Afshin, um comerciário do sudoeste do Irã, alega que um de seus amigos foi espancado e estuprado repetidamente após ser preso em uma manifestação da oposição no mês passado, após a eleição ser contestada. Ele foi entrevistado por Esfandiar Poorgiv, jornalista e acadêmico. Esta entrevista foi publicada aqui como parte do projeto do Guardian para identificar os mortos e detidos durante os tumultos. O Guardian ainda não confirmou essa entrevista de forma independente.
Esfandiar Poorgiv
guardian.co.uk, Quarta-feira, 1 jul 2009 16,46 BST
Ele chegou à minha loja por volta das 10:30. Poder-se-ia dizer à primeira vista que acabara de sair da prisão. O rosto estava bem machucado, por todos os lados. Seus dentes estavam quebrados e dificilmente conseguia abrir os olhos.
Nunca se envolvera em questões políticas. Era apenas um rapaz comum de 18 anos de idade no último ano de escola. Antes da eleição se aproximou de mim pedindo para esplicar-lhe como votar. Ele me observava. Seu pai apóia Ahmadinejad.
Foi direto pra casa após sua libertação, mas seu pai não o deixou entrar, ele não mencionou ter sido estuprado. No começo não quis me contar. O primeiro a descobrir foi o médico que o examinou e que me revelou.
Quando chegou à minha loja desabou na cadeira. Disse que não tinha para onde ir e pediu para ficar comigo. Chamei um médico amigo meu para vir até minha casa para vê-lo. E levei-o para casa.
Seus ombros e braços estavam bem machucados. Havia alguns hematomas na face. Nenhum osso fraturado, mas o corpo todo estava moído de pancadas. Quis tirar algumas fotos, mas ele não me deixou. O médico disse que apenas quatro de seus dentes estavam intactos, os restantes foram quebrados. Ele falava com muita dificuldade.
Então o médico me explicou o que tinha acontecido. O rapaz sofrera ruptura do reto e o médico receava hemorragia no colo. E sugeriu levá-lo imediatamente para o hospital.
Foi registrado sob um nome falso de algum segurado. As enfermeiras começaram a chorar. Duas delas perguntaram que tipo de besta tinha batido nele daquele jeito. O homem estava todo arrebentado. E nos disse para não desperdiçarmos nosso dinheiro, pois iria se suicidar.
Ele foi preso em Shiraz, em 15 de Junho, na segunda-feira após a eleição. Alguns jovens fortes fizeram um escudo humano em torno dos manifestantes. Ele estava entre eles. Disse que conseguiu acertar alguns policiais da tropa de choque. Mas depois foi pego e espancado. "Naquele dia fui jogado em uma van onde permaneci até o entardecer, depois fui transferido para uma cela solitária, onde fui mantido por dois dias", disse. "Então, fui várias vezes interrogado, espancado e depois dependurado. Chamavam isto de quibe de frango. Eles amarraram minhas mãos e meus pés juntos, me penduraram no teto, giraram meu corpo, e me bateram com fios.
"Eles nos deram água quente para beber e uma refeição diária. Repetidos espancamentos era um castigo regular. Nos interrogatórios, eles continuamente perguntavam se eu fora treinado no estrangeiro. Achava que eu seria enviado da delegacia para a prisão. Mas eles me enviaram para um lugar que chamavam de Quarto dos Valentões. Havia outros jovens de minha idade lá. Eu perguntei a um guarda por que não me enviaram para a prisão e a resposta foi: 'Por um tempo você será nosso convidado'.
"Recusei confessar durante os interrogatórios. Então disseram-me: 'Pergunte a seus amigos o que vamos fazer com você se você não cooperar'. Outros no quarto também foram presos em 15 de junho. Nesse momento quase confessei, mas não o fiz. No terceiro e quarto dia, eles me deram uma surra novamente. Eles insistiam que tínhamos sido treinados no estrangeiro. Continuei a dizer-lhes que estava apenas protestando por causa de nossos votos.
"Foi no sábado ou domingo que fui estuprado pela primeira vez. Havia três ou quatro caras grandes que não tínhamos visto antes. Eles se aproximaram e rasgaram minha roupa. Tentei resistir, mas dois deles me puseram no chão enquanto o terceiro me estuprou. Isso aconteceu na frente de outros quatro detidos.
Meus companheiros de cela, especialmente os mais velhos, tentaram consolar-me. Disseram que ninguém perde a dignidade por causa disso. Fizeram o mesmo em dois outros companheiros de cela nos dias seguintes. Então, isso se tornou rotina. Ficamos tão fracos e abatidos que não conseguíamos fazer nada.
"Então reiniciaram os interrogatórios. Disseram-me: 'Se você não recuperar os sentidos, vamos enviar-lhe para Adel Abad [outra prisão em Shiraz] para a seção dos pederastas, para que você receba esse tratamento todo dia". Eu estava tão fraco que nem sei o que respondi. Então pediram meus contatos. Disse-lhes que não tinha contatos e fui informado sobre as manifestações através da Internet.
"A mesma rotina continuou até esta manhã, quando fui libertado. Na semana passada, não houve interrogatório, nem espancamentos. Apenas estupro e isolamento".
Esse foi seu relato. Mas ele não conseguia falar direito. Estava numa condição de grande dor física e mental enquanto falava. Pedi-lhe para contar sua história, na esperança de fazer a diferença para aqueles que ainda se encontram detidos.
• Esfandiar Poorgiv é um pseudônimo.
fonte: "Iran protester was arrested, beaten and raped, friend says"
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