segunda-feira, 29 de setembro de 2008

IX Jornada Internacional de Estudos de Kierkegaard



Quarta-feira, 10 de Setembro de 2008

Equipe Organizadora
Prof. Deyve Redyson (UFPB)
Prof. Romero Venancio (UFS)
Emila Cristina
Marcelo Santos


Apresentação de Trabalhos

Envio de resumo de até 250 palavras para o e-mail emilebarros@gmail.com até o dia 31 de outubro de 2008, informando o titulo do trabalho, titulação, institução e e-mail


INSCRIÇÃO
Enviar E-mail para emilebarros@gmail.com

Valores:
Estudante: 20 reais
Professores: 40 reais


Local: Universidade Federal da Paraíba
CCHLA
Data: 17 a 19 de novembro de 2008
Auditório 411
13:00 às 21:30

domingo, 28 de setembro de 2008

Por que o mercado acabou dominado pelas grandes corporações?


C.4.1 Qual o tamanho dessas grandes corporações?
C.4.2 Como essas grandes corporações afetam a sociedade?
C.4.3 O que significa a existencia dessas grandes corporações para a teoria econômica e para o trabalho assalariado?


"Os fatos mostram. . . que, com o passar do tempo, a economia capitalista tende (com algumas interrupções) a tornar-se mais e mais fortemente concentrada". [M.A. Utton, The Political Economy of Big Business, p. 186]. A dinâmica do "livre" mercado funciona de tal forma que ele tende a tornar-se completamente dominado por algumas poucas empresas (tanto a nível nacional como, principalmente, a nível internacional), resultando em competições oligopolísticas e altíssimos lucros para estas companhias em questão (veja na próxima seção detalhes e exemplos). Isto ocorre porque apenas as grandes corporações podem dispor do capital necessário para investir, tornando-se competitivas pela redução do número de competidores habilitados para entrar ou sobreviver em um determinado mercado. Conforme as palavras de Proudhon, "competição mata competição". [System of Economical Contradictions, p. 242]

Isto "não significa que não surgirão novas e poderosas marcas [surgiram muitas grandes empresas nos EEUU após os anos 80]; elas surgem, mas em tais mercados. . . [é necessário tamanho e poder, sem tais características dificilmente sobrevivem, embora as que dominam o mercado hoje] eram muito pequenas ou inexistentes nos primeiros anos deste século". A dinâmica do capitalismo é tal que a "a vantágem competitiva [associada com o tamanho e o poder da grande corporação no mercado], uma vez conquistada, torna-se duradoura". [Paul Ormerod, The Death of Economics, p. 55]

Para pessoas com pouco ou nenhum capital, a entrada na competição fica limitada a novos mercados com baixo custo para o acesso ("Em geral, indústrias associadas com pequena escala de produção. . . tem baixos níveis de concentração". [Malcolm C. Sawyer, The Economics of Industries and Firms, p. 35]). Lamentavelmente, contudo, devido à dinâmica da competição, tais mercados normalmente acabam sendo dominados por algumas grandes empresas, enquanto as empresas fracas quebram, as bem sucedidas crescem na medida em que seus custos de capital diminuem -- "Cada vez que o capital completa seu ciclo, o [poder aquisitivo das] pessoas cresce menos com relação a ele". [Josephine Guerts, Anarchy: A Journal of Desire Armed no. 41, p. 48]

Por exemplo, entre 1869 e 1955 "existia um mercado que aumentava o capital per cápita entre os trabalhadores. O capital per cápita aumentou. . . algo em torno de quatro vezes seu patamar inicial. . . aproximadamente 17% por década". O índice anual de formação de capital bruto cresceu "$3.5 bilhões no período 1869-1888, $19 bilhões no período 1929-1955, e $30 bilhões no período 1946-1955. Este aumento a longo prazo durante tres quartos de século representou cerca de nove vezes o patamar original". [Simon Kuznets, Capital in the American Economy, p. 33 e p. 394]. Tomando a indústria do aço como exemplo: em 1869 o custo médio nas siderúrgicas nos EEUU era de $156,000, em 1899 passou para $967.000 -- um crescimento de 520%. De 1901 até 1950, o ativo fixo bruto cresceu de $740.201 para $2.829.186 na indústria siderúrgica como um todo, com os ativos da Bethlehem Steel crescendo 4.386,5% de 1905 ($29.294) a 1950 ($1.314.267). Este crescimento bruto se reflete tanto no tamanho dos locais de trabalho como nos padrões de administração na companhia como um todo.

Com o crescente quociente de capital dirigido ao trabalhador, o monumental custo de lançamento de uma firma rival em determinado (e bem desenvolvido) mercado torna o processo de participação exclusivo às grandes empresas (isso sem mencionar gastos com propaganda e outras despesas de distribuição, que eleva ainda mais os custos de lançamento - "a propaganda aumenta [a quantidade de] capital necessário para lançar uma indústria" -- Sawyer, Op. Cit., p. 108). J.S Bain [Barriers in New Competition] identificou tres barreiras principais para a entrada de uma empresa no mercado: a economia de escala (i.e. o crescimento dos custos de capital e sua natureza mais produtiva); a diferenciação do produto (i.e. propaganda); e uma categoria mais geral que ele denominou "vantágem do custo absoluto".

Esta última barreira significa que grandes companhias sobrepujam companhias menores pelos seus recursos, idéias, etc. inclusive injetando mais dinheiro em coisas como Pesquisa e Desenvolvimento e compra de patentes. Dessa forma elas acabam tendo uma vantágem tecnológica e material sobre as pequenas companhias. Elas podem também, se for necessário, implementar preços "não econômicos" por um tempo (durante o qual sobrevive com seus recursos) -- numa atividade denominada "preço predatório" -- e/ou montar uma pródiga campanha promocional para conquistar o maior quinhão do mercado ou expulsar seus concorrentes para fora do mercado. Além disso, é muito mais fácil para as grandes companhias levantar capitais externos, e o risco é geralmente menor.

Importante não esquecer também que as grandes empresas geralmente tem um maior poder na inovação e no desenvolvimento da tecnologia -- elas podem simplesmente absorver empresas novas e pequenas através de seu poder econômico, comprando (e portanto controlando) novas idéias. Muitas companhias de petróleo possuem patentes de uma variedade de fontes tecnológicas de energia alternativa, as quais mantém a sete chaves de forma a reduzir a competição na produção de suas mercadorias (naturalmente, em algum momento no futuro eles as desenvolverão mas só quando tiverem a certeza que isso lhes dará lucro). Também, quando o controle de um mercado está assegurado, os oligopólios retém a inovação para maximizar a ulilização das fábricas e equipamentos ou introduzir inovações falsas para maximizar a diferenciação do produto. Se o controle do mercado sofre alterações (usualmente por outras grandes empresas, como aconteceu no acirramento da competição entre os oligopólios ocidentais pela ação dos japoneses durante os anos 70 e 80), elas podem acelerar a introdução de teconologias mais avançadas e eventualmente conter outros competidores (mas tudo isso depende do tamanho dos recursos disponíveis).

Tais barreiras funcionam em dois níveis - absoluto, que estabelece barreiras de (entrada) e relativo, que estabelece barreiras de (movimento). Como as corporações crescem em seu tamanho, o montante de capital requerido para o investimento de forma a lançar uma corporação também cresce. Isto restringe a entrada de novo capital no mercado (que fica limitado apenas a empresas com substancial capacidade financeira e/ou com suporte político que as ampare):

"As velhas organizações que dominam o mercado trazem consigo as características estruturais da indústria, onde os potenciais competidores encontram imensas barreiras para poder entrar [no mercado] onde elas atuam. São necessários altíssimos investimentos em fábricas, equipamentos, e pessoal. . . O desenvolvimento e a utilização dos recursos produtivos dentro da organização toma um considerável tempo, particularmente diante das formidáveis incumbências que que são necessárias . . . Portanto, apenas umas poucas organizações corporativas tem a capacidade de fazer emergir uma indústria dotada de características . . . altamente competitivas. É realmente um problema enfrentar uma indústria. . . [sustentada pelo] poder oligopolistico do mercado". [William Lazonick, Business Organisation and the Myth of the Market Economy, pp. 86-87]

Além disso, dentro da indústria ologopolística, o grande tamanho e poder das empresas que dominam o mercado necessáriamente implica em que as pequenas empresas cedo ou tarde acabarão enfrentando o fantasma da expansão que reduz a competição. As empresas que dominam o mercado tem muitas vantágens sobre seus pequenos rivais -- um significante poder aquisitivo (que lhes permite lucro com serviços melhores e preços baixos disponibilizados pelos fornecedores, como também um melhor acesso aos recursos), -- um acesso privilegiado aos recursos financeiros, -- um enorme montante de ganhos guardados em fundos de investimentos, -- uma economia de escala tanto dentro como entre os locais de traballho, -- um subfaturamento dos preços em níveis "não-econômicos" e assim por diante (e assim, naturalmente, elas se capacitam para comprar companhias menores -- A IBM pagou $3.5 bilhões pela Lotus em 1995. O que equivale ao produto anual bruto do Nepal, que tem uma população de 20 milhões). A grande empresa ou grupo de empresas pode também, se quiser, usar a influencia que exerce sobre seus compradores e fornecedores para limitar as atividades das pequenas empresas que tentam se expandir (por exemplo, usando sua influencia para que seus contatos boicotem os produtos das pequenas empresas).

Não foi por acaso que Proudhon argumentou que "na competição. . . a vitória está garantida para os batalhões mais fortes". [Op. Cit., p. 260]

Como consequencia destas barreiras de entrada/movimento, o mercado fica dividido em dois setores principais -- um setor oligopolístico e um setor mais competivivo. Tais setores funcionam em dois níveis -- dentro dos mercados (com algumas firmas em determinado mercado tendo quotas, poder e lucros excessivos) e dentro da própria economia (alguns mercados tornam-se altamente concentrados e dominados por algumas empresas, outros mercados tornam-se mais competitivos). Isto resulta em que pequenas empresas em mercados oligopolísticos acabem sendo expulsas pelas grandes corporações em direção a mercados mais competivos. Protegida contra toda e qualquer competição (que possa influir no preço de mercado dos mercados oligopolísticos) a grande corporação não é forçada a derrubar o preço médio de produção no mercado, em vez disso este tende a se estabilizar em torno do preço de produção das pequenas empresas daquele ramo industrial (as quais não tem acesso às mesmas vantágens daqueles que dominam o mercado). Isto faz com que a empresa que domina o mercado se apodere de super-lucros até o momento em que um novo capital surja no mercado, coisa que demora a acontecer uma vez que apenas companhias maiores que ela poderão fazer isso, companhias estas que usualmente já obtem retornos semelhantes em seus respectivos mercados oligopolizados (a concentração do poder no mercado em algumas poucas mãos pode ser potencialmente desastroso para pequenas empresas se sua expansão for interpretada como uma ameaça).

Todos os super-lucros angariados pelas grandes corporações resultam da redução da competição obtida pelas vantágens da concentração, de seu poder no mercado e de seu tamanho (veja seção C.5 para detalhes).

Além do mais, é importante notar que todo processo em torno do crescimento das Grandes Corporações nacionais está também relacionado ao mercado global. Da mesma forma que as grandes corporações surgiram atraidas pelo desejo de maximizar lucros e sobreviver no mercado, "as transnacionais surgem como meio para consolidar ou aumentar lucros em um mundo oligopolizado". [Keith Cowling and Roger Sugden, Transnational Monopoly Capitalism, p. 20]. Enquanto o quadro local (USA) revela um mercado dominado por, diganos, quatro empresas, o quadro global revela vinte empresas. Da mesma forma que os mercados nacionais (USA) viram um crescimento na concentração das empresas durante os últimos anos, o mesmo ocorrerá com os mercados globais. Com o tempo surgirá uma estrutura bem desenvolvida de oligopólio global, com um punhado de empresas dominando a maior parte dos mercados globais (com uma rotação de estoque, empregados e vendas maior que o PNB de muitos países -- coisa que de alguma forma já ocorre em nossos dias. Por exemplo, em 1993 a Shell possuia um ativo de US$ 100.8 bilhões, que representa mais que o dobro do PNB da Nova Zelandia e o triplo da Nigéria, e um total de vendas no valor de US$ 95.2 bilhões).

A própria dinãmica do capitalismo, suas exigências para sobrevivência no mercado, resulta em que o mercado torne-se cada vez mais dominado por grandes corporações ("quanto mais competição houver, mais ela tende a reduzir o número de competidores". [P-J Proudhon, Op. Cit., p. 243]). A ironia da competição resultar em sua própria destruição e do mercado sendo substituído pela alocação coordenada e planejada de recursos são assuntos tabu entre os defensores do capitalismo.


ativo fixo. Parte do ativo que denota o valor dos bens imobilizados de uma empresa, representando seu capital fixo que pode ser tangível ou intangível.

concentração. Termo que, em marketing, se aplica em relação à segmentação de mercado (market segmentation). Há concentração quando a organização enfoca somente um subgrupo e desenvolve um programa de marketing que lhe é particularmente dirigido, a fim de conquistar uma posição de destaque.

marketing concentrado. Situação que ocorre quando uma empresa não deseja nem pode visar ao mercado todo e escolhe um segmento, criando através de especialização, uma posição de predomínio.

diferenciação de produto. Conjunto de técnicas em concorrência monopolística (monopolistic competition), em que os produtores marcam seus produtos para diferençá-los de outros, esperando persuadir os consumidores de que seus produtos são diferentes e presumivelmente melhores. Dessa forma, os produtores tentam estabelecer lealdade para com a marca (brand loyalty), o que lhes permite evitar a concorrência estritamente de preços. O grande número de marcas para produtos similares apóia esta teoria.

vantagem absoluta. De acordo com Adam Smith, capacidade de uma nação de produzir uma certa mercadoria, na qual deve especializar-se, importando as que produz com menor eficiência, e na qual tem uma desvantagem absoluta (absolute disadvantage).

rotação de estoque; rotação de empregados; movimento de vendas. 1. Número de vezes durante um determinado período em que é vendido ou renovado o estoque de uma empresa. 2. Perda e reposição de empregados por uma organização durante um determinado período. 3. Total de vendas durante um período, com a conotação de giro das mercadorias do estoque.

Grande Corporação. Big Business

C.4.1 Qual o tamanho dessas grandes corporações?

Os efeitos das grandes corporações nos ativos, vendas e distribuição de lucros são claros. Nos EEUU, em 1985, existiam 14.600 bancos comerciais. Os 50 maiores possuiam 45.7 de todos os ativos, os 100 maiores detinham 57.4%. Em 1984 existiam 272.037 corporações ativas no setor fabril, 710 delas (a quarta parte de 1 por cento) possuindo 80.2 por cento dos ativos totais. No setor de serviços (usualmente um ambiente dos pequenos negociantes) 95 empresas num total de 899.369 possuiam 28 por cento dos ativos do setor. Em 1986 na agricultura, 29.000 grandes fazendas (apenas 1.3% de todas as fazendas) ficaram com um terço do total das vendas nas fazendas e com 46% dos lucros das fazendas. Em 1987, as maiores 50 empresas ficaram com 54.4% do total das vendas da Fortune, as 500 maiores companhias industriais. [Richard B. Du Boff, Accumulation and Power, p. 171]

O processo de dominação do mercado reflete-se no crescimento das ações das grandes companhias no mercado. Na Grã Bretanha, as 100 maiores companhias fabrís viram suas ações subir no mercado de 16% em 1909, para 27% em 1949, para 32% em 1958 e para 42% em 1975. Em termos de ativos líquidos, as 100 maiores companhias industriais e comerciais viram suas ações de ativos líquidos subir de 47% em 1948 para 64% em 1968 para 80% em 1976 [RCO Matthews (ed.), Economy and Democracy, p. 239]. Numa visão panorâmica, notamos que em 1995 cerca de 50 empresas produziram cerca de 15 por cento dos bens fabricados no mundo industrializado. Existem cerca de 150 empresas funcionando ao redor do mundo na indústria de veículos a motor. Mas as duas maiores empresas, a General Motors e a Ford, juntas produzem mais de um terço de todos os veículos. As cinco maiores empresas respondem pela metade de toda a produção e as dez maiores empresas produzem tres quartos. Quatro empresas de aparelhos elétricos produzem 98 por cento das máquinas de lavar roupa fabricadas nos Estados Unidos. Ainda nos Estados Unidos, na indústria frigorífica, quatro empresas controlam 85 por cento da produção de carne bovina, enquanto que as outras 1.245 firmas participam em menos de 15 por cento do mercado.

Embora a concentração do poder econômico seja mais aparente no setor fabril, ela não se limita a esse setor. Estamos testemunhando uma crescente concentração no setor de serviços - linhas aéreas, cadeias de fast-food e a indústria do entretenimento são apenas alguns exemplos.

Outro efeito do fenômeno das grandes corporações é que as grandes companhias tendem a tornar-se mais diversificadas com um aumento na concentração de empresas individuais. Isto ocorre porque quando um dado mercado é dominado por grandes companhias, estas companhias se expandem em direção a outros mercados (usando seus grandes recursos para fazer isso) de forma a fortalecer suas posições na economia e reduzir riscos. Isto pode ser visto com o surgimento das "subsidiárias" de matrizes em muitos diferentes mercados, com alguns produtos aparentemente competindo uns com os outros mas na realidade pertencentes à mesma companhia!

As companhias de cigarros são espeicalistas nessa estratégia de diversificação; a maioria das pessoas ajuda indústrias tóxicas sem mesmo conhecê-las! Não acredita nisso? Bom, se você come algum produto da Jell-O, bebe Kool-Aid, usa o xarope Log Cabin, mastiga Minute Rice, saboreia cerveja Miller, devora Oreos, se pinta com Velveeta ou come biscoitos Ritzs, e se rende ao café Maxwell House, você está auxiliando a indústria do tabaco, e tudo isso sem colocar um cigarro na boca!

Ironicamente, a razão pela qual a economia tornou-se dominada pelas grandes corporações tem a ver com a própria natureza da competição. Para que possa sobreviver (pela maximização dos lucros) em um mercado competitivo, as empresas tem que investir em capital, propaganda, e daí por diante. Este processo de sobrevivência resulta na criação de barreiras para os potenciais competidores, que resulta em mais e mais mercados sendo dominados por algumas poucas grandes empresas. Esse processo de oligopolização que supre suas próprias necessidades oligopolísticas (devido ao seu tamamanho) tem acesso a mais recursos que as firmas menores. Assim, a dinâmica da competição capitalista é negar-se a si mesma na forma do oligopólio.


matriz. Matriz ou empresa principal de um grupo interligado; exerce controle e tem subsidiárias ou filiais. Não tendo negócio próprio, a matriz também pode ser considerada como a empresa controladora

oligopólio. Palavra de origem grega que significa "poucos vendedores". É, portanto, algum ramo de atividade empresarial dominado por um pequeno número de empresas. Supõe uma situação de mercado em que poucas firmas fazem produtos idênticos ou similares e podem influir nos preços.

C.4.2 Como essas grandes corporações afetam a sociedade?


É muito comum entre os economistas pro-capitalismo e defensores do capitalismo em geral procurar miminizar a importancia do tamanho e do domínio das grandes corporações no capitalismo.

Negam que essas grandes corporações sejam um problema - com o mercado, num processo autofágico, gerando grandes companhias que devoram as pequenas. Há que diga que a escola libertariana da direita "austríaca" seja o carro chefe dessa posição. Embora pareça irônico, tais economistas austríacos e outros "defensores do mercado" celebram a supressão do mercado coordenado por uma coordenação planejada dentro da economia, que resultaria em um crescimento ainda maior no tamanho das grandes corporações.

Não há dúvida alguma -- e é a competição oligopolística que estamos discutindo aqui, que as grandes corporações são responsáveis pela demanda (através da propaganda, naturalmente), de outra forma perderiam ações no mercado para seus rivais (usualmente para outras empresas dominantes no mesmo mercado, ou grandes empresas de outros países). Contudo, o "livre mercado" responsável pelo fenômeno do oligopólio ignora o fato de que nós, seres humanos, somos mais que apenas consumidores e que a atividade economica e os resultados do mercado exercem um impacto em diversos aspectos de nossas vidas. Assim, nosso argumento não é focado no fato de que pagamos mais por alguns produtos do que pagaríamos em um mercado mais competitivo -- nossa preocupação são as consequencias devastadoras do oligopólio. Se algumas companhias recebem lucros exorbitantes apenas porque seu tamanho limita a competição o efeito disto será generalizado.

Esses lucros "exorbitantes" tendem a se concentrar nas mãos de algumas poucas pessoas, distorcendo ainda mais a distribuição de renda (sem falar em poder e influencia) dentro da sociedade. As evidências disponíveis indicam que "uma maior concentração industrial gera uma menor quota em salários para os trabalhadores" no valor adicionado das empresas. [Keith Cowling, Monopoly Capitalism, p. 106]. As maiores empresas retém apenas 52% de seus lucros, o resto é pago como dividendos, comparado com os 79% das mais pequenas isto "pode ser qualificado como uma agiotagem acionária do excesso corporativo - dividendos mais juros oriúndos de um percentual de lucros e de juros pre-taxados - que subiram acentuadamente, de 20-30% nos anos 50 para 60-70% no princípio dos anos 90". [Doug Henwood, Wall Street, p. 75, p. 73]. Os 10% mais ricos da poupulação dos Estados Unidos possuem algo em torno de 80% dos grupos de ações (stock) e hipotecas ou obrigações (bonds) enquanto que os 5% mais ricos detém 94.5% de todos os grupos de ações de posse de indivíduos. Evidentemente a riqueza vem se concentrando cada vez mais desde os anos 70. [Ibid., pp. 66-67]. Este disparate na distribuição da renda proporciona à classe capitalista mais recursos para o enfrentamento na luta de classes mas seu impacto vai bem além disso.

Por exemplo, o "índice de concentração agregada ajuda revelar o gráu de centralização da tomada de decisão na economia e o poder econômico das grandes empresas". [Malcolm C. Sawyer, Op. Cit., p. 261]. Este oligopólio aumenta e centraliza o poder econômico sobre as decisões de investimento e de alocação de recuros que podem ser usadas para lançar regiões, países, forças de trabalho, uns contra os outros de forma a rebaixar salários e impor condições para todos (ou, da mesma forma, mover investimentos para fora dos países onde as forças de trabalho estão rebeladas ou onde há governos radicais, o colapso resultante serviria para "ensinar-lhes uma lição" para nunca se meterem a besta com gente poderosa). Como o tamanho das corporações aumenta, o poder do capital sobre o trabalho e sobre a sociedade também cresce com a ameaça da relocação sendo suficiente para fazer com que as forças de trabalho aceitem pagar o preço dos cortes, piorando as condições, "engolindo o sapo". Dessa forma, aumento nos níveis de poluição nas comunidades são aprovadas através de leis pro-capitalistas. O mesmo ocorre com relação a greves, organização sindical, etc. (aumentando assim o poder corporativo devido à mobilidade do capital).

Também, naturalmente, o oligopólio resulta em poder político pela importancia econômica, e seus recursos disponíveis dão a eles a capacidade para influenciar governos para que eles introduzam políticas favoráveis -- seja diretamente, seja pela fundação de partidos políticos, ou indiretamente por decisões de investimento, ou influencia nos principais meios de comunicação na política do toma-lá-dá-cá. O poder econômico também se extende ao mercado de trabalho, onde além de restringir as oportunidades de trabalho, as más condições no processo de trabalho atingem de cheio ao ser humano (originando doenças físicas e mentais) pelos seus efeitos negativos. As leis repressivas na sociedade onde vivemos tiveram sua orígem nas mesmas idéias que regem o mercado e que predominam na sociedade (veja seções D.2 e D.3).

Dessa forma, aumento em dimensão implica em aumento em poder. O poder dos oligopólios "influenciam as condições sob as quais eles irão operar. Eles não apenas reagem ao nível de salários e a velocidade do trabalho, como também atuam determinando-os. . . A crença na possibilidade de alterar produção e investimento se aplica também no que diz respeito a diminuir salários e aumentar níveis de esforços [pelos trabalhadores] . . . como também na capacidade de ganhar a cooperação do estado que lhes garantirá a apropriação [de recursos] do meio ambiente . . . [para] revertê-los em lucros" em valor adicionado e em renda nacional. [Keith Cowling and Roger Sugden, Transnational Monopoly Capitalism, p. 99]

Sendo o preço de mercado das mercadorias produzidas pelos oligopólios determinado por um valor acima dos custos, isto significa que eles contribuem para a inflação na medida em que adequam o aumento ou a queda nos custos à sua taxa de lucro pelo aumento de preços. De qualquer forma, isto não significa que o capitalismo oligopolístico não esteja sujeito a depressão. Pelo contrário. A luta de classes influenciará a quota dos salários (e a quota de lucros). Todavia, mesmo que os salários cresçam nunca serão completamente compensados pelo aumento de preços -- altos preços significam menor procura e existe sempre a ameaça da competição por parte de outros oligopólios. Além disso, a luta de classes também produzirá um impacto na produtividade e no montande de mais valia na economia como um todo, que, por sua vez, produzirá uma maior limitação na estabilidade do sistema. Este capitalismo oligopolístico entrará em choque com os efeitos da resistencia social à hierarquia, exploração e opressão, a mesma resistencia que atormentou capitalistas mais competitivos no passado.

O oligopólio distorce a distribuição de renda. Quanto maior o gráu de monopólio maior será seu impacto no gráu de desigualdade na distribuição doméstica. A fluência de riqueza para o topo faz com que não se produza aquilo que a classe trabalhadora necessita (os recursos acabam leiloados para quem paga mais, obrigando as empresas a produzir bens para mercados da elite enquanto que os outros mercados, não tão bem aquinhoados, ficam sem nada). A evidência impírica apresentada por Keith Cowling "aponta para a conclusão de que a redistribuição dos salários em direção aos lucros terá um impacto depressivo no consumo" [Op. Cit., p. 51] que pode causar depressão. Altos lucros também significa que um maior capital pode ser retido pelas empresas e fundos de investimentos (ou maiores ordenados aos executivos e aumentos de dividendos, naturalmente). Quando o capital se expande mais rápido que as rendas no trabalho, o excesso de investimento torna-se um crescente problema pois a demanda agregada não consegue se manter diante da queda no índice de lucros (veja seção C.7 para obter mais informações sobre o ciclo econômico). Além disso, quanto maior for o estoque de capital, maior será a tendência do oligopólio em afundar-se numa eventual depressão, que uma vez instalada será tão longa e tão dura que trará consigo a iminência da ruína completa.

Olhando para o oligopólio do ângulo da eficiência, a existência de super lucros por parte dos oligopólios significa que o alto preço dentro de um mercado impede empresas ineficientes continuar a produzir. Pequenas empresas podem produzir lucros (não oligopolísticos) médios a despeito dos altos custos, da sub-otimização da fábrica e daí por diante. Isto resulta que devido ao uso ineficiente dos recursos pelas forças de mercado ele não pode eliminar empresas com custos mais altos que a média (um dos traços chaves do capitalismo de acordo com seus defensores). E, naturalmente, lucros oligopolísticos distorcem a eficiência na alocação de recursos. Um punhado de empresas pode sobrepujar todas as outras, o que significa que os recursos não vão onde eles são mais necessários mas onde há uma maior procura efetiva (produzir bens para uma minoria que tem dinheiro).

Contudo, estes grandes recursos à disposição das companhias oligopolísticas faz com que elas resistam aos piores furacões no mercado. Conforme Richard B. Du Boff colocou, "Um caso notório foi o da . . . U.S. Steel [fundada em 1901]. Não obstante a companhia ter sofrido uma falencia comercial . . . resistiu por décadas funcionando com ações sem lastro. . . Outro caso foi a Ford. A companhia sobreviveu durante os anos 30 tão somente por causa de uma reserva em dinheiro que havia guardado em seus dias de glória. 'A Ford provê uma excelente ilustração do fato de que uma organização realmente grande pode resistir ao inesperado...'" [Accumulation and Power, p. 174]

Dessa forma as grandes corporações em muitos níveis reduzem a eficiencia da economia da mesma forma que exerce um impacto significante e avassalador na estrutura social, economica e política da sociedade.

Os efeitos da concentração de capital e de riqueza na sociedade são muito importantes. O capitalismo tende a produzir grandes corporações. O impacto da riqueza de uns poucos na vida de muitos é indicado na seção D do FAQ. Conforme mostraremos alí, além de envolver autoridade direta sobre os empregados, o capitalismo também envolve um controle indireto sobre as comunidades através do poder provocado pela riqueza.

Assim, o capitalismo não é o livre mercado descrito por algumas pessoas como Adam Smith -- o nível da concentração de capital faz com que as idéias sobre livre competição se tornem uma piada de muito mau gosto.


obrigação. Título de dívida com vencimento além de cinco anos. No Reino Unido o bond descreve alguns valores que nos Estados Unidos são chamados de debêntures (debentures).

estoque; grupo de ações. 1. Quantidade de algum bem mantida ou armazenada para ser usada quando surgir a necessidade, como, por exemplo, os artigos que um comerciante tem para vender. O mesmo que (inventory). 2. Termo equivalente a ação (share), mas com a idéia de que se trata de mais do que uma única, podendo ser um lote. Sinônimo de estoque de capital (capital stock).

ciclo econômico. Diz-se da expansão ou contração alternada na atividade econômica geral de um país. Segundo alguns economistas, o intervalo entre a expansão e a contração é bastante regular. O ciclo, geralmente, tem quatro fases: expansão, nivelamento, contração e recuperação. Nos períodos de expansão (boom), o volume de produção, emprego, lucros e preços aumenta, acontecendo o contrário na contração. Quando a contração é muito forte, denomina-se depressão (depression), mas quando não é tão intensa, passa a chamar-se recessão (recession).

C.4.3 O que significa a existencia dessas grandes corporações para a teoria econômica e para o trabalho assalariado?


Estudaremos aqui o impacto das grandes corporações na teoria econômica e no trabalho assalariado. Nas palavras de Michal Kalecki, competição perfeita é "mais uma suposição irreal" e "quando seu status real de modelo conveniente é esquecido torna-se um perigoso mito". [citado por Malcolm C. Sawyer, The Economics of Michal Kalecki, p. 8]. A realidade é que o princípio econômico do capitalismo é construído sobre este mito. Ironicamente, ele foi contra "com o pano de fundo [do surgimento das grandes corporações na última década do século XIX] quando apareceu a economia marginal, [há] um mundo imaginário composto por pequenas empresas. . . [um conceito] que se consolidou na profissão de economia". Assim, "Práticamente desde que foram criados, os postulados teóricos da economia marginal concernentes à natureza das companhias [e dos mercados] não passam de uma caricatura da realidade". [Paul Ormerod, Op. Cit., pp. 55-56]

As suposições da ideologia econômica constantemente contradizem a realidade com considerações importantes sobre a natureza "voluntária" do trabalho assalariado. Se o modelo competitivo assumido pela economia neo-clássica refletisse a realidade, teríamos uma grande diversidade de tipos de propriedade (incluindo cooperativas, extensas áreas de auto-emprego e trabalhadores acessando capital) não haveria quaisquer "barreiras de entrada" associadas com o controle da empresa. Este não é o caso -- os trabalhadores não acessam capital e auto-emprego e as cooperativas são marginalizadas. A característica dominante é o capital acessando o trabalho (escravidão assalariada).

Com um modelo baseado na "concorrência perfeita", os defensores do capitalismo construíram a fantasia de que o trabalho assalariado é uma escolha voluntária -- nestas circunstancias, os trabalhadores (em tal mercado) poderiam acessar capital ou formar cooperativas com uma relativa facilidade. Mas a realidade do "livre" mercado é tal que esse modelo não existe -- e enquanto suposição, ele é seriamente enganoso. Se levarmos em conta a realidade da economia capitalista, logo perceberemos que o que domina o mercado é o oligopólio e que a economia capitalista, pela sua própria natureza, restringe as opções disponíveis aos trabalhadores -- e de tal forma que a noção de que o trabalho assalariado é uma escolha "voluntária" é inaceitável.

Se a economia é estruturada de tal forma a criar dificuldades para a entrada no mercado e a sobrevivência depende da acumulação de capital, então tais barreiras são tão justas e eficazes como os decretos governamentais. Se pequenos empresarios são atropelados pelos oligopólios evidentemente as chances de falência aumentam (a grande maioria acaba se juntando ao rol de trabalhadores assalariados ou com poucos recursos, não por escolha "voluntária" mas por não ter outra opção) e se a desigualdade na renda é enorme, isso faz com que os trabalhadores tenham muita dificuldade para preencher as exigências necessárias para poder emprestar capital e começar suas próprias cooperativas. Dessa forma, olhando para a realidade do capitalismo (diferente daquilo que os livros de economia mostram) fica evidente que a existencia do oligopólio ajuda a manter o trabalho assalariado restringindo as opções disponíveis de participação no "livre mercado" aos trabalhadores.

Conforme vimos nesta seção C.4, aqueles que possuem um pequeno capital estão sendo expulsos para fora dos mercados em virtude do custo de ajustamento e baixa concentração. Assim, a afirmação dos defensores do capitalismo de que os trabalhadores tem uma escolha é totalmente desprovida de veracidade. Na melhor das hipóteses tal escolha é (como indicamos) de alguma forma limitada pela existencia de mercados oligopolísticos -- na verdade tão limitada que menos de 10% da população trabalhadora são trabalhadores auto-empregados. Além disso, as forças tecnológicas contribuem para aumentar o número de mercados que requerem baixos custos de ajustamento (o mercado de computadores é apontado como um exemplo disto). Todavia, predições semelhantes foram feitas há mais de 100 anos atrás quando os motores elétricos começaram a substituir as máquinas a vapor nas fábricas. "Esperava-se que as novas tecnologias [da década de 1870/80] fossem compatíveis com pequenas unidades de produção e operações descentralizadas. . . Contudo. . . estas expectativas não se concretizaram". [Richard B. Du Boff, Op. Cit., p. 65]. Com base na história do capitalismo, julgamos que todos os mercados associados com novas tecnologias irão pelo mesmo caminho.

A realidade do desenvolvimento capitalista é que mesmo se os trabalhadores investissem em um novo mercado, por exemplo, um que exigisse um baixo custo de ajustamento, a dinâmica do sistema é tal que com o decorrer do tempo tal mercado acabaria sendo dominado e engolido por alguma grande empresa. Além disso, para sobreviver em uma economia oligopolizada as pequenas cooperativas sofreriam pressão no sentido de contratar trabalho assalariado e adotar a dinâmica capitalista (veja seção J.5.11). Consequentemente, mesmo se ignorassemos a maciça intervenção do estado que em primeiro plano gera capitalismo (veja seção B.3.2), a dinâmica do sistema é tal que as relações de dominação e opressão sempre estarão associadas a ele -- essas pequenas cooperativas não teriam "competencia" diante de um contexto de competição (veja também seções J.5.11 e J.5.12 sobre as barreiras capitalistas às cooperativas e empresas autogestionárias mesmo quanto elas são mais eficientes).

Assim, os efeitos da concentração de capital sobre eventuais opções que poderíamos criar são grandes e muito importantes. A existencia das grandes corporações exerce um impacto direto na natureza "voluntária" do trabalho assalariado por produzir uma verdadeira e efetiva "barreira de entrada", um obstáculo para modos alternativos de produção. A pressão que as grandes corporações exercem sobre as pequenas empresas também reduzem a viabilidade das cooperativas e empresas autogestionárias de forma que dificilmente sobreviveriam enquanto cooperativas sem o uso de trabalho assalariado, marginalizando-as como uma alternativa verdadeira. Além disso, mesmo para os novos mercados a dinâmica do capitalismo é tal que novas barriras são criadas todo o tempo, sempre reduzindo nossas opções.

Enfim, a realidade do capitalismo é tal que a igualdade de oportunidade inserida nos modelos de "concorrência perfeita" não existe. E sem tal igualdade, o trabalho assalariado não pode ser tido como uma escolha "voluntária" entre várias opções disponíveis -- as opções disponíveis foram obstacularizadas de tal forma que qualquer outra alternativa, exceto trabalho assalariado, torna-se marginalizada e portanto, inviável.


concorrência perfeita (pura).
Mercado perfeitamente competitivo em que os agentes econômicos, produtores e consumidores são tomadores de preços e não podem influenciar o preço de mercado. Mais especificamente, para justificar este pressuposto, geralmente se supõe que há um grande número de produtores e consumidores, que o produto é homogêneo, que há perfeita informação sobre as condições do mercado e que não há barreiras à entrada da indústria no mercado.

custo de ajustamento. Quantia que tem de ser gasta na transformação de máquinas, quando um tipo de produto deixa de ser fabricado e um outro entra em manufatura.

concentração. Termo que, em marketing, se aplica em relação à segmentação de mercado (market segmentation). Há concentração quando a organização enfoca somente um subgrupo e desenvolve um programa de marketing que lhe é particularmente dirigido, a fim de conquistar uma posição de destaque.

Extraído do FAQ ANARQUISTA: http://www.geocities.com/projetoperiferia2/secC4.htm

É o controle estatal do dinheiro que provoca o ciclo econômico?


Conforme foi explicado na última seção, enquanto houver pressões objetivas voltadas para a obtenção do lucro o capitalismo sempre estará sujeito aos ciclos de crescimento e retração, mesmo se não levarmos em consideração a subjetiva revolta das classes trabalhadoras contra a autoridade. Essa mão dupla gerada pela obtenção de lucros, a subjetiva e a objetiva, é a causa do ciclo econômico e de problemas como a "estagflação". Contudo, para os defensores do livre mercado, esta conclusão é inaceitável e geralmente tentam explicar o ciclo econômico em termos de influências externas em vez de reconhecer que é gerado pela forma como o capitalismo funciona. A maioria dos capitalistas pró- "livre mercado" culpa a intervenção governamental no mercado, particularmente o controle estatal sobre o dinheiro, como a fonte do ciclo econômico. Esta análise é falsa, como vamos demonstrar a seguir.

É impressionante a forma como tantos defensores do capitalismo ignoram as pressões "subjetivas" no capitalismo que discutimos na seção C.7.1. Além disso, os problemas associados com o aumento dos investimentos de capital (como esclarecido na seção C.7.3) são também usualmente ignorados, porque eles em geral consideram o capital como sendo "produtivo" e não conseguem perceber como o seu uso pode resultar em crises. Resultando em problemas associados com o mecanismo de preços, conforme discutido na seção C.7.2.

A idéia por traz das crises da teoria do "controle-estatal-do-dinheiro" é que a taxa de juros proporciona às companhias e indivíduos as informações sobre como a mudança nos preços afetará as variações futuras na produção. Especificamente, afirmam que as mudanças nas taxas de juros (i.e. as mudanças na procura e na oferta do crédito) indiretamente informam as companhias da reação de seus competidores. Por exemplo, se o preço do estanho sobe, isso provocará uma expansão dos investimentos da indústria de latas, resultando numa subida nas taxas de juros (por causa do aumento na procura por crédito). Este aumento nas taxas de juros proporciona lucros antecipados e abre caminho para a expansão. O controle estatal do dinheiro estanca esse processo (pela distorção da taxa de juros) tornando o sistema de crédito incapaz de cumprir sua função econômica. Tudo isso gera uma superprodução na medida em que as taxas de juros não refletem as reais necessidades fazendo com que os capitalistas super invistam no novo capital, capital que parece lucrativo apenas pelo fato da taxa de juros estar artificialmente alta. Quando a taxa inevitavelmente se ajusta retornando a seu "real" valor, o capital investido torna-se prejuízo trazendo à luz o super investimento. Assim, de acordo com esse argumento, a eliminação do controle estatal do dinheiro acabaria com esses efeitos negativos do capitalismo.

Antes de discutir se o controle estatal do dinheiro é a causa do ciclo econômico, é necessário deixar claro que o controle das taxas de juro, de fato, não explica o fenômeno do super investimento (e, portanto, do ciclo econômico). Apontar o ciclo econômico como algo resultante da performance do sistema de crédito não passa de um engodo. Isso porque não está claro que surjam informações relevantes a partir das alterações das taxas de juros.

Taxas de juros apenas e tão somente refletem a demanda geral agregada pelo crédito em uma economia. Ou seja, a informação que uma companhia específica dispõe diz respeito ao excesso na produção de um bem específico produzido por ela. Um nível de procura por crédito que diga respeito a competidores de um determinado ramo da indústria não reflete necessariamente a procura geral por crédito na economia como um todo. Um aumento na produção de algum bem específico por um grupo de competidores refletiria proporcionalmente no aumento das taxas de juros apenas se o incremento na procura de crédito por aquela indústria fosse idêntico ao encontrado na economia como um todo.

Não há nenhuma razão para supor que é o controle estatal do dinheiro que provoca o ciclo econômico, inclusive, por causa dos diferentes ciclos de produção de diferentes indústrias e de suas diferentes necessidades por crédito (tanto em termos de montante como de intensidade). Portanto, a diversidade de possibilidades da procura por crédito entre as indústrias refletem a diversidade de possibilidades de suas necessidades, isso elimina a possibilidade de um investimento excessivo (e de super produção) ocorrer, mesmo se o sistema de crédito teoricamente funcionasse como deveria (i.e. a taxa de juros, de fato, refletindo exatamente a realidade). Por não comunicar informação relevante, o sistema de crédito não é um indicativo válido que explique o ciclo econômico como sendo um desvio do "sistema ideal" (i.e. o laissez-faire capitalista).

Portanto, é inteiramente falsa a premissa de que basta remover o controle estatal do dinheiro para que o ciclo econômico tenha fim. Contudo, o argumento de que "o controle estatal do dinheiro proporciona uma parcela de contribuição para a ocorrência do ciclo econômico" tem um fundo de verdade. A expansão do crédito acima do nível "natural" que, diga-se de passagem, resulta em extraordinários lucros para o sistema financeiro. Fato que pode e deve conduzir a uma movimentação de capital exagerada gerando o super investimento (ou seja, em vez de criá-lo ele surge por causa das tendências já existentes). Assim, nós minimizamos o papel da expansão do crédito em nossos comentários acima e insistimos que o crédito não é fundamental para o ciclo econômico, essa discussão é de suma importância, pois se constitui num fator essencial na real economia capitalista. Ou seja, sem crédito a economia capitalista não cresceria da forma como tem crescido. Em outras palavras, o crédito é fundamental para o capitalismo.

Existem duas principais abordagens à questão referente à eliminação do controle estatal sobre o dinheiro na economia do "livre mercado" capitalista -- a monetarista, muitas vezes chamada por "free banking." Vamos analisar uma de cada vez (uma terceira possível "solução" seria estabelecer 100% em reservas de ouro como limite para os bancos, mas, além disso, ser altamente intervencionista, bem distante do laissez-faire, é simplesmente impossível por não haver ouro suficiente para isso, fora todos os problemas associados com regimes monetários inflexíveis que já discutimos antes, não falaremos mais disso).

O monetarismo foi muito popular nos anos 70 e é associado com a escola de Milton Friedman. Tal regime é bem menos radical que a escola do "free banking". O monetarismo defende que em vez de abolir o dinheiro estatal, ele deveria ser controlado. Friedman destacou, da mesma forma que a maioria dos economistas capitalistas, que os fatores monetários são importantes instrumentos para a explicação de certos problemas relacionados ao ciclo econômico capitalista, como a inflação e daí por diante. Isso não é de se estranhar, uma vez que exerce um efeito ideológico de muita utilidade desobrigando o núcleo capitalista de qualquer envolvimento com tais problemas. A queda econômicapor exemplo, pode ocorrer, mas isso decorre pela interferência estatal na economia, arrazoam. É dessa forma que Friedman explica a Grande Depressão dos anos 30 nos Estados Unidos, por exemplo, (veja seu "The Role of Monetary Policy" em American Economic Review, Março, 1968). Ele também explica a inflação com o argumento de que ela é um fenômeno puramente monetário causado quando o estado imprime mais moeda do que o necessário para o crescimento da atividade econômica (por exemplo, se a economia cresce em 2% mas a oferta de dinheiro aumenta em 5%, a inflação subirá em 3%). Esta análise da inflação é profundamente equivocada, conforme veremos mais adiante.

Estes Monetaristas defendem um controle da oferta de dinheiro, subordinando o estado a uma "constituição monetária", uma legislação que obriga os bancos centrais a emitir uma quantidade de dinheiro numa taxa constante de 3 a 5% ao ano. Isso faria com que a inflação fosse banida, a economia se ajustaria ao seu equilíbrio natural, o ciclo econômico se tornaria residual (ou desapareceria) e o capitalismo finalmente funcionaria como está predito nos livros de economia. Essa "constituição monetária” do dinheiro tornaria a economia "despolitizada" da influencia estatal e o controle do dinheiro seria eliminado. O dinheiro voltaria a ser aquilo que é apresentado na teoria neoclássica, como algo essencialmente neutro, capaz de ligar a produção e o consumo sem exercer qualquer interferência.

Desgraçadamente para o Monetarismo, esta análise está simplesmente errada. E mais desgraçadamente ainda para um vasto número de pessoas que pagaram o preço desse erro não apenas teoricamente, mas também empiricamente. O Monetarismo foi imposto tanto nos Estados Unidos, como no Reino Unido, no começo da década de 80, teve resultados desastrosos. A seguir analisaremos detidamente o dogma monetarista aplicado pelo governo Thatcher em 1979, cuja catástrofe em muito se assemelhou à ocorrida sob o governo Reagan.

Qualquer tentativa de exercer controle sobre a emissão de dinheiro falharia completamente, conforme previu em 1970 o keynesiano radical Nicholas Kaldor (veja seu ensaio "The New Monetarism" em Further Essays on Applied Economics, por exemplo). Isto porque a oferta de dinheiro, em vez de ser uma atribuição do banco central ou do estado (conforme a opinião de Friedman), deve ser resultante da procura por crédito, gerada pela atividade econômica. Utilizando economês, o próprio Friedman declarou que a oferta de dinheiro deveria estar relacionada a fatores "exógenos" (fatores externos e não econômicos, como as manchas do sol, as condições climáticas, guerras, inovações, etc.) e que o estado deveria interferir apenas quando tais fatores fossem "endógenos" por natureza (isto é, quando viessem de dentro da economia). Em outras palavras, isso significa que qualquer tentativa de controlar a oferta de dinheiro resultaria em fracasso. Charles P. Kindleburger comenta:

"Historicamente generalizando, é possível afirmar que sempre que as autoridades estabilizam ou controlam alguma quantidade de dinheiro [...] a produção aumenta por causa da  euforia que isso provoca. Se o dinheiro é fixado em termos de bens particulares, a euforia vem pela "monetarização" do crédito em novas bases que por definição não são levadas em consideração, o montante de dinheiro determinado pela velha fórmula não crescerá, pelo contrário, diminuirá [...] a fixidez [definição de dinheiro] e o mercado criarão novas formas de dinheiro em períodos de boom para que haja uma compensação. “[Manias, Panics and Crashes, p. 48]

 

A experiência dos regimes de Thatcher e Reagan ilustra isso muito bem. O governo Thatcher perdeu-se inteiramente no controle do dinheiro -- a emissão de moeda chegou a 74%, 37% e 23% acima das metas determinadas em 1980 [Ian Gilmore, Dancing With Dogma, p. 22].

 

Esse descontrole permaneceu até 1986 quando o governo Tory abandonou essa postura econômica convencido de sua ineficácia. Além disso, essas variações na emissão de moeda também mostraram que o argumento de Milton Friedman sobre a causa da inflação estava totalmente equivocado. De acordo com sua teoria, a inflação surgia toda vez que se emitia dinheiro em percentuais maiores que o crescimento da economia, e a inflação caia toda vez que a emissão de dinheiro diminuía. De acordo com o conservador moderado Ian Gilmore, "Os opositores do monetarismo friedmaníaco [...] estavam certos, a inflação chegou em 16 por cento em 1982-3, 11 por cento em 1983-4, e 8 por cento em 1984-5. No final das contas [...]  o que se pode constatar mesmo é que os índices de inflação nem mesmo chegaram perto dos níveis preditos pela 'infalível' doutrina monetarista." [Op. Cit., p. 52]

 

Do ponto de vista anarquista, todavia, a queda na inflação foi o resultado do alto índice de desemprego naquele período. Quanto mais aumentava a quantidade de desempregados nas ruas, mais diminuíam os índices de inflação. Quando o trabalho se fortalece o sistema capitalista produz a inflação para manter os salários baixos, quando essa situação se torna insustentável o sistema capitalista deliberadamente aumenta os níveis de desemprego como instrumento eficaz para a deterioração salarial, isso faz com que os lucros obtidos pela produção sejam maiores que os obtidos pela especulação financeira (veja seção C.7.1). Se não houvesse necessidade dos capitalistas manterem seus lucros via aumento de preços, a inflação naturalmente decairia pelo poder de barganha dos trabalhadores, o qual se torna enfraquecido pelo desemprego em massa. Longe de ser um fenômeno puramente monetário como Friedman proclamava, a inflação é resultado das necessidades de lucro do capital, e do estado de luta de classes.

Importante notar também que se Friedman testasse seus argumentos mais básicos, a Grande Depressão de 1929-33, eles se revelariam novamente falhos. Kaldor destacou: "conforme ilustrado pelo próprio Friedman, o grau de importância da 'moeda todo-poderosa'[...] para o crescimento dos Estados Unidos, não diminuiu durante a Grande Contração, em julho de 1932, quando o crescimento foi 10 por cento acima de julho de 1929[...] A Grande Contração da oferta da moeda [...] ocorreu a despeito do crescimento na base monetária." [Op. Cit., pp. 11-12]

Outros economistas (que questionaram os postulados de Friedman) chegaram a resultados semelhantes -- "Peter Temin abordou Friedman e Schwartz referindo-se ao ponto de vista keynesiano [no livro Did Monetary Forces Cause the Great Depression?] perguntando se a queda no crescimento é provocada pelo declínio na emissão de moeda ou coisa parecida [...] [Eles responderam que] a emissão de moeda não diminuiu, na realidade aumentou em 5 por cento entre agosto de 1929 e agosto de 1931[...] Diante disso, Temin concluiu que não há qualquer prova de que foi a moeda que provocou a depressão no período entre a quebra da bolsa de valores e [...] setembro de 1931." [Charles P. Kindleburger, Op. Cit., p. 60]

Em outras palavras, a causalidade, a relação que une a causa a seu efeito na economia real da moeda, e não vice-versa, a flutuação na oferta de moeda, é que rege as flutuações na economia. Se as variações na oferta de moeda ocorrem por motivos endógenos, como sempre acontece, tudo que vem a seguir é perfeitamente previsível. Diante da ineficácia do controle da emissão de moeda, a única ferramenta disponível toma a forma do aumento na taxa de juros, que reduz a inflação, por exemplo, pela queda nos investimentos, gerando desemprego, e por tabela (eventualmente) freando o crescimento dos salários. Foi exatamente isso que ocorreu na década de 80. A tentativa de "controlar" a emissão de moeda, na verdade resultou mesmo foi numa brutal elevação da taxa de juros que alcançou patamares extremamente altos, fato que contribuiu para produzir a pior depressão desde o fim da guerra (uma depressão que Friedman notavelmente nunca pode prever).

Diante do fracasso absoluto do monetarismo, tanto na teoria como na prática, é inútil perder tempo com ele. Contudo, nos anos 70 ele foi a principal bandeira do dogma econômico da direita -- a mesma direita que geralmente aprecia retratar-se a si mesma como sendo a força motriz da economia. Desnecessário dizer que esse não é o caso. Além disso, essa discussão sobre o fracasso do monetarismo traz luz sobre problemas relacionados ao "free banking" e o controle estatal sobre a moeda. Esta escola de pensamento associa-se à escola "austríaca" de economia e aos libertarianos (direita) em geral (também discutimos essa teoria na seção F.10.1). Ela se baseia na total privatização do sistema bancário e na criação de um sistema no qual os bancos e outras companhias privadas possam disputar entre si no mercado a aceitação pela população em geral de suas moedas e papeis. Esta posição não tem nenhuma relação com o banco mútuo anarquista, pois não funciona no sentido de reduzir a usura à zero, mas como um meio de disputar parcelas do valor do trabalho alheio, a razão de ser da teoria capitalista.

A escola do "free banking" defende que subordinados às pressões competitivas, os bancos dedicam 100% de seu rateio para o crédito, ou seja, emitem crédito com o dinheiro que realmente possuem em suas (ou seja, as forças de mercado garantiriam o fim dos lucros retidos pelos bancos). Eles acreditam que sob o sistema atual, os bancos geram mais créditos do que as reservas disponíveis, fazendo com que as taxas de juros sejam empurradas para baixo de seu "patamar natural" (ou seja, o nível que iguala poupança com investimento). Capitalistas, desinformados pela baixa artificial nas taxas de juros, investem em equipamentos e isto, eventualmente, resulta em uma crise, uma crise causada pelo super investimento (o termo utilizado pelos economistas "austríacos" é "malinvestment"). Se os bancos estivessem sujeitos às forças de mercado, dizem, eles não gerariam crédito monetário, as taxas de juro refletiriam a realidade e coisas como super investimento (portanto, as crises) seriam coisas do passado.

Esta análise, contudo, é falsa. É visível um grande buraco no casco desse barco. A questão principal é que as taxas de juro não proporcionam informações suficientes ou necessariamente corretas para bancar decisões sobre investimentos. Dessa forma, a possibilidade do superinvestimento continua intacta. Outro problema que surge, relacionada à nossa discussão anterior sobre monetarismo, diz respeito à natureza endógena da moeda e as pressões que isso exerce nos bancos. O destacado economista pós-keynesiano Hyman Minsky desenvolveu uma análise que proporciona um perfeito discernimento sobre os fantasmas que se escondem nas penumbras do sistema "free banking", o qual dificilmente resistiria à tentação de criar crédito monetário (ou seja, oferecer mais moeda que a poupança disponível). Este modelo é muitas vezes chamado de "The Financial Instability Hypothesis".

Vamos supor que a economia está caminhando para a recuperação após um período de falências e depressão. Inicialmente as empresas adotariam uma postura conservadora em seus investimentos, enquanto que os bancos emprestariam dinheiro dentro de seus limites de poupança, adotando investimentos de baixo risco. Dessa forma, os bancos asseguram que a taxa de juros reflita o índice natural. Todavia, esta combinação de crescimento econômico e investimento financeiro conservador significa que a maioria dos projetos será bem sucedida e, gradualmente, isso ficará bem nítido aos executivos, capitalistas e banqueiros. Como resultado, tanto executivos como banqueiros irão considerar a bonificação do risco presente como um excesso. Novos projetos de investimentos serão avaliados sob uma perspectiva menos conservadora no que diz respeito a futura liquidez. Estas são as bases de um novo boom e de seu eventual colapso. Nas palavras de Minsky, "estabilidade é instabilidade".

Na medida em que as companhias começam a crescer, elas progressivamente buscam por finanças externas e tais recursos surgem porque uma fração do setor bancário adota o otimismo dos investidores. Não podemos nos esquecer que os bancos são companhias privadas sedentas por lucros. Tendo o fornecimento do crédito como o caminho mais curto para o lucro, os bancos passam a suprir seus clientes provocando uma expansão no crédito. É uma corrida contra o tempo, se não fizerem isso o boom logo se transformará em colapso, na medida em que os investidores não dispõem dos fundos necessários e as taxas de juros logo começarão a crescer, obrigando as empresas a pagar cada vez mais pelo serviço da dívida, uma carga que muitas empresas não serão capazes de suportar ou suportarão com dificuldade. Essa queda nos investimentos diminuirá a produção, gerando desemprego (como as companhias não podem "demitir" os investimentos, demitem os trabalhadores), com a redução do consumo vem a redução nos investimentos e, por conseguinte o colapso.

Assim, devido à expansão econômica os banqueiros emprestam dinheiro a seus clientes gerando um crédito fácil com uma reduzida taxa de juros. Dessa forma eles aderem a estruturas incertas tanto para si mesmos quanto para seus clientes "que, em um clima de expectativa mais sóbria, teriam rejeitado." [Minsky, Inflation, Recession and Economic Policy, p. 123] Os bancos inovam seus produtos financeiros adaptando-se à linha da procura. Enquanto as empresas aumentam seu endividamento os bancos se tornam mais que propensos a permitir isso, até surgirem os primeiros sinais de retração financeira na economia. Tanto as empresas como os bancos aumentam seus passivos financeiros, fazendo com que toda a economia se mova em direção a uma estrutura creditícia.

A festa continua até o momento em que a taxa de juros sobe (quando expansão do crédito atinge níveis muito altos) afetando todas as empresas, desde a mais conservadora até a mais especulativa, "empurrando" muitas delas à beira da insolvência (nem mesmo as firmas conservadoras conseguem pagar seus débitos com facilidade, as empresas menos conservadoras não cumprem seus compromissos contaminando todo o conjunto). A margem de erro se retrai e as firmas e bancos tornam-se mais vulneráveis nas expectativas de desenvolvimento, de modo que os novos competidores, greves, investimentos que não geraram a taxa de retorno esperada, o crédito se torna mais difícil de obter, as taxas de juros se elevam e daí por diante. No final das contas, o boom se transforma num colapso gerando uma quebradeira generalizada de empresas e bancos.

A escola defensora do "free banking" rejeita esses argumentos e argumenta que os bancos privados em competição não agiriam dessa forma, pois se fizessem isso se tornariam menos competitivos no mercado e perderiam clientes para outros bancos (esse é o mesmo processo pelo qual o sistema "free banking" resolveria a questão da inflação). Contudo, é exatamente pelo fato dos bancos estarem competindo que eles inovam -- se eles não fizerem isso, outro banco ou companhia o fará de forma a obter mais lucros. Isso pode ser observado no fato de que "títulos bancários [...] e certificados de exportação [...] surgiram a partir de um suprimento inelástico de moeda" [Kindleburger, Op. Cit., p. 51] e "qualquer deficiência no fornecimento dos convencionais tipos [de dinheiro] é logo preenchida por novos tipos emergenciais; essa foi a forma como, historicamente, surgiram os primeiros títulos bancários e despontaram as primeiras contas correntes" [Kaldor, Op. Cit., p. 10]

Esse processo pode ser observado na obra de Adam Smith The Wealth of Nations. A Escócia do tempo de Smith adotara um sistema bancário competitivo e, como Smith observou, os bancos emprestavam mais dinheiro do que possuíam em seus cofres:

"Como essas notas [os títulos bancários] retornavam continuamente na forma de pagamento, parte delas permaneciam circulando por meses e anos a fio. Dessa maneira ele [o banco] mantinha em circulação títulos que chegavam a cem mil pounds. Vinte mil pounds em ouro e prata podiam frequentemente ser uma provisão suficiente para atender a demandas ocasionais." [The Wealth of Nations, pp. 257-8]

 

Em outras palavras, um sistema bancário por mais competitivo que seja jamais eliminará os papeis sem lastro de suas reservas bancárias. De uma forma irônica, Smith observou: "o Banco da Inglaterra paga muito caro, não apenas pela sua própria imprudência, mas também pela imprudência de quase todos os bancos escoceses" [Op. Cit., p. 269]. Isso ocorre mesmo que o banco central se revele mais conservador na geração do crédito do que os bancos sob pressão competitiva! Ou seja, o argumento de Smith vai no sentido de que os bancos, de fato, fazem qualquer coisa desde que atenda seus próprios interesses, diferente do indicado pela escola do "free banking":

 

"Cada banco privado deve ser compreendido como uma instituição que busca sempre atender a seus próprios interesses particulares, o capital circulante nunca deveria ser estocado como papel moeda. Todavia, cada uma das instituições bancárias nunca assume essa compreensão, e busca atender a seus interesses particulares, de forma que o capital circulante é freqüentemente estocado como papel moeda". [Op. Cit., p. 267]

 

Assim, em um sistema bancário competitivo, o que temos são bancos atuando sem o suficiente lastro e trabalhando no sentido de atender a seus "interesses particulares" (ou seja, aquilo que os economistas capitalistas consideram como de interesse público, funciona como algo que atende aos interesses particulares dos banqueiros!). Porque isso acontece? Segundo as observações de Smith, por uma possível razão. Ele ressalta que "os altos lucros obtidos em transações comerciais dá margem à grande tentação do abuso do limite" onde a "multiplicação das instituições bancárias [...] induz segurança ao público" forçando-os a "ser mais circunspectos em sua conduta" além de "obrigar todos os bancos a serem mais liberais com seus clientes em suas metas, para que estes não sejam conquistados pelos seus concorrentes" [Op. Cit., p. 274, p. 294].

Assim, o "free banking" segue em duas direções simultâneas, busca conquistar seus clientes enquanto gira em torno de si mesmo. O fator que prevalece depende do estado da economia, onde o que libera os empréstimos é o aquecimento da economia (conforme descrito por Minsky). Embora a escola do "free banking" argumente que é a geração do crédito que produz o ciclo econômico, o caso dos competitivos bancos escoceses não revela isso, na realidade, os bancos é que interrompem o crédito (gerando o ciclo econômico, conforme a teoria "austríaca"). Parece que este também foi o caso quando, no século XIX na América, onde mesmo sem qualquer banco central em sua maior parte -- "a frequência dos ciclos foi extraordinária [como os colapsos], fortalecido pela perda de crédito e pelas freqüentes distorções (como os títulos bancários privados)." [Doug Henwood, Wall Street, p. 94]

A maior parte dos adeptos do "free banking" defende que os sistemas regidos pelo free banking seriam mais flexíveis por não serem regulados. Talvez isso ocorra, mas isso implica em que os sistemas regulados não poderão livremente acomodar seus clientes pela geração de crédito e o regime de moeda inflexível criaria problemas pelo aumento nas taxas de juros e pela redução do montante de moeda disponível, que levaria a um colapso. Assim, uma exagerada oferta de crédito em vez de ser a causa da crise é na realidade um sintoma. Investimentos competitivos também levam à expansão do ciclo econômico. Uma expansão incentivada e encorajada pela competição entre os bancos na oferta do crédito. No bojo desta expansão -- e ao longo dela -- outras tendências objetivas levarão a uma inevitável crise devido ao super investimentos e às distorções.

Em outras palavras, o puro "livre mercado" capitalista carrega consigo a maldição do ciclo econômico, pois esse ciclo é causado pela própria natureza do capitalismo, não pela intervenção do estado.

Na realidade (isto é, em sua "real existência" capitalista), a manipulação estatal do dinheiro (via taxa de juros) é essencial para a classe capitalista, pois diz respeito a uma atividade indireta de geração de lucro, a manutenção de um nível "natural" de desemprego é essencial para manter os lucros elevados, um nível aceitável de inflação garante o crescimento dos lucros, e assim por diante, tudo isso se constitui nos ingredientes que se misturam no caldeirão do ciclo econômico, proporcionando saídas de emergência e injetando dinheiro na economia durante o pânico. Se os problemas do capitalismo fossem provocados pela manipulação de dinheiro por parte do estado, não teríamos testemunhado o sucesso econômico das experiências keynesianas do período pós guerra, nem o ciclo econômico nos dias pré keynesianos, mesmo em países que tinham mais de um sistema free banking (quase toda a segunda metade do século XIX nos Estados Unidos, por exemplo, se alternou entre períodos de recessão e depressão, comparável ao período que se seguiu ao fim da II Grande Guerra).

Embora seja verdade que toda crise venha após um aumento especulativo na expansão da produção e do crédito, isso não significa que a crise resulta da especulação e da expansão do crédito. Essa conexão não é causal no "livre mercado” capitalista. A expansão e a retração do crédito é um mero sintoma das periódicas alterações no ciclo econômico, pois o declínio da lucratividade retrai o crédito e seu aumento o amplia.

Paul Mattick nos proporciona uma análise correta sobre isso:

"A moeda e a política creditícia não podem por si só mudar nada que diga respeito à lucratividade ou lucros insuficientes. Os lucros vêm apenas da produção, da mais valia produzida pelos trabalhadores [...] A expansão do crédito sempre foi tida como um sinal de uma crise que se aproxima (no sentido de que ele reflete a tentativa do capital individual existente para se expandir a despeito da aguda competição) e consequentemente sobreviver à crise [...] Apesar da expansão do crédito conter a crise por um curto período de tempo, ela nunca a evita, no final das contas o que prevalece como fator decisivo é a relação real entre o lucro total e a necessidade da expansão do capital social em valor, e estas coisas não podem ser alteradas pelo crédito". [Economics, Politics and the Age of Inflation, pp. 17-18]

 

Em suma, os apologistas do "livre mercado" confundem o sintoma com a doença.

Onde não houver nenhum lucro a ser extraído, não haverá também nenhuma procura por crédito. Ao mesmo tempo em que a expansão do crédito "se constitui num fator de retardamento da crise, no momento em que a crise aflorar, essa expansão se constitui também num fator agravante por causa do grande montante de capital que será desvalorizado". [Paul Mattick, Economic Crisis and Crisis Theory, p. 138]

Mas este é também um problema enfrentado pelas companhias privadas que usam ouro como lastro, conforme argumentam os direitistas libertarianos (que apóiam o "livre mercado" e o sistema bancário capitalista). O nível de oferta de dinheiro reflete a atividade econômica exercida dentro de um país e se essa oferta não se ajusta, a taxa de juros se eleva provocando uma crise. Assim surge a necessidade de uma oferta de dinheiro flexível (como desejam, por exemplo, os anarquistas individualistas estadunidenses). Conforme Adam Smith observou, "a quantidade de moeda em cada país é regulada pelo valor das mercadorias que circulam neles: o aumento desse valor [...] implica em quantidades adicionais de moeda, um requisito necessário para que elas circulem." [Op. Cit., p. 385]

dinheiro podre ou papel-moeda regularmente emitido que assume um valor nominal superior ao valor real surge por causa da inflexibilidade do valor da mercadoria disponibilizada.

Quando "a expansão da produção ou do comércio não é acompanhada pelo crescimento da base monetária ocorre uma queda no índice de preços [...] A desvalorização do dinheiro surge para resguardar o comercio da deflação forçada que aparece toda vez que o volume de negócios aumenta [...] O pagamento em espécie (a vista) se torna inadequado porque seu montante não pode ser alterado. O valor de certo montante disponível em ouro pode se elevar em certo percentual ao ano, mas não em algumas semanas, como ocorre repentinamente diante de uma expansão de transações. Esse dinheiro podre empresarial pode trazer consigo uma acentuada queda nos preços, o que induz a um colapso e ao aumento do desemprego". [Karl Polyani, The Great Transformation, p. 193]

Em suma, "não é o crédito, mas apenas o crescimento na produção que torna possível o crescimento da mais valia. Quando o grau de exploração determina a expansão do crédito" [Paul Mattick, Economics, Politics and the Age of Inflation, p. 18] O grau de tomada de dinheiro aumenta ou diminui na medida da lucratividade capitalista, conforme predito pela teoria econômica capitalista. Mas isto não afeta o ciclo econômico, que tem suas raízes na produção pelo capital (isto é, no lucro) e nas relações autoritárias capitalistas, onde a oferta de crédito está obviamente entrelaçada, e não vice-versa.



termos técnicos

free banking. Situação em um sistema econômico em que o banco privado age sem qualquer interferência estatal e quando os preços são determinados pelas chamadas forças do mercado.

contração. Termo que, muitas vezes é intercambiável com depressão (depression) e recessão (recession), descreve o declínio geral nas atividades econômicas. Tem início quando a atividade econômica atinge um pico (peak) e imediatamente entra em descenso até atingir o seu ponto mais baixo (trough); essa é a faixa da contração e, evidentemente, pode comportar depressão e recessão, dependendo de seu rigor. Se a curva não subir nem descer, atinge um patamar. Contrapõe-se a prosperidade (boom).

boom. Prosperidade rápida. Surto de prosperidade durante o ciclo econômico (business cycle), quando a economia está em recuperação (recovery) após uma depressão; há pleno emprego (full employment) dos recursos e os preços se elevam rapidamente. Depois de atingido o pico da prosperidade, quase certamente começará um período de recessão (recession).

abuso de limite. Termo aplicável a uma empresa que faz negócios que vão muito além de seu capital social.

dinheiro podre. token money. Dinheiro ou papel-moeda regularmente emitido que tem valor nominal superior ao valor real. 
  
 


 

C.8.1 De que forma o keynesianismo funciona?

Se o controle estatal do crédito não causa o ciclo econômico, como é que o capitalismo keynesiano consegue funcionar? A economia keynesiana, oposta ao livre mercado capitalista, sustenta que o estado pode e deve intervir na economia de forma a impedir a ocorrência das crises econômicas. O boom do pós guerra representa uma fase do ciclo econômico pelo início do desenvolvimento a partir de uma profunda depressão

O período do keynesianismo social depois da guerra foi marcado pela redução das desigualdades, pelo aumento dos direitos dos trabalhadores, a queda do desemprego, um estado social que de fato poderia ser utilizado. Comparado com os dias atuais do capitalismo, há uma distancia razoável. Contudo, o capitalismo keynesiano não deixa de ser capitalismo e naturalmente tem como base a opressão e a exploração. Na verdade, o keynesianismo foi a mais refinada forma de capitalismo, onde ao mesmo tempo em que se utilizava intervenção estatal para proteger o capitalismo de si mesmo, ela era utilizada também no sentido de garantir que a luta de classes dos trabalhadores fosse dirigida, via níveis de produtividade, de forma a permitir que o sistema seguisse funcionando. Para a população como um todo, a idéia geral era de que o estado do bem estar (especialmente na Europa) foi o caminho para a sociedade controlar o capitalismo investindo-o de certa humanidade. Por um caminho confuso, o estado do bem estar foi apoiado como uma tentativa de criar uma sociedade em que a economia existisse para o povo, e não o povo para a economia.

O estado sempre abocanhou uma fração do valor excedente total produzido pela classe trabalhadora. Sob o keynesianismo essa fração aumenta e é usada ativamente na administração da economia. Tradicionalmente, a prática da apropriação estatal do valor excedente tem sido uma das metas do pensamento capitalista clássico (em termos simples, significa mais valor excedente disponível nas mãos do governo para os capitalistas disputar). Mas com a acumulação de capital, o estado cresceu da mesma forma que aquela fração do excedente social (usado para controlar inimigos domésticos e para proteger a sociedade da destruição causada pelo livre mercado capitalista).

Todavia, tal intervenção estatal não é coisa totalmente nova "desde suas origens, os Estados Unidos tem investido pesadamente na intervenção e na proteção estatal para o desenvolvimento da indústria e da agricultura, da indústria têxtil desde o início do século dezenove, da indústria siderúrgica desde o final do século dezenove, dos computadores, aparelhos eletrônicos, até a biotecnologia em nossos dias. Além disso, o mesmo é verdadeiro para as demais indústrias bem sucedidas de nossa sociedade". [World Orders, Old and New, p. 101]

As raízes da nova política de alto nível e diferentes formas de intervenção estatal repousam na Grande Depressão nos anos 30 e o êxito das tentativas em forçar a redução generalizada de salários e custos (o meio tradicional mais utilizado para controlar a depressão) se revelou impossível de ser realizado por causa dos custos sociais e econômicos que seriam bastante elevados. Uma onda de militantes em greve envolveu meio milhão de trabalhadores no ano de 1934, onde não faltaram ocupações de fábricas e outras formas corriqueiras de ação direta.

Em vez de apelar para a usual luta de classes (que poderia descambar para o campo revolucionário), as seções da classe capitalista compreenderam a necessidade de empreender uma nova abordagem ao problema. Que envolveu o uso do estado para manipular o crédito de forma a aumentar os fundos disponíveis pelo capital e assim aumentar a procura pela diretiva estatal. Conforme Paul Mattick destaca:

"Uma produção adicional tornou-se possível através do financiamento do déficit, reativando a procura, embora essa procura não fosse acompanhada pelo correspondente crescimento nos lucros [...] acabou estimulando a economia como um todo se tornando um ponto de partida em direção a uma nova era de prosperidade" se houvesse condições objetivas para isso. [Economic Crisis and Crisis Theory, p. 143]

 

A intervenção estatal pode, em curto prazo, postergar as crises estimulando a produção. Um exemplo disso pôde ser observado no período do New Deal nos anos 30 sob Roosevelt quando a economia cresceu cinco anos em sete comparada com a retração a cada ano sob o pro-laissez-faire do Presidente Republicano Herbert Hoover (sob Hoover, o PNB encolheu em média 8,4 por cento ao ano, sob Roosevelt ele cresceu 6,4 por cento). O colapso de 1938 após 3 anos de crescimento sob Roosevelt deveu-se ao declínio na intervenção estatal:

 

"As forças de recuperação operaram em meio à depressão, tanto que diminuíram o desemprego via gastos públicos, aumentando a produção acima dos níveis de 1929. Isso foi suficiente para a administração de Roosevelt reduzir drasticamente as obras públicas [...] em um novo esforço para balancear a receita diante das exigências do mundo dos negócios [...] A recuperação ocorreu em um curto prazo. Ao final de l937 o Business Index caiu de 110 para 85, levando a economia de volta aos patamares de 1935[...] Milhões de trabalhadores perderam seus empregos novamente." [Paul Mattick, Economics, Politics and the Age of Inflation, p. 138]

 

Com o sucesso da intervenção estatal durante a segunda grande guerra, o keynesianismo foi encarado como uma forma de garantir a sobrevivência do capitalismo. O boom resultante foi bem conhecido, com a intervenção estatal sendo apontada como um caminho eficaz para a prosperidade da sociedade como um todo. Antes da Segunda Grande Guerra, os Estados Unidos (por exemplo) sofreram oito depressões, depois da guerra foram nove (alternados com períodos de recessão). Não há qualquer dúvida de que, por um tempo considerável, os capitalistas através de intervenções governamentais foram capazes de conter as depressões que infestaram o mundo pré guerra.

Isso ocorreu porque o keynesianismo proporcionou um novo crescimento postergando crises pela expansão do crédito. Isto pode mitigar as condições da crise, uma vez que um de seus efeitos de curto prazo é oferecer ao capital privado uma grande área de atuação e uma melhora nas bases de seus próprios esforços para escapar da deficiência de lucros pela acumulação. Além disso, o keynesianismo pode aplicar o Fundo de Reservas e Desenvolvimento em novas tecnologias e métodos de trabalho (como a automação), garantindo mercados para bens e transferindo riqueza da classe trabalhadora para o capital via taxação e inflação.

Em longo prazo, o keynesianismo "administrou a economia através de políticas monetárias e creditícias através da produção induzida pelo estado que mais tarde esbarraria nas contradições do processo acumulativo." [Paul Mattick, Op. Cit., p. 18]

De qualquer forma, tais intervenções não podem se colocadas à parte quando estudamos as causas das crises econômicas e sociais. As alterações no sistema capitalista (por mais radicais que sejam) jamais revogarão as limitações objetivas e subjetivas de um sistema baseado na escravidão assalariada e na hierarquia social. Isto pode ser facilmente observado quando o panorama róseo da prosperidade do pós guerra foi drasticamente alterado nos anos 1970 quando a crise econômica retornou virulenta, com alto desemprego acompanhado por elevada inflação. Isto logo conduziu ao retorno a um tipo de capitalismo mais "livre mercado", com, nas palavras de Chomsky, o "subsídio público e a proteção do estado para o rico, e a disciplina do mercado para o pobre". Este processo, e seus efeitos, serão discutidos nas próximas duas seções.

 

C.8.2 O que aconteceu com o keynesianismo nos anos 70?

Basicamente, as limitações subjetivas e objetivas do keynesianismo foram ilustradas na última seção, até chegar os anos 70. 

As crises econômicas retornaram com desemprego em massa acompanhado com altos índices de inflação, com as intervenções estatais longe de resolver a situação, tornava a crise cada vez pior. Em outras palavras, a combinação de luta social e um vácuo no valor excedente disponível para o capital resultou numa quebra do consenso resultante do sucesso do período pós guerra.

As raízes e o legado deste colapso no keynesianismo, na melhor das hipóteses, é altamente instrutivo. O período pós guerra marcou uma distinta mudança no capitalismo, com novos, altos níveis de intervenção estatal. Porque a mudança? Em termos simples, por que o capitalismo não é um sistema viável. Ele não se recuperou da Grande Depressão e o boom econômico durante a guerra foi obviamente obscurecido pelo abismo da estagnação dos anos 1930. Acrescente-se, claro, que a classe trabalhadora militante, após anos de luta contra o fascismo/capitalismo não estava nem um pouco disposta a retornar à pobreza e ao desemprego em massa. Assim, política e economicamente era necessária uma mudança. Essa mudança foi providenciada pelas idéias de Keynes, uma mudança que ocorreu sob a pressão e a resistência da classe trabalhadora, mas no interesse das classes dominantes.

A mescla da intervenção obviamente diferiu de país para país, dependendo das necessidades e ideologias dos partidos governantes e das elites sociais. No caso da Europa, a nacionalização se espalhou com a falta de capital sendo compensada pelo estado e refinanciada em longo prazo, ao mesmo tempo em que os partidos sociais democratas tentavam implementar reformas. Chomsky descreve o processo nos Estados Unidos:

"Os altos executivos reconheceram que os gastos sociais poderiam estimular a economia, mas muitos preferiram a alternativa bélica keynesiana - por razões ligadas a privilégio e poder, não 'racionalidade econômica'. Esse caminho foi adotado imediatamente, a Guerra Fria serviu como desculpa [...]. O sistema do Pentágono foi considerado ideal para cumprir estes propósitos. Ele se estendeu para além dos estabelecimentos militares, incorporando também o Departamento de Energia [...] e a agência espacial NASA, convertida pela administração Kennedy em um componente significante do subsídio público dirigido pelo estado para a indústria de ponta. Tais arranjos impuseram ao público o pesado encargo dos custos da indústria (pesquisa e desenvolvimento) e proporcionou um mercado garantido ao excesso de produção, um alívio para as decisões administrativas. Além disso, essa espécie de política industrial não possuía os indesejáveis efeitos colaterais dos gastos sociais dirigidos às necessidades humanas. Diante dos efeitos redistributivos, essa política tendeu a interferir nas prerrogativas administrativas; uma produção competente poderia interferir nos ganhos privados, enquanto que uma produção ruinosa subsidiada pelo estado [...] seria uma dádiva para o proprietário e para o administrador, para os quais qualquer negócio que pudesse ser descartado seria prontamente aceito. Gastos sociais poderiam também despertar o interesse público e participação, especialmente aqueles ligados a coisas como 'ameaça à democracia' e assim por diante [...] Essas coisas não atrapalharam a alternativa militar keynesiana. Por estar razões, o Business Week escreveu, 'existe uma monumental diferença entre estado de refração na economia e refração na economia militar', a última é bem mais preferível". [World Orders, Old and New, pp. 100-101]

 

Com o tempo, o keynesianismo social adquiriu um forte impulso pelos Estados Unidos, em parte em resposta à luta da classe trabalhadora, em parte devido à necessidade de apoio popular às eleições e em parte devido à "popularidade da oposição à guerra do Vietnam [que] frustrou Washington em implementar uma mobilização nacional [...] que poderia ter ocorrido para completar a conquista sem dano à economia doméstica. Washington foi forçado a enfrentar uma guerra interna para apaziguar a população, com consideráveis custos econômicos". [Noam Chomsky, Op. Cit., pp. 157-8]

O keynesianismo social dirige parte da mais valia total para os trabalhadores e desempregados enquanto que o keynesianismo militar transfere mais valia da população em geral para o capital e do capital para o capital. Isso faz com que P&D e capital sejam subsidiados com dinheiro público, ambos essenciais à sobrevivência do capital improdutivo. Enquanto os salários reais não ultrapassarem o aumento na produtividade, o keynesianismo continuará firme.

A ausência de capital lucrativo foi em parte responsável pelo colapso do consenso de pós guerra. No livro que aborda a queda econômica de 1966, Monopoly Capital, o economista radical Baran e Sweezy destacam que "se os gastos militares fossem progressivamente reduzidos até atingirem as proporções  pré Segunda Grande Guerra a economia das nações retornaria a um estado de profunda depressão." [p. 153]

Em outras palavras, a economia dos Estados Unidos repousa em um estado de depressão, compensado pelo estado de dispêndio (sobre essas críticas de Baran e Swezzy há um livro excelente, embora um tanto quanto pesado para amadores em economia: a obra de Paul Mattick "Monopoly Capital" em Anti-Bolshevik Communism).

Além disso, o mundo vem se tornando economicamente "tripolar," com a revitalização da Europa e a emergência asiática com base no Japão compondo as maiores forças econômicas. Isso coloca os Estados Unidos sob uma crescente pressão, semelhante à que ocorreu durante a Guerra do Vietnam. Contudo, a razão principal para seu inevitável colapso é a luta social pela classe trabalhadora. O limite na taxa de crescimento necessário para que o keynesianismo funcione não vem dos investimentos, mas do nível de produção final que consiste naquilo que a população atualmente empregada consome. E o investimento é o meio mais rudimentar pelo qual o trabalho, isto é, dominação capitalista, é imposto. O capitalismo e o estado não conseguirão segurar por muito tempo as lutas da classe trabalhadora represadas pelo sistema.

Essa pressão sofrida pelo capitalismo nos Estados Unidos exerce um forte impacto na economia mundial e vem acompanhada por uma luta social generalizada através do mundo. Esta luta está sendo dirigida contra a hierarquia em geral, com a participação de trabalhadores, estudantes, mulheres, grupos étnicos, manifestantes anti-guerra e desempregados, todos prosperamente bem organizados na luta contra a autoridade. Esta luta atinge diretamente o núcleo hierárquico do capitalismo, pois força um aumento no montante da renda que vai para o trabalho, o que resulta em arrocho nos lucros (veja a seção C.7) gerando uma crise econômica.

Em outras palavras, o keynesianismo pós guerra falhou simplesmente por que não pode, em longo prazo, estancar as pressões objetivas e subjetivas que o capitalismo sempre enfrentou. 



termos técnicos 
dispêndio. Ato de efetuar um gasto, muitas vezes sinônimo de despesa (expense). Em termos contábeis, consiste em efetuar um pagamento ou incorrer na obrigação de fazê-lo, para a aquisição de um bem ou liquidar uma despesa. 


 

 

C.8.3 Como o capitalismo se ajustou à crise no keynesianismo?

Basicamente pela administração da crise da década de 1970 disciplinando a classe trabalhadora de forma a colher crescentes, seguros e extensos lucros, no sentido de elevar o poder das classes dominantes. Tudo isso foi feito combinando crise, livre mercado e um ajuste no keynesianismo de forma a fortalecer uma elite da classe governante em sua luta contra o trabalho.

Diante das crises na década de 1970, o keynesianismo direcionou seus lucros para o capital enquanto que os trabalhadores lançaram-se contra o capital como um todo. O aumento das expectativas e a militância dos trabalhadores foram de tal magnitude que alcançou níveis perigosos. As crises, contudo, ajudaram a controlar o poder da classe trabalhadora e foram posteriormente utilizadas como meio para salvar o capitalismo.

Inicialmente as crises foram utilizadas para justificar ataques às pessoas da classe trabalhadora em nome do livre mercado. E, de fato, o capitalismo foi construído com base no mercado, amparado por uma "rede de segurança", um "estado cujo governo proporciona o bem-estar de seus cidadãos, por meio de leis sociais" e pela expectativa da riqueza. Vimos um retorno parcial "àquilo que os economistas chamam de liberdade da indústria e do comércio, mas que realmente significa o alívio da indústria diante do fustigamento e da supervisão repressiva do Estado, e proporcionar inteira liberdade para explorar o trabalhador, ao ponto de privá-lo de sua liberdade." [Peter Kropotkin, The Great French Revolution, p. 28] A "crise de democracia" foi superada e substituída pela "liberdade de explorar o trabalho humano sem qualquer salvaguarda para as vítimas de tal exploração e pelo poder político organizado de forma a garantir liberdade de exploração pela classe média.” [Op. Cit., p. 30]

São estas coisas que se escondem atrás da retórica do "livre mercado" capitalista, o keynesianismo foi usado para administrar as crises da mesma forma que foi usado para administrar a prosperidade. O "Lado da Oferta" na economia (combinado com o dogma neoclássico) foi usado para suprimir e destruir o poder da classe trabalhadora para que o capital possa usurpar mais lucro da classe trabalhadora.

O desemprego foi usado para disciplinar a força de trabalho militante e fazendo com que os trabalhadores lutassem por trabalho em vez de contra a escravidão assalariada. O medo de perder seu emprego faz com que o trabalhador trabalhe mais depressa, mais horas, em péssimas condições, sem equipamentos de segurança e com baixos salários, aumentando os lucros que são extraídos diretamente dos trabalhadores pela redução dos custos operacionais e pela reduzida estabilidade e segurança do emprego, e assim por diante. O "mercado" de trabalho foi fragmentado em larga escala pela pobreza, atomizado em unidades onde os sindicatos lutam em uma batalha que já está perdida em face do estado de recessão.

Este disciplinamento da classe trabalhadora resultou em que mais que o dobro da renda fosse direcionada ao capital comparado com aquilo que vai para o "trabalho". Entre 1979 e 1989, a renda total do trabalho subiu em 22.8%, a renda total do capital subiu em 65.3% e o lucro em ganhos de capital em 205.5%. O valor real oriundo de benefícios sociais "standard welfare benefit packag" também declinaram algo em torno de 26 por cento desde 1972. [Edward S. Herman, "Immiserating Growth: The First World"Z Magazine]. O economista Victor Fuch da Universidade de Stanford estima que as crianças nos Estados Unidos foram privadas de 10 a 12 horas da presença de seus pais entre 1960 e 1986, conduzindo a uma deterioração nos valores e nas relações de família. O desemprego e o subemprego continuam se espalhando por toda parte, com os novos empregos sendo temporários.

É importante destacar também que neste índice de crescimento da renda que vai para o trabalho estão incluídos também os "salários" dos altos executivos (CEOs) e da nata dos administradores. Conforme já notamos, tais "salários" são parte da mais valia extraída dos trabalhadores e não podem ser tidos como renda para o "trabalho". O fato de Reagan se defrontar com a luta de classes da década de 80 é que enquanto as rendas dos altos executivos subiam como um foguete, o salário dos trabalhadores permanecia estável ou caiam em termos absolutos. Por exemplo, o salário médio por hora dos trabalhadores na produção dos Estados Unidos caiu cerca de 13% desde 1973 (isso não quer dizer que apenas os trabalhadores na área da produção criam mais valia ou são "a classe trabalhadora"). Em contraste, os executivos estadunidenses hoje recebem 150 vezes mais que a média dos ganhos dos trabalhadores.

Previsivelmente 70% dos recentes ganhos em renda per capita foram abocanhados pelos 1% mais ricos (enquanto que os mais pobres perderam em termos absolutos). [Chomsky, Op. Cit., p. 141]. A desigualdade nas rendas tem aumentado, com a renda do quinto mais pobre da população dos Estados Unidos caindo em 18%, enquanto que a do quinto mais rico aumentou em 8%.

Os meios indiretos de crescimento das quotas de capital na renda social também são utilizados, tais como a redução na regulação do meio ambiente, transferindo os custos da poluição para a corrente e futuras gerações. Na Inglaterra, os monopólios de propriedade estatal foram privatizados para derrubar os preços proporcionando ao capital privado um aumento em seus recursos por pagarem apenas uma fração do custo real. Na verdade, algumas das indústrias nacionais foram privatizadas como monopólios permitindo que os lucros monopolísticos fossem extraídos dos consumidores por muitos anos até que o estado promovesse a competição nestes mercados. A taxação indireta também cresceu, sendo usada para reduzir o consumo da classe trabalhadora, no mais alto estilo do keynesianismo adotado pelo Pentágono.

A exploração das nações subdesenvolvidas aumentou com os $418 bilhões que foram transferidos para o mundo desenvolvido entre 1982 e 1990 [Chomsky, Op. Cit., p. 130].  O capital também se ampliou em todo mundo pela utilização dos avanços tecnológicos movendo capital para países do terceiro mundo onde a repressão do estado assegura uma menor militância da classe trabalhadora. Essa transferência trouxe o aumento do desemprego para o mundo desenvolvido, exercendo mais pressão na resistência da classe trabalhadora.

Essa política de luta de classes, uma resposta ao sucesso da luta de classe implementada pelos trabalhadores nas décadas de 1960 e 1970, obviamente ceifou todos os benefícios conquistados do capital. A renda obtida pelo capital aumentou e a renda obtida pelo trabalho declinou. O "mercado de trabalho" acabou disciplinado em ato grau (embora não totalmente). Os trabalhadores passaram, em alto grau, de participantes para espectadores, bem a gosto de qualquer sistema hierárquico. O impacto humano dessa política é incalculável. Foi espantosa a utilidade do dogma neoclássico para a elite - ele pode ser usado pelo rico, e pelos poderosos para justificar a implementação de políticas sociais que criam pobreza e provocam a morte de crianças.

Conforme Chomsky argumenta, "um aspecto marcante da internacionalização da economia é a extensão do abismo que separa o Terceiro Mundo dos países do Primeiro Mundo. A doutrina do mercado tornou-se uma arma ideológica essencial  que pode ser usada a vontade, sua aplicação altamente seletiva é seguramente obscurecida pelo sistema doutrinal. Riqueza e poder se concentram progressivamente. Os serviços para o público em geral - educação, saúde, transporte, bibliotecas, etc. - tornaram-se supérfluos para os responsáveis por esses serviços, restringindo-os ou descartando-os inteiramente". [Year 501, p. 109]

A recessão administrada pelo estado tem obtido seu sucesso. Os lucros das companhias sobem à medida que o “custo competitivo" dos trabalhadores é reduzido devido ao medo do desemprego. O Wall Street Journal referindo-se à performance da economia nos três primeiros meses de 1995, deu a seguinte manchete "Lucro das Companhias Oscilam 61%, Sobem os Preços, Custos são Cortados". A taxa de lucros subiu 62% em 1993, e apenas de julho a setembro subiu 34%. Enquanto os trabalhadores estadunidenses enfrentam as forças de mercado, as Corporações alcançam lucros recordes em 1994. O Business Week estimou que os lucros em 1994 ultrapassaram "o fantástico lucro de 41% obtido [em 1993]," a despeito da queda em 9% nas vendas. Um "sucesso colossal", em grande parte resultante de um "corte" na "quota destinada ao trabalho” embora "os economistas digam que o trabalho será beneficiado -- eventualmente". [citado por Noam Chomsky, "Rollback III”, Z Magazine, April 1995]

Alem disso, para o capital, o keynesianismo continua funcionando como antes, combinado (usualmente) com orações e milagres do mercado. Por exemplo, Michael Borrus, co-diretor do Berkeley Roundtable do International Economy (uma corporação comercial e tecnológica formada por institutos de pesquisa), menciona um estudo de 1988 do Departamento do Comércio que revela que "cinco das seis indústrias estadunidenses que mais cresceram de 1972 a 1988 foram patrocinadas ou sustentadas, direta ou indiretamente, por investimentos federais [...] Computadores, biotecnologia, equipamentos, e aviões" tudo proporcionado como "subproduto de gastos públicos". [citado por Chomsky, World Orders, Old and New, p. 109]

Conforme James Midgley destaca, "a participação agregada do setor público não diminuiu durante os anos 1980, apenas alterou sua aplicação. A política orçamentária suprimiu os recursos existentes no campo social dirigindo-os para o campo militar e para o aparato repressivo". ["The radical right, politics and society"The Radical Right and the Welfare State, Howard Glennerster e James Midgley (eds.), p. 11]

Na realidade, os Estados Unidos bancam um terço de todos os projetos civis de pesquisa e desenvolvimento (P&D), um subsídio semelhante ao que ocorre no Reino Unido. [Chomsky, Op. Cit., p. 107].  Após o colapso generalizado das Associações de Empréstimo e Poupança pela corrupção e especulação desenfreada, os anos 1980 pro-"livre mercado" trouxeram consigo a alegre e saltitante administração republicana, revelando que as forças do mercado pertenciam a uma só classe.

As corporações proprietárias dos meios de comunicação de massa atacam o keynesianismo social, quando não permanecem em silêncio ou justificam a intervenção estatal pró-empresarial. Combinado com as monumentais corporações da direita “solucionadora de problemas" contratadas para explicar porque os programas sociais são contra-produtivos, enquanto que o sistema corporativo estatal tenta trapacear a população induzindo-a a pensar que não existe alternativa que não seja o mercado, enquanto uma elite enriquece a si mesma à custa do dinheiro público.

Assim, o keynesianismo social foi substituído pelo keynesianismo do Pentágono disfarçado sob a retórica do dogma do "livre mercado". Combinado como uma estranha mistura de livres mercados (para muitos) e intervenção estatal (para uma seleta minoria), o estado tem se tornado mais forte e mais centralizado e "prisões também oferecem um estímulo keynesiano para a economia, tanto o negócio da construção como o emprego do colarinho branco; as profissões que mais crescem são aquelas relacionadas à segurança pessoal". [Chomsky, Year 501, p. 110]

Enquanto isso, a resistência da classe trabalhadora persiste, em grande parte na defensiva, mas, como ocorreu no passado, essa situação pode e deve mudar. Até mesmo a noite mais escura chega a um fim com o alvorecer e as luzes da resistência da classe trabalhadora que podem ser vistas através de todo o globo. Por exemplo, a luta contra os impostos na Inglaterra sob o governo de Thatcher foi vitoriosa da mesma forma que muitas lutas semelhantes que tem sido travadas através dos Estados Unidos e Europa Ocidental, o levante zapatista no México é inspirador como também o é as contínuas manifestações e greves através do mundo. Mesmo sob a repressão do estado e a recessão econômica administrada, a classe trabalhadora está retornando à luta. A função dos anarquistas é encorajar esses lampejos de liberdade e ajudar em sua vitória.