homens fazendo-os melhor, mas, infelizmente, debalde.

Tem-se recorrido à instrução, para tornar o indivíduo melhor e fazê-lo feliz, supondo-se que quanto mais instruído, melhor saberá evitar o êrro e praticar o bem. Mas a instrução somente, pôsto que útil e fator importante, não muda a natureza do indivíduo de modo radical, transformando-o para melhor. Foram os países mais cultos, aquêles que provocaram a guerra que assolou a humanidade. Os resultados mais positivos e úteis da ciência foram empregados na causa da dor, da morte, do extermínio. Aí se encontra a bomba atômica que impôs a paz pelo temor, mas não pela persuasão... Uns receberam o termo paz, como alegria e vida, outros o receberam como sinônimos de escravidão.

Outro processo utilizado pelo homem para formar o indivíduo, é o castigo, o cárcere, aplicado na suposição de que, com o sofrimento, mudará de pensamento e de disposição. O castigo pode trazer como corretivo, algum benefício, conforme a índole da pessoa, mas é forçoso confessar, que em regra, não converte a pessoa intimamente.

Há criminosos que saem do cárcere depois de muitos anos, sem ter mudado de ânimo, sendo o mesmo indivíduo de antes. O castigo não transforma, mas esmaga a criatura.

Outro processo ainda, é o do conselho, das lágrimas. Há, porém, corações insensíveis às lágrimas. Este é um remédio que pode curar a «enfermidade», mas não o «enfêrmo».

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A religião do -- «poder de Deus», Romanos 1:16, converte, transforma o indivíduo. Cria um «mundo novo» dentro do coração, uma nova mentalidade e disposição de espírito. A história das conversões está cheia de exemplos de indivíduos convertidos pelo poder de Deus, como o caso de Santo Agostinho. «O evangelho é o poder de Deus para salvar todo aquêle que nele crê», Romanos 1: 16.

A religião do «poder de Deus» opera milagres de conversões e reabilitações.

RELIGIÃO DA «GRAÇA DE DEUS»

A Religião da «graça de Deus», Atos 20:24, é a religião da energia.
O termo «graça» tem o sentido de energia divina, Atos 6:8. É a religião, poderíamos dizer, que se localiza em todas as faculdades do indivíduo: no coração, no cérebro, no corpo, 1 Coríntios 6:20. Aquêle que pratica a religião da «graça de Deus», torna-se fonte de bênçãos para muitos, pois, através da sua pessoa, da sua vida, de suas atitudes, expande essa bênção e energia espiritual.

Cada membro do «reino de Deus», reino do «bem», é um portador das bênçãos dêsse reino. Como Cristo tinha energia própria, inerente, Lucas 8:46 e por ela curou uma pobre enferma, o «cristão» que recebe energia em contacto com Cristo e pratica essa religião da «graça de Deus», transmite bênçãos através da sua vida, podendo assim curar muitas moléstias morais e espirituais. A experiência de muitos cristãos que praticam os ensinos de Jesus, é de que são uma bênção para si e para seus semelhantes.

Infelizmente, muitos que afirmam ser religiosos, têm uma religião para si, e uma religião egoísta e morta para os outros. É uma religião sem energia divina, pôsto que humana, e por isso mesmo infrutífera.

O homem deve ser veículo da «graça de Deus».

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RELIGIÃO DO «AMOR»

A religião do «amor», como é natural, repele de início a religião do egoísmo, que traz tanta infelicidade aos homens. A religião do amor, expulsa do coração, centro de emoções e disposições, êsse cancro que escravisa o indivíduo e a sociedade.
Os gregos conheciam o termo irmão, mas era uma palavra para eles quase vazia de sentido. Cristo usou-a, mas encheu-a da sua própria personalidade e ação. Os judeus também tinham o termo irmão, próximo, mas cavavam um abismo entre si e o estrangeiro, o gentio. Jesus nivelou a todos sob o manto de um só Deus e Pai de todos. Para Ele todos são iguais, Col. 3:11.

Se Deus amou o mundo, a todos, Jesus, amou as criaturas, a ponto de entregar-se em holocausto; é natural que tôdas as criaturas sejam ligadas pela faixa, veículo do amor e do amor fraternal.

Religião sem amor é como cadáver, sem vida. Paulo, intérprete profundo de Jesus, fala do amor usando expressões e figuras especiais, que não são encontradas em outros livros religiosos do mundo. Diz ele que o amor tudo crê, tudo espera, tudo suporta e nunca acaba, 1 Cor. 13:7, 8. E, na sua vida de cristão, procurou por em prática essa religião do amor.

Chega ele a emprestar ao amor, a idéia de dimensões, Efésios 3:18, 19. O amor tem «largura» e com isto significa que abrange a tôdas as raças, povos, indivíduos da superfície do globo, onde quer que se encontrem.

O amor tem «comprimento», significando com essa idéia, que abrange todos os tempos, tôdas as épocas, tôdas as criaturas.

«Profundidade» do amor. Com esta expressão mostra que alcança a criatura mais ínfima na escala da degradação moral e espiritual. Toma o «pecador», o «miserável» e faz dêle um anjo, infundindo-lhe o sangue da vida, do amor, que deve circular nas veias do seu ser, renovado moralmente. Cristo veio ao mundo

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não por causa dos justos, mas por causa dos «pecadores». Veio «chamar os pecadores ao arrependimento».

O amor tem «altura». Esta dimensão do amor, dá a idéia de que, tomando a criatura de uma esfera tão baixa a que foi conduzido pelo pecado, ele a transforma e a eleva até junto de Deus, no céu, em companhia dos anjos e remidos.

Os milagres desta religião do amor, se fazem sentir na experiência da vida diária.

Não é a religião de palavras, mas de atos, vivida em contato com Cristo.

Como é diferente desta, a religião dos homens, cheia de orgulho, preconceito e egoísmo!

A religião que há de vencer o mundo é a do «amor», a do amor de Deus e de Cristo.

RELIGIÃO DA «PAZ»

A humanidade vem suspirando ansiosa pela religião da «paz», Efésios 6:15.

«Paz» é uma palavra preciosa, que, como o «amor», está cheia da pessoa de Cristo e significa «ligar, prender, fundir». Jesus é o «príncipe da paz» e veículo da paz de Deus.

A paz é subjetiva e objetiva. A paz subjetiva é a feliz relação que existe entre a criatura e o Criador. Paz da consciência, paz do coração, com Deus. É esta relação de bem estar, de amizade profunda que subsiste entre o filho e o Pai, na união íntima de afetos. Manifesta-se em alegria intensa, gôzo, e revela-se freqüentemente nos lances de altruísmo e amor.

Ela não se manifesta somente na relação com Deus, mas também com o próximo, em tôdas
as relações possíveis, da família e da sociedade. Há uma expressão de Paulo nessa direção: «Tende paz com todos os homens».

A paz objetiva se manifesta na frase: «fazer o bem», «fazer a paz». É a parte difícil da prática, da religião da paz. É mais fácil fazer a guerra e causar perturbação, do que promover a

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harmonia. Quantos empenhados em conduzir almas e desfazer trigas, sabem quão espinhosos são os encontros, embaraçosos caminhos, quando se procura realizar a paz num mundo que um caos de desarmonia, de guerra atroz, essa coisa terrível arraigada na alma do homem. . .

Se perguntassemos a Jesus se foi tarefa fácil fazer a paz entre homens, Ele nos diria que foi custoso porque teve que dar o seu sangue, a sua própria vida, a fim de realizar essa paz.

O Cristianismo é contra a guerra e a opressão.

Ele propõe a paz como um dos meios para a felicidade do divíduo, da família e da humanidade.

O que é preciso é viver o ensino de Cristo como Ele viveu. Então a pessoa compreende que estas e outras características de sua religião são preciosas.

DEPOIS DA MORTE

A morte é o problema do homem.

Quanto ao além, o assunto é árduo e envolto em mistério.

Cada religião tem seu modo particular de encarar a indivíduo depois da sua morte.

Jesus falou muito pouco sobre o destino no além. Mas o pouco que disse, sôbre o assunto, é suficiente para tranquilizar e confortar.

O Cristo disse: « ... quem ouve a minha palavra... tem vida eterna», João 5:24. «Aquêle que crê em Mim tem a vida eterna», João 6:47. «Eu sou a ressurreição e a vida», João 11:25. Deixou o Mestre um passo sobremaneira importante, narrado somente por João: «Na casa de Meu Pai há muitas moradas. Vou preparar o lugar», João, 14:2,3. Na cruz, na hora da sua morte, Cristo proferiu êste pensamento: «Pai, nas Tuas mãos itrego o meu espírito», Lucas 23:46. Revela confiança em Deus que cuida do indivíduo após a morte.

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Santo Estêvão seguiu a experiência do Mestre, no momento de morrer: «Senhor Jesus, recebe o meu espírito», Atos 7:59.

Nessa mesma linha de pensamento, na sua experiência religiosa, São Paulo disse: «Morrer é ganho», Felip. 1:21.

Por fim Jesus deixou esta idéia confortadora, ensinando ser o caminho que conduz à vida:

«Eu sou o caminho, a verdade e a vida», João 14:6.
O nosso destino está nas mãos de Deus, em quem confiamos, como Pai de amor.
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Fim do livro Zoroastro, Buda e Cristo.
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Zoroastro
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Buda
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Cristo
http://www.geocities.com/projetoperiferia5/cristo.htm
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INDICE

ZOROASTRO
1 - Zoroastro 8
2 - Avesta e Zend-Avesta 12
3 - A Pátria e a Época do Avesta 13
4 - História da Tradução do Avesta 16
5 - O Avesta, Época da Sua Composição e o Cânon 18
6 - O Avesta e os Livros que o Compõe 21
7 - As Gâthâs 22
8 - A Língua do Avesta 25
9 - O Avesta e a Bíblia 26
10 - A Religião dos Persas ou Iranianos 29
11 - Monoteísmo e Dualismo no Avesta 29
12 - Teologia do Avesta 30
13 - Ahura Mazda e outras Divindades 31
14 - Anra Mainyu e os Outros Sêres Malígnos 36
15 - O Salvador e a Ressurreição dos Mortos 38
16 - A Vida Moral e Religiosa 39
17 - O Céu e o Inferno 42

B U D A
18 - Os Livros Religiosos do Budismo 46
19 - Os Nomes de Buda 49
20 - A Família de Buda 50
21 - Buda e a Arqueologia 51
22 - Vida de Buda 52
23 - Buda e as Lendas 52
24 - A Dor e o Curso de Vida de Buda 54
25 - A Cultura de Buda 54
26 - O Budismo é Religião ou Filosofia 55
27 - A Evolução do Budismo 56
28 - Os Concílios do Budismo 57
29 - O Caminho da Vida de Buda 57
30 - O Âtman 58
31 - O Karman 58
32 - A Transmigração da Alma 59
33 - A Sêde de Viver 60
34 - O Nirvâna 61
35 - A Súplica no Budismo 61
36 - Diferenças e Semelhanças Entre Buda e Cristo 62

C R I S T O
37 - O Cristianismo e as Outras Religiões 66
38 - Os Livros Sagrados ou Fundamentais 66
39 - O Nascimento 69
40 - A Tentação 70
41 - O Sexo Feminino 72
42 - Falta de Dados Históricos 74
43 - O Sermão do Monte 76
44 - As Parábolas 81
45 - O Pai Nosso do Zoroastrismo 82
46 - O Pai Nosso do Islam 83
47 - Deus, o Pai 84
48 - O Cristianismo Religião Universal 85
49 - Religião de Salvação 86
50 - Religião do Poder de Deus 87
51 - Religião da Graça de Deus 89
52 - Religião do Amor 90
53 - Religião da Paz 91
54 - Depois da Morte 92
55 - Bibliografia 94
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BIBLIOGRAFIA



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CONTI - Storia delle Religioni

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FOOT MOORE - Storia delle Religioni

GUARRÃO - Zend-Avesta

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HARLEZ - Avesta

HARLEZ - Le Origine du Zoroastrisme

HARLES - Le sens des mots Avest-Zend

HENRY V. - Le Parsisme

HAVELAGUE - L'Avesta

JACSON - Zoroaster

MÜLLER M. - Scienza delle Religioni

MAZZANI - Zoroastrime

MESSINA - I Maggi a Bethme

MENANTE - Zoroastrisme

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MARTINDALE - Storia delle Religioni

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ELAIDE - Storia de-fie Religioni

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HUME R. E. Las Religiones Vivas

NILLS - Saggi di Litteratura sulla Religione dell'Avesta

MENANT J. - Zoroastre, Essai sur Ia Philosophie Religiuese de Ia Perse

ZOEHREER - Zoroastro e Ia Fantasia Religiosa
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Edição Eletrônica pelo Coletivo Periferia
http://www.geocities.com/projetoperiferia
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