quarta-feira, 8 de julho de 2009

Filho de Khamenei assume controle da milícia anti-protesto no Irã

Julain Borger, editor diplomático
guardian.co.uk, Quarta-feira, 8 jul 2009 17,33 BST


O filho do líder supremo do Irã, aiatolá Ali Khamenei, tomou o controle da milícia que está sendo usada para esmagar as manifestações, diz fonte iraniana.

A fonte, um político com fortes ligações com o aparato de segurança, disse que isso trouxe consternação no seio do alto clero, entre políticos conservadores e generais da Guarda Revolucionária.

Mas estes conservadores relutam desafiar os Khameneis abertamente temendo conflitos que desesabilizem a República Islâmica e enfraqueçam o Irã na região. Em vez disso, utilizarão suas posições nos órgãos do Estado para dificultar o governo do líder supremo e de Mahmoud Ahmadinejad.

"Este jogo ainda não terminou. Apenas começou", disse a fonte, sob condição de anonimato devido à sensibilidade de sua própria posição no Irã.

Ele disse Mojtaba desempenhara um papel de liderança na orquestração da suspeita vitória eleitoral de Ahmadinejad em 12 de Junho, e liderou pessoalmente as ações contra os protestos de rua através das milícias, conhecidas como basiji.

O número oficial de mortos é inferior a 20, mas, segundo um médico de Teerã disse para o Guardian que o número real é muito superior, somente em seu hospital na primeira semana já haviam 38 mortos. Ele disse que a milícia basiji acoberta os mortos e pressiona os médicos a ficarem calados.

"Mojtaba é o comandante deste golpe de Estado. A basiji está operando sob encomenda de Mojtaba, mas seu nome está sempre escondido em todo este processo. O governo nunca o menciona", disse o político iraniano. "Todo mundo está zangado com isso. A maraji [alto clero iraniano] e os clérigos estão zangados, os conservadores estão muito irritados e são fortes críticos de Mojtaba. Essa situação não pode continuar com tantas pessoas no topo contra ele."

Muito pouco se sabe sobre Mojtaba Khamenei. Ele é o segundo filho do líder supremo e está sendo preparado para suceder seu pai. Essa sucessão dinásticas seria muito difícil nas atuais circunstâncias, pois o líder deve ser escolhido por um grupo de clérigos peritos com base na vida religiosa do candidato. Mojtaba usa vestes clericais, mas de nenhuma maneira tem base teológica para a suprema liderança. Para que isso ocorresse seria necessário uma grande mudança no meio clerical.

Dentro do Irã, Mojtaba controla enormes ativos financeiros. Dissidentes iranianos através de websites dizem que a atual campanha anti-britânica em Teerã é motivada em parte pelo anúncio da Grã-Bretanha em 18 de Junho, de que tinha congelado quase 1 bilhão de libras dos ativos iranianos, em conformidade com a ONU e sanções da UE. Entre os fundos congelados parte do dinheiro seria de Mojtaba, que o reivindica.

Mojtaba o nome não aparece na lista dos sancionados pelo Tesouro, mas um oficial britânico disse que o filho do líder supremo pode operar através da gerência das emas empresas que estão listadas. "Eu ficaria espantado se alguma parte daquele dinheiro não fosse dele", disse o funcionário.

O político iraniano, que falou ao Guardian disse que o líder supremo há muito vinha perdendo apoio na hierarquia religiosa que o elegeu e que atualmente a falta de apoio é quase total. Entre os cerca de 20 maraji ( "fontes de emanação", de cujas fileiras o supremo líder é escolhido), Khamenei só podia contar com o apoio de um punhado.

Ele disse que um eixo de leigos conservadores em importantes cargos também tentaria atrapalhar os esforços de Ahmadinejad exercer o poder. Este eixo inclui Ali Larijani, orador parlamentar, Mohammad Baqer Qalibaf, prefeito Teerã, e Mohsen Rezai, um dos candidatos presidenciais derrotados e o secretário do Conselho de pertinência, que medeia conflitos entre o clero e os leigos que comandam as instituições estatais. A oposição também recebe nos bastidores um poderoso apoio, o ex-presidente Hashemi Rafsanjani.

A fonte também afirmou que há divisão em outro pilar da República Islâmica, a Guarda Revolucionária. O comandante geral, o general Ali Jafari, comandante da província de Teerã, general Ali Fazli, se opões às ambições de Mojtaba.

Ele disse que as duras declarações emitidas em nome da Guarda Revolucionária, ameaçando um "decisivo confronto" com os manifestantes, foi obra de políticos e de funcionários de relações públicas, que estão sob o controlo direto de Ahmadinejad, e não representa uma posição coesa. Essa é uma reivindicação controversa pois a maioria dos analistas aponta a Guarda Revolucionária como monolíto e totalmente fiel ao regime.

Uma mudança revolucionária na forma de uma rebelião aberta era impensável, disse o político. "Para eles, a linha vermelha é a estabilidade do país", disse ele. "Eles continuarão tranquilos."

Ele disse que essa mortífera luta vai longe e que o desfecho não está claro. A única certeza: Os Khameneis e Ahmadinejad ainda não ganharam a batalha. "Eles controlam coisas na superfície", disse ele. "Mas os persas não são ovelhas".

fonte: http://www.guardian.co.uk/world/2009/jul/08/khamenei-son-controls-iran-militia

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