domingo, 19 de julho de 2009

Estado Social Keynesiano, Ahmadinejad e o delírio da ATTAC

Por Robert Kurz

"O novo capitalismo de Estado vai mostrar a face horrorosa da repressão a agravar dramaticamente a administração da crise"





A ATTAC é publicamente considerada como o Fórum para a mais aguda crítica do capitalismo financeiro neoliberal. Que pensa disso, em termos analíticos e práticos?

A crítica da ATTAC não é aguda, mas obtusa, e foi desde sempre, à semelhança das ideias de La Fontaine, marcada pela nostalgia keynesiana. Uma crítica isolada do neoliberalismo não serve para nada, porque não analisa a conexão interna da viragem neoliberal com os limites da valorização real do capital, mas considera esta doutrina apenas como política econômica "errônea", supostamente imposta através duma espécie de conspiração.

Se agora as elites capitalistas lançam pela janela fora o neoliberalismo, tão nervosamente como outrora se desfizeram do keynesianismo, isso só mostra que o capitalismo não coincide com um determinado modo de regulação. Por mais razoável que possa parecer uma crítica isolada do capitalismo financeiro não serve para nada, porque põe de pernas para o ar a relação entre a economia real e a superestrutura financeira, e porque responsabiliza a especulação por uma crise que tem a sua origem precisamente na própria lógica da valorização.

Também a ATTAC não queria mais nada que um "bom" capitalismo dos postos de trabalho. Há muito que vem sendo criticado que esta espécie de "crítica do capitalismo" é reacionária e, consciente ou inconscientemente, querendo ou não querendo, contém um "anti-semitismo estrutural", porque não ataca os fundamentos do capitalismo, mas obedece apenas ao preconceito popular do "capital rapinante", que é responsabilizado por todos os males sociais e já desde há 200 anos é ligado aos judeus. A defesa da ATTAC contra esta acusação foi sempre, na melhor das hipóteses, titubeante e duvidosa. Por isso houve e há no círculo nada transparente da ATTAC simpatias pelo devorador de judeus Ahmadinejad, que é estilizado como luminosa figura "antiimperialista" e também declarou publicamente como causa da crise financeira uma "ameaça judaica mundial". Atualmente a ATTAC parece estar ocupada em sentir, em vez de imaginar, que fantasmas foram acordados pela crítica isolada da especulação.

Quando a ATTAC agora, com a grande crise financeira, com o fim do neoliberalismo e com a passagem à re-regulação e à estatização dos bancos, vê amadurecer os seus sonhos de florescência, e espera, com o ministro do trabalho Scholz, o regresso do Estado social keynesiano, ela só pode vir a envergonhar-se desta opção a muito curto prazo. Na realidade, o capitalismo vai ser reduzido às suas reais condições de valorização. Em consequência, está à vista uma depressão global e não o regresso ao crescimento "real" após os "desvios".

O novo capitalismo de Estado vai mostrar a face horrorosa da repressão a agravar dramaticamente a administração da crise. Talvez até mesmo [o programa anti-social] Hartz-IV venha a parecer em retrospectiva relativamente acolhedor. E depois? A ATTAC reivindicará o regresso da economia das bolhas financeiras, porque é incapaz de pôr em causa as condições de vida capitalistas enquanto tais? Ou uma pessoa desfaz-se no turbilhão das ideologias de massas que confirma os piores receios? Ou já só nos resta rezar, uma vez que assim nos tornamos Papa?

Extraído de artigo de Robert Kurz

Fonte: http://www.exit-online.org/

Nenhum comentário: