sábado, 15 de março de 2014

MPL: Traíras comandadas por Rui Falcão

O movimento social deve ter início, meio e fim. 

As manifestações de junho do ano passado não foram espontâneas, foram costuradas anos a fio nacionalmente pelo MPL. O aviso "se a tarifa não baixar São Paulo vai parar" ecoou de Kassab a Haddad na sede da Prefeitura de São Paulo, no Viaduto do Chá.

Quem atendeu ao protesto não estava para brincadeira. Povo não sai às ruas para jogar truco e provou isso em junho. O usufruto do transporte público digno e de qualidade é apenas um dos inúmeros direitos previstos na Constituição, mas negados na prática.

O bebê da passagem livre nos transportes urbanos em todo o país foi fecundado pelo MPL. O mesmo MPL que viu esse bebê crescer. E ainda esse MPL deveria fazer o parto. Esse parto, bem feito, abriria caminho em direção a novas conquistas com possibilidades ilimitadas. Conquistas como, por exemplo, expropriação para Reforma Agrária de um mínimo inicial de 10 km nas margens das rodovias, ferrovias e hidrovias federais; e autogestão generalizada, principalmente nas áreas da saúde, educação, moradia, lazer.

O que aconteceu?

A mentira sistemática da mídia mainstream, somada à brutalidade de fascistas motorizados atropelando e matando jovens manifestantes pelo país afora, aliada à perversidade institucionalizada da policial federal, estadual e municipal, não foram suficientes para conter a multidão disposta a alcançar seu alvo: o passe livre.

O parto, ou o desdobramento natural da grande assembléia na Avenida Paulista no sentido do encaminhamento da continuidade da luta pelo "passe livre" que o Brasil inteiro esperava  não aconteceu. O bebê morreu junto com a mãe pela vergonhosa fuga do parteiro MPL.

O que se viu foi vacilação no sentido mais periférico da palavra. O vacilão MPL em vez de abrir seus ouvidos a voz dos milhões que atenderam seu chamado às ruas, preferiu negociar com o andar de cima, bem no estilo do pelego sindical.

Num primeiro momento o trapalhão MPL soltou nota dizendo que sua meta fora atingida, o retorno da tarifa aos R$ 3,00. Claro que haviam cartazes mencionando educação, saúde, mas o foco de toda movimentação popular era pela gratuidade do transporte público urbano em todo o país. O recado das ruas era claro. "Prossiga MPL, essa luta específica teve um início, um meio não-violento, e precisa ter um fim. Esse fim seria também o início da continuidade da luta nas demais áreas. Conte conosco, não recuaremos".

Infelizmente a trairagem emepelista prevaleceu. Correram para Brasília para ouvir conselhos daqueles que por todos os meios tentaram sufocar o clamor das ruas. E para espanto geral começaram a pedir exatamente o que os inimigos do passe livre queriam: que os manifestantes voltassem aos seus velhos sofás da sala e se concentrassem nos ditames do Jornal Nacional, nos alertas dos Datenas, e nos editoriais das Sherazades patrocinados por governos, bancos, latifundiários e corporações.

Para espanto e decepção de milhões de indignados e furiosos manifestantes, a montanha do MPL pariu um rato de R$ 0,20. 

O que acontece hoje?

Envergonhado, o MPL saiu de cena. A tática black-bloc, repudiada tanto pelo anarquismo institucionalizado quanto pelos vermelhos eleitoralizados, assumiu corajosamente a tarefa de ressuscitar os cadáveres do bebê e da mãe. O que se viu em fevereiro ultimo foi o estado e o capital desferindo um golpe contra as bandeiras negras. Primeiro intimando manifestantes a comparecer em delegacias de polícia no mesmo dia e horário da manifestação convocada para dia 22 de fevereiro, para depois prender e arrebentar remanescentes ácratas, bem no estilo brutal do General Figueiredo.

Não foi por acaso a ausência total de bandeiras anarquistas no Grande Ato Contra a Copa em 13 de março no Largo da Batata. Como também não foi por acaso o ressurgimento tardio do MPL às manifestações. Foi necessário prender e arrebentar o negro para dar lugar ao bloco vermelho de vergonha comandado por Rui Falcão.






quinta-feira, 13 de março de 2014

Nao Vai Ter Copa- 3º Ato

O Terceiro Ato Contra os Gastos da Copa teve início por volta das 18 horas. Pouco antes da marcha iniciar vi grupos de policiais da Tropa de Choque da PM se deslocar do lado oposto do Largo da Batata em direção aos manifestantes. Pensei comigo, será que vão nos cercar e atacar como fizeram da última vez em 22 de fevereiro?

Saí para fora do círculo do cerco, embora a Constituição do Brasil em seu artigo 5, garanta a mim e a todo brasileiro o direito à "livre manifestação" aqueles PMs estavam claramente mais dispostos a obedecer ordens de seus comandantes, mesmo ilegais, do que seguir à risca os ditames da Carta Magna.

Durante toda caminhada até a Paulista não houve um só incidente, até que bem na minha frente, quando eu passava pelo MASP, duas quadras à frente da manifestação, vi um buscapé aceso sendo lançado nos pés de um grupo de meia dúzia de PMs. Um dos PMs tentou chutá-lo em minha direção, errou. Saí dali rápido e sem olhar para trás ouvi dois fortes estampidos da bombinha. A primeira entrada do Metrô MASP estava fechada, segui em frente e vi as vidraças de uma agencia do Banco do Brasil sendo quebradas.

Que tipo de pessoa jogaria um buscapé contra policiais militares? Eu não sei ao certo. Mas provavelmente alguém que não goste da polícia. Talvez algum amigo dos Amarildos, talvez alguém que sofreu brutalidade por parte da PM, talvez alguém que não goste de ser tangido como gado. Talvez algum morador da periferia que sabe que a PM é racista, e que muitas vezes exerce o papel de juiz e carrasco criminalizando a pobreza.

Que tipo de pessoa quebraria a vidraça de uma agencia bancária? Talvez algum usuário do sistema. Desses que passam uma, duas e até três horas dentro de filas nos bancos tentando pagar uma conta de luz ou receber os parcos valores de sua aposentadoria. Talvez um daqueles que recebem como rendimento da poupança 0,5% ao mês quando investe seu dinheiro, e que paga entre 200 e 300% ao ano quando pede algum dinheiro emprestado.

Considerando esse universo de pessoas com fortes motivos para quebrar vidraças de agencias bancárias e atirar bombinhas nos pés de policiais a quantidade de suspeitos se elevaria às centenas de milhares. Povo pobre não gosta de polícia e povo em geral não gosta de banco. Uma ação inteligente expropriaria a riqueza dos banqueiros e daria um fim à existência não apenas da Polícia Militar, mas acabaria também com todos os tipos de polícia e de exércitos. Instituições pensadas, criadas e alimentadas por sistemas injustos e com a única finalidade de manter desigualdades e sustentar privilégios de governantes e de uma minoria que controla o poder político e econômico.





domingo, 2 de março de 2014

O Caminho da Vitória Contra o Capitalismo

Muito se fala e se escreve sobre como derrotar o Capitalismo. Não vou tratar aqui dos males desse sistema, nem de defini-lo. Mas não poderia deixar de nomear as duas formas de capitalismo, igualmente perversas: o Capitalismo de Estado e o Capitalismo de Monopólios, associadas por Debord como espetáculo concentrado e espetáculo difuso.

Para quem não acredita na inevitável derrocada do capitalismo, sugiro um passeio pela história humana, das origens do comunalismo até aos nossos dias, e o estudo, aprendizado e sobretudo prática dos caminhos que levam até zonas autônomas temporárias ou permanentes. Reconfortantes momentos históricos em que a propriedade privada foi concretamente abolida e o Estado negado.

Para derrotar o capitalismo basta não colaborar com ele. Simples assim. Mas como diz o provérbio chines, "simples não quer dizer fácil".

Não colaborar com o capitalismo pode significar prisão, como a que sofreu Henry David Thoreau ao recusar pagar imposto. Pode significar também muito sofrimento, dor e até mesmo a morte. A desobediência é o calcanhar de Aquiles do capitalismo. O Estado requer obediência, o patrão exige obediência, o partido precisa da obediência, o exército e a polícia tem base na obediência incondicional dos seus soldados. Ter um rei ou governador significa submeter-se ao estado, instrumento do capitalismo, e desobedecê-lo pode significar ser lançado numa gehenna* social.

Não vamos falar aqui de sofrimento ou dor daqueles que se submetem por uma causa, vamos nos ater à morte. Será que vale a pena morrer na luta pela destruição do Estado e do Capital? Eu não sei. A resposta deixo ao leitor, mas quero delinear aqui muitos que morreram e morrem por causa menos nobre, todos os dias.

Destaco aqui dois "heróis" da F1, Michael Schumacher e Ayrton Senna. O primeiro agoniza em estado vegetativo no leito de um hospital na Alemanha, o segundo tem seus restos mortais depositados em um cemitério do bairro do Morumbi em São Paulo. Ninguém pode afirmar que o que ocorreu a eles foi obra do azar ou do acaso. Ambos sabiam que a prática de esportes radicais implica em aumento do risco de morte. E resolveram, mesmo assim, dedicar suas vidas a essa causa. Não os julgo nem condeno, cada um trata de si. Mas quero formular outra pergunta: Será que vale a pena, seja lá qual for o motivo, correr o risco de morrer na prática de esportes radicais?

Muitos dirão: “Morreremos de qualquer jeito”. Sim, é verdade, mas não seria melhor arriscar a vida por uma causa mais nobre?

E os soldados? Quantos não se alistam forçosamente em exércitos ou voluntariamente disputam empregos em órgãos de polícia, colocando seus corpos como bucha de canhão à disposição do Capital e do Estado, apontando suas armas contra sua própria classe e irmãos?

Há também toda espécie de bandidos que, acuados pela aversão à escravidão assalariada e pela não satisfação das suas necessidades básicas, ou até mesmo por amor ao poder, ouro e fama, resolvem tornar-se políticos, traficantes de drogas, ou punguistas comuns. Essas atividades, obviamente, envolvem altos riscos. Não são poucos governantes depostos e mortos pelos próprios governados. São freqüentes as notícias sobre traficantes mortos em confrontos com a polícia, e ultimamente, infelizmente, ouvem-se relatos de ladrões ordinários sendo linchados até a morte pela população.

Muitos também colocam suas vidas em risco submetendo-se a cirurgias e tratamentos chamados “estéticos”. Querem olhar no espelho e ver os mesmos corpos fotoshopados estampados nas revistas. Homens e mulheres saudáveis atendem prontamente aos apelos de clínicas e comerciantes ávidos por dinheiro.

Eu poderia aqui continuar debulhando ao infinito inúmeros casos de pessoas que se sujeitam à possibilidade de morte antes do tempo por atender aos reclames da TV, da moda, da fama, do ouro, do Estado, do Capital.

Se, usando o argumento mais comum, vamos morrer todos um dia, e vamos mesmo, por qual razão essa multidão que gosta tanto de adrenalina, não arrisca sua vida em prol de uma vida plena e abundante? Por qual razão, para ela, valeria mais a pena morrer pela obediência aos caminhos da fama, da propriedade e do dinheiro do que pela desobediência aos caminhos da injustiça e da desigualdade? Que tal começarmos a experimentar desobedecer e recusar trilhar pelos caminhos do Estado e do Capital?

(*) vale em torno da Cidade Antiga de Jerusalém, e que veio a tornar-se um depósito onde o lixo era incinerado. Atualmente é conhecido como Uádi er-Rababi.

Fontes bibliográficas

Não-resistência cristã, Adin Ballou

Sociedade do Espetáculo, Guy Debord

Socialismo libertario: Ni capitalismo de monopolio, ni capitalismo de Estado, Abraham Guillén

Comunalismo, das Origens ao Século XX, Kenneth Rexroth

Andar a Pé, Henry David Thoreau

Passagens bíblicas antigoverno

Marcos 10:42,43

I Samuel 8:1-22

Oseias 13:9,10

Isaías 3:2- 4

Oseias 5:1

Atos 4:32

Atos 2.44-47

Lucas 12:23-34

Isaías 2:4

Miqueias 4:3,4