quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011
Votar no PCdoB, PSTU, PCB, PCO ou PSOL ajudará melhorar nosso país?
"Nos indivíduos, a loucura é algo raro - mas nos grupos, nos partidos, nos povos, nas épocas, é regra" ~ Friedrich Nietzsche.
"Qualquer idiota pode fazer uma regra e qualquer idiota a seguirá" ~ Henry Thoreau
Os partidos leninistas, trotskystas ou estalinistas (PCdoB, PSTU, PCB, PCO, PSOL) argumentam que deveríamos votar neles porque serão capazes de crescer devido ao seu apelo popular, por suas palavras de órdem por mudança, por se considerarem a vanguarda de amplas seções da classe trabalhadora, as quais estarão expostas ao perigo da alienação se votarem nos partidos de centro e direita, que são explicitamente pró-capitalistas.
Argumentam também que os partidos de centro que alçaram maior ou menor gráu de poder nos últimos 20 anos (PSDB, PT, PTB, PMDB) imprimiram em grande parcela da sociedade indignação, revolta, decepção e arrependimento por tê-los colocado no poder. O povo não tem mais ilusões para com esses partidos. Em outras palavras, alçar reformistas ao poder foi um teste de experiência que não deu certo. E na medida em que tais partidos, por manterem o status quo, trairam as expectativas populares, perderão seus partidários que, por sua vez, migrarão para as fileiras dos radicais, as pessoas irão a procura de outros partidos, os verdadeiros partidos socialistas (PCdoB, PSTU, PCB, PCO, PSOL).
Esses argumentos estão completamente equivocados por três razões.:
Primeiro, é uma tática profundamente desonesta esconder as verdadeiras intenções daqueles que apóiam tal tática. Para falar a verdade é um ato contra-revolucionário. Os radicais não deveriam ir até a mídia capitalista contando meias verdades ou torcendo os fatos sobre aquilo que acreditam. Eles não deveriam esconder suas políticas, nem sugerir o apoio a um sistema ou partidos aos quais eles se opõem. Se isso significa perder popularidade, então que assim seja. O capitalismo, as religiões, -- como matriz de hierarquia e autoritarismo bem ao gosto de oligarcas, latifundiários e coronéis, etc. -- aliena as pessoas mas poucos radicais aproveitam a ocasião para soltar o verbo dizendo o que realmente pensam. No final das contas, ser honesto sobre suas idéias é o melhor modo de produzir um movimento que aponta em direção à libertação de um sistema social corrupto. O movimento que começa com meias verdades está sentenciado ao fracasso.
Em segundo lugar, a lógica dessa teoria que fundamenta este argumento é que ao desiludir-se com seus líderes e partidos reformistas, os eleitores procurarão por novos e "melhores" líderes e partidos. Isso, porém, não atinge a raiz do problema, ou seja, a dependência de líderes que uma sociedade hierárquica cria nas pessoas. O grande movimento revolucionário denominado Power of the People (Poder Popular) iniciado na Tunísia, que passou para o Egito e que promete alastrar-se por todo mundo árabe e guiçá, além, chama a atenção do mundo inteiro pela ausência de bandeiras partidárias de qualquer coloração. O grande desejo expresso pelas multidões na Praça Tahir pode ser condensado em poucas palavras: "Rejeitamos não apenas Mubarak e o regime, rejeitamos também todas e quaisquer versões de líderes "melhores", eles querem o poder popular, ou seja o povo governando a si mesmo, gente autônoma, administrando seus próprios interesses e não seguindo um ou outro líder que aparece. Se você seriamente acha que a libertação da opressão é uma tarefa que cabe aos próprios oprimidos (como os leninistas e trotskystas proclamam) então você precisa rejeitar essa tática em favor daquelas que promovam a auto-atividade do proletariado.
A terceira razão é que essa tática sempre falhou. O que a maioria de seus partidários parece não notar é que os eleitores vem colocado muitas vezes no poder os mesmos partidos reformistas (o PSDB primeiro e depois o PT, governaram o país durante 16 anos, foram 16 anos de ataque e investidas contra o proletariado) e não houve nenhuma radicalização no sentido de avanço na luta. Tanto Lenin como Trotsky sugeriram essa tática há 70 anos atrás e não houve nenhuma radicalização da população por esse método, nem mesmo na militância dos partidos reformistas. Na realidade, de forma bem irônica, a maioria destes ativistas acaba mesmo abandonando seus partidos quando eles chegam ao poder desgostosa pelas tentativas do partido de parecer "realístico" para ganhar mais votos nas próximas eleições! E este descontentamento muitas vezes acaba em desmoralização do próprio socialismo, em vez do partido.
Na medida em que consideramos as razões pelas quais rejeitamos essa tática, o total fracasso dela não surpreende. Se essa tática não ataca a hierarquia, não combate a dependência de líderes, nem se contrapõe ao processo e à ideologia eleitoral, obviamente não representa uma real alternativa à população votante (que vê as eleições como a única opção disponível, desprezando a ação direta como a que se vê agora no mundo árabe). Além disso, a visão dos denominados governos "socialistas" ou "radicais" administrando o capitalismo, impondo cortes, reprimindo greves, e geralmente atacando aqueles que os apoiaram provocará um sério dano à credibilidade de qualquer espécie de socialismo, levando a população a desacreditar de todas as idéias radicais e socialistas. Na verdade, a experiência do governo Lula no Brasil nos últimos 8 anos resultou no crescimento da direita que capitalizou essa desilusão dos votantes.
A recusa em aceitar o fato de que nenhum governo "está de nosso lado", por parte de uma parcela de radicais que vive incitando-nos a votar "sem ilusões" em reformistas, acaba mesmo contribuindo para desarmar as pessoas que ouvem suas teorias. O proletariado, surpreso, confuso e desorientado pelas constantes "traições" dos partidos da esquerda acabam simpatizando com os partidos da direita (que podem subir ao poder via eleições) no intuito da manutenção da estabilidade. Em vez de votar ou incentivar a participação no processo eleitoral os radicais deveriam inspirar-se no exemplo que vemos há 17 dis na Praça Tahir, a prática da ação direta. O ato de votar, longe de nos aproximar de uma solução ou melhorar nossas vidas, apenas agrava nossos problemas.
Quantas vezes temos que eleger o mesmo partido, passar pelo mesmo processo, sofrer as mesmas traições, até percebermos que essa tática não funciona? Ora, se o problema é experimentar algo que nunca foi experimentado antes, poucos socialistas estatais encaminham este argumento a uma solução lógica. Nós raramente os ouvimos argumentar que é necessário que o proletariado passe pelo inferno do fascismo ou do estalinismo para que possa aprender "por si mesmo" o que essas coisas representam.
O exemplo da revolução árabe, em contraste, diz que nós podemos elevar nossa voz tanto contra ditadores como contra políticos reformistas, manter distancia, e ao mesmo tempo incitar as pessoas a não votarem neles. O fato de defender a abstenção significa ajudar a armar teoricamente o povo que entrará em conflito com esses partidos tão logo alcancem o poder. Defender a abstenção significa que todo governo necessariamente será forçado a nos atacar (devido às pressões do capital e do estado) e que temos que responder a esse ataque com nossa própria organização, temos que acumular poder para a autodefesa, temos que promover a autoconfiança da classe trabalhadora em sua própria habilidade, e encorajar a rejeição ao capitalismo, ao estado, à liderança hierárquica. Temos que encorajar o proletariado ao uso da ação direta.
Além disso, nós podemos somar. Somar não significa radicais participando da farsa eleitoral para que as pessoas aceitem suas idéias. As massas verão a prática da ação direta, verão nossa ação, verão as alternativas que criamos, verão e terão acesso à nossa propaganda. Não precisamos nos associar à ação parlamentar para alcançar as multidões.
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6 comentários:
Oi Railton.
Vi seu comentário e me interessei pelo debate
Hoje vou comentar duas das questões levantadas por você acerca desta publicação, mas espero nos próximos dias ir completando os argumentos sobre os outros pontos.
1) “Os partidos leninistas, trotskystas ou estalinistas (PCdoB, PSTU, PCB, PCO, PSOL) argumentam que deveríamos votar neles porque serão capazes de crescer devido ao seu apelo popular, por suas palavras de órdem por mudança, por se considerarem a vanguarda de amplas seções da classe trabalhadora, as quais estarão expostas ao perigo da alienação se votarem nos partidos de centro e direita, que são explicitamente pró-capitalistas.”
R: Chama a atenção em seu texto a falta de diferenciação da política de cada grupo que procura criticar. Segundo você, o PCdoB, PSTU, PCB, PCO e Psol, seriam apenas matizes da mesma política e todos seriam adeptos de uma política popular e de esquerda.
Uma parte destes grupos, na prática, realizam o exato opostos de reivindicar “palavras de ordem por mudança” já nem mesmo se “consideram a vanguarda de amplas seções da classe trabalhadora” e nem o ambicionam e nem mais mesmo procuram se “diferenciar dos partidos de centro e direita”.
Mais evidentemente o PCdoB e em outro grau o Psol, são partidos de tipo parlamentar burgueses. O primeiro não se furta nem mesmo a se aliar à direita abertamente. Para citar alguns exemplos, dos milhares, o PCdoB está no governo Lula-Dilma, o governo da aliança com a direita latifundiária, os banqueiros e capitalistas e neste governo realiza o trabalho sujo para o PT. Há o caso do parlamentar Aldo Rebelo que defendeu uma reforma fundiária aclamada pelo DEM e os ruralistas, pela representante da ala ruralista no Senado, Kátia Abreu.
No caso mais recente, o PCdoB na prefeitura de São Paulo, aceitou entrar no governo de Gilberto Kassab, do DEM, e assegurou para si cargos na área de Esportes, para enriquecer com a vinda da Copa do Mundo ao Brasil. Em meio à luta contra o aumento da passagem em São Paulo, a juventude do PCdoB, a UJS, se coloca contra o movimento tentando realizar a todo momento manobras para acabar com a manifestações, usando em primeiro lugar seus parlamentares na Câmara.
Na direção da UNE há 20 anos, o PCdoB se utilizou de seus cargos para receber dinheiro dos últimos governos, incluindo os do PMDB de Sarney e Itamar Franco, de Collor, do PSDB de FHC e do PT de Lula, e defender as piores reformas para a educação que favoreceram os capitalistas do ensino. De comunista procuram manter apenas o nome. Em termos de máquina eleitoreira e de propaganda política, não se diferenciam em nada dos partidos capitalistas e não ser pela bandeira vermelha. São financiados pelos empresários para capitalizar votos apenas e não para construir um partido popular.
Já o Psol é um partido parlamentar burguês. Apesar de composição pequeno-burguesa vamos dizer assim mais “baixo-clero” (profissionais liberais, estudantes, funcionários públicos, professores universitários, etc) e de um discurso aparentemente mais esquerdista que do PT e PCdoB, no fundamental defendem a mesma política. Seus membros considerados lideranças do partido, é importante lembrar, fizeram parte do governo Lula, caso de Heloísa Helena, que chegou a ser Senadora, de Luciana Genro, de Ivan Valente, de Babá. “Romperam” com o governo Lula na época em que o PT se queimou nos casos de corrupção do “mensalão”.
No entanto, nunca romperam com a política fundamental do PT, de aliança com capitalistas e legendas capitalistas, e de construção de um partido formado por membros que são parlamentares de carreira, e finalmente de aliança com a direita.
Há diversos exemplos, e estes ficam mais claramente expressos nas eleições, já que este partido possui um caráter profundamente eleitoreiro. Parcela do Psol, majoritária até bem pouco tempo atrás, procurou nestas eleições presidenciais lançar-se junto com o PV de Marina Silva. Esta parcela incluía a liderança do partido, Heloísa Helena. O PV, nem precisa dizer, é uma partido menor das oligarquias direitistas, que está ligado à direita onde possui algum cargo (PSDB no Rio, DEM em São Paulo, etc) e nas eleições serviu de candidatura laranja do PSDB para tentar tirar de Dilma uma vitória no primeiro turno (considerada por muitos como a expressão da falência total da direita). O Psol chegou a se aliar ao PV no Rio Grande do Sul na candidatura de Luciana Genro e neste estado aprovou, com consentimento do partido, o recebimento de verbas de empresários nas eleições. Receberam nada menos que R$ 100 mil da Gerdau naquele estado.
O candidato à presidência, Plínio de Arruda Sampaio, que acabou sendo uma candidatura resultada da divisão dentro do Psol quanto à aliança com o PV, levou à imprensa a propaganda de tipo “socialista cor-de-rosa”, que Heloísa Helena já havia levantado em 2006. Ao candidato socialista moderado foi aberto espaço pela imprensa capitalista que PCO, PSTU e PCB não tiveram.
Estes três últimos realizaram um debate dos candidatos da esquerda transmitido pela internet e organizado em conjunto com o jornal Brasil de Fato, assistido por milhares de pessoas.
Não por coincidência, mas alegando falta de espaço na agenda, o candidato do Psol não compareceu ao debate.
No campo eleitoral há outras diferenças entre os que estão mais à esquerda, entre a política do PCO, PSTU e PCB. O PCO é um partido mais radical, reivindicando o socialismo e nenhum apoio à política burguesa ou pequeno burguesa. O PCO, que lançou Rui Costa Pimenta como candidato, considerou, por exemplo, o chamado do PSTU a construir uma frente de esquerda com o Psol como errônea e eleitoreira. De fato o PSTU só lançou como candidato Zé Maria porque não conseguiram um acordo para integrar uma chapa com o PSol, como haviam feito nas eleições presidenciais passadas, quando foram vice de Heloísa Helena.
Há, na minha opinião, fundamento nesta crítica de que seriam eleitoreiros já que estiveram totalmente em segundo plano nas eleições em 2006 deixando de lado seu programa para embarcar na ilusão de “grande” margem de votos de Heloísa Helena (6%) conseguido com o apoio da imprensa capitalista graças às suas declarações direitistas. Heloísa Helena chegou a declarar coisas do tipo de que era contra a liberdade de aborto, a favor de repasse de verbas do BNDES para a Volkswagen , contra a reforma agrária e de que tinha aprendido o socialismo na Bíblia. Bom, depois de ter visto tudo isto ainda chamar uma frente com o Psol, isto sim é deixar de lado qualquer programa socialista.
Bom, o PCB, do candidato Ivan Pinheiro não tem muita expressão em qualquer movimento estudantil ou operário, mas lançou-se nas eleições apesar de com um programa estranho e confuso, dizendo ser a favor do socialismo e não entrou na Frente de Esquerda com o Psol, como haviam feito antes, em 2006.
PSTU, PCO e PCB, no entanto, apesar de tantas diferenças deixaram suas diferenças de lado, realizaram um frente contra a censura dos partidos de esquerda nas eleições, realizando em conjunto um debate.
Veja em: http://www.youtube.com/watch?v=NSkyhgXniik
2) “Primeiro, é uma tática profundamente desonesta esconder as verdadeiras intenções daqueles que apóiam tal tática. Para falar a verdade é um ato contra-revolucionário. Os radicais não deveriam ir até a mídia capitalista contando meias verdades ou torcendo os fatos sobre aquilo que acreditam. Eles não deveriam esconder suas políticas, nem sugerir o apoio a um sistema ou partidos aos quais eles se opõem. Se isso significa perder popularidade, então que assim seja. O capitalismo, as religiões, -- como matriz de hierarquia e autoritarismo bem ao gosto de oligarcas, latifundiários e coronéis, etc. -- aliena as pessoas mas poucos radicais aproveitam a ocasião para soltar o verbo dizendo o que realmente pensam. No final das contas, ser honesto sobre suas idéias é o melhor modo de produzir um movimento que aponta em direção à libertação de um sistema social corrupto. O movimento que começa com meias verdades está sentenciado ao fracasso.”
R: Primeiro acho que há uma incompreensão aqui de quem diz meias verdades à imprensa capitalista, quem diz aquilo que a imprensa capitalista quer ouvir e quem é vetado pela imprensa capitalista.
O espaço dado pela imprensa capitalista nas eleições para os partidos cuja política é de direita, incluindo aí PT, PCdoB e em última instância o Psol, é inúmeras vezes maior que o dado aos partidos de esquerda que de uma forma ou de outra se reivindicam revolucionários e socialistas.
Qualquer declaração que rompa com o regime político, que reivindique socialismo é vetada da imprensa burguesa ou é dado o mínimo destaque para as mesmas.
Agora acho que você está restringindo muito a política destes partidos à eleição, sendo que os socialistas reivindicam participar das eleições para mostrar seu programa à população e como forma de denunciar o regime e a própria eleição como é organizada atualmente. Mas as eleições são uma das formas de atuação, existem outras e esta é a imprensa própria, o movimento estudantil e operário.
Nas palavras do líder da revolução Russa, Lênin, esta definição fica claríssima.
“Na campanha em vistas da eleição para a Duma, a participação dos social-democratas (que se tornariam os bolcheviques) tem um caráter completamente diferente da dos demais partidos. Em oposição a eles, nós estimamos que esta campanha não é um fim em si e que ela não tem , até mesmo, uma importância primordial. Nós subordinamos esta campanha aos interesses da luta de classe. Nós damos a esta campanha como palavra-de-ordem, não o parlamentarismo com vistas a reformas parlamentares, mas a luta revolucionária pela Assembléia Constituinte, vale dizer a luta pelas formas superiores que são impostas pela evolução histórica dos procedimentos da luta nos últimos anos.
Que conclusão se depreende do que precede, relativamente aos acordos eleitorais? Antes de mais nada, o seguinte: que a nossa tarefa principal e essencial é a de desenvolver a consciência de classe e a organização independente do proletariado, que é a única classe revolucionária até o fim e será o único guia possível em uma revolução democrática vitoriosa.”
(O Partido Operário diante das eleições, novembro de 1906).
Não tenho dúvida nenhuma que ajudará sim. Estes partidos são muito bons. Leia um pouco mais sobre história e sobre o lenin, trotskys antes de escrever, pois do jeito que escreveu seu texto ficou muito tendencioso e agressivo, perdeu qualidade.
abraços
Não tenho dúvida nenhuma que ajudará sim. Estes partidos são muito bons. Leia um pouco mais sobre história e sobre o lenin, trotskys antes de escrever, pois do jeito que escreveu seu texto ficou muito tendencioso e agressivo, perdeu qualidade.
abraços
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