quarta-feira, 10 de junho de 2009

O Tao do Bandido

Era uma vez, há muito tempo atrás na China antiga, um famoso bandido chamado Zhi que liderava um grupo de foras-da-lei. Juntos, praticavam muitos crimes conseguindo escapar das autoridades.

Certo dia, após mais um assalto bem sucedido, deram uma pausa e foram para seu esconderijo. Estavam bebendo e conversando quando, de repente, ocorreu uma dúvida a um jovem bandido. Ele virou-se para Zhi e perguntou: "Ei chefe, tem uma coisa que não consigo entender. Porque você é o líder? Quer dizer, você é forte, mas alguns de nós também somos bem fortes. Porque é que você nos conduz e nós o seguimos? Qual é seu segredo?"

Os homens riram diante desta pergunta, mas Zhi respondeu sério: "É realmente muito simples. Sigo os princípios da bandidagem".

O jovem parecia confuso. "Princípios? Chefe, não temos princípios. É por isso que somos bandidos!"

"Ah, é aí que você se engana" Zhi sorriu com seu sorriso torto: "Não apenas temos princípios, como também praticamos as virtudes ensinadas pelos sábios".

O jovem pensou que Zhi estivesse brincando. "Virtudes? Chefe, os sábios são altamente estimados, mas nós somos os piores dos piores. Não temos nada a ver com virtudes!"

Os homens estavam prestes a rir de novo, mas Zhi os silenciou com um olhar penetrante: "A maioria das pessoas acha que coisas como virtudes são apenas para o bem, mas não o são. Elas são realmente muito prejudiciais para as pessoas em geral. É por isso que também as temos. De fato, existem cinco principais virtudes na vida de um bandido".

"Cinco?". O jovem olhou para seus companheiros, mas eles estavam tão confusos quanto ele. Juntos, eles se voltaram para Zhi para ouvir a explicação.

Mostrando os dedos da mão, Zhi disse: "Um bandido tem que ser capaz de descobrir onde as pessoas escondem seus tesouros. Essa é a virtude do discernimento, devem ser capazes de ver o que outros não vêem".

"Um bandido tem que olhar para uma situação e medir com precisão sua chance de sucesso. Esta é a virtude da lucidez, a capacidade de pensar e calcular claramente.

"O bandido deve estar disposto a ser o primeiro a entrar em uma mansão fortemente protegida. Essa é a virtude da coragem, que o conduz à frente, com disposição e bravura.

"Um bandido também está disposto a ser o último a sair, cobrindo todas as saídas. Essa é a virtude da honra, colocando em risco a própria segurança para proteger a de seus companheiros.

"Finalmente, quando todos regressamos ao esconderijo, dei a cada um uma parte igual dos despojos. Essa é a virtude da lealdade - sendo benevolente com vocês, meus seguidores.

"Juntas, essas cinco virtudes são o Tao do bandido. Se você não tiver todas as cinco, será impossível tornar-se um grande bandido. Este é o meu segredo".

Todos os homens acharam difícil fazer o que Zhi disse, mas ninguém conseguiu detectar eventuais falhas em seu raciocínio. Finalmente, o rapaz falou novamente: "Chefe, o senhor também disse que as virtudes eram nocivas às pessoas. O que quis dizer com isso?"

"Pense nisso", disse Zhi terminando o seu vinho. "Uma pessoa boa tem que seguir as virtudes ensinadas pelos sábios para ser mais eficaz. Bandidos como nós também temos que seguir as virtudes ensinadas pelos sábios para sermos bandidos mais eficazes. Certo?"

Os homens acenaram com a cabeça, e o rapaz concordou: "Sim, isso faz sentido".

"Olhe para o mundo" prosseguiu Zhi, "a maioria das pessoas quer mais do que tem, e se pudesse tomar dos outros, tomaria. Muitos não fazem isso porque sabem que não conseguirão. Isto significa que no fundo não passam de pobres bandidos que falharam na prática das virtudes dos sábios. Concorda"?

O rapaz hesitou, então acernou com a cabeça: "Confesso que nunca pensei desse modo".

"Homens, não há outra conclusão", Zhi sorriu triunfante, "se todo mundo seguisse o conselho dos sábios, haveria lá fora bandidos bem mais eficientes do que eu! Agora você pode ver por que as virtudes são realmente mais nocivas do que benéficas"?

Os homens ficaram atordoados com esta conclusão. A boca do rapaz permaneceu aberta. Foi a vez de Zhi soltar uma gargalhada.

Um comentário:

jornal sinal disse...

Muito bom esse ensinamento, se a marginalidade se unir ao povo e essa junção da escória com os trabalhadores ir a luta, todos os poderes caíram terra abaixo, o marginal, o deliquente, a vagabunda e o maconheiro, o trabalhador e a bicha e todos mais são a esperança do triunfo e da vitória contra esse capitalismo arrogante e em decomposição. Tenho sincero respeito por aqueles que lutam contra o capitalismo, seja em um sinal de trafego ou no saque a um condominio de luxo, enfim a luta é o crime mais honrado que existe... Taborita valeu...

Vicente Castro e Silva