terça-feira, 30 de junho de 2009
Resenha Verde #14 (30 de junho)
Em inglês: http://iran.whyweprotest.net/news-current-events/4593-green-brief-14-a.html
Em espanhol: Green Brief #14 (June 30) En Espanol - Why We Protest - IRAN
Em francês: http://tinyurl.com/moo7v2
Em alemão: Green Brief #14 (June 30) - Why We Protest - IRAN
Em português: http://tinyurl.com/knjfgh
Em italiano: 30/06/2009: Report di fine giornata � Rivolta in Iran
Estes são os acontecimentos importantes que eu posso confirmar no Irã, nessa terça-feira, 30 de junho.
1. Hoje, o povo se concentrou na Praça Vali Asr -- o local foi cercado pelas Forças de Segurança. Foram vistos policiais na praça Vanak quebrando vidros dos automóveis cujos motoristas buzinaram em protesto, em seguida as forças de segurança tentarem prender uma jovem, o que provocou confrontos.
2. Cerca de 10 pessoas foram presas na Praça Tajrish, onde algumas pessoas se reuniram para cantar contra o regime. Houve também confrontos nas ruas Satarkhan e Jomhori. Não chegaram informes precisos sobre a manifestação da Juventude Independente, programada para hoje em Teerã.
3. Hoje, mais de 2.000 pessoas se reuniram na frente do Tribunal Urumieh da República Islâmica para perguntar sobre parentes detidos. Até o momento, por todo o país, foram efetuadas milhares de prisões por causa dos protestos, que ocorrem tanto de dia como de noite. Mousavi e Karoubi negam incentivar protestos.
4. A TV Iran Press declarou que apenas Mousavi defende uma nova eleição. Os correligionários de Mousavi dizem que prender dissidentes é "imoral e ilegal" e que torturar civis nas prisões poderia produzir sentimentos contrarrevolucionários no povo, causando graves danos à Revolução islâmica. Há rumores sobre uma Greve Nacional a ser organizada e propagada no website de Mousavi, fato não confirmado pelas fontes independentes.
5. O Governo iraniano proibiu Abolfazl Fateh, aliado de Mousavi, de deixar o país. Abolfazl Fateh disse hoje que eleições são "um conceito político e que sua militarização era incomum, cara e preocupante”. [...]
6. Hoje, Khatami propos mudanças na ação policial nas ruas do Irã e a formação de uma comissão independente para investigar as queixas contra o processo eleitoral. "A força não deve ser utilizada para obrigar alguém a fazer o que não quer". E que tais táticas estão minando a confiança do povo iraniano.
7. Em carta aos iranianos, Karoubi anunciou não reconhecer a legitimidade do governo e que participou do processo eleitoral para "mudar" e que forças ocultas alteraram de forma gritante o resultado das eleições. [...]
8. O Aiatolá Taheri denunciou a violação dos direitos da Mousavi, enquanto Taheri, antigo Imã de Isfahan, chamou de ilegal a posse de Ahmadinejad, acrescentando que os velhos inimigos do Imam [Khomeini], com suas ações, estavam transformando a República Islâmica num museu [virando história]. Após um membro do parlamento criticar Taheri, Pezeshkian, um reformista do MP, disse que quem é contra o povo é inimigo de Deus.
9. Ahmadinejad chamou de fracassada a tentativa de derrubar o Regime [...]. Yazdi Mohammad, clérigo e membro do Conselho dos Guardiães, disse que a eleição foi imparcial e que Mousavi nunca mais participará de futuras eleições.
10. A prisão Evin em Teerã está superlotada e a forças de segurança estão enviando presos para estádios de futebol. Há tantos detidos nas prisões em Teerã que eles nem conseguem se movimentar. Há relatos de que os guardas estão impedindo os prisioneiros de dormir, mantendo-os de pé a noite toda. A Anistia Internacional alertou hoje o risco dos líderes da oposição sofrerem torturas.
11 - Numa conferência de imprensa, Maziar Bahari -- um hábil jornalista e cineasta iraniano-canadense, que trabalhou para a Newsweek e para o New Statesman -- afirmou (talvez tenha sido forçado a fazer isso) que os protestos foram orquestrados e organizados fora do país. Enquanto alguns estudantes universitários são torturados no Ministério do Interior, iranianos em férias viajando pelo país foram abordados e interrogados (inclusive sobre a atualização de contas no Facebook) no aeroporto como se tentassem deixar o país.
12. Ainda não há notícias sobre as correspondentes do Etemade Melli: Mojtaba Tehrani, presa há três dias, e Mahsa Amrabadi, presa há duas semanas e que só pode fazer um breve telefonema para sua família.
13. Pelo lado bom das coisas, fontes judiciais de Isfahan anunciaram a libertação de 280 pessoas que tinha sido detidas durante os protestos. Centenas ainda permanecem detidos. Mas hoje foi anunciada a abertura de processos legais contra os detidos. O homem no comando, Saeed Mortazavi, notório defensor da pena de morte para dissidentes, levou muitos a acreditar na possibilidade da execução de dezenas de pessoas.
14. Há relatos de que a invasão policial de hoje nos dormitórios da Universidade de Teerã ocorreu a pedido de Kohkan, reitor da universidade. O reitor, contudo, negou essa solicitação. Amir Hossein Da prisão de Evin, Shemshadi, encarregado da campanha de Mousavi entre os jovens, entrou hoje em contato com seus pais e disse que por tão cedo não seria libertado.
15. Pela quarta vez nesta semana o jornal Daily Khabar foi impedido de funcionar. O promotor público de Tehran e funcionários de Ministério da Cultura também impediram hoje a publicação do jornal Etemade Melli que pretendia publicar uma carta de Karoubi.. Pressionados pelas forças de segurança, a sessão do Sindicato dos Jornalistas Irã também foi cancelada. A sessão teria como pauta a detenção de jornalistas.
16. Os cânticos de Alá Akbar continuaram hoje apesar dos Basijis terem ameaçado prender e destruir as propriedades das pessoas que não parassem de cantar. Dias atrás, os Basijis executaram uma pessoa por este motivo.
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Leia isto se quiser ajudar ou buscar ajuda!
A melhor ajuda que você poderia prestar seria retweetar este link e deixar que as pessoas saibam ais sobre o que está acontecendo no país. Os principais meios de comunicação não transmitem esses relatos, por ser a voz dos iranianos.
O governo do Irã continua aumentando a filtragem na internet numa tentativa de sufocar e silenciar seus cidadãos. Anônimos info no Irã mostra que muitos estão procurando "proxys" e informes "Tor" em Teerã e em todo o país. Por favor, doe sua "bandwidth" para ajudar a derrubar o Bloqueio no Irã. Aqui estão links sobre como ajudar e obter ajuda sobre isso:
Inglês:
http://torir.org
http://torir.brokep.com
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Farsi:
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fonte: http://iran.whyweprotest.net/news-current-events/4593-green-brief-14-a.html
segunda-feira, 29 de junho de 2009
Resenha Verde #13 (29 de junho)
Sou NiteOwl AKA Josh Shahryar - twitter.com/iran_translator no twitter - e estou imerso nos tweets do Irã durante várias horas. Procurei ser extremamente cuidadosos na escolha de minhas fontes no twitter. O texto compilado abaixo é o que eu posso confirmar através das minhas fontes confiáveis no twitter. Não utilizei nenhuma mídia. (Todo meu trabalho está liberado sob Creative Commons (CC). Você pode usá-lo livremente e repostá-lo sempre que quiser. Basta fornecer um link para a fonte original, na parte inferior.)
Em italiano: http://giagro.wordpress.com/29062009...fine-giornata/
Em hebraico: (Resumo) http://tinyurl.com/mqooe8
Em português: http://tinyurl.com/mk8lta
Em inglês: http://tinyurl.com/mx24z8
Estes são os acontecimentos importantes que posso confirmar nessa segunda-feira, 29 de junho, no Irã.
1. Foi planejada uma marcha para hoje. Ela ocorreria entre a Praça Tajrish e a Ferroviária, no entanto, o percurso estava fortemente vigiado pela Basijis, policiais a paisana e forças de segurança. No entanto, as pessoas reunidas em Mellat Park, Valiasr Campo, Vanak e Valiasr Avenue e estavam tentando formar uma cadeia humana. A polícia tentou dispersar a multidão e interromper a cadeia humana de ser formada. Houve relatos de confrontos que não puderam ser plenamente confirmados. Relatos da polícia espancando pessoas, e furando pneus de carros com facas.
Os serviços de telefone celular foram cortadas em torno de Valiasr, bem como outras partes de Teerã. A Basiji passou a controlar o Parque Daneshjo com helicópteros sobrevoando por toda parte, especialmente sobre Valiasr. Hoje foi um dos poucos momentos em que o governo cortou as linhas telefônicas a fim de perturbar as comunicações entre os manifestantes e impedir a coordenação do evento. Durante o evento, várias pessoas foram presas também. Por quase toda Teerã foram vistos Basijis portando cassetetes, alguns em motos com coletes de camuflagem. Manifestantes e outras pessoas estavam usando pulseiras verdes em apoio a Moussavi.
3. Larijani, o orador do parlamento hoje disse que a CNN distribuiu dinheiro e telefones celulares para os manifestantes retratar uma falsa imagem do Irã. Ele acrescentou que a agitação não foi um evento importante e que será facilmente superado e que foi apenas mais uma experiência para a República Islâmica.
4. Dois ex-ministros do Interior solicitaram ao Ministério do Interior a constituição de uma comissão independente para investigar os problemas relacionados à eleição. Eles pediram a libertação de todos os manifestantes detidos, inclusive jornalistas, para permitir que as reivindicações dos manifestantes iranianos sejam ouvidas. Eles também solicitaram uma investigação sobre as mortes de manifestantes e outros crimes cometidos durante os protestos e pediram que as pessoas devem ser compensados pelas suas perdas.
5. Bijan Khajehpour, um famoso economista político iraniano, foi detido no aeroporto de Teerã no sábado após chegada do Reino Unido. As fontes não souberam informar seu exato paradeiro, mas confirmaram sua prisão Evin. Dr. Mehdi Khazali, o filho do Grande Aiatolá Khazali, que ao contrário do seu pai é um crítico do governo e de Ahmadinejad, também foi preso. A mídia iraniana também anunciou a detenção de algumas pessoas disfarçadas de Basijis. O informe de ontem sobre a detenção de Homa Roosta hoje foi confirmado como não verdadeiro.
6. Os grupos de defesa dos direitos humanos afirmam que até agora mais de 2.000 pessoas estão presas. Relatos indicam que não há mais espaço para as mulheres nas prisões oficiais de Teerã. Ativistas dos direitos humanos também denunciaram as condições insalubres e inadequadas das manifestantes amontoadas em prisões superlotadas. Pelo menos 60 prisioneiras receberam apenas um cobertor e e estão sendo forçadas a dormir em corredores.
7. Hoje, a Anistia Internacional manifestou preocupação com os líderes políticos que foram presos e alegaram ter sido torturados na prisão. Enquanto isso, um membro do Conselho de Segurança Nacional anunciou hoje que os presos políticos não seriam por tão cedo libertados.
8. Os membros do Conselho de Segurança Nacional reuniram-se com Khatami hoje. O Poder Judiciário criou uma comissão especial para acompanhar os casos de pessoas recentemente detidas. Ahmadinejad pediu ao Poder Judiciário para investigar o assassinato de Neda Agha-Sultan. Em uma carta, Ahmadinejad pediu ao chefe do Poder Judiciário explicações sobre essa morte à qual chamou de "suspeita".
9. A TV estatal disse que o tribunal superior legislativo iraniano confirmara a vitória de Ahmadinejad na eleição presidencial de 12 de junho após uma recontagem parcial. Jannati, o líder do Conselho de Guardiães, disse que as queixas e irregularidades foram consideradas irrelevantes e, por conseguinte, que os resultados foram confirmados. Houve relatos de confrontos em Teerã com pessoas saindo às ruas para protestar contra a decisão do Conselho de Guardiães. (Isso não pode ser plenamente confirmado). Pessoas também começaram a gritar "Morte ao ditador" em seus telhados, após confirmada a vitória de Ahmadinejad.
10. Diante do anúncio dos resultados oficiais da vitória de Ahmadinejad, apenas 11 países o felicitaram por sua "vitória". Estes países foram Tadjiquistão, Armênia, Azerbaijão, Paquistão, Afeganistão, Turquia, República Popular da China, Omã, Rússia, Catar e Venezuela.
11. Pessoas anônimas atearam fogo hoje ao escritório da Associação Islâmica de Sistan e da Universidade Baluchestan. O escritório é um viveiro do movimento estudantil pró reforma. actividade.
12. Mohseni, ministro iraniano da Informação, afirmou hoje ter se encontrado com Mousavi, advertindo-o que sua opção não o levaria a parte alguma, que não iria conseguir nada com sua insistência em anular a eleição, mas criaria mais problemas para ele e para seus seguidores.
13. Cinco dos nove funcionários da Embaixada Britânica anteriormente presos foram libertados hoje. O governo emitiu uma declaração dizendo que os funcionários detidos tinham ligações com agitadores. A UE ameaçou com a retirada massiva de seus embaixadores do Irã se os funcionários não fossem libertados.
14. O porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros do Irã, declarou não pretender fechar nenhuma embaixada. Acrescentando que a detenção dos agentes locais de algumas embaixadas não rompia as convenções internacionais. Acrescentou ainda que os outros quatro funcionários seriam tratados de acordo com a lei.
15. Keyhan, um jornal ligado a Khamenei, atacou Mousavi hoje, chamando-o de criminoso. Também em uma confissão na TV, um membro da equipe de Mousavi foi forçado a dizer que os protestos contra o resultado da eleição iraniana foram orquestrados. O noticiário televisivo anunciou hoje como falsos os relatos sobre punições aos futebolistas iranianos que usaram fitas verdes durante o jogo com a Coreia do Sul, após a FIFA ter consultado a Federação Iraniana de Futebol sobre eventuais retaliações.
* Hoje, uma fonte divulgou informes de que persiankiwi não está preso, mas que simplesmente não têm acesso a recursos para tweetar neste momento.
** Vai aqui um caloroso agradecimento ao Amandapanda por dedicar seu precioso tempo e energia auxiliando meu trabalho.
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Tsunami Verde. Iranianas Desafiam Regime
Por Golbarg bashi em Nova York | 29 de Junho de 2009
[TEHRAN BUREAU] Grassa na internet e nas telas de TV por toda parte do mundo fotos de mulheres, jovens e idosas, religiosas e não religiosas, denunciando fraude no resultado das eleições presidenciais de junho de 2009, esse extraordinário heroísmo e seu grande número despertou o interesse da mídia internacional pela presença feminina no Movimento Verde iraniano (Nehzat-e Sabz).
Diante disso, surgem pungentes questões: O que as iranianas querem? Porque falam tanto em liberdades civis? Em que medida elas participam na definição dos objetivos e aspirações do Movimento Verde?
Muitos não sabem, principalmente fora do Irã, que o movimento iraniano pelos direitos das mulheres além de ser incansavelmente proclamado, vem ampliando suas exigências pelo fim da discriminação de gênero, num país onde tanto as leis como as famílias tratam as mulheres como cidadãs de segunda classe. Desde a década de 1990 várias ONG's, revistas como Zanan, advogados independentes, e campanhas específicas, como a "Stop Stoning Forever Campaign" (Chega de Apedrejamento) vêm lutando incansavelmente pela quebra das barreiras ideológicas, pela mobilização e pelo atendimento de suas demandas específicas pelos direitos das mulheres na esfera jurídica. O número de mulheres marchando pelas ruas de Teerã, Shiraz e outras cidades se multiplica cogumelos. São filhas de décadas de uma luta popular robusta e independente.
Um Levante Feminista (sem a palavra "Feminista") lento mas firme emergiu no período pós-revolucionário iraniano. No Irã, mais de 63% dos graduados universitários são do sexo feminino e, ao contrário de muitos países da região, as mulheres iranianas têm visibilidade em todas as áreas da vida pública. São advogadas, médicas, artistas, editoras, jornalistas, blogueiras, políticas, estudantes e professoras. Em 2003, quando visitei Teerã e outras grandes cidades iranianas, as equipes de radiodifusão de notícias da rádio estatal eram sempre compostas por mulheres: Negin, Parvaneh, Sara, Fatemeh... Esta era a regra e não a exceção. Mas é bom tomar cuidado, não se deve pintar um quadro demasiado otimista das mulheres no Irã. Apenas 12,3% delas trabalham em serviços públicos e para muitas o casamento é a unica saída para fora da casa de seus pais. O escalonamento na taxa de 30% de desemprego é particularmente acentuado entre as mulheres jovens, que também enfrentam a discriminação sexual enquanto força de trabalho.
Durante a campanha presidencial em junho de 2009, a esposa do candidato do Movimento Verde Mir Hossein Mousavi, Zahra Rahnavard, pintora consagrada, professora universitária e ex-chanceler, de mãos dadas com o marido defendeu a iguadade de gênero diante de milhares de mulheres. Sua postura levou muitas mulheres a votar em Mir Hossein Mousavi. Rahnavard foi removida de sua funções administrativas (Vice Chanceler) da Universidade de Mulheres (Al-Zahra), assim que Mahmoud Ahmadinejad assumiu o cargo de presidênte em 2005. Sua história é a de uma muçulmana feminista que, como muitas outras, percebeu que a República Islâmica não estava cumprindo seus deveres religiosos, constitucionais e internacionais na defesa dos direitos das mulheres.
Mas Zahra Rahnavard é apenas a ponta do iceberg. Em abril de 2009, 12 semanas antes da eleição presidencial de junho de 2009, uma coligação de mulheres desenvolveu e propôs: "nós -- enquanto participantes do movimento de mulheres no Irã, enquanto ativistas pró direitos civis em diversas ONGs, partidos políticos, campanhas, imprensa, sindicatos -- descobrimos muitas maneiras de alcançar as demandas das mulheres. Quando é necessário, falamos em uníssono. Hoje, decidimos formar uma outra coligação que apresenta as demandas das mulheres no nosso país através do espaço e do período crucial das eleições presidenciais. O único objectivo desta coligação é declarar demandas das mulheres. Não apoiamos nenhum candidato específico nem vamos interferir no direito do cidadão e da decisão de participar ou não na eleição".
Algumas das mais proeminentes participantes do movimento de mulheres, como Parvin Ardalan e Sussan Tahmasebi, feministas seculares, não assinaram esta proposta. Em seu famoso blog, Leila Mouri, blogueira e participante ativa da "Stop Stoning Forever Campaign", agora estudando nos Estados Unidos, escreveu: "Quero minhas amigas do movimento dos direitos das mulheres mais ativas do que nunca, com o avanço do movimento social nossa presença será mais pronunciada nesse momento crucial. Talvez elas tenham a resposta para algumas das minhas questões [por exemplo, elas se juntaram a estas manifestações para conquistar coisas que durante todos esses anos estamos reivindicando ou somente para angariar votos?], estou muito ansiosa para saber. Espero sinceramente que as demandas civis das mulheres não sejam esquecidas no meio de tudo isto."
Muita luta ideológica tem dividido o movimento de mulheres no Irã. Mas isso não impediu mulheres comuns de participarem ativamente nos encontros anteriores e posteriores às eleições de junho de 2009. Como a história confirma, as mulheres iranianas mais uma vez estão na vanguarda das aspirações democráticas do seu país e das revoltas sociais.
Desde o "Babi movement", passando pela "Revolta do Tabaco" no final do século XIX , pela Revolução Constitucional no início do século XX, pelas lutas pela nacionalização da indústria petroleira Iraniana nos anos 1950, até a Revolução Islâmica de 1977-1979, as mulheres Iranianas foram fundamentais para o sucesso destes eventos marcantes. Mas uma vez os desafios desses pontos decisivos, corajosamente confrontados, freqüentemente com um pesado custo às mulheres, foram esquecidos ou evitados.
Aquilo a que assistimos no Irã é uma conseqüência natural de anos de presença feminista e de participação ativa das mulheres na poderosa esfera púbica, que ensinou às meninas que ser mulher não significa apenas ser mãe e esposa e que as mulheres devem participar e lutar para alcançar seus direitos e reivindicações.
Estas mulheres estão colocando suas vidas em risco para salvar o pouco que resta da sua república. A maioria delas tem insistido na resistência não-violenta e impedido tanto a tropa de choque como as pessoas comuns de serem mortos ou espancados. Elas têm em contrapartida sido brutalmente espancadas e mortas pelas forças de segurança, como foi o caso da estudante filosofia Neda Agha-Soltan, 26, que foi brutalmente assassinada nas ruas de Teerã. Seu último momento na Terra foi capturado pela câmera de um telefone celular, tornando-se um ícone do Movimento Verde.
Para que o Movimento Verde, que parece estar sempre bem à frente de todos seus líderes e teóricos, avance em direção ao sucesso é imperativo para as lideranças dos grupos feministas se integrem em seu próprio círculo interno de liderança e não cedam uma vírgula em suas demandas por liberdades e direitos civis antes que a poeira assente. Para que isso aconteça, uma coligação de várias organizações dos direitos e reivindicações das mulheres deverá ser parte integrante na definição do que realmente é este Movimento Verde. O mês de junho chega ao fim, e após duas semanas de forte repressão sobre os manifestantes, ninguém sabe qual será o desdobramento deste movimento. Seja lá qual for, as líderes do movimento dos direitos das mulheres terão que contar com a presença heróica das mulheres na vanguarda das lutas e não permitir que o sangue delas seja derramado em vão.
Bio: Golbarg Bashi é professora de Estudos Iranianos na Universidade Rutgers. Ela concluiu recentemente sua tese de doutorado sobre crítica feminista do discurso dos direitos humanos no Irã. Ela tem contribuído com artigos sobre mulheres e direitos humanos no Irã para revistas on-line, como OpenDemocracy, Tidningen Kultur, e Qantara, a Deutsche Welle.
fonte: http://tehranbureau.com/feminist-waves-iranian-green-tsunami/
domingo, 28 de junho de 2009
Irã. Tanto poder como oposição promovem fuga de divisas
La Stampa, citando serviço de inteligência italiano, relata que os grandes bancos iranianos começaram uma intensa transferência de dinheiro do país. O dinheiro está saindo de dois bancos que estão sob controle das Lideranças Islâmicas do Irã e de pessoas ligadas a Rafsanjani que está por trás do candidato presidencial da oposição Mir Hossein Musavi quem tem recusado até agora reconhecer sua derrota nas eleições.
A reconciliação entre adeptos e opositores do Makhmud Ahmadinejad já é impossível. Ambos os lados estão se preparando para a luta decisiva na sequência da qual uma das partes terá que fugir do Irã.
De acordo com dados do La Stampa, ao longo das últimas 48 horas os bancos Saderat, Banco Melli-e,-e Bank Sepah e Melat começaram a transferir dinheiro para a Turquia, Malásia, Paquistão, Indonésia e EAU. Dinheiro está sendo transferido, mas em lotes de até US $ 10 milhões. De acordo com o serviço de inteligência italiano, as finanças transferidas para o estrangeiro pertencem a diferentes fundos de organizações não governamentaisde submetidos à Liderança Islâmica do Irã.
Os Fundos dos Iranianos Reprimidos e Inválidos de Guerra, o Fundo dos Mártires, o Fundo Homeyni e outras organizações similares estão sob rigoroso controle dos serviços de inteligência ocidentais que acham que é precisamente com estes fundos que Teerã financia grupos terroristas no exterior, como Hezbollah e Hamas.
http://abc.az/eng/news_24_06_2009_36091.html
Como ajudar o Irã
Não Iranianos
Você quer ajudar o Irã, mas efetivamente não está no Irã? Nesse caso há coisas que pode fazer para ajudar:
Altere a sua localização e fuso horário no Twitter e outros sites de rede social a Teerã, Irã (que é GMT +3:30). A eficácia dessa atitude é no mínimo confusa, mas é uma bela e simples maneira de mostrar o seu apoio.
De alguma forma, altere a cor do ícone do seu perfil para verde. Helpiranelection.com é um bom sítio para isso.
Configure proxies. Estas não são tão necessários como antes, mas algumas pessoas no Irã continua a utilizá-los. Envie-as para ph.on.twitter@gmail.com ou para austinheap da proxyheap.
Configure um "Tor relay" ou "bridge". Ver http://bit.ly/12U8Sx ou http://is.gd/1gja3 Se você criar uma "bridge" privada, envie as informações para ph.on.twitter@gmail.com. Por favor note que somos poucos, não há gente suficiente neste momento. Se você quiser que tráfego imediato, inicie um "relay".
Participe das manifestações. Http://protests.sharearchy.com
Peça para as empresas comerciais do Irã interromper suas atividades. Faça-o repetidas vezes, durante o tempo que for necessário. Http://actions.sharearchy.com
NÃO retweet nomes de locais do Irã. Isso coloca em risco os usuários. O Ministério do Interior iraniano está acompanhando o Twitter agora. Não use nomes nem reescreva as postagens.
Enviar e-mails à CNN, MSNBC, Fox e outras fontes de notícias sobre a revolução iraniana pedindo mais cobertura
NÃO DDOS (PageReload) os websites do governo iraniano. Isso atrasa todo o tráfego iraniano, faz mais mal do que bem nesta guerra de informações.
Iranianos
Contacte-me se você quiser:
proxies
tor bridge nodes
projeto hydra MI bundle (permite o acesso seguro a yahoo / outros serviços de chat)
Uma URL que permitirá que você poste em twitter.com / IranAnon
Mais alguma coisa, eu posso atender alguns pedidos específicos
Ler De ditadura para a democracia
Contato
twitter: ProtesterHelp
e-mail: ph.on.twitter @ gmail.com
MSN: protesterhelp@live.com
Se eu não estiver lá, envie uma mensagem para # irantech sobre o servidor da IRC Freenode. Alguém passará seu contato para mim, ou ele mesmo ajudá-lo.
contact @ProtesterHelp on MSN: protesterhelp@live.com
contact @ProtesterHelp on twitter: @ProtesterHelp
contact @ProtesterHelp on e-mail: ph.on.twitter@gmail.com
http://emsenn.com/iran.php
Parisienses protestam contra ditadura no Irã
sábado, 27 de junho de 2009
Vigília pelo Irã
sexta-feira, 26 de junho de 2009
Irã: Detidos e mortos desde 12 de junho
Aqui está a lista dos mortos e detidos no Irã, atualizada à medida que a informação se torna disponível. A lista não é de forma global e não inclui as pessoas detidas em protestos nas ruas.
Funcionários do governo tem anunciado um total de 627 detenções em Teerã desde 13 de Junho de 2009, 170 pessoas detidas antes de 15 de Junho, 457 pessoas detidas em 20 de Junho, e 27 mortos. Outras fontes afirmam estes números são bem mais elevados. A Campanha acredita, com base em relatórios recebidos do interior do Irã, que mais de 2.000 pessoas poderiam estar preas em todo o país. Segue uma lista de proeminentes personalidades políticas, jornalistas e estudantes que a campanha tenha recebido.
Clique aqui para ver a lista em ordem alfabética
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Mortos por forças governamentais:
O governo já admitiu pelo menos 27 mortos em Teerã, mas os verdadeiros números são provavelmente bem mais elevados. A campanha tem sido capaz de identificar apenas os nomes de algumas pessoas mortas em Teerã durante os recentes protestos devido à extremas restrições impostas pelo governo. Existem também relatos de mortes em outras cidades, mas a campanha não tem sido capaz de recolher qualquer informação confiável.
1) Neda Aghasoltan, estudante, foi assassinada na manifestação em Teerã em 20 de Junho de 2009.
2) Naser Amirnejad, estudande aerospacial PhD, foi assassinado durante o ataque aos dormitórios da Universidade de Teerã na noite de quarta-feira, 14 de Junho de 2009. Seu corpo foi sepultado em sua cidade natal, uma das aldeias no município de Yasouj em 19 de Junho de 2009.
3) Mostafa Ghanian, Graduando na Universidade de Tehran, foi assassinado durante o ataque aos dormitórios da Universidade de Tehran na noite de segunda-feira, 14 de Junho de 2009. Seu corpo foi sepultado em sua cidade natal em Mashad, em 21 de Junho de 2009.
4) Mehdi Karami, morto em Jonat Abad Street, Teerã, 15 jun 2009
5) Kianoosh Assa, estudante de química na Universidade Elm va Sanaat, morto em Teerã
6) Farzad Hashti, morto em Teerã
7) Shalar Khazri, morto em Teerã
8) Yagoub Barvayeh, mestrado aluno no Teatro Universitário em Teerã, morto em Teerã
9) Kaveh Alipour, morto em Teerã
- Oito pessoas foram mortas durante o ataque à manifestação pacífica em Teerã, em 15 de Junho de 2009, segundo o relatório governamental
- Pelo menos dezenove pessoas foram mortas durante o ataque contra a manifestação pacífica, em Teerã, em 20 de Junho de 2009, de acordo com o relatório do governo
Há também várias centenas de lesões sobre as quais não há informação disponível. Algumas das lesões poderiam ser fatais. A campanha foi informada de que Ashkan Zahabian, um membro da facção Moderna da Associação de Estudantes Islâmicos da Universidade de Ferdowsi foi gravemente ferido depois de ataques por parte de membros da Milícia Basiji e está atualmente em coma.
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Presos e detidos:
Clique aqui para ver a lista em ordem alfabética
I. Personalidades políticas e membros da campanha presidencial reformista:
1) Dr. Qorban Behzadinejad, diretor da campanha de Mir-Houssein Moussavi, preso em 24 de Junho
2) Mostafa Tajzadeh, membro da organização política Mojahedin Revolucionária Islâmica e adjunto do Ministério do Interior durante a presidência de Khatami, foi detido em 13 de Junho
3) Behzad Nabavi, um dos membros fundadores da Organização Política Mojahedin Revolucionária Islâmica, ex-ministro e deputado, foi preso em 13 de Junho e libertado no dia seguinte. Ele foi preso em 16 de Junho, pela segunda vez
4) Mohsen Mirdamadi, secretário-geral da Frente iraniana Participação e ex-deputado, foi preso em 13 de Junho e libertado no dia seguinte, mas está desaparecido desde 17 de Junho
5) Saeed Hajarian, conselheira sênior para reformistas, jornalista, membro do Conselho Central da Frente Participação do Irã, membro do primeiro Conselho Municipal, em Teerã, foi vítima de uma tentativa de assassinato em 2000, foi presa em 15 de Junho, está paralítica e sofreu graves lesões cerebrais e da medula espinhal
6) Abdollah Ramezanzadeh, vice-presidente da Frente Participação do Irã, coordenador da campanha reformista no Curdistão e antigo porta-vez do governo de Khatami durante a presidência, foi detido em 16 de Junho
7) Ali Abtahi, conselheiro sênior na campanha de Karroubi, ex-adjunto do Gabinete Parlamentar do Presidente Khatami, e Vice Presidente sob Khatami, foi preso em 16 de Junho
8) Abdolfatah Soltani, advogado dos direitos humanos e um dos membros fundadores do Centro de Defensores dos Direitos Humanos, bem como membro do Conselho Executivo da Ordem dos Advogados, foi detido em 16 de Junho
9) Javad Emam, membro da sucursal de Teerã da Organização Política Revolucionária Islâmica
10) Hojat Esmaieli, membro da Mojahedin da Organização Política Revolucionária Islâmica
11) Mohsen Safaiee Farahani, membro da Frente Participação do Irã e dirigente de sua aplicação na Câmara, e ex-presidente da Federação de Futebol,
12) Ali Tajernia, membro do Comitê Central da Frente de Participação do Irã e ex-deputado
13) Baghier Oskouiee, chefe da campanha de Karroubi, foi preso em 16 de Junho
14) Saeed Laylaz, proeminente economista e jornalista, foi preso em junho 17.
15) Kuroush Zaieem, membro do Conselho Central da Frente Nacional do Irã, foi detido em 21 de Junho
16) Davoud Solaymani, membro do Comitê Central da Frente de Participação do Irã e ex-deputado
17) Mohammad Tavasoli, diretor do escritório político da liberdade de circulação no Irã e primeiro presidente da Câmara de Teerã após a Revolução de 1979, foi preso em 16 de Junho
18) Hossein Zaman, conhecido cantor pop cujas obras foram proibidas nas Rádios e TVs controladas pelo Estado por causa de seu apoio ao movimento reformista
19) Mohsen Aminzadeh, um dos membros fundadores do Frente Irânica de Participação e ex-Vice-Ministro dos Negócios Estrangeiros no gabinete do Khatami, em 16 jun.
20) Saeed Shirkvand, membro do Conselho Central do Frente Irânica de Participação e ex-adjunto do Tesouro, no gabinete de Khatami
21) Ahmad Zaydabadi, secretário geral da organização Advar e jornalista, foi preso em junho 13.
22) Abdolah Momeni, membro do Conselho Central da organização Advar e seu porta-voz, foi preso em 21 de Junho
23) Hamed Iranshahi, membro do Conselho Central da organização Advar, foi detido em 16 jun.
24) Saket Musa, um membro da Advar Tahkim Vahdat e no comando da campanha buscando apoiadores do Karroubi, foi detido em 18 de Junho
25) Mohammad Atrianfar, líder do Partido Kargozaran Sazandegi e jornalista, foi preso em 16 de Junho
26) Jahanbakhsh Khanjani, membro do Partido Kargozaran Sazandegi e antigo porta-voz para o Ministério dos Assuntos Internos da Presidência em Khatami
27) Ebrahim Khoshchehreh, ativista político em Lahijan e membro dos Ativistas Nacionais Religiosos, foi detido em 21 de Junho
28) Khoshchehreh, filho de Ebrahim Khoshchehreh, foi detido em Lahijan, em 21 de Junho
29) Mohsen Bastani, membro da Organização Política Revolucionária Islâmica em Isfahan
30) Mehrdad Balafkan, membro da Organização Política Revolucionária Islâmica em Isfahan
31) Ahmad Afjeiee, membro da liberdade de circulação do Irã
32) Emad Bahavand, membro da liberdade de circulação do Irã
33) Mojtaba Khandan, membro da liberdade de circulação do Irã
34) Saeed Zeraatkar, membro da liberdade de circulação do Irã
35) Rouholah Sahraee, membro da liberdade de circulação do Irã
36) Mehrdad Ali, membro do Movimento Liberdade do Irã
37) Mohammad Reza Ahmadinia, membro do Movimento Liberdade do Irã
38) Reza Arjaini, membro da liberdade de circulação do Irã em Zanjan
39) Jalal Bahrami, membro da liberdade de circulação do Irã em Zanjan
40) Sadegh Rasouli, membro da liberdade de circulação do Irã em Zanjan
41) Ahad Rezaiee, membro da liberdade de circulação do Irã em Zanjan
42) Bagher Fathali Baygi, membro da liberdade de circulação do Irã em Zanjan
43) Mansour Vafa, membro da liberdade de circulação do Irã em Zanjan
44) Ali Pourkhayri, membro da Frente Participação Irã
45) SHAHIN Nourbakhsh, membro da Frente Participação Irão
46) Ali Taghipour, membro da Frente Participação Irão
47) Mohammad Shokuhi, membro da Frente Participação Irão
48) Ashkan Mojaleli, membro da Frente Participação Irão
49) Maysam Varahchehre, membro da Frente Participação Irão
50) Mahdian Minavi, membro da Frente Participação Irão
51) Farhad Nasrollahpour, membro da Frente Participação Irão
52) Amir Ariazand, membro da Frente Participação Irão
53) Adel Dehdashti, membro da Frente Participação Irão
54) Mahmoud Ebrahimi, membro da Frente Participação Irão
55) Bahram KARDAN, membro da Frente Participação Irão
56) Shahabobdin Tabatabaiee, o chefe da Juventude Apoiadores da Campanha de Moussavi
57) Mohammadreza Jalaieepour, estudante da Oxford University e administrador do website da sucursal da juventude da Frente de Participação do Irã, preso no aeroporto em Teerã 17 jun.
58) Saeed Nourmohammadi, membro da Frente de Participação do Irã
59) Ali Mohaghar, membro do partido Kargozaran Sazandegi
60) Hedayatollah Aghaiee, membro do partido Kargozaran Sazandegi
61) Ali Waghfi, membro da campanha de Moussavi em Teerã
62) Hamzeh Ghalebi, membro da campanha de Moussavi em Teerã
63) Saeed (Hassan) Nikkhah, membro da campanha de Moussavi em Teerã
64) Hesam Nasiri, membro da campanha de Moussavi em Teerã
65) Ehsan Bagheri, membro da campanha de Moussavi em Teerão
66) Homaiee, membro da campanha de Moussavi em Teerão
67) Fatahi, membro da campanha de Moussavi em Teerão
68) Zakeri, membro da campanha de Moussavi em Teerão
69) Rouholah Shahsavar, membro da Campanha Moussavi em Khorasan
70) Mohsen Rouzbehan, membro da Campanha Moussavi em Khorasan
71) Kaveh Servati, membro da Campanha de Moussavi, foi preso em 20 de Junho
72) Maryam americano, membro da Campanha de Karroubi
73) Naseh Faridi, membro da Campanha de Karroubi
74) Morteza Khani, membro da Campanha de Karroubi
75) Bagher Oskouiee, membro da Campanha de Karroubi
76) Siamand Ghiyasi, membro da Campanha de Karroubi em Kermanshah
77) Mohammad Jafari, membro da Campanha de Karroubi em Kermanshah
78) Dr. Jalil Sharabianlu, um proeminente MD e cirurgião em Tabriz
79) Dr. Ghafar Farzadi, em Tabriz
80) Majid Jabari, em Tabriz
81) Rahim Yawari, Em Tabriz
82) Abbas Pourazhari, em Tabriz
83) Dr. Laya Farzadi, em Tabriz
84) Shabeti, em Tabriz
85) Shamlu, em Tabriz
86) Dr. Ghafarzadeh, em Tabriz
87) Dr. Soltaniazad, em Tabriz
88) Dr. Panahi, em Tabriz
89) Dr. Seyflou, em Tabriz
90) Dr. Dadizadeh, em Tabriz
91) Mehdi Yarbahrami, em Tabriz
92) Mansour Ghafari, em Tabriz
93) Hojatollah Amiri, em Tabriz
94) Amir Hossein Jahani, em Tabriz
95) Rhdah Rahimipour, em Tabriz
96) Mehdi Khodadadi, em Tabriz
97) Payam Haydar Ghazvini, estudante em Gazvin
98) Nasim Riahi, estudante em Gazvin
99) Mojtaba Rajabi, estudante em Gazvin
100) Atar Rashidi, estudante em Gazvin
101) Hanieh Yousefian
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II) Jornalistas:
Alguns dos jornalistas que foram também personalidades políticas são listados acima sob a personalidades políticas. A lista dos jornalistas detidos também tem sido verificada independentemente pelos Repórteres sem Fronteiras.
1) Mohammad Ghouchani, jornalista e editor responsável do diário Etemad e Meli, foi detido em 18 de Junho
2) Rajabali Mazrouiee, chefe da Associação dos Jornalistas, foi detido em 20 de Junho
3) Karim Arghandehpour, um blogueiro (http://www.futurama.ir/) e repórter de jornais pró-reforma Salam, Vaghieh e Afaghieh, foi detido em 14 de Junho
4) Maziyar Bahari, um iraniano-canadense de nacionalidade dupla, jornalista e representante da Newsweek no Irão, foi preso em 22 de Junho
5) Kayvan Samimi Behbahani, editor-chefe da fechado da revista mensal Nameh e ativista dos direitos humanos, foi detido em 14 de Junho
6) Zhila Baniyaghoub, jornalista e editor responsável do site Iranian Women's Center, foi detido em 20 de Junho
7) Bahman Ahmadi Amoui, jornalista, foi preso em 21 de Junho
8) Mojtaba Pourmohsen, jornalista e representante da Rádio Zamaneh em Rasht, foi detido em 15 de Junho
9) Mahsa Amraiee, jornalista, foi preso em 14 de Junho
10) Behzad Bashou, cartunista, foi detido em 14 de Junho
11) Sayed Khalil Mirashrafi, TV produtor foi preso em 14 de Junho
12) Abdolreza Tajik, o jornalista foi preso em 14 de Junho
13) Rohollah Shahsavar, o jornalista foi preso em Mashhad, foi detido em 17 de Junho
14) Mashallah Haydarzadeh, jornalista em Boushehr, foi detido em 14 de Junho
15) Iason Athanasiadis, nacional grega / jornalista britânico, freelancer para o Washington Times, detido em 17 jun.
16) Amanolah Shojaiee, jornalista em Bushehr, foi detido em 14 de Junho
17) Somayeh Touhidlou, sociólogo e blogueiro na Estrada da Saúde
18) Shiva Nazarahari, jornalista e membro da Comissão dos Direitos Humanos da Repórteres, preso em 13 de Junho
19) Alireza Beheshti Shirazi, editor encarregado do jornal banido Kalameh e do site Kalameh Sabz, ex-diretor da Frente de Participção do Irã, foi preso em 23 de Junho durante o ataque às instaçações do jornal. O filho de Beheshti, Sadra, foi preso, enquanto ele estava visitando o pai.
20) Hassan Maadikhah, diretor do Zareh Publicações e filho de Abdolmajid Maadikhah, o antigo ministro e Guardião Cultural
21) Mostafa Ghavanloo Ghajar, foi detido em 22 de Junho
22) Fariborz Soroush, detido em Karaj
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III) professores universitários:
Clique aqui para ver lista em ordem alfabética
1) Dr. Ardeshir Amirarjomand, presidente do Programa Democracia e Direitos Humanos da UNESCO na Universidade Shahid Beheshti
2) Hossein Reisian, professor universitário na Universidade Internacional Emamkhomaini em Ghazvin, foi detido em 21 jun.
3) Fazli, professor universitário na Universidade Internacional Emamkhomaini em Ghazvin
4) Imani, professor universitário na Universidade Internacional Emamkhomaini em Ghazvin
5) Alborzi, professor universitário na Universidade Internacional Emamkhomaini em Ghazvin
6) Darvish, professor universitário na Universidade Internacional Emamkhomaini em Ghazvin
7) Izadi, professor da Universidade Bualisina em hamedan, foi detido em 16 jun.
8.) Majzoubi, professor na Universidade Bualisina em Hamedan, foi preso 13 jun.
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IV) estudantes universitários:
Clique aqui para ver lista em ordem alfabética
[Os nomes dos estudantes que foram presos durante o ataque aos dormitórios da Universidade de Teerã são baseados em informação divulgada pelos relatórios da Comissão dos Direitos Humanos]
1) Marjan Fayazi, estudante na Universidade Mazandaran, foi detido em 22 jun.
2) Sogan Alikhah, estudante de Mazandaran universidade, foi detido em 22 jun.
3) Alireza Kiani, estudante na universidade Mazandaran
4) Milad Hosseini Koshtan, estudante na universidade Mazandaran
5) Ali Nazari, estudante na universidade Mazandaran
6) Siavoush Safavi, estudante na universidade Mazandaran
7) Ashkan Zahabian, estudante na universidade Mazandaran
8) Ali Dinavari, estudante na universidade Mazandaran
9) Rahman Yaghoubi, estudante na universidade Mazandaran
10) Maziar Yazdani, estudante na universidade Mazandaran
11) Ali Abbasi, estudante na universidade Mazandaran
12) Shouaneh Merikhi, estudante na universidade Mazandaran
13) Majid Dari, estudante expulso da Universidade de Alameh Tabatabaiee, em Teerã, foi violentamente preso em 21 de Junho, em sua casa
14) Esmaiel Jalilvand, um estudante ativista em Shiraz University, foi preso em 21 de Junho
15) Hamdollah Namjou, um estudante ativista em Shiraz University, foi preso em 21 de Junho
16) Mohsen Barzegar, estudante de Engenharia na Universidade de Babol, foi detido em 18 jun.
17) Iman Sedighi, estudante de Engenharia na Universidade de Babol, foi detido em 18 jun.
18) Hesam oldin Bagheri, estudante de Engenharia na Universidade de Babol, foi detido em 18 jun.
19) Siavash Saliminejad, estudante de Engenharia na Universidade de Babol, foi detido em 20 jun.
20) Alireza Khoshbakht, aluno expulso, foi detido em 17 jun.
21) Zahra Tohidi, aluno expulso, foi detido em 17 jun.
22) Ziaoldin Nabavi, secretário do Conselho dos Direitos da Educação, foi detido em 16 de Junho
23) Sohrab Ahadian, estudante na Universidade de Teerã, foi detido em 17 de Junho, quando os dormitórios da Universidade de Teerã foram violentamente atacados
24) Reza Arkouzi, estudante, foi detido durante o ataque aos dormitórios da Universidade de Teerã à meia-noite de 14 de jun.
25) Emami Karim, estudante, foi detido durante o ataque aos dormitórios da Universidade de Teerã à meia-noite de 14 de jun.
26) Mohammad Hossein Emami, estudante, foi detido durante o ataque aos dormitórios da Universidade de Teerã à meia-noite de 14 de jun.
27) Elaheh Imanian, estudante, foi detido durante o ataque ataque aos dormitórios da Universidade de Teerã à meia-noite de 14 de jun.
28) Rouholah Bagheri, estudante, foi detido durante o ataque aos dormitórios da Universidade de Teerã à meia-noite de 14 de jun.
29) Farhad Binazadeh, estudante, foi detido durante o ataque aos dormitórios da Universidade de Teerã à meia-noite de 14 de jun.
30) Iman Pourtahmasb, estudante, foi detido durante o ataque aos dormitórios da Universidade de Teerã à meia-noite de 14 de jun.
31) Ezat Torbati, estudante, foi detido durante o ataque aos dormitórios da Universidade de Teerã à meia-noite de 14 de jun.
32) Milad Chegini, estudante, foi detido durante o ataque aos dormitórios da Universidade de Teerã à meia-noite de 14 de jun.
33) Mohammadreza Hohabadi, estudante, foi detido durante o ataque aos dormitórios da Universidade de Teerã à meia-noite de 14 de jun.
34) Seyed Javad hosseini, estudante, foi detido durante o ataque aos dormitórios da Universidade de Teerã à meia-noite de 14 de jun.
35) Farshid Heydari Zamin, estudante, foi detido durante o ataque aos dormitórios da Universidade de Teerã à meia-noite de 14 de jun.
36) Behnam Khodabandeh lou, estudante, foi detido durante o ataque aos dormitórios da Universidade de Teerã à meia-noite de 14 de jun.
37) Mohammad Khansari, estudante, foi detido durante o ataque aos dormitórios da Universidade de Teerã à meia-noite de 14 de jun.
38) Mohammad Davoudian, estudante, foi detido durante o ataque aos dormitórios da Universidade de Teerã à meia-noite de 14 de jun.
39) Mahmoud Delbari, estudante, foi detido durante o ataque aos dormitórios da Universidade de Teerã à meia-noite de 14 de jun.
40) Ali Raiee, estudante, foi detido durante o ataque aos dormitórios da Universidade de Teerã à meia-noite de 14 de jun.
41) Omid Rezaiee, estudante, foi detido durante o ataque aos dormitórios da Universidade de Teerã à meia-noite de 14 de jun.
42) Ali Refahi, estudante, foi detido durante o ataque aos dormitórios da Universidade de Teerã à meia-noite de 14 de jun.
43) Seifolah Rmezani, estudante, foi detido durante o ataque aos dormitórios da Universidade de Teerã à meia-noite de 14 de jun.
44) Ebrahim Raidian, estudante, foi detido durante o ataque aos dormitórios da Universidade de Teerã à meia-noite de 14 de jun.
45) Naser Zamani, estudante, foi detido durante o ataque aos dormitórios da Universidade de Teerã à meia-noite de 14 de jun.
46) Majid Selahvand, estudante, foi detido durante o ataque aos dormitórios da Universidade de Teerã à meia-noite de 14 de jun.
47) Hanif Salimi, estudante, foi detido durante o ataque aos dormitórios da Universidade de Teerã à meia-noite de 14 de jun.
48) Mohammad Bagher Shabanpour, estudante, foi detido durante o ataque aos dormitórios da Universidade de Teerã à meia-noite de 14 de jun.
49) Hamed Shaykh alishahi, estudante, foi detido durante o ataque aos dormitórios da Universidade de Teerã à meia-noite de 14 de jun.
50) Iman Shaydaieezaban, estudante, foi detido durante o ataque aos dormitórios da Universidade de Teerã à meia-noite de 14 de jun.
51) Farhad Shirahmad, estudante, foi detido durante o ataque aos dormitórios da Universidade de Teerã à meia-noite de 14 de jun.
52) Saman Sahebjalali, estudante, foi detido durante o ataque aos dormitórios da Universidade de Teerã à meia-noite de 14 de jun.
53) Farhan Sadeghpour, estudante, foi detido durante o ataque aos dormitórios da Universidade de Teerã à meia-noite de 14 de jun.
54) Farshad Taheri, estudante, foi detido durante o ataque aos dormitórios da Universidade de Teerã à meia-noite de 14 de jun.
55) Ghamdideh Olum, estudante, foi detido durante o ataque aos dormitórios da Universidade de Teerã à meia-noite de 14 de jun.
56) Esmaieel Ghorbani, estudante, foi detido durante o ataque aos dormitórios da Universidade de Teerã à meia-noite de 14 de jun.
57) Mohammad Karimi, estudante, foi detido durante o ataque aos dormitórios da Universidade de Teerã à meia-noite de 14 de jun.
58) ERFAN Mohammadi, estudante, foi detido durante o ataque aos dormitórios da Universidade de Teerã à meia-noite de 14 de jun.
59) Naseh Faridi, estudante de Formação de Professores Universidade, foi detido em 17 jun.
60) Amin Nazari, estudante na Universidade Bualisina em Hamedan
61) Siavash Hatam, estudante na Universidade Bualisina em Hamedan
62) Pouria Sharifian, estudante na Universidade Bualisina em Hamedan
63) Mehdi Mosafer, estudante na Universidade Bualisina em Hamedan
64) Reza Jafarian, estudante na Universidade Bualisina em Hamedan
65) Hojat Bakhtiari, estudante na Universidade Bualisina em Hamedan
66) Mostafa Mehdizadeh, estudante na Universidade Bualisina em Hamedan
67) Omid Sohravi, estudante na Universidade Bualisina em Hamedan
68) Vahid Amirian, estudante na Universidade Bualisina em Hamedan
69) Fazolah Joukar, estudante na Universidade Bualisina em Hamedan
70) Mehdi Torkaman, estudante na Universidade Bualisina em Hamedan
71) Nastaran Khodarahimi, estudante na Universidade Bualisina em Hamedan
72) Ali Ahmadi, estudante na Universidade Bualisina em Hamedan
73) Mosaab Ebrahimi, estudante na Universidade Bualisina em Hamedan
74) Saeed Parvizi, estudante na Universidade Bualisina em Hamedan
75) Bahareh Hosseini, estudante na Universidade Bualisina em Hamedan
76) Hadis Zamani, estudante na Universidade Bualisina em Hamedan
77) Nahid Siahvand, estudante na Universidade Bualisina em Hamedan
78) Imani, estudante na Universidade Bualisina em Hamedan
79) Ali Shojai, estudante na Universidade Hormozgan, diretor do Mehdi Karoubi estudante da campanha em Hormozgan, detido em 18 jun.
80) Amir Kolhar, estudante na Universidade de Azad Karaj, detido em 21 jun.
81) Ehsan Ehsani, estudante em Mazindaran, detido em 24 jun.
82) Hamidreza Jahantigh, estudante na Universidade Noushirvan em Babol, preso em 24 de Junho
83) Hesam Nasiri, estudante na Universidade Azad em Teerão
84) Mohammad Sayadi, estudante na Universidade Buali em Hamadan, preso em 25 de Junho de plainclothes agentes na rua
85) Pedram Rafati, estudante da Universidade Amir Kabir que foi preso em 15 de Junho por agentes de segurança vestidos à paisana perto de seu dormitório
86) Payman Aref
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Detidos e Libertados:
Clique aqui para ver lista em ordem alfabética
1) Mohammad Reza Khatami, membro do Comitê Central da Frente Iraniana de Participação, irmão do ex-presidente Khatami, foi preso em 13 de Junho e libertado em 14 jun.
2) Zahra Mojaradi, um membro da Frente Iraniana de Participação, foi preso em 13 de Junho e libertado em 14 jun.
3) Saeed Shariati, um membro da Frente Iraniana de Participação, foi detido em 13 de Junho e libertado em 14 jun.
4) Taghi Rahmani, figura política e jornalista, foi preso em 14 de Junho e libertado no dia seguinte ao da prisão
5) Reza Alijani, figura política, foi detido em 14 de Junho e libertado no dia seguinte ao da prisão
6) Hoda Saberi, jornalista, foi preso em 14 de Junho e libertado no dia seguinte ao da prisão
7) Faezeh Hashemi Rafsanjani, sua filha e dois outros membros da Família de Rafsanjani foram presos em 20 de Junho e libertado após 30 horas
8) Ebrahim Yazdi, Secretário-Geral do Libertação do Irã, foi detido em 14 de Junho a no Hospital Pars em Teerã e foi levado de volta para o hospital em 15 de junho para mais cirurgias
9) Ahmad Ahmadian, estudante, foi detido durante o ataque aos dormitórios da Universidade de Teerã durante a noite 14 de Junho e libertado mais tarde
10) Eskandari, estudante, foi detido durante o ataque aos dormitórios da Universidade de Teerã à meia-noite de 14 de Junho e mais tarde libertado
11) Amin Afzali, estudante, foi durante o ataque aos dormitórios da Universidade de Teerã à meia-noite de 14 de Junho e libertado mais tarde
12) Vahid Anari, estudante, foi durante o ataque aos dormitórios da Universidade de Teerã durante a noite em 14 de Junho e libertado mais tarde
13) Mohammad Bolourdi, estudante, foi detido durante o ataque a Teerão Universidade dormitórios à meia-noite de 14 de Junho e mais tarde libertado
14) Hossein Hamedi, estudante, foi detido durante o ataque aos dormitórios da Universidade de Teerã à meia-noite de 14 de Junho e mais tarde libertado
15) Mohsen Habibi, Mazaheri, estudante, foi detido durante o ataque aos dormitórios da Universidade de Teerã à meia-noite de 14 de Junho e mais tarde libertado
16) Navid Haghdadi, estudante, foi detido durante o ataque aos dormitórios da Universidade de Teerã à meia-noite de 14 de Junho e mais tarde libertado
17) Mohammad Reza Hokmi, estudante, foi detido durante o ataque aos dormitórios da Universidade de Teerã à meia-noite de 14 de Junho e mais tarde libertado
18) Kazem Rahimi Olume, estudante, foi detido durante o ataque aos dormitórios da Universidade de Teerã à meia-noite de 14 de Junho e mais tarde libertado
19) Morteza Rezakhani, estudante, foi detido durante o ataque aos dormitórios da Universidade de Teerã à meia-noite de 14 de Junho e mais tarde libertado
20) Maysam Zareiee, estudante, foi detido durante o ataque aos dormitórios da Universidade de Teerã à meia-noite de 14 de Junho e mais tarde libertado
21) Amin Samiee, estudante, foi detido durante o ataque aos dormitórios da Universidade de Teerã à meia-noite de 14 de Junho e mais tarde libertado
22) Bahram Shaabani, estudante, foi detido durante o ataque aos dormitórios da Universidade de Teerã à meia-noite de 14 de Junho e mais tarde libertado
23) Alireza Shaykhi, estudante, foi detido ataque aos dormitórios da Universidade de Teerã meados noite de 14 de Junho e libertado mais tarde
24) Ebrahim Azizi, estudante, foi detido ataque aos dormitórios da Universidade de Teerã durante a noite em 14 de Junho e libertado mais tarde
25) Siavash Fiaz, estudante, foi detido durante o ataque aos dormitórios da Universidade de Teerã durante a noite de 14 de Junho e libertado mais tarde
26) Sayed Hossein Mirzadeh, estudante, foi detido durante o ataque aos dormitórios da Universidade de Teerã durante a noite de 14 de Junho e libertado mais tarde
27) Hossein Noubakht, estudante, foi detido durante o ataque aos dormitórios da Universidade de Teerã durante a noite de 14 de Junho e libertado mais tarde
28) Javad Yazdanfar, estudante, foi detido durante o ataque aos dormitórios da Universidade de Teerã durante a noite de 14 de Junho e libertado mais tarde
29) Habib Khadangi, aluno, estudante, foi detido durante o ataque aos dormitórios da Universidade de Teerã durante a noite de 14 de Junho e libertado mais tarde
30) Hamideh Mahouri, jornalista em Bushehr, foi detido em 14 de Junho e libertado em 19 jun.
31) Hossein Shokouhi, um jornalista em Bushehr, foi detido em 14 de Junho e libertado em 19 jun.
fonte http://www.iranhumanrights.org/2009/06/list/
quinta-feira, 25 de junho de 2009
quarta-feira, 24 de junho de 2009
Bancários divulgam contas bancárias de líderes Iranianos
1) Ali Khamenei
- Sparkasse Bank (Frankfurt/Germany) Acct.# 234075617: DM 112.1 Millions
- Corner Bank (Geneve/CH) Acct. # 217824: US$ 97 Millions
- Banque Cantonale (Lausanne/CH) Acct. # 71713: US$ 73.2 Millions
2) Ali Akbar Hashemi Rasfandjani
- Union Bank Suisse (Geneve/CH) Acct.# 223870390: SF 532.5 Millions
- Societe Generale (Zurich/CH) Acct.# 30064183: DM 477.2 Millions
- Sparkasse (Ciborg/Germany) Acct. # 2957132: DM 238.2 Millions
3) Mohammad Ali Tasskhiri
- Societe Generale (Geneve/Ch) Acct.# 500032654: DM 280.7 Millions
- Midland Bank (London/UK) Acct.# 832-150270: BP 12.2 Millions
- Dressdner bank (Dusserdolf/Germany) Acct.# 8354783: DM 48.3 Millions
4 ) Mohammad Golpayegani
- Credit Bank Suisse (Geneve/CH) Acct.# CEO7680: SF 85.7 Millions
5) Bijan Namdar Zangene
- Union Bank Suisse (Geneve/CH) Acct.# 314380320: US$ 141.7 Millions
6) Ahmad Jannati
- Corner Bank (Geneve/CH) Acct. # 3983BHK: US$ 180 Millions
7) Ahmad Jannati
- Midland Bank (London/UK) Acct.# 92114016: BP 54.2 Millions
8) Abdollah Nategh Nouri
- Union Banque Suisse (Geneve/CH) Acct.# 2102120321ND: USD 123.9 Millions
- Deutsh bank (Hamburg/Germany) Acct.# 03223486: DM 64.1 Millions
9) Mohsen Rafighdoost:
- Union Banque Suisse (Geneve/CH) Acct.# 2183130687: USD 122.7 Millions
10) Mohsen Hashemi Bahremani
- Deutsh bank (Munchen 3/Germany) Acct.# 1732736: DM 370.7 Millions
- Credit Bank (Geneve/CH) Acct.# 928530FC: USD 178.2 Millions
11) Abbas Vaez-Tabassi
- Corner Bank (Geneve/CH) Acct.# FAH7272: SF 97.2 Millions
- Sparkasse (Hamburg/Germany) Acct #. DFH72251660: USD 216.7 Millions
12) Hossein Shariatmadari
- Midland Bank (London/UK) Acct.# 34414011: BP 37.8 Millions
13) Mohsen Rezai
- Union Banque Suisse (Geneve/CH) Acct.# 442760430: USD 78.2 Millions
- Credit Bank (Geneve/CH) Acct.# FAH7967: SF 52.7 Millions
14) Massood Movahedian
- Commerz Bank (Koln/Germany) Acct.# 3528817: DM 287.8 Millions
15) Kamal Kharrazi
- Corner Bank (Geneve/CH) Acct.# AMF4567: USD 18.2 Millions
16) Ali-Reza Mo-ayeri
- Societe Generale (Geneve/CH) Acct.# 50024814: USD12.6 Millions
17) Hossein Kordi
- Corner Bank (Geneve/CH) Acct.#14710025: USD 14.7 Millions
18) Abbas-Ali Forooghi
- Corner Bank (Geneve/CH) Acct.# 12930034: USD 10.7 Millions
19) Mohammad Hashemi Bahremani
- Deutsh Bank (Munich 3/Germany) Acct.# 1734726: DM 177.2 Millions
Source: http://boards.ipersians.com/printthread.php?t=6495
Anistia Internacional pede libertação de Abdolfattah Soltani, proeminente defensor dos Direitos Humanos, e outros detidos
A Anistia Internacional, além de temer que os detidos possam ser submetidos a torturas e maus-tratos, condidera Abdolfattah Soltani como um prisioneiro de consciência, e solicita a sua libertação imediata e incondicional. Abdolfattah Soltani havia sido detido anteriormente por sua defesa dos direitos humanos e por defender o prisioneiro de consciência Akbar Ganji e a família de Zahra Kazemi, um jornalista iraniano-canadense que morreu após ter sido gravemente torturado na Prisão Evin, em Teerã.
Mais informações (em inglês)
Por que Lula apóia fraude de Ahmadinejad?
Irã estuda aplicar parte das reservas no país para garantir comércio
O Irã poderá depositar parte das suas reservas internacionais no Brasil, como forma de dar garantias no comércio bilateral, acreditam autoridades brasileiras que conversaram com a missão empresarial que visitou o país do presidente. Em entrevista ao Valor, sem confirmar a informação sobre o uso das reservas, o presidente da Câmara de Comércio, Indústria e Minas do Irã, Mohammad Nahavandian, declarou estar otimista, porém, em relação às garantias financeiras ao comércio, e disse esperar para breve a solução desse problema.
"Tivemos conversas muito promissoras, e logo veremos concretizadas as soluções financeiras necessárias (para garantir o comércio)", comentou Nahavandian. "Uma das coisas boas sobre as duas economias é que ambas têm boa quantidade de reservas estrangeiras e a economia iraniana foi uma das menos afetadas pela crise financeira, e tem bons indicadores em termos de transparência", argumenta, prevendo que a decisão sobre o relacionamento entre instituições financeiras iranianas e brasileiras deve ser "a deliberação mais rápida" em consequência dos encontros bilaterais desta semana.
"Para ambos, Irã e Brasil, o outro lado é confiável na expansão de crédito financeiro", justifica. A recusa dos bancos brasileiros em aceitar cartas de crédito de bancos iranianos é um dos maiores obstáculos à expansão do comércio entre os dois países. O tema foi um dos tratados pela missão de cerca de 60 executivos iranianos - uma visita encoberta pela polêmica sobre a viagem cancelada na última hora do presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, ao país.
Os executivos se reuniram em São Paulo e criaram grupos para discutir oportunidades de negócios em setores como agricultura, energia, petróleo, petroquímica e outros setores industriais. Decidiram promover missões empresariais de executivos brasileiros ao Irã e de iranianos ao Brasil, ainda neste ano.
O presidente da Câmara de Comércio Iraniana afirma que a aproximação entre os empresários dos dois países e as negociações de expansão do comércio e de investimentos não foram prejudicadas pela ausência, no Brasil, de Ahmadinejad - o presidente cancelou a visita alegando "problemas internos" no Irã, onde concorre a eleições presidenciais em junho. Do lado brasileiro, os comentários eram de alívio pelo cancelamento da visita, que provocou repúdio da comunidade judaica.
Nahavandian, doutor em economia pela George Washington University, com passagem em cargos importantes na equipe econômica do governo iraniano, sorri e evita comentários quando recebe perguntas sobre política. "A economia sofre muito quando há imposição de agendas políticas", comentou o empresário, que lembra com satisfação o anúncio de mudanças na maneira como o governo americano pretende negociar com o Irã.
"A crise econômica é a época menos apropriada para falar sobre limitações ao comércio; todo mundo em nossas economias está buscando meios de aumentar a demanda, e acessar novos mercados", insiste, concentrando-se na discussão sobre economia.
"É preciso botar a política de lado; se a lógica econômica da relação entre os países e a sabedoria economica prevalecerem, estaremos em posição melhor para resolver nossas diferenças", argumenta. "É imperativo para a saúde da economia mundial encontrar novas formas de expandir mercados", defende. "O estreitamento dos laços econômicos pode ajudar na questão política", diz.
Os iranianos estão negociando investimentos no regime de joint venture para o cultivo de grãos e produção de carne destinados à exportação, associações na área de transporte marítimo e aéreo, querem acordos de cooperação no setor financeiro e de seguros e há "perspectivas promissoras", acredita Nahavandian, lembrando que a privatização em vários setores no Irã, iniciada há dois anos, ajuda a criar o clima empresarial necessário aos negócios. "O Brasil é um mercado importante; pode ser um polo para os investimentos e negócios do Irã na região", assegura ele.
http://atlantaniaa.vox.com/library/post/foreign-bank-accounts-of-iranian-leaders.html
http://www.camiranbrasil.com.br/index.php?id=noticia
Obs: Destaques em negrito são meus
terça-feira, 23 de junho de 2009
Cresce o número de mártires no Irã
15 de junho, Teerã, Hospital Rasool-e Akram, 1 mártir, não identificado, não confirmado.
15 de junho, Teerã, Universidade de Teerã, 5 mártires, Fatehmeh Barati, Kasra Sharafi, Mobina Ehterami, Kambiz Shoaee e Mohsen Imani, fonte: Daftar-e Tahkim-e Vahdat, não identificados.
15 de junho, Shiraz, Universidade de Shiraz, 2 mártires, não identificados, fonte: Daftar-e Tahkim-e Vahdat, confirmado.
15 de junho, Teerã, Erfan hospital, 15 mártires, não identificados, fonte: ativistas de Direitos Humanos no Irã, não confirmado.
16 de junho, Isfahan, 1 mártir, não identificado, fonte: Roozonline, não confirmado.
16 de junho, Orumieh, 2 mártires, não identificado, fonte: Roozonline e ativistas dos direitos humanos no Irã, confirmado.
15, 16 ou 17 de junho, Yazd, 1 mártir, não identificado, fonte: Saeed Valadbaygi, não confirmado.
15, 16 ou 17 de junho, Kermanshah, Emam Razi hospital, 1 mártir, Famil Tahmasebi, fonte: Saeed Valadbaygi, confirmado.
17 de junho, Teerã, 1 mártir, Mohammad Asgari, fonte: Guardian, não confirmado.
20 de junho, Teerã, 13 mártires, Neda Agha Soltan, Kaveh Alipor, e 11 outros, fonte: Youtube video (Warning: Graphic), PressTV, confirmado.
20 de junho, Teerã, 6, 13 ou 19 mártires, não identificados, fonte: CNN, não confirmados.
Extraído de: http://iranrevolution.wordpress.com/revolution-martyrs/
segunda-feira, 22 de junho de 2009
Mirzadeh Eshghi
Mirzadeh Eshghi (em persa: میرزاده عشقی) (registrado como Sayed Mohammad Reza Kordestani) (1893 - 3 de Julho de 1924) foi um escritor e poeta libertário iraniano. Nasceu em Hamadan, filho do Haj Sayed Abolghasam Kordestani, aprendeu francês na École d'Alliance, e mudou-se para Istambul por um tempo. Ele é particularmente famoso por ter escrito a Opera Rastakhiz Irã (Irã Ressuscitado), que refletiu seu espírito rebelde.
Após voltar ao Irã para passar um tempo com sua família em Teerã, publicou alguns jornais nos quais atacou duramente o sistema político do Irã. Ele foi morto a tiros com a idade de 31 anos, por ordem do Xá Reza Pahlavi. Ele é lembrado por ter escrito 6 peças. Sua "Noruz nameh" é particularmente a mais famosa.
Ele foi assassinado por dois pistoleiros em sua casa em Teerã. Está enterrado em EBN-e Babooyeh no cemitério de Shahr-e Ray, perto de Teerã.
domingo, 21 de junho de 2009
Irã protesta: testemunha ocular conta
Teerã, 4:30 hora local, Enghelab Street
Costumo reunir meus alunos aos sábados para uma aula particular. Cozinhamos, comemos juntos e em seguida conversamos sobre filosofia. Mas desta vez não houve aula. Apenas tentamos manter a nossa moral. Estávamos bem determinados, mas com medo. É como posso descrever a maioria dos que vieram participar da aula de hoje. Nos sentimos muito vulneráveis, mais do que nunca, mas ao mesmo tempo estávamos conscientes do nosso poder. Não importa o quão influentes fôssemos coletivamente, muito pouco poderíamos fazer pela nossa proteção hoje. Nós só podíamos levar nossos ossos e carne para a rua e expô-los a cassetetes e balas. Dois diferentes sentimentos misturados lutam dentro de você. Viver ou permanecer vivo, essa é a questão.
Então chegou outra estudante para almoçar conosco, mas não veio para a aula. Ela está muito assustada, finge manter controle e depois explode em lágrimas. Ela diz que odeia ver pessoas sofrendo. Dizemos-lhe que sofreram durante anos. Ela diz que não quer que as pessoas morram. Digo-lhe que milhares de pessoas morrem anualmente nas estradas no Irã, pelo menos desta vez, seria por uma boa causa. Ela diz que somos uma elite, que podemos nos guardar para melhores momentos, que poderíamos ser mais úteis. Respondemos que não não há diferença entre as pessoas com tal condição e que não poderíamos fazer mais do que fazemos. Fazemos o que está a nosso alcance. Também temos nossos próprios medos.
Assim que terminamos o almoço sentamos para ler poemas de Mirzadeh Eshghi. Ele foi um anarquista revolucionário à época da Revolução Constitucional de 1906-11, morto pela franqueza de seu discurso. Sua decisão enquadra-se na nossa situação. Quando enviei três poemas dele para alguns amigos depois do discurso de quinta-feira, muitos me ligaram perguntando se eu não estava me expondo demais. Então eu coloquei uma observação ao lado do meu nome no Gmail: "Você teme cabeças degoladas?" Citação de um outro poeta que não me lembro. Poemas desempenham um papel importante por aqui. No início, pensei que talvez fosse demasiado romântico enviar poesia para os outros numa situação dessas, mas depois, pensei comigo mesmo, concluí que nada influencia mais os iranianos que a poesia. Nestes dias, tudo é cercado de influência e de medo.
Os poemas que lemos são amargos, irônicos e extremamente ridículos. Você escreve poesia quando a tristeza é maior do que você pode tolerar. Você ri. Bom, vamos lá. Faltam quinze para as quatro. Mas a hora seguinte se mostrará mais engraçada do que esperávamos.
No ônibus, todo mundo segue para o mesmo destino. Todas as ruas para Enghlab estão bloqueadas. Os guardas nos dizem onde podemos ou não ir. Eles nos indicam uma rua estreita que conduz ao Enghlab. Entrei em pânico: porque eles só deixaram esta rua livre? Eles querem que a gente vá por ela para nos cercar? Duas manifestações foram realizadas em Enghelab e Azadi nos últimos dias, que significam respectivamente, revolução e liberdade. Eu digo a meus alunos, "Estamos reciclando palavras". Enghlab está ocupada, bem ocupada, mas lá não há exatamente uma manifestação. As pessoas mostram o sinal V com os dedos, a pé, em silêncio. Na frente da Universidade de Teerã, você vê os alunos forçando as grades do lado de dentro como numa prisão. Eles gritam. Mas você não consegue ouvir direito o que eles dizem. Na frente dos alunos sobre a calçada, do outro lado do bar, há duas colunas da polícia de choque e uma fileira de milicianos Basij empunhando cartazes com insultos aos manifestantes dos dias anteriores. Um diz: "A decisão cabe ao MI6". Uma hora mais tarde, quando a rua já não estava tão lotada, fui até o cara com o cartaz e perguntei-lhe: "O que é MI6?"
"Britain's intelligent service", ele respondeu. "É diferente da Scotland Yard?" Perguntei. "Não, é a mesma coisa." "Dá para ver", eu disse. As ruas estavam cheias de gente. Caminhamos para cima e para baixo. Formávamos um grupo de quatro. Encontramos amigos, mas não nos juntamos a eles. Não queríamos mudar o humor alterando nossa companhia, estávamos bem assim.
Em seguida, vem a atração do dia. Dois veículos com jatos de água. São enormes, do tamanho de um automóvel, mas mais alto e com janelas vedadas e dois canhões de água em cima de cada um. Nós rimos. Eles não sabem como usá-lo. Eles atiram nas janelas do segundo andar, na tropa de choque e no povo, eles atingem todo mundo, incluindo algumas meninas em manteaus apertados. Está mais para Zurique do que para Teerã. Uma máquina está emperrada. Eles não sabem como operá-la. É um dia quente, o sol quente está intolerável e as pessoas se sentem bem com a água refrescante. Grande parte do tempo os jatos não são muito poderosos. É como se estivessem regando grama. Isso tudo apenas não se encaixa no horror que paira no ar, a agressividade com que as pessoas são atingidas com bastões. Um belo dia. Os dias foram bonitos durante toda a semana, aí você vê como a natureza é irônica.
Eles empurram a multidão para frente e para trás, revistam aqui e alí mas logo percebem há gente por toda parte. Ouvimos tiros de revólver, mas as pessoas não correm. São de festim. Ninguém é atingido.
Então, em um par de minutos, a multidão vai embora, a tropa de choque sai dali, e os estudantes dispersam. Não entendi porquê. Privado de comunicação, você nunca vê a grande perspectiva. Talvez estejam atacado a universidade pela outra entrada.
Ouvimos dizer que há uma multidão na Praça Azadi e começamos a sair. À medida que pulávamos as grades, um estudante, com o rosto coberto, sorri amargamente, "Eles zuaram com o dormitório à noite".
Continuamos a caminhar. Tivemos uma sensação horrível. Há uma manifestação em algum lugar mas não conseguimos chegar lá. É a única forma de se sentir melhor. Desejávamos estar no meio da multidão. Até agora tudo foi brincadeira, mas precisamos gritar. Nosso grito está preso na garganta.
Então, na Praça Towhid a cena muda drasticamente. As ruas que dão acesso para Azadi estão bloqueadas. Mas desta vez, as pessoas não mudam seu caminho. Eles seguem em frente e vão para o confronto. Há um chuveiro de pedras. Gás lacrimogêneo. Fogo. Há engarrafamento e as pessoas estão nas calçadas. A cena de batalha é enorme. Nós não podemos ver os limites, mas se estende pelas ruas próximas. Uma aluna minha caminha mais depressa do que eu. Sua mãe conseguiu convencê-la de ficar em casa por dois dias, mas agora, finalmente concordou em deixá-la sair no dia mais perigoso. As pessoas estão gritando, "Abaixo a ditadura". A tropa de choque também atira pedras de volta. As pessoas não fogem mais. Eu também peguei um tijolo quebrado e joguei na polícia. Estou espantado. Nunca pensei que faria isso. Mas eu preciso prática: foi um tiro muito ruim. Pego um outro, do tamanho de uma romã e guardo comigo escondido na palma da mão. Minha sensação é uma mistura de professor universitário com hooligan.
Para avançar tivemos de passar pelo gás lacrimogêneo. Pedimos a um carro para nos dar uma carona. Depois, veio o ataque. Eles não querem ser vistos como inimigos do povo, eles querem mostrar que tudo está bem e que estão perseguindo apenas baderneiros. Mais a frente vejo uma mulher sendo espancada. Ela está horrorizada e histérica, mas não tanto quanto o agente da polícia da tropa de choque que a enfrenta. Ela grita, "Onde posso ir? Diga-me. Fui por aqui e você me bateu, fui por alí e você me bateu novamente. Onde posso ir?" Absolutamente atordoado, brandindo seu bastão, o agente diz. "Raios! Raios! Por que diabos deveria saber?" Então eu me pergunto até que ponto esses agentes podem tolerar esse stress? Quantos dentre eles estariam dispostos a dar suas vidas por alguém como Ahmadinejhad?"
O condutor diz-nos que embora não tendo votado, saiu às ruas todos esses dias para bater nos Basijis. Em cada passagem ele é orientado pela polícia a seguir numa direção diferente da que ele quer e depois de um tempo percebemos que estávamos rodando em círculos. Vimos os policiais amontoando pessoas em um furgão usado para levar carne congelada.. Depois de alguns minutos mais tarde, uma nova cena inesperada. Saímos dali. Aquilo virou um verdadeiro campo de batalha. E desta vez, dos grandes. Colunas de fumaça por todo lado. Você dificilmente conseguia ver o asfalto. Ficou coberto com tijolos e pedras. Aqui as pessoas mostraram seu lado superior. A rua é composta por três pistas, a do meio estava com barreiras por causa da construção do metrô. Os trabalhadores ultrapassaram a barreira e mostraram o sinal de V com os dedos. Aí passaram a jogar pedra e madeira para a rua para fornecer armamento necessário aos manifestantes. Digo a mim mesmo, "Olha esses pobres, aqueles a quem Ahmadinejhad sempre se refere". Mas o nome do presidente não está mais na moda. Desta vez, o líder virou alvo dos slogans, algo inédito depois de três décadas. É um belo pôr-do-sol, com raios de luz penetrando nas nuvens. Sentimo-nos seguros entre as pessoas que se deslocavam para a frente e para trás rechaçando os ataques os policiais da tropa de choque.
Duas motos dos Basijis ardem em chamas. Os manifestantes aprenderam como fazer isso rápido. Eles deitam a moto de lado, ateiam uma pequena chama que logo se espalha a onto de tornar-se inextinguível. Fomos até uma ponte para pedestres e olhamos as pessoas gritando, "Abaixo Khamenei" mas essas coisas boas não duraram muito. Um Basiji é capturado e logo some debaixo das pancadas da multidão. Parecia o Coliseu romano, as pessoas que estavam na ponte gritavam, "Bate!" Eu gritava com eles, até ser alertado pela minha consciência. O que está acontecendo comigo? Dava para ver um grupo de dez desferindo socos e pontapés.
Em Gisha, houve uma cena semelhante. Novamente os manifestantes tomam o cruzamento e ouve-se um buzinaço. Várias motos ardem em chamas. De repente algo me impressiona. Noto algo vermelho, que mais tarde se revela ser um homem, com idade em torno de 50, com a cabeça coberta de sangue, agachado, as pessoas passam por ele como se fosse uma lata de lixo. Em seguida, vem um cara com uma longa vara para atingir o já batido Basiji. As pessoas apressam-se para detê-lo. Ele está furioso, "Por que não posso bater nele? Eles espancam as menininhas! Eles atacam todos! Bastardo! Eu gritei para ele, "Mas nós não somos bestas! Não somos como eles!" Alguém pega o Basiji e o arrasta para longe da multidão. Penso, porém, o sacana mereceu. Imagine alguém sair de sua casa pela manhã, só para bater em pessoas que nem conhece." Eu não reconheço mais em mim os meus sentimentos.
Você pode pegar qualquer carro para voltar para casa. Agora as pessoas confiam umas nas outras. Uma mulher sentada no banco de trás ao meu lado diz: "Não se trata mais de Mousavi ou de resultados eleitorais. Temos sofrido durante trinta anos. Nós não vivemos uma vida." Um homem velho ao lado dela me oferece pão fresco. Elas contam piadas sobre os valores políticos e riem em voz alta. Sentem-se vitoriosos. "Há trinta anos estou esperando por esse momento. Agora me sinto aliviado." Ela escreve o meu número de telefone para enviar-me notícias em primeira mão. "Envie-o para The Guardian!", pede ela.
Pode deixar. Eu prometo.
Extraído de guardian.co.uk, domingo, 21 jun 2009 12,35 BST
sexta-feira, 19 de junho de 2009
Líder Supremo do Irã Tolera Violência Policial Contra Manifestantes
Fonte: Anistia Internacional, 19 de Junho de 2009
O líder supremo do Irã, Aiatolá Khamenei, parece ter ordenado à polícia o lançamento de violentos ataques contra os manifestantes que insistem nos protestos contra os resultados eleitorais do país.
Em um recado televisivo à nação durante as orações nessa sexta-feira em Teerã, o Aiatolá Khamenei apelou para o fim dos protestos de rua contra o resultado da eleição. Em vez de alertar as forças de segurança, incluindo a milícia voluntária Basij, a agir com moderação e em conformidade com a lei, ele disse que se o povo continuar a tomar as ruas, sofreria as consequencias.
"Estamos extremamente atônitos com as declarações feitas pelo aiatolá Khamenei que parecem dar luz verde às forças de segurança para tratar violentamente os manifestantes que exercem seu direito de protestar e expressar suas opiniões", disse Hassiba Hadj Sahraoui, diretor-adjunto da Anistia Internacional do Oriente Médio e Norte da África.
"Se um grande número de pessoas tomar as ruas em protestos nos próximos dois dias, temos medo de que eles irão enfrentar a detenção arbitrária e uso excessivo da força, como tem acontecido nos últimos dias, sobretudo pelo fato da permissão para uma manifestação a ser realizada em Teerã no próximo sábado (20 de junho) ter sido negada".
No dia seguinte à eleição presidencial iraniana, muitos milhares participaram de marchas e manifestações em todo o Irã, condenando tanto o processo como o resultado da eleição.
A maioria das manifestações foi não violenta, mas, em alguns casos, a violência eclodiu, incluindo atirar pedras e atear fogo. A polícia e as forças de segurança têm usado força excessiva, incluindo espancamento e estocadas com cassetetes, no controle de algumas manifestações.
A Anistia Internacional já contou pelo menos 10 mortes, das quais oito foram confirmadas pela mídia estatal. Pelo menos quatro estudantes estão atualmente desaparecidos desde um ataque em seu dormitório em Teerã, as autoridades devem investigar urgentemente o seu paradeiro, e todas as mortes relatadas.
A reunião pacífica é expressamente permitida no âmbito do Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos do qual o Irã é um Estado signatário. Funcionários responsáveis pela aplicação da lei devem usar a força somente quando estritamente necessário e na medida adequada ao desempenho das suas funções.
Eles não devem utilizar armas a menos que estritamente indispensável e, em seguida, apenas no intuito de proteger a vida. Aplicação da lei pessoal deve exercer contenção, minimizar danos ou ferimentos e respeitar e preservar a vida humana.
"O fato de um chefe de Estado colocar o ônus da segurança sobre manifestantes pacíficos e não sobre as forças de segurança é uma grosseira irresponsabilidade e uma licença para abusos", disse Hassiba Hadj Sahraoui.
Traduzido de http://www.amnesty.org/en/news-and-updates/news/iran-supreme-leader-condones-violent-police-crackdown-on-protesters-20090619
Por que rejeitar eleições?
Simplesmente porque eleições não funcionam. A história está cheia de exemplos de radicais que, uma vez eleitos, tornaram-se tão conservadores, ou até mais, quanto os políticos que substituíram.
Qualquer governo sofre a pressão de duas fontes de poder, a burocracia estatal e as grandes empresas. Isto significa que qualquer tentativa de mudança social seria abortada e inoculada pelos interesses em jogo.
Focalizando esse jogo de interesses dentro do governo democrático, o primeiro problema que surge é o do capital disponível. Se um governo relativamente reformista é eleito, logo enfrenta pressões econômicas. Como qualquer investimento exige dinheiro, o governo logo desiste de seus planos de campanha pelo risco de um colapso econômico. Se o governo em questão controla o capital que deixa o país, é impedido de adquirir novos empréstimos e sua moeda corrente fica inútil. De qualquer modo a economia acaba gravemente danificada e as "reformas" prometidas ficam apenas na promessa. Além disso, este fracasso econômico logo resulta em insatisfação popular que por sua vez conduz a um estado ainda mais autoritário para que a "democracia" seja protegida de certas pessoas.
Exagero? Não, não realmente. Em janeiro de 1974, o índice da Bolsa de valores de Londres subiu 500 pontos. Em fevereiro, os mineiros entram em greve, forçando Heath a convocar (e perder) uma eleição geral. O novo governo trabalhista (com muitos esquerdistas no primeiro escalão) ameaça nacionalizar bancos e muita indústria pesada. Em agosto de 74, Tony Benn anuncia planos para nacionalizar a indústria naval. Em dezembro daquele ano, o índice da Bolsa despenca 150 pontos. Antes mesmo de 1976 o Tesouro britânico já estava gastando $100 milhões por dia comprando de volta seu próprio dinheiro para segurar a libra [The London Times, 10/6/76]. A pressão econômica do capitalismo estava funcionando:
"A queda da libra aconteceu apesar do nível alto de taxas de juros. . . os investidores achavam que a pressão para vender libras não era tão pesada ou nem persistente, o problema é que ninguém queria comprar. A libra desabou de tal forma que surpreendeu até mesmo os banqueiros, políticos e funcionários". [The London Times, 27/5/76]
O governo trabalhista deu de cara com o poder do capital internacional tendo que engolir um "temporário não" do FMI que impôs um pacote de cortes e de controle que forçou os trabalhistas a jogar a toalha e dizer "faremos qualquer coisa que você disser" [Peter Donaldson, Questões Econômicas, pág. 89]. O custo social desta política foi enorme, o governo trabalhista sofreu uma enxurrada de greves dos setores mais fracos da sociedade (é importante lembrar que o governo trabalhista "efetuou o dobro de cortes prometidos ao FMI". [Ibid.]). O resultado de tudo isso foi que os trabalhistas perderam as eleições seguintes para a direita. O governo pró livre-mercado continuou a todo vapor depois que os trabalhistas saíram.
Recentemente, "os administradores de fundos que controlam o fluxo de dinheiro entre certos centros financeiros e países, comandam recursos de tal monta que suas disputas com os governos nos mercados globais usualmente terminam em humilhantes derrotas para os políticos. . . Em 1992, o especulador financeiro George Soros com um único golpe destruiu todas as tentativas do governo britânico de manter a libra estável no mecanismo da taxa de câmbio europeia -- European Exchange Rate Mechanism (ERM). Soros efetivamente apostou, e ganhou, que seria capaz de forçar o governo britânico a desvalorizar sua moeda. Fazendo uso de seus enormes recursos, ele criou uma corrida à libra, ao mesmo tempo em que impediu o Banco da Inglaterra de usar suas reservas para manter a moeda estável na banda da ERM. O governo britânico capitulou suspendendo seu objetivo no ERM (acabou desvalorizando sua moeda) enquanto que Soros tornava-se mais rico em um bilhão de dólares. Os administradores de fundos adquirem moedas correntes na base do um por um para depois, incidentalmente, obter lucros pela impossibilidade de compra e venda entre as várias moedas correntes européias". [Duncan Green, The Silent Revolution, p. 124]
Os administradores de fundos investem onde e como querem, e essa é uma arma efetiva para controlar governos democraticamente eleitos. Com o aumento da globalização do capital nos últimos 30 anos essa arma tornou-se a mais poderosa (uma arma que a cada dia vem sendo aperfeiçoada, via companhias, fundos de investimentos estatais, pesquisa em tecnologia de comunicação, para precisamente facilitar o ataque às reformas proletárias, fortalecendo o mundo desenvolvido. Em outras palavras, é o capital dando-nos uma lição – (veja seções C.8.1, C.8.2, C.8.3 no FAQ Anarquista).
Quando se trata de pressões políticas, temos que nos lembrar da diferença entre estado e governo. O estado é o conjunto permanente de instituições que compõem a estrutura do poder e dos interesses. O governo é composto de vários políticos. Devido à sua permanência, são as instituições que detêm o poder no estado, não os representantes que vem e vão. Em outras palavras, a burocracia estatal tem interesses próprios e os políticos que são eleitos não podem efetivamente controlá-los. Esta rede por trás das agências pode usualmente ser agrupada em duas partes:
"'Estado secreto' significa. . . os serviços de segurança, MI5 [o FBI nos EUA], Filial Especial. . . MI6 [a CIA]. 'Governo permanente' . . . significa o estado secreto mais o Escritório de Gabinete e os escalões superiores da Casa, do Estrangeiro, dos Escritórios da Commonwealth, as Forças Armadas e o Ministério da Defesa, a indústria do poder nuclear, e seus ministérios satélites; além do denominado 'Clube dos Secretários Permanentes', a rede de funcionários públicos seniores - os 'mandarins'. E finalmente. . . seus satélites". Incluindo altos dirigentes (particularmente da ala direitista), 'agentes de influencia' na media, serviços oficiais de segurança pessoal, corporações de formação de opinião, linha de frente dos serviços de segurança, e assim por diante. [Stephen Dorril e Robin Ramsay, Smear! Wilson and the Secret State, p. X, XI]
Essas corporações, teoricamente sob controle do governo eleito, podem efetivamente (via desinformação, operações ocultas, greves tartaruga burocráticas, ataques da media, etc.) barrar qualquer governo que tente introduzir políticas que esses poderes discordem. Em outras palavras, o estado não é um corpo neutro, que de alguma maneira abre mão de políticas e de interesses próprios. O estado é, e sempre será, uma instituição que existe para atender a seções específicas da sociedade e para servir a si mesmo.
Um exemplo de como esse "estado secreto" funciona pode ser encontrado no livro Smear! (Sujeira!), onde Dorril e Ramsay documentam a campanha contra o Primeiro Ministro da Inglaterra, o trabalhista Harold Wilson, que culminou com sua renuncia. Indica também as pressões que o trabalhista Tony Benn foi sujeito pelos "seus" conselheiros da Whitehall:
"No princípio do ano de 1985, a campanha contra Benn pela media foi dirigida pelo estado secreto. O cronograma é interessante. Em janeiro, seu Secretário Permanente 'declarou guerra', nos meses seguintes teve início a mais extraordinária campanha de perseguição que qualquer político importante já enfrentou na Inglaterra. Embora seja impossível provar isso por quaisquer meios, há uma clara conexão causal entre a retirada do apoio do Primeiro Ministro, a hostilidade aberta dos mandarins de Whitehall e o começo das operações ocultas". [Stephen Dorril e Robin Ramsay, Op. Cit., p. 279]
Tudo isso sem mencionar o papel do estado secreto arruinando as organizações radicais e os movimentos reformistas. Dessa forma esse envolvimento vai desde a propaganda que qualifica a todos de "subversivos", até a repressão e dissolução. Tomando como exemplo o estado secreto dos EUA, Howard Zinn destaca em 1975
"comitês do congresso. . . começam a investigar o FBI e a CIA.
"A investigação dos documentos da CIA revela que a CIA foi além de sua missão original de colher informações, passando a administrar operações secretas de todo tipo . . . [por exemplo] a CIA - estabeleceu um comitê secreto encabeçado por Henry Kissinger - para 'desestabilizar' o [democraticamente eleito, e esquerdista] governo Chileno. . .
"A investigação dos documentos do FBI revelou que houve durante muitos anos uma série de ações ilegais para dissolver e destruir grupos radicais e grupos de esquerda de todos os tipos. O FBI forjou documentos, praticou roubos. . . violou cartas ilegalmente, e no caso do líder Fred Hampton dos Panteras Negras, aparentemente, conspirou para envolvê-lo em assassinato. . .
"As próprias investigações revelaram os limites da vontade do governo em sondar tais atividades. . . submetendo as descobertas da CIA para a própria CIA para saber se havia algum material que a agência gostaria de omitir". [A People's History of the United States, pp. 542-3]
Além disso, a CIA emprega secretamente várias centenas de acadêmicos norte-americanos para escrever livros e outros materiais para serem usados para propósitos propagandísticos, uma arma importante na batalha entre corações e mentes. Em outras palavras, a CIA, FBI [e seus equivalentes em outros países] e outros organismos estatais aparentemente neutros, não fazem outra coisa senão obedecer a ordens. Na verdade, eles são uma rede com interesses próprios, com pontos de vista ideológicos específicos e objetivos que normalmente colocam os desejos da população votante em um grau inferior à estrutura de poder do estado-capital.
Isso pode ser visto de uma forma dramática no súbito golpe militar no Chile contra o governo de Allende, a esquerda democraticamente reeleita. Os militares, ajudados pela CIA, por corporações com base nos EUA, e pelo governo norte-americano, cortaram ajuda econômica ao país (especificamente para dificultar o regime de Allende). O golpe súbito resultou em dezenas de milhares de assassinatos, e anos de terror e de ditadura. O perigo de um governo a favor do trabalho foi logo neutralizado, e o ambiente empresarial tornou-se novamente saudável para obter lucros. Um exemplo extremo, nós sabemos disso, mas um exemplo importante para qualquer um que acredite que a máquina estatal é de alguma maneira neutra, que pode ser capturada e usada pelos partidos da ala esquerda.
É uma idéia inteiramente estúpida esperar que um grupo diferente de políticos reaja de uma maneira diferente às mesmas influências econômicas e interesses institucionais. Não é nenhuma coincidência que os esquerdistas através dos partidos reformistas em vários países tenham introduzido políticas típicas da direita, pro-capitalistas ("Thatcherite/Reaganite") no mesmo momento em que a direita, e partidos explicitamente pro-capitalistas as introduziam no Reino Unido e nos EUA. Conforme Clive Ponting (um ex-funcionário público britânico) expõe, isso já era esperado:
"a função do sistema político em qualquer país do mundo é regular, sem alterar radicalmente, a estrutura econômica existente juntamente com suas relações de poder. A grande ilusão da política é que os políticos têm o poder de fazer as mudanças que gostariam. . . Qual é o real controle dos políticos em qualquer país das operações do sistema monetário internacional, do padrão de comércio mundial que embute subordinação ao terceiro mundo, ou das operações das companhias multinacionais? Tais instituições e o mecanismo de dominação que elas detêm -- o motivo do lucro como medida exclusiva de sucesso -- estão essencialmente fora de controle e operam automaticamente por elas mesmas".[citado em Alternatives, # 5, p. 10]
Claro que houve alguns exemplos de reformas bem extensas que beneficiaram proletários em países importantes. A New Deal nos EUA, e os governos trabalhistas entre 1945 e 1951 são dignos de nota. Mas isso é um indicativo seguro de que nossos argumentos acima são falsos? Claro que não! As reformas podem ser obtidas do estado quando não dar é mais perigoso do que dar, quando não ceder supera em valor os problemas associados com as reformas. Em outras palavras, as reformas podem ser usadas para salvar o sistema capitalista, preservar o estado, e até mesmo azeitar suas operações (com, naturalmente, a possibilidade efetuar tais reformas quando eles quiserem, e inclusive quando elas não são mais requeridas).
Por exemplo, ambos os governos reformistas dos anos 1930 e 1940 nos EUA e Reino Unido respectivamente, estiveram sob pressão de baixo. Houve uma onda de lutas do proletariado militante que poderia resultar em algo mais que um mero reformismo. As ondas de greves de braços cruzados nos anos trinta asseguraram a aprovação de leis a favor do sindicalismo, permitindo aos trabalhadores se sindicalizar sem medo de demissão. Esta medida também envolveu os sindicatos ligados à máquina capitalista-estatal (possibilitando-lhes o controle "extra-oficial" dos locais de trabalho, assegurando ganhos). A nacionalização de cerca de 20% da economia do Reino Unido durante a administração trabalhista de 1945 (as seções mais improdutivas) também foram resultado direto do medo da classe dominante. Conforme disse o executivo Quintin Hogg, "Se você não der reformas sociais ao povo ele lhe dará uma revolução social". A memória das revoluções recentes que varreram a Europa depois da primeira guerra ainda estava obviamente em muitas mentes, em ambos os lados. Aquela nacionalização não era tão temida como o "socialismo". A conclusão a que se chegou foi que aquilo era o melhor meio para melhorar o desempenho da economia britânica. Conforme os anarquistas daquele tempo observaram "a real opinião do capitalista pode ser vista melhor pelas variações da Bolsa de Valores e pelas declarações dos industriais. É evidente que a classe proprietária não está satisfeita com as manifestações e as tendências do Partido Trabalhista". [Neither Nationalisation nor Privatisation: Selections from Freedom 1945-1950, Vernon Richards (Ed), p. 9]
Assim, se ocorrem extensas reformas, é bom lembrar que elas vêm em resposta à pressão militante de baixo e que nós poderíamos obter muito mais.
Geralmente, muito pouco tem mudado durante os últimos cem anos desde que este argumento anarquista contra as eleições foi formulado:
"No processo eleitoral, a classe trabalhadora sempre acaba sendo enganada e tapeada. . . mesmo que ela consiga encaixar um, dez, ou cinquenta de seus membros no parlamento, eles seriam fracos e impotentes. Além disso, até mesmo se a maioria do parlamento fosse composta por trabalhadores, eles não poderiam fazer nada. Não existe apenas o senado . . . existe também os dirigentes das forças armadas, os cabeças do judiciário e da polícia, que se posicionam contra as decisões progressivas dos parlamentares. Da mesma forma, a câmara se recusa a obrigar o cumprimento de leis favoráveis aos trabalhadores. [Isso ocorreu, por exemplo, na década de 1870 em muitos estados nos Estados Unidos, quando foi legalmente criada a lei da jornada de 8 horas, tanto que os trabalhadores tiveram que entrar em greve em 1886 para forçar seu cumprimento]. Mas além disso as leis não são milagrosas; nenhuma lei pode impedir capitalistas de explorar trabalhadores; nenhuma lei pode forçar capitalistas a manter as suas fábricas abertas e empregar trabalhadores sobre tais e tais condições, nem forçar lojistas a vender por determinado preço, e assim por diante". [S. Merlino, citado por L. Galleani, The End of Anarchism?, p. 13]
Além disso, os anarquistas rejeitam eleições por outras razões. Os procedimentos eleitorais são opostos à ação direta - eles se baseiam em eleger alguém que supostamente agirá em nosso favor. Então, longe de fortalecer as pessoas dando a elas um senso de confiança e habilidade, o processo eleitoral acaba sugando a autoridade das pessoas pela criação de uma espécie de "líder" do qual se espera a implementação das mudanças. Como observa o Martin:
"Todas as evidências históricas sugerem que os partidos são mais um impedimento do que um incentivo às mudanças radicais. Um óbvio problema é que os partidos podem decidir por eles mesmos. Toda política de mudança pode ser simplesmente revertida depois das eleições.
"Mais importante, entretanto, é a influência pacificadora do próprio partido radical. Em muitas ocasiões os partidos radicais são alçados ao poder como resultado de um levante popular. Seguidamente os partidos 'radicais' tornam-se obstáculo aos processos de mudança radical" ["Democracy without Elections," Reinventing Anarchy, Again, Howard J. Ehrlich (ed.), p. 124]
Isso pode facilmente ser visto na história dos vários partidos de esquerda. Ralph Miliband destaca que os partidos trabalhistas e socialistas eleitos em períodos de turbulência social têm muitas vezes agido no sentido de proteger a elite dominante abrandando a ação popular que poderia ameaçar os interesses capitalistas [The State in Capitalist Society, Weidenfeld e Nicolson, 1969]. Por exemplo, depois de ser eleita na França em 1936, a primeira coisa que a Frente Popular fez foi acabar com as greves e ocupações, ações como essa acabaram esfriando a combatividade popular, a aliada mais forte da Frente. O governo trabalhista eleito na Inglaterra em 1945 fez algumas reformas, mas recusou-se a implementar mudanças básicas nas estruturas sociais. Além disso, logo na primeira semana de governo, enviou tropas para atacar os grevistas nas docas. Os governos trabalhistas usam tropas para reprimir com muito mais frequência que os governos conservadores.
Estes pontos indicam porque as estruturas de poder existentes não podem efetivamente ser mudadas através de eleições. Em primeiro lugar, os representantes eleitos não são amarrados a qualquer espécie de compromisso político particular, não importa o que prometem na campanha nem o que os eleitores preferem. Em tempos de eleição, a influência do público nos políticos é mais forte, mas depois da eleição os representantes eleitos podem fazer praticamente tudo que quiserem porque não há nenhum procedimento de revogação imediata. Na prática é impossível substituir os políticos antes da próxima eleição, e entre as eleições eles são continuamente expostos a pressões em virtude dos interesses especiais de poderosos grupos -- especialmente lobistas empresariais, burocracias estatais e bancadas de partidos políticos.
Sob tal pressão a tendência dos políticos para quebrar as promessas de campanha se torna absoluta. Geralmente, tal rompimento de promessa é atribuído a um mau caráter, conduzindo a um periódico e fervoroso, "vamos tirar os filhos da puta!". Na realidade é o próprio sistema que gera os "filhos da puta", as traições e procedimentos sombrios são típicos dos políticos. Conforme Alex Comfort argumenta, o ofício de político atrai gente faminta pelo poder, autoritários, gente dotada de crueldade, na melhor das hipóteses os eleitos tendem a adquirir tais características (veja a obra clássica: Authority and Delinquency in the Modern State: A Criminological Approach to the Problem of Power).
À luz da moderna "democracia", é surpreendente que alguém ainda considere o sistema tão seriamente a ponto de sair de sua casa para votar. Na realidade, o número de eleitores nos EUA e em outras nações onde a "democracia" é praticada desse modo é tipicamente baixo. [No caso do Brasil se o cidadão não vota é passível de punição!]. Não obstante, alguns eleitores continuam participando, fixando suas esperanças em novos partidos ou tentando reformar um partido principal. Para os anarquistas, essa atividade é insensata por não atingir a raiz do problema. O problema não são os políticos ou os partidos, mas o sistema que os amolda em sua própria imagem, marginalizando e alienando as pessoas devido a sua natureza hierárquica e centralizadora. Nenhuma espécie de partido político pode mudar isso.
Porém, é bom que fique bem claro que a maioria dos anarquistas reconhece que há uma diferença entre votar em um governo e votar em um referendo. Aqui nós estamos discutindo o eleitoralismo como meio de mudança social. Os referendos são mais fechados com as idéias anarquistas de democracia direta e são, quando aplicados, bem melhores do que eleger políticos a cada quatro ou cinco anos.
Além disso, os anarquistas necessariamente não são contra todo o envolvimento nas políticas eleitorais. Bakunin achava que às vezes poderia ser útil participar em eleições locais em comunidades relativamente pequenas onde o contato regular com representantes preservasse a responsabilidade. Este argumento foi acatado por ecólogos sociais como Murray Bookchin defende a participação de anarquistas em eleições locais, usando essa técnica para criar assembléias comunitárias autônomas. Porém, poucos anarquistas apóiam tais meios.
Porém, em cidades grandes e em eleições regionais ou nacionais, foram desenvolvidos certos processos que tornaram o termo "democracia" inapropriado. Tais processos incluem propaganda eleitoral em massa, suborno de eleitores através de projetos do governo em áreas locais, "máquina" partidária, limitação do acesso aos meios de comunicação a dois (ou a no máximo três) partidos principais, e manipulação das notícias pelo governo, e daí por diante. A máquina partidária escolhe os candidatos, dita plataformas, e contata os eleitores pelos telefones de campanha. Campanhas massivas anunciam "pacotes" de candidatos como mercadorias de consumo, incitando os eleitores a votar enfatizando mais a personalidade do candidato do que sua política, enquanto que os noticiários da media enfatiza a campanha como se tratasse de uma "corrida de cavalos", secundarizando os aspectos políticos. Gastar dinheiro público em certas áreas (ou mais cinicamente, anunciar novos projetos em tais áreas antes das eleições) tornou-se uma técnica padrão para comprar votos.
Portanto, é por causa de tudo isso que os anarquistas rejeitam a votação como meio de mudança social. Em vez de transferir poder a outros os anarquistas preferem praticar e apoiar a ação direta como meio para conquistar melhorias aqui e agora, como também criar as condições de implantar uma alternativa ao atual sistema.
J.2.3 Quais as implicações políticas do voto?
Na melhor das hipóteses, votar implica em concordar com o status quo. Veja o que o socialista libertário escocês James Kelman diz a esse respeito:
"A propaganda do Estado afirma que a razão pela qual menos de 40 por cento do público apto a votar não vota é porque de uma ou de outra forma tais pessoas são destituídas de qualquer sentimento. Dizem a mesma coisa nos EUA, onde cerca de 85 por cento da população é aparentemente 'apolítica' uma vez que não se dão ao trabalho de registrar seu voto. Do ponto de vista do estado, a rejeição ao sistema político é inadmissível. . . Naturalmente, cada voto significa mais um voto de endosso a um sistema político injusto. . . Um voto para algum partido ou para algum indivíduo é sempre um voto para o sistema político. Você pode interpretar seu voto da maneira como quiser mas ele permanece como um endosso ao aparato. . . Se houvesse qualquer possibilidade do voto ser capaz de efetuar qualquer mudança no sistema ele seria imediatamente proibido. Em outras palavras, tal sistema político é uma instituição estatal projetada, desenhada e preparada com a finalidade de perpetuar sua própria existência. A autoridade governante fixa a agenda para que o público 'entre na cena política', as coisas tem que ser feitas da forma que eles determinam". [Some Recent Attacks, p.87]
Desde tenra idade nos ensinam que votar em eleições é um direito e um dever. Nas escolas dos EUA, as crianças elegem um presidente de classe e outros cargos. Frequentemente são promovidas mini eleições gerais para "educar" as crianças nos caminhos da "democracia". Periodicamente, a mídia monopoliza as eleições. A coisa é feita de forma a nos sentirmos culpados quando não cumprimos nossa "responsabilidade cívica" se não votamos. Países que não praticam eleições, ou as secundarizam, são tidos como fracassados [Benjamin Ginsberg, The Consequences of Consent: Elections, Citizen Control and Popular Acquiescence, Addison-Wesley, 1982]. Como resultado, as eleições tornaram-se um ritual quase que religioso.
Como revela Brian Martin, "a prática das eleições sempre foi muito útil para manter as estruturas do poder dominante, como a propriedade privada, o exército, a dominação masculina, e a desigualdade econômica. Nenhuma dessas coisas é seriamente ameaçada pelo voto. É justamente do ponto de vista da crítica radical que as eleições são mais limitadas". ["Democracy without Elections," Social Anarchism, Reinventing Anarchy, Again, Howard J. Ehrlich (ed.), p. 124]
Benjamin Ginsberg destacou outros modos pelos quais as eleições servem aos interesses do poder estatal. Primeiramente, votar ajuda a legitimar o governo; é por isso que o sufrágio é muitas vezes adotado nos períodos em que há pouca demanda popular pelo voto, mas onde o apoio da massa ao governo é crucial, como durante a guerra ou revolução. Em segundo lugar, uma vez que o voto é organizado e supervisionado pelo governo, dá a impressão de que é a única forma legítima de participação política, ou seja, qualquer revolta de grupos oprimidos ou marginalizados é vista pelo público em geral como ilegítima. [The Consequences of Consent]
Além disso, Ginsberg argumenta que, historicamente, quanto mais gente participa dessas "políticas", assumindo a participação em campanhas e eleições como uma atividade "segura", reduz o risco da ação direta mais radical. Ou seja, as eleições enfraquecem as lutas locais (grassroots) e desperdiçam energia das ações locais. No final das contas, a meta da política eleitoral é eleger um representante que agirá por nós. Assim, em vez de praticar uma ação direta para resolver nós mesmos os nossos problemas, a ação se torna indireta, através do governo. Estamos diante de uma insidiosa armadilha muito fácil de cair, como fomos condicionados desde a infância dentro de uma sociedade hierárquica por atitudes de passividade e de obediência, a maioria de nós adquire uma profunda tendência em deixar assuntos importantes a cargo de "peritos" e de "autoridades".
Os anarquistas também criticam as eleições por proporcionar aos cidadãos a falsa impressão de que o governo serve, ou pode servir às pessoas. Martin fala sobre isso, "o fundamento do estado moderno há alguns séculos atrás foi objetado com grande resistência: as pessoas se recusavam a pagar impostos, se alistar, ou obedecer a leis escritas por governos nacionais. A introdução do voto e a disseminação do sufrágio universal ajudaram em muito a expansão do poder do estado. Em vez de ver o sistema como algo que o domina e o governa, o povo encara o poder estatal como algo que pode ser usado para ajudar a si próprio. Na medida em que a participação eleitoral aumenta, o grau de resistência aos impostos, ao serviço militar, e a uma imensa variedade de leis reguladoras, se atenua grandemente". [Op. Cit., p. 126]
Assim, o ato de votar ironicamente legitimou o crescimento do poder estatal de tal forma que o estado está atualmente completamente fora de qualquer controle real por parte da sociedade. Foi essa forma de participação que possibilitou esse crescimento. Não obstante, como observa Ginsberg, a idéia de que participação eleitoral significa controle popular do governo é uma coisa que foi profundamente implantada na psique das pessoas "até mesmo aquela maioria mais céptica não pode se livrar completamente disso". [The Consequences of Consent, op. cit., p. 241].
Portanto, o ato de votar tem uma implicação política importante ao encorajar as pessoas a se identificar com o poder estatal e a justificar o status quo. Além disso, alimenta a ilusão de que o estado é neutro e que alçar partidos ao poder significa que o povo tem o controle e as pessoas decidem sobre suas próprias vidas. Além disso, as eleições tendem a tornar as pessoas passivas, e a esperar que a salvação venha de cima para baixo e não de sua própria atividade. As divisões entre os líderes faz com que os eleitores se tornem meros espectadores das atividades e não participantes.
Isso não significa, obviamente, que os anarquistas preferem a ditadura ou uma monarquia "iluminada". Longe disto, a democratização do poder estatal pode ser um passo importante para aboli-lo. Todos os anarquistas concordam com Bakunin quando ele argumenta que "a república mais imperfeita é mil vezes melhor que a monarquia mais iluminada". [citado por Guerin, Anarchism, p. 20]. Mas nem por isso os anarquistas se juntarão à farsa eleitoral, particularmente quanto há meios mais efetivos à disposição para mudar as coisas para melhor.
J.2.4 Votar em partidos radicais funciona?
Não há dúvida alguma de que o voto pode resultar em algumas leves mudanças na política, que podem representar até certo ponto algo bom. Mas tais políticas são formuladas e implementadas a partir do vigamento autoritário da hierarquia do estado capitalista -- um vigamento que nunca está aberto a mudanças radicais pelo voto. Pelo contrário, o voto legitima o vigamento estatal, assegurando que as mudanças sociais serão moderadas, graduais, e reformistas, em vez de rápidas e radicais. Realmente, o processo "democrático" resulta e sempre resultará em que o partido político progressista se torne "igual aos outros", que, na melhor das hipóteses, em vez de soluções definitivas, implementa paliativos (que usualmente estabelece o limite de toda mudança política).
Assim, diante da necessidade premente de mudanças sistêmicas radicais devido às crises exponencialmente aceleradas da moderna civilização, a prática de reformas graduais via sistema eleitoral deve ser vista como um erro tático potencialmente mortal. Além disso, tais reformas nunca atingem a raiz de nossos problemas. Os anarquistas rejeitam a idéia de que nossos problemas possam ser resolvidos pelas mesmas instituições que os provocam! O que acontece em nossas comunidades, locais de trabalho e meio ambiente é muito importante para que seja entregue nas mãos dos políticos -- ou a cargo de uma elite governante que detém o poder.
Por causa disso os anarquistas rejeitam os partidos políticos e se abstém de participar no processo eleitoral. As eleições sempre representaram a morte do radicalismo. Os partidos políticos são radicais apenas quando eles não têm qualquer chance de alçar o poder. Porém, muitos ativistas sociais continuam tentando usar as eleições, continuam alimentando um sistema que enfraquece a maioria, e que contribui para o agravamento dos problemas sociais contra os quais eles se posicionam.
"Não há qualquer sombra de dúvida de que as eleições fortalecem os políticos e não os votantes", escreve Brian Martin, "contudo muitos movimentos sociais continuamente são capturados pelas teias da política eleitoral". Há um número de razões para isso. "Uma delas é o envolvimento de membros de partidos com os movimentos sociais. Outra é a sede pelo poder e a influência dos líderes nos movimentos. Muitos se precipitam em dar ouvidos a ministros de governo e acreditar em suas promessas; participar na eleição do parlamento representa para muitos uma satisfação do próprio ego. Se esquecem completamente de que o poder de tais "políticos influentes" é formado pela supressão do poder de ativistas comuns". ["Democracy without Elections", Reinventing Anarchy, Again, Howard J. Ehrlich (ed.),p. 125]
Rudoph Bahro exemplifica que a atuação "dentro do sistema" enfraqueceu o ativismo radical do movimento verde na Alemanha. A coalizão entre verdes e democratas sociais na legislatura alemã frequentemente resultou no fortalecimento do status quo desviando forças que poderiam estar atuando em formas mais efetivas e radicais de ativismo [Building the Green Movement, New Society Publishers, 1986].
Não há dúvida de que o estado é muito mais complexo do que um simples "comitê executivo da classe governante" desenhado por marxistas. Há contínuas lutas tanto dentro como fora da burocracia estatal, lutas que influenciam as políticas e que fortalece diferentes grupos de pessoas. Por causa disso, muitos partidos radicais acreditam que faz sentido atuar dentro do estado -- por exemplo, para criar leis favoráveis ao trabalhador, ao consumidor, ao meio ambiente. Todavia, esse raciocínio ignora o fato de que a estrutura organizacional do estado não é neutra.
Citando Martin novamente:
"A perspectiva anarquista básica é que a estrutura do estado, enquanto aparato administrativo centralizado, é inerentemente alienado do ponto de vista da liberdade e da igualdade humana. Embora possa ser usado ocasionalmente para fins valiosos, o estado enquanto meio de transformação é inócuo e impossível de funcionar nesse sentido. Os aspectos não reformáveis do estado incluem, basicamente, o seu monopólio da 'legítima' violência e seu consequente poder de coerção para propósitos bélicos, seu controle interno, taxação, proteção da propriedade e de privilégios burocráticos.
"O problema com as eleições é que as premissas básicas do estado nunca são consideradas abertamente no debate, muito menos questionadas. O monopólio do estado no uso da violência para a guerra nunca é debatido. A legitimidade do uso da violência pelo estado para conter as revoltas jamais é colocado em dúvida. O direito do estado de extrair recursos econômicos da população nunca é questionado. Também não é colocada em dúvida a garantia que o estado dá à propriedade privada (sob o capitalismo) e/ou aos privilégios burocráticos". [Op Cit., p. 127].
Apesar de tudo isso, é dito aos quatro ventos que se um novo grupo político for suficientemente radical, ele poderá usar o poder estatal para bons propósitos. Embora isso seja discutido mais detalhadamente na seção J.2.6 do FAQ Anarquista, vamos considerar um caso específico: o dos verdes, muitos dos quais acreditaram que o melhor caminho para atingir suas metas era atuar dentro do sistema político representativo.
Empenhados em usar o sistema eleitoral para obter mudanças, os partidos verdes passaram necessariamente a formular suas propostas na agenda legislativa. Na medida em que suas propostas eram transformadas em leis, houve a necessidade de acionar os mecanismos coercitivos do estado para forçar sua implementação. Assim os partidos verdes se convenceram de que era necessário tomar posse também do poder do estado. Assim, conforme indicado na seção B.2 do FAQ Anarquista, o estado -- composto por instituições hierárquicas pelas quais uma elite governa a sociedade e os indivíduos -- passa a controlar ecologistas, feministas, e pacifistas, que acabam transformados em meros currais eleitorais dos partidos verdes. Em vez dos ecologistas, feministas, e pacifistas, desmantelarem estas estruturas hierárquicas e de dominação, acabam fortalecendo-as, tornando seus objetivos ainda mais difíceis de serem alcançados. Ora, o estado não é apenas a maior e mais poderosa hierarquia, é também a principal ferramenta para garantir e manter o funcionamento das estruturas hierárquicas das principais instituições da sociedade (que servem aos interesses da classe dominante). O estado por si só é o maior obstáculo ao sucesso da prática do programa do movimento verde. Consequentemente é absolutamente impossível a um parlamento de maioria do partido verde (ou qualquer outro) alcançar os objetivos essenciais do movimento verde. Um argumento semelhante pode ser usado referindo-se a qualquer partido radical cuja principal ênfase esteja na justiça social, feminismo, ecologia radical -- todas essas lutas necessitam do desmantelamento das hierarquias.
Seguramente, ninguém que esteja mesmo remotamente familiarizado com a história esperará que políticos 'radicais', que por um milagre venham a obter uma maioria na legislatura nacional, desmantelem o estado. Isso deveria ser um axioma, toda vez que um político 'radical' (Lênin, por exemplo) diz aos eleitores, "coloque o poder do estado na minha mão e na mão de meu partido e que nós o 'esvaziaremos'"na verdade, não passa de uma retórica de campanha (no caso de Lênin, essa foi a última promessa de sua campanha de dar "todo poder aos sovietes"), portanto, tais promessas nunca deveriam ser levadas a sério. Assim, conforme argumentamos na seção anterior do FAQ Anarquista, os partidos radicais ficam a mercê das pressões da burocracia econômica e estatal, o que faz com que até mesmo os partidos sinceramente radicais sejam enfraquecidos na hora de introduzir reformas significantes.
A única alternativa real e efetiva aos problemas da democracia representativa é pedir às pessoas para que elas não votem. Isso pode ser um valioso modo de alertar o povo sobre as limitações do sistema eleitoral, uma condição necessária para que considerem seriamente a alternativa anarquista, delineada neste FAQ. As implicações do abstencionismo estão na próxima seção do FAQ Anarquista.
J.2.5 Por que os anarquistas apóiam a abstenção? Quais as implicações disso?
Basicamente, os anarquistas apóiam a abstenção porque "participar de eleições significa transferir os desejos de alguém e a tomada de decisão para outra pessoa, o que é contrário aos princípios fundamentais do anarquismo". [Emma Goldman, "Anarchists and Elections", Vanguard III, June-July 1936, p. 19]
Se você rejeita a hierarquia e o governo, participar de uma eleição onde você escolhe quem irá te governar assemelha-se refastelar-se no próprio vômito! Conforme Luigi Galleani destaca, "quem é politicamente competente para escolher quem irá governá-lo é, por implicação, também politicamente competente para governar a si mesmo". [The End of Anarchism?, p. 37]. Em outras palavras, por rejeitarem a idéia de autoridade, os anarquistas rejeitam a idéia de escolher uma autoridade (sejam administradores ou políticos) que os liberte. Assim, os anarquistas rejeitam as eleições governamentais em nome do autogoverno e da livre associação. Nós recusamos o voto na medida em que o voto endossa as estruturas sociais autoritárias. Somos, com efeito, forçados a termos obrigações para com o estado, não com para com nossos concidadãos, assim, nós anarquistas, rejeitamos o processo simbólico pelo qual nossa liberdade é alienada de nós mesmos.
Para os anarquistas, portanto, quando você vota, você automaticamente está escolhendo aquele que o governará. Em vez de incentivar as pessoas para que votem pedimos a elas para que optem por governar a si mesmos, organizando-se e associando-se livremente entre si - em seu local de trabalho, em sua comunidade, em toda parte - enquanto iguais. Pedimos para que optem por algo que não podem votar, uma nova sociedade. Em vez de esperar que outros façam as mudanças que você deseja, os anarquistas incentivam que você mesmo as faça. Essa é a essência do apoio dos anarquistas à abstenção.
Além dessa básica rejeição ao sistema eleitoral e de sua posição anti-estado, os anarquistas também apóiam a abstenção como um elemento que nos permite por nossas idéias em prática em tempos de eleição. Não há dúvida alguma de que em tempos de eleições as pessoas se interessem mais por política do que usualmente. Assim, defendendo a abstenção podemos transmitir nossas idéias sobre a natureza do atual sistema, como os políticos eleitos não controlam a burocracia estatal, como o estado age em defesa do capitalismo, e assim por diante. Além disso, é uma ocasião de ouro para apresentar as idéias de ação direta e encorajar as pessoas desiludidas com os partidos políticos e com o atual sistema para que se tornem anarquistas e apresentem uma alternativa viável diante da farsa dos políticos.
Há um considerável percentual de não eleitores e eleitores desiludidos com o status quo. De acordo com o jornal norte-americano The Nation (de 10 de fevereiro de 1997):
"O protesto está vivo e presente pelo crescimento da quantidade de não votantes, agora a maioria (nas eleições do outono último o comparecimento foi de 48,8 por cento). Segundo uma pesquisa pós-eleição conduzida pela Polling Company, empresa com sede em Washington, 38 por cento não votaram por razões essencialmente políticas: 'não queriam nenhum daqueles candidatos' (16 por cento), 'os candidatos estavam comprometidos com o sistema político' (15 por cento) 'não acho que esses candidatos estejam interessados em pessoas como eu' (7 por cento). Essa amostragem representaria pelo menos a opinião de 36 milhões de pessoas -- quase a quantidade de gente que votou em Bob Dole".
Assim, o abstencionismo anarquista é um meio de canalizar essa reação negativa a um sistema injusto para uma atividade positiva. A oposição anarquista às eleições tem profundas implicações políticas conforme dia Luigi Galleani, "o abstencionismo eleitoral praticado pelos anarquistas implica não apenas numa concepção que se opõe ao princípio da representação (que os anarquistas rejeitam totalmente), tal abstencionismo representa acima de tudo uma absoluta falta de confiança no Estado. . . Além disso, o abstencionismo anarquista traz consequências mais profundas diante da inerte apatia provocada pelos arautos do 'socialismo científico'. O abstencionismo anarquista desnuda a fraude constitucional do Estado que apresenta a si mesmo como o verdadeiro representante de toda uma nação e expõe seu essencial caráter de representante, procurador e polícia das classes dominantes.
"Não confiar em reformas, em poder público e em delegação de autoridade, pode conduzir à ação direta. . . Isso pode pode determinar o caráter revolucionário da. . . ação; e corretamente, os anarquistas consideram a ação direta como o melhor meio disponível pelo qual as massas se preparam para administrar seus próprios interesses, pessoais e coletivos; além disso, os anarquistas percebem que o proletariado é completamente capaz de assumir suas próprias questões políticas e administrativas". [The End of Anarchism?, pp. 13-14]
O abstencionismo, portanto, enfatiza a importância da auto-atividade e da auto-libertação além de exercer um importante efeito educacional realçando que o estado, longe de ser neutro, serve para proteger a classe dominante, o que significa que as mudanças virão apenas de baixo, pela ação direta. As idéias dominantes dentro de uma sociedade dividida em classes refletem a opinião da elite governante dessa sociedade, assim todo o processo eleitoral é uma farsa que obviamente desafia estas idéias dominantes. Em outras palavras, o abstencionismo combinado com ação direta e com a construção das alternativas socialistas é o meio mais efetivo de mudar as idéias do povo e encorajar o processo de auto-educação, e finalmente, de auto-libertação.
Os anarquistas estão atentos ao fato de que as eleições servem para legitimar o governo. Ora, se o Estado exerce um papel nesse sistema que perpetua a pobreza, a desigualdade, o racismo, o imperialismo, o sexismo, a destruição do meio ambiente, e a guerra, não podemos esperar que tais problemas sejam resolvidos mudando alguns líderes estatais a cada quatro ou cinco anos (Veja P. Kropotkin, "Representative Government," The Commonweal, Vol. 7, 1892; Errico Malatesta, Vote: What For?, Freedom Press, 1942). Assim, os anarquistas (normalmente) defendem o abstencionismo como um meio de desnudar a farsa da "democracia", a natureza enfraquecedora das eleições e o real papel do estado.
Assim, os anarquistas incentivam o abstencionismo de forma a encorajar a ação, não a apatia. As razões pelas quais as pessoas se abstém de votar são mais importantes do que o ato em si. A idéia de que os norte-americanos são simpáticos à anarquia porque metade das pessoas não vota é pura tolice. O abstencionismo nesse caso é produto da apatia e do cinismo, não de idéias políticas. Assim, os anarquistas reconhecem que o abstencionismo apático não é revolucionário nem indica simpatia ao anarquismo. Trata-se de apatia e cinismo diante de todas as formas de idéias políticas ou de mudança.
Não votar não basta, tanto que os anarquistas incentivam as pessoas a se organizar e a resistir tanto quanto podem. Para ser efetivo, o abstencionismo deve ser um instrumento político que caminha de mãos dadas com a luta de classes, com a auto-atividade e a autogestão - caso contrário o abstencionismo se torna tão insensato quanto o voto.
J.2.6 O que acontece quando os radicais participam de eleições?
Embora muitos radicais acabem concordando com nossa análise sobre os limites das eleições e do voto, poucos concordariam automaticamente com os argumentos abstencionistas anarquistas. Em vez disso, eles argumentam que melhor seria combinar ação direta com participação nas eleições. Dessa forma (argumentam eles) poderíamos superar as limitações das eleições fortalecendo os movimentos pela autonomia. Além disso, argumentam eles, o estado é poderoso demais para que seja deixado na mão dos inimigos da classe trabalhadora. Um político radical nunca ordenará a repressão de um protesto social organizado pela direita, pelos pró-capitalistas.
As idéias reformistas viveram um momento especialmente sórdido entre 1900-1910 (quando a democracia social ainda era considerada revolucionária). Em 1899, o socialista Alexandre Millerand aliou-se ao gabinete do governo francês. A segunda internacional socialista-marxista aprovou esta atitude com o apoio de líderes como Lênin e Kautsky na conferência de 1904. Contudo, nada mudou:
"milhares de grevistas. . . pediram ajuda a Millerand, confiantes de que, pela sua participação no governo, o estado estaria a favor. Muito dessa confiança se dispersou dentro de alguns anos. O governo não fez muito diferente dos governos anteriores; enviou soldados e policiais para reprimir seriamente os grevistas". [Peter N. Stearns, Revolutionary Syndicalism and French Labour, p. 16]
Em 1910, o primeiro ministro socialista Briand usou de violência e de tropas para novamente reprimir a greve geral dos ferroviários franceses. Estes eventos ocorreram durante o período quando os partidos social democratas e socialistas se auto-proclamaram revolucionários, argumentando contra os anarco-sindicalistas dizendo que o proletariado precisava ter representantes no governo para parar as tropas que os atacavam durante as greves!
Observando o partido trabalhista britânico no governo de 1945 a 1951 vemos estas mesmas atitudes. Ou seja, frequentemente o esquerdista governo trabalhista fez uso de tropas para reprimir as greves em cada ano em que esteve no poder, começou reprimindo a greve nas docas alguns dias depois de tornar-se o novo governo. Nos anos 1970 novamente o partido trabalhista fez uso de tropas para conter as greves. Realmente, o partido trabalhista britânico usou tropas para reprimir greves com mais frequência do que o próprio Partido Conservador da ala direitista.
Em outras palavras, embora haja argumentos importantes defendendo a participação de radicais nas eleições, todos esses argumentos falham em não levar em conta a natureza do estado e os efeitos corruptores que imprime nos radicais. Os fatos históricos do resultado líquido do uso que os radicais fizeram das eleições revelam que durante o tempo em que estiveram no poder eles não fizeram mais do que a direita teria feito se estivesse ocupando o lugar deles. Muitos culpam aqueles que foram eleitos de traidores, argumentando que precisamos escolher políticos melhores, selecionar melhor os líderes. Para os anarquistas o problema principal está no meio utilizado, não nos indivíduos envolvidos.
Basicamente, o processo eleitoral resulta em que todo partido que o utiliza se torna mais moderado e mais reformista - na realidade o partido se torna frequentemente vítima de seu próprio sucesso. Na sede por votos, o partido tem que parecer "moderado" e "prático", isso significa funcionar dentro do sistema. Isso significa que (usando as palavras de Rudolf Rocker):
"A participação nas políticas dos Estados burgueses não fez com que o movimento ficasse mais próximo do socialismo, essa participação resultou em que o socialismo fosse quase que completamente esmagado e condenado à insignificância. . . A participação nas políticas parlamentares afetou o movimento socialista dos trabalhadores como um veneno insidioso. Essa participação destruiu a convicção na necessidade da atividade socialista construtiva e, pior de tudo, destruiu o impulso à solidariedade, contaminando as pessoas com a ruinosa ilusão de que a salvação sempre virá de cima". [Anarcho-Syndicalism, p. 49]
Esta corrupção não ocorreu do dia para a noite. Alexander Berkman indica como isso se desenvolveu lentamente:
"[No início, os partidos socialistas] proclamaram que usariam a política apenas para o propósito da propaganda. . . e que participariam das eleições para ter uma oportunidade de defender o socialismo.
"Pode parecer exagero, mas tal atitude significou a abolição do socialismo. Porque nada é mais verdadeiro que os meios que você usa para atingir seus objetivos, assim os meios que você usa se tornam o objetivo que você quer alcançar. . . [assim] há uma profunda razão para esta constante e regular traição [onde indivíduos salafrários são eleitos] . . . nenhum homem se transforma em salafrário do dia para a noite.
"É o poder que corrompe. . . Além disso, até mesmo os socialistas com as melhores intenções [quando eleitos]. . . vêem a si mesmos completamente impotentes para realizar qualquer coisa de natureza socialista. . . A desmoralização e a impotência [que isso provoca] ocorrem pouco a pouco, tão gradualmente que dificilmente alguém nota isso em si mesmo. . . [O socialista eleito] percebe que ele é considerado ridículo [pelos outros políticos] . . . e sente mais e mais o chão fugir de seus pés. . . ele sabe que nem seu discurso nem seu voto irão influenciar nos procedimentos. . . Seus discursos nem mesmo chegam até o público. . . [assim] Ele apela para que os eleitores elejam mais camaradas. . . Os anos passam. . . [até que] alguns . . . são eleitos. Cada um deles passará pela mesma experiência. . . [e] rapidamente chegarão à conclusão . . . [de que] Eles precisam se apresentar com homens práticos. . . que eles estão fazendo algo para seu curral eleitoral. . . Desta maneira a situação os compele a exercer um papel 'prático' nos procedimentos, a 'falar de negócios', a tratar dos assuntos legislativos como os demais, como se fosse um negócio. . . Anos e anos dentro desta atmosfera, desfrutando de bons negócios e de boa paga, os socialistas eleitos acabam absorvidos tornando-se parte integrante da maquinaria política. . . Na medida em que seu sucesso cresce em sua participação nas eleições e em seu poder político eles se tornam mais e mais conservadores e satisfeitos com as condições existentes. Distantes da vida e do sofrimento do proletariado, vivendo em na atmosfera da burguesia. . . eles se tornam aquilo que chamam de homens 'práticos'. . . O poder e a posição gradualmente abafaram sua consciência e eles não têm nem força nem honestidade para nadar contra a corrente. . . Eles se tornam o bastião mais forte do capitalismo". [What is Communist Anarchism?, pp. 78-82]
Assim, o "poder político que eles tanto queriam conquistar, gradualmente conquistou seu socialismo ao ponto de não restar nada parecido com isso". [Rudolf Rocker, Op. Cit., p. 50] Isso não significa que estes argumentos sejam resultado de uma compreensão tardia. Bakunin argumentou no começo da década de 1870 que "o inevitável resultado [do uso das eleições] será que os deputados trabalhadores, passarão a atuar em um ambiente puramente burguês, em uma atmosfera de idéias políticas puramente burguesas. . . tornar-se-ão classe média em seus pontos de vista, talvez até mais do que os próprios burgueses". [The Political Philosophy of Bakunin, p. 216]. A história provou que aquilo que Bakunin previu estava correto (da mesma forma que previu que o marxismo resultaria em um governo de elite).
O lixo da história está cheio de exemplos de partidos radicais tornando-se parte do sistema. Desde a Democracia Social-Marxista por volta do século XIX até o Partido Verde alemão nos anos oitenta. [O mesmo processo ocorreu com os partidos comunistas e o Partido dos Trabalhadores no Brasil]. Vez após vez vemos partidos radicais que fora do poder proclamam a necessidade da ação direta e da atividade extra-parlamentar, mas uma vez no poder passam a atacar essas atividades. Uma vez no poder passam apenas a utilizar do parlamento como meio de esparramar suas mensagens, os partidos se envolvem de tal forma que passam a considerar os votos mais importantes que as mensagens. Janet Biehl resume os efeitos funestos da tentativa do Partido Verde alemão em combinar eleições com ação direta:
"os verdes alemães, que uma vez capitanearam o movimento verde internacional, por estes dias nem fedem nem cheiram, como de fato diz seu próprio dirigente. O movimento verde alemão é agora um depósito de assistencialistas, os verdes são ágeis apenas dentro da velha estrutura do assistencialismo, da política partidária, do toma-lá-dá-cá, das negociatas e da traição dos princípios e dos compromissos. Debaixo do véu superficial dos seus velhos valores -- um véu agora realmente muito fino -- eles se dão ao luxo de fazer acordos e tomar posições ao seu bel prazer. . . Eles se tornaram 'práticos', 'realistas' e 'com a mente fixa no poder'. Essa Nova Esquerda envelheceu rapidamente, não apenas na Alemanha como em toda parte. Por que não ocorreria novamente com o Die Grunem em 1991 a mesma coisa que ocorreu com S.P.D. [O Partido Social Democrata alemão] em agosto de 1914? Pois foi isso que aconteceu". ["Party or Movement?", Greenline, no. 89, p. 14]
Tristemente, este tem sido o resultado final de todas estas tentativas. No final das contas, os partidários do uso da ação política eleitoral não conseguem nada mais além de atrair as atenções para as boas intenções e para o caráter de seus candidatos. Os anarquistas, por seu turno, apresentam uma análise das estruturas e de outras influencias que determinarão como o caráter dos candidatos vitoriosos mudará. Em outras palavras, em contraste com os marxistas e outros radicais, os anarquistas apresentam uma analise materialista, científica da dinâmica das eleições e o efeito que ela produz nos radicais. Como na maioria das formas de idealismo, os argumentos de marxistas e de outros radicais tropeçam na realidade de sua própria teoria "inevitavelmente a realidade de sua teoria, sob o pretexto de táticas políticas, acaba completamente comprometida com governos e partidos políticos; ou seja, é empurrada a uma direção diametralmente oposta [ao que originalmente se propunha fazer]". [Bakunin, Op. Cit., p. 288]
Contudo, muitos radicais fecham os olhos a esta lição da história e continuam tentando criar um novo partido que não repetirá a saga de acordo e de traição que todos os demais partidos radicais sofreram. E dizem que utopia é coisa de anarquista! Em outras palavras, a verdadeira utopia é pensar que dá para sair limpo de um chiqueiro, ou como diz [Alexander Berkman, Op. Cit., p. 83] "você não pode mergulhar em um pântano e permanecer limpo". Essas coisas ocorrem quando se rejeita ou se "substitui" a ação direta pelas eleições como meio de mudar as coisas. Qualquer movimento social 'que abandona seus compromissos de ação direta para 'atuar dentro do sistema' destrói sua personalidade como movimentos socialmente inovadores. Ele desaparece no pântano desesperado das 'organizações de massa' que busca respeitabilidade em vez de mudança". [Murray Bookchin, Toward an Ecological Society, p. 47]
Além disso, eleições resultam na centralização dos movimentos que fazem uso delas. As ações políticas passam a ser encaradas como atividades parlamentares feitas para a população e pelos seus representantes, relegando às 'pessoas comuns' nenhum outro papel senão a de apoiadores passivos. Apenas os líderes são ativamente envolvidos, a principal ênfase repousa sobre as lideranças que logo se convence de são eles que devem determinar a política a ser implementada (muitas vezes passam por cima das decisões tomadas em congressos -- quantas vezes os políticos desprezam tais decisões fazendo exatamente o oposto daquilo que prometeram ou implementam exatamente o oposto da política do partido?). No final das contas, os congressos do partido (da mesma forma que as eleições parlamentares) tornam-se simplesmente uma instancia onde os membros do partido apóiam este ou aquele líder.
Logo o partido reflete a velha divisão entre trabalho manual e mental, tão necessária ao sistema capitalista. Em vez de autonomia e autodeterminação da classe trabalhadora, essas coisas são substituídas pela ação de líderes das classes não trabalhadoras que agem pelas pessoas. Trocam a autogestão da luta social pelo próprio partido. O eleitoralismo fortalece o domínio dos líderes em cima do partido e o domínio do partido em cima das pessoas que dizem representar. Naturalmente, as reais causas e soluções para os problemas que enfrentamos são mistificadas pelas lideranças e raramente discutidas de forma a concentrar sobre si a responsabilidade de resolver os problemas daqueles que os elegeram.
Naturalmente, isso significa que os radicais eleitos "em vez de debilitar a falsa e escravizante fé nas leis e nos governos . . . na realidade agem no sentido de fortalecer a fé das pessoas na autoridade e na força do governo". [A. Berkman, Op. Cit., p. 84]. Aquele que sempre provou se mortalmente encorajador do espírito da revolta, da autogestão e da solidariedade mútua -- tem a chave que abrirá as portas para as mudanças na sociedade.
Assim, a resolução tomada pela seção espanhola da Primeira Internacional em 1870 parece ter sido comprovada como totalmente correta:
"Qualquer participação da classe trabalhadora na política governamental da classe média apenas consolidará o presente estado de coisas e necessariamente paralisará a ação socialista revolucionaria do proletariado. A Federação [dos sindicatos que compunha a seção espanhola da Internacional] é a verdadeira representante do trabalho, e deveria atuar fora do sistema político". [citado por José Pierats, Anarchists in the Spanish Revolution, p. 169]
Em vez de tentar obter o controle do estado, por quaisquer razões, os anarquistas tentam promover uma cultura de resistência dentro da sociedade que sujeita o estado a pressões de fora para dentro. Ou, para citar Proudhon, vemos "o problema anterior da classe trabalhadora . . . está não na captura, mas na subjugação tanto do poder como do monopólio, -- ou seja, gerar dentro das pessoas, do trabalho, uma autoridade maior, um fato mais potente, que envolverá o capital e o estado e os dominará". Assim, deve-se "combater e reduzir o poder, para colocá-lo em seu devido lugar na sociedade, é inútil alternar os detentores do poder ou introduzir alguma variação em seu funcionamento: há que se encontrar um arranjo agrícola e industrial por meio do qual o poder, que hoje domina a sociedade, se tornará seu escravo". [System of Economical Contradictions, p. 398 and p. 397]
De forma análoga, o argumento radical pró-eleição é de que o estado funciona como um porrete que está na mão da pessoa errada, ou seja, essa pessoa errada pretende usar o porrete contra você e contra seus amigos. Então você nota que o modo como ela segura o porrete e percebe que pode tomá-lo. Tomar posse daquele porrete isso não significa que fará uso dele, depois de tomar o porrete poderá quebrá-lo e jogar fora. Ninguém mais poderá fazer uso daquele porrete, e isso é o que importa.
A resposta anarquista a esse argumento é que, em vez de fazer planos para tomar o porrete, devemos desenvolver nossos músculos e habilidades de forma a não precisarmos porrete algum, uma vez que dispomos de nossos próprios recursos. Seguramente leva mais tempo construir os organismos proletários de libertação, mas o valor desses organismos está no fato de que sua força é parte de nós, ninguém poderá retirá-la de nós. Assim, não precisamos dar ouvidos a ninguém que apareça e diga "vamos usar o porrete a nosso favor" (prometendo destruí-lo depois que alcançar os objetivos). Mas o que os partidos socialistas e radicais fazem? Oferecem-se para lutar por nós e toda vez que deixamos outros agir em nosso lugar ficamos desarmados, eles não! (e acabam usando o porrete contra nós). Como o poder sempre corrompe, qualquer apelo favorável à tomada do poder estatal por um partido que supostamente irá nos libertar é, na melhor das hipóteses, definitivamente ingênuo.
Como qualquer pessoa interessada pode verificar, a história tem seguidamente provado que estamos certos.
J.2.7 Deveríamos votar em partidos reformistas para ver no que vai dar?
Alguns socialistas leninistas (como o British Socialist Workers Party e similares como o ISO nos EUA) argumentam que deveríamos incentivar as pessoas a votar nos trabalhistas e em outros partidos da social democracia. Isso por duas razões.
Primeiro, argumentam, os radicais serão capazes de alcançar mais pessoas devido ao seu apoio popular, com os sindicatos sendo a base dos partidos. Se os sindicatos não apoiarem os partidos trabalhistas e sociais democratas, consideráveis seções da classe trabalhadora estarão expostas ao perigo da alienação em virtude do fato de que tais partidos não poderão ser mais efetivos do que aqueles explicitamente pró-capitalistas.
O segundo argumento, e o mais importante, é que depois de colocar partidos reformistas no poder e a experiência ruim de viver sob seu governo, deitará por terra qualquer ilusão que seus partidários tiveram dele. Em outras palavras, alçar reformistas ao poder significa um teste de experiência. E quando eles traírem seus partidários para proteger o status quo a experiência radicalizará aqueles que votaram neles, assim as pessoas irão a procura de outros partidos, os verdadeiros partidos socialistas (a saber, o SWP e o ISO).
Os anarquistas rejeitam tais argumentos por três razões.
Primeiro, é uma tática profundamente desonesta esconder as verdadeiras intenções daqueles que apóiam a tática. Para falar a verdade é um ato contra-revolucionário. Os radicais não deveriam seguir a mídia capitalista contando meias verdades ou torcendo os fatos naquilo que acreditam. Eles não deveriam esconder suas políticas ou sugerir o apoio a um sistema ou partidos aos quais eles se opõem. Se isso significa perder popularidade, então que assim seja. Atacar o capitalismo, a religião [N.T.: aqui, à luz da Seção A.3.7 do FAQ Anarquista, provavelmente o autor se refere à "religião oficial", hierárquica, autoritária, como islamismo, protestantismo, catolicismo, etc, e não ao sentimento religioso libertário exercitado inclusive por alguns anarquistas], ou um monte de outras coisas pode alienar as pessoas, mas poucos radicais seriam tão oportunos aproveitando a ocasião para soltar o verbo dizendo o que realmente pensam. No final das contas, ser honesto sobre suas idéias é o melhor modo de produzir um movimento que aponta em direção à libertação de um sistema social corrupto. O movimento que começa com meias verdades está sentenciado ao fracasso.
Em segundo lugar, os anarquistas rejeitam a lógica dessa teoria. A lógica que está por baixo deste argumento é que ao desiludir-se com seus líderes e partidos reformistas, os eleitores procurarão por novos, "melhores" líderes e partidos. Isso, porém, não atinge a raiz do problema, ou seja, a dependência de líderes que uma sociedade hierárquica cria nas pessoas. Os anarquistas não querem gente seguindo líderes "melhores", eles querem gente governando a si mesmos, gente autônoma, administrando seus próprios interesses e não seguindo um ou outro líder que aparece. Se você seriamente acha que a libertação da opressão é uma tarefa que cabe aos próprios oprimidos (como os leninistas proclamam) então você precisa rejeitar essa tática em favor daquelas que promovam a auto-atividade do proletariado.
A terceira razão é que essa tática sempre tem falhado. O que a maioria de seus partidários parece não notar é que os eleitores têm colocado muitas vezes no poder os mesmos partidos reformistas (o Partido Trabalhista inglês, por exemplo, já chegou ao poder por sete vezes antes de 1997, e em todas elas atacou o proletariado) e não houve nenhuma radicalização no sentido de avanço na luta. Lênin sugeriu essa tática há 70 anos e não houve nenhuma radicalização da população por esse método, nem mesmo na militância dos partidos reformistas. Na realidade, de forma bem irônica, a maioria destes ativistas acaba mesmo abandonando seus partidos quando eles chegam ao poder desgostoso pelas tentativas do partido de parecer "realístico" para ganhar mais votos nas próximas eleições! E este descontentamento muitas vezes acaba em desmoralização do próprio socialismo, em vez do partido.
Do ponto de vista anarquista, na medida em que consideramos as razões pelas quais rejeitamos essa tática, o total fracasso dela não surpreende. Se essa tática não ataca a hierarquia, a dependência de líderes, nem o processo e a ideologia eleitoral, obviamente não representa uma real alternativa à população votante (que vê as eleições como a única opção disponível, desprezando a ação direta). Além disso, a visão dos denominados governos "socialistas" ou "radicais" administrando o capitalismo, impondo cortes, reprimindo greves, e geralmente atacando aqueles que os apoiaram provocará um sério dano à credibilidade de qualquer espécie de socialismo, levando a população a desacreditar de todas as idéias radicais e socialistas. Na verdade, a experiência do Governo Trabalhista na Inglaterra durante os anos 1970 resultou no crescimento da direita que capitalizou essa desilusão dos votantes.
A recusa em aceitar o fato de que nenhum governo "está de nosso lado", por parte de uma parcela de radicais que vive incitando-nos a votar "sem ilusões" em reformistas, acaba mesmo contribuindo para desarmar as pessoas que ouvem suas teorias. O proletariado, surpreso, confuso e desorientado pelas constantes "traições" dos partidos da esquerda acabam simpatizando com os partidos da direita (que podem subir ao poder via eleições) no intuito de parar com a repressão. Em vez de votar ou incentivar a participação no processo eleitoral os radicais deveriam praticar a ação direta. O ato de votar, longe de nos aproximar de uma solução ou melhorar nossas vidas, apenas agrava nossos problemas.
Quantas vezes temos que eleger o mesmo partido, passar pelo mesmo processo, sofrer as mesmas traições, até percebermos que essa tática não funciona? Ora, se o problema é experimentar algo que nunca foi experimentado antes, poucos socialistas estatais encaminham este argumento a uma solução lógica. Nós raramente os ouvimos argumentar que é necessário que o proletariado passe pelo inferno do fascismo ou do estalinismo para que possa aprender "por si mesmo" o que essas coisas representam.
Os anarquistas, em contraste, dizem que nós podemos elevar nossa voz contra os políticos reformistas, manter distancia, e ao mesmo tempo incitar as pessoas a não votarem neles. O fato de defender a abstenção significa ajudar a armar teoricamente o povo que entrará em conflito com esses partidos tão logo alcancem o poder. Defender a abstenção significa que todo governo necessariamente será forçado a nos atacar (devido às pressões do capital e do estado) e que temos que responder a esse ataque com nossa própria organização, temos que acumular poder para a autodefesa, temos que promover a autoconfiança da classe trabalhadora em sua própria habilidade, e encorajar a rejeição ao capitalismo, ao estado, à liderança hierárquica. Temos que encorajar o proletariado ao uso da ação direta.
Além disso, nós podemos somar. Somar não significa radicais participando da farsa eleitoral para que as pessoas aceitem suas idéias. Os não anarquistas verão a prática da ação direta, verão nossa ação, verão as alternativas anarquistas que criamos, verão e terão acesso à nossa propaganda. Não precisamos nos associar à ação parlamentar para alcançar os não anarquistas.
J.2.8 O abstencionismo implica em vitória eleitoral da direita?
Possivelmente. Contudo os anarquistas não dizem apenas "não votem", eles dizem também "organizem-se". A apatia é algo que os anarquistas não têm nenhum interesse em encorajar. Assim, "se os anarquistas podem persuadir metade do eleitorado a se abster de votar isso significa, do ponto de vista eleitoral, contribuir para a vitória da direita. Mas tal vitória seria oca, qual governo consegue se manter quando metade do eleitorado, pela sua abstenção, expressa sua não confiança em qualquer governo?" [Vernon Richards,The Impossibilities of Social Democracy, p. 142]
Em outras palavras, qualquer partido, seja ele qual for, sempre que chega ao poder tem que governar todo um país, onde uma considerável minoria, ou mesmo uma maioria, o rejeita enquanto governo. Isso significa que os políticos "estão sujeitos a pressões reais de pessoas que acreditam em seu próprio poder", pessoas que agem de acordo com o que acreditam. Asso, os anarquistas pedem para que as pessoas que além de não votar, organizem a si mesmas e tenham consciência de seu próprio poder enquanto indivíduos e enquanto indivíduos associados entre si. Apenas dessa forma "podem impor respeito aos governos, milhões de pedaços de papel marcados com cruzinhas não restringe o poder do governo". [Ibid.]
Conforme Emma Goldman pontuou, "se os anarquistas fossem suficientemente fortes para pender as eleições para a esquerda, eles também seriam suficientemente fortes para conduzir os trabalhadores a uma greve geral, ou até mesmo a uma série de greves. . . Em última análise, a classe capitalista sabe perfeitamente que o poder, nas mãos da direita ou da esquerda, pode ser comprado". [Vision on Fire, p. 90]
A massa populacional, contudo, não pode ser comprada, e se ela quiser e for capaz de resistir ela pode reduzir esse poder a nada em questões de segundo. Apenas pela organização, pela contínua luta, e pela prática da solidariedade onde vivemos e onde trabalhamos é que podemos realmente mudar as coisas. Nosso poder está nesses locais, e são nesses locais que podemos criar uma real alternativa. Criando uma rede de autogestão, criando organizações funcionais em nossas comunidades e locais de trabalho podemos impor pela ação direta aquilo que os políticos nunca conseguiram nos proporcionar via parlamento. Apenas um movimento assim pode dar um basta definitivo aos ataques daqueles que sobem ao poder. Qualquer governo (esquerda ou direita) que enfrenta um movimento em massa baseado na ação direta e na solidariedade sempre pensa duas vezes antes de introduzir leis autoritárias.
Naturalmente, cada partido proclama que é melhor que os demais e essa é a lógica da questão -- ou seja, precisamos votar no menos ruim, pois a direita no poder será uma coisa terrível. O que se esquecem de dizer é que o menos ruim também é ruim. O que acontece é que em vez do mal maior nos atacar, somos atacados pelo mal menor que faz aquilo que a direita faria. Já que estamos discutindo o "mal menor", não podemos nos esquecer que foram os Democratas (nos EUA) e os Trabalhistas (no Reino Unido) que introduziram a política monetarista e outras políticas que acabaram sendo adotadas por Reagan e Thatcher (por exemplo, o sindicato dos controladores de vôo dos EUA preferiu Reagan a Carter nas eleições de 1980 porque achavam que estariam melhor com os Republicanos. Quando Reagan chegou ao poder a primeira coisa que fez foi acabar com o sindicato). Ou seja, é bobagem esperar que diferentes grupos de políticos reajam diferentemente diante das mesmas pressões e influências políticas.
Assim, votar em um ou em outro político fará pouca diferença. A realidade é que os políticos são bonecos, são fantoches. Conforme argumentamos abaixo (na seção J.2.2 do FAQ Anarquista), o poder real do estado não está na mão dos políticos, o poder real do estado está nas mãos da burocracia estatal e das grandes corporações. Diante destes poderes vemos os mais variados governos de esquerda, desde a Espanha até a Nova Zelândia, introduzindo políticas direitistas. Assim, mesmo se elegêssemos um partido radical, ele seria impotente para efetuar qualquer mudança importante e logo seria obrigado a nos atacar em favor dos interesses dos capitalistas. Os políticos vêm e vão, mas a burocracia estatal e as grandes corporações sempre permanecem!
Portanto, não podemos confiar no fato de que votar no menos mal nos salvará dos possíveis perigos resultantes da direita no poder. Enquanto houver governo, seja ele da direita ou da esquerda sempre estaremos expostos a tais perigos. Abstendo-nos de votar, tudo que podemos esperar é que, não importa quem chegue ao poder, a população resistirá ao governo porque ela sabe e pode usar seu real poder -- a ação direta. "A única coisa que pode limitar a opressão do governo é a capacidade popular de mostrar que pode se opor a ele."[Errico Malatesta, Life and Ideas, p. 196]. Veja o que Vernon Richards escreve a respeito disso:
"Se o movimento anarquista exerce um papel na prática política, seguramente esse papel é o de sugerir, e persuadir, tantas pessoas quanto possível de que sua liberdade dos Hitlers, Francos e outros, não depende nem do direito ao voto nem de garantir uma maioria de votos 'para os candidatos que escolherem', mas de seu envolvimento com novas organizações sociais e políticas que propiciem a participação direta das pessoas, com o consequente enfraquecimento do poder e do controle do governo na vida social da comunidade". [The Raven, no. 14, pp. 177-8]
J.2.9 O que é que os anarquistas fazem além de não votar?
O fato dos anarquistas rejeitarem as eleições e o voto, isso não significa que eles são politicamente apáticos. Na realidade, parte da razão pela qual os anarquistas rejeitam as eleições é porque acham que votar não é parte da solução, é parte do problema. Ou seja, as eleições endossam um sistema político injusto e escravocrata, e que induz outros a lutar em nosso lugar. Isso bloqueia a autonomia construtiva e a ação direta. Isso impede a construção de alternativas em nossas comunidades e locais de trabalho. Votar implica em apatia e apatia é nossa pior inimiga.
Diante do fato de que em muitos países o voto universal já é praticado há mais de 50 anos, de que vimos partidos trabalhistas e radicais subindo ao poder objetivando usar o sistema para efetuar mudanças favoráveis ao socialismo, é de se estranhar que provavelmente estejamos mais distantes do socialismo do que há 50 anos. O simples fato é que tais partidos dedicam tanto tempo tentando ganhar eleições que nem pensam mais na criação de alternativas socialistas em nossas comunidades e locais de trabalho. Só esse fato é suficiente para provar que a eleição, longe de eliminar a apatia, ajuda a desenvolvê-la ainda mais.
Assim, por causa disso, os anarquistas argumentam que não votar a única maneira de não desperdiçar nosso voto! Somos o único movimento político que argumenta que nada mudará a menos que essas mudanças sejam feitas diretamente por nós mesmos, retomando o poder e enfrentando o sistema diretamente. Apenas a ação direta destrói a apatia e gera resultados positivos -- a ação direta é o primeiro passo em direção à real liberdade, em direção a uma sociedade livre e justa.
Portanto, os anarquistas são os primeiros a mostrar que a abstenção não basta -- é necessário lutar ativamente por uma alternativa às eleições e ao atual sistema. Da mesma maneira que o direito ao voto foi conquistado depois de uma longa série de lutas, a criação de uma sociedade livre, descentralizada, autogestiva, será produto dessa luta social.
Os anarquistas serão os últimos a negar a importância das liberdades políticas ou a importância do direito de votar. A pergunta que nós temos que formular é qual seria o melhor tributo àquelas milhões de pessoas que usaram a ação direta, lutaram e sofreram pelo direito de votar. O melhor tributo seria usar essa vitória para endossar um sistema profundamente injusto e antidemocrático ou partir para outros meios (os mesmos meios pelos quais eles ganharam o direito de votar) para criar um sistema baseado num autogoverno verdadeiramente popular? Se quisermos mesmo que nossos desejos (e os deles) se transformem em realidade, uma democracia de fato, teremos que rejeitar o ato politico-eleitoral em favor da ação direta. Assim, se queremos mesmo uma sociedade libertária e democrática é evidente que o voto jamais trará essa sociedade até nós (na realidade nos afasta ainda mais dela).
[N.T. O texto continua. . . a conteúdo integral original pode ser encontrado no FAQ em inglês: "sections J.2.9, J.2.10, etc."].