Se houve um momento para sair às ruas contra todo tipo de tirania, social, econômica, política, sexista, racial, étnica, etc., o momento é agora. O pavio está aceso. Acendê-lo custou milhares de vidas, mantê-lo aceso pode custar muito mais. O mundo virou um barril de pólvora no traseiro dos governantes. Vamos explodi-lo. É agora ou nunca!
"Se vivemos, vivamos para arrancar a cabeça dos reis". (Shakespeare).
O analista mais consciente sobre imperialismo é Noan Chomsky que, inclusive, em 4 de fevereiro em seu texto publicado no The Guardian de Londres, acertava na mosca logo no título: "Não é o Islã radical que preocupa os EUA - é a independência", texto esse imediatamente traduzido publicado em meu blog no domingo.
Naquele momento apenas Ben Ali na Tunísia, a noroeste da Libia, havia caído e o povo egípcio ainda pedia a cabeça de seu próprio ditador. Kadafi imediatamente saiu em apoio ao seu colega ao leste, pois sabia que se Mubarak caisse, ele seria o próximo da lista.
Esse teatro de antagonismos no Oriente Próximo: Israel versus Palestina e outros países árabes; discursos "contra o terror" versus Al Qaeda de Bin Laden; a ONU e EEUU (com suas punições militares, econômicas e políticas) versus Iraque, Irã, ou outros supostos governantes produtores de "armas de destruição em massa", isso sem falar nas picuinhas entre ditaduras de esquerda e de direita, tudo isso vem vem servindo de desculpas para as intervenções imperialistas naquela região (e em outras) tão rica em recursos naturais.
Essa imprevista rebelião que ocorrre quase que simultaneamente em todo o mundo árabe vêm colocar uma pá de areia em toda engrenagem tática e estratégica imperialista. E é por isso que eles já começam a apontar suas máquinas de matar em direção à Líbia. O alvo não é o ditador. O alvo são os líbios que derrubam o grande aliado dos Europeus e dos EEUU: Kadafi.
Governos ditatoriais ou "democráticos" são absolutamente previsíveis e controláveis pelas forças capitalistas tanto de estado como privadas, mas as massas não. E é isso que as grandes corporações e os governos temem, como bem diz Chomsky em seu artigo.
Qualquer tentativa de sublevação por parte de um país isolado, e por mais revolucionária que ela seja, pode ser contida, sufocada, ou estancada, para que não se espalhe.
Ken Knabb cita em "A Alegria da Revolução" alguns dos exemplos mais notáveis de revoltas: "a Rússia de 1905, a Alemanha de 1918-19, a Itália de 1920, as Asturias de 1934, a Espanha de 1936-37, a Hungria de 1956, a França de 1968, a Checoslováquia de 1968, Portugal de 1974-75 e a Polônia de 1980-81; muitos outros movimentos, desde a revolução mexicana de 1910 até a recente luta anti-apartheid na África do Sul, contiveram também momentos exemplares de experimentação popular antes de caírem sob o controle burocrático".
Agora estamos diante de um quadro novo. Não se trata de um, dois ou três países revoltosos. O mundo árabe se levanta e quase que simultanteamente. Até mesmo o povo iraquiano, antes esmagado sob Sadan Hussein e agora sob os esquadrões da morte e mercenários armados até os dentes - como bem descreveu Shane Bauer em seu blog antes de ser preso com alguns amigos em 31 de julho de 2009, nas proximidades da fronteira do Irã com o Iraque - agora também sai às ruas reivindicando liberdade, autodeterminação e a destituição imediata dos títeres estadunidenses em seu país.
O que devemos fazer? Devemos nesse momento não apenas acompanhar esses acontecimentos, devemos sair às ruas em nossas cidades em toda América Latina, como já está acontecendo em várias cidades estadunidenses e européias, apoiando a luta árabe, exigindo do fim definitivo das intervenções dos EEUU, e, principalmente, saindo às ruas com a mesma bandeira árabe: fim (em nossos próprios países) da corrupção governamental ou instituição de autogoverno, liberdade, igualdade, enfim, participação nas decisões em todos os níveis, autogestão, democracia direta.
"Só podemos compreender este mundo questionando-o como um todo.... A raiz da ausência de imaginação dominante não pode ser compreendida a menos que sejamos capazes de imaginar o que falta, isto é, o desaparecido, o oculto, o proibido, e o possível na vida moderna." - Internacional Situacionista
Onde os homens e mulheres não levem as leis a sério,
Onde o escravo deixe de existir, e o amo dos escravos,
Onde o populacho se levante imediatamente contra a eterna audácia dos privilegiados,...
Onde as crianças aprendam a operar por conta própria, e a depender de si mesmos,
Onde a equanimidade se reflita em fatos,
Onde as especulações sobre a alma sejam estimuladas,
Onde as mulheres caminhem em procissão pública nas ruas da mesma forma que os homens,
Onde participem na assembléia pública e tomem seus lugares da mesma forma que os homens....
As formas primordiais surgem!
Formas da democracia total, resultado de séculos,
Formas que projetam inclusive outras formas,
Formas de turbulentas cidades masculinas,
Formas dos amigos e anfitriões do mundo,
Formas que abraçam a terra, e são abraçadas por toda a terra.
Whitman
segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011
domingo, 27 de fevereiro de 2011
sábado, 26 de fevereiro de 2011
O que é que tá acontecendo na Líbia? Do mundo árabe à América Latina
Por Santiago Alba Rico e Alma Allende 26/02/2011 às 15:10
Temos a impressão de que um grande processo emancipatório mundial pode ser abortado pela implacável ferocidade de Gadafi, a intervenção estadounidense e a pouca clarividência na América Latina
Temos a impressão de que um grande processo de emancipação mundial pode ser abortado pela ferocidade implacável de Kadafi, a intervenção dos EUA e a pouca clarividência na América Latina. Poderia descrever a situação: há uma zona no mundo religada por um forte sentimento de solidariedade interna. Dessa zona, onde há pouco tempo atrás só se esperava letargia ou fanatismo, surge uma onda de levantes populares que ameaça derrubar, um após outro, todos os aliados das potências ocidentais na região. Passando por cima das muitas diferenças locais, estes levantes tem algo em comum que certamente os distingue radicalmente das "revoluções" vermelhas e amarelas promovidas pelo capitalismo da órbita da ex-urss soviética: exigem democracia, sim, mas - longe de estarem fascinadas pela Europa e pelos EEUU - são detentores de uma radical, longa e enraigada tradição anti-imperialista, forjada em torno da Palestina e do Iraque. Não há nos levantes populares árabes ranço de socialismo, islamismo, e nem mesmo - o mais importante - de sedução eurocêntrica: trata-se ao mesmo tempo de revolta econômica misturada com revolução democrática, nacionalista e anticolonialista, o que abre de cara, quarenta anos depois de sua derrota, uma inesperada oportunidade para as esquerdas socialistas e panarabistas da região.
A América Latina progressista, cujos pioneiros processos emancipatórios constituiram a esperança do antiimperialismo mundial, deveria apoiar neste momento o mundo árabe, e sem reservas, adiantando-se à estratégia das potências ocidentais. Na esteira dos acontecimentos tais potências querem se aproveitar das ações tresloucadas de Gadafi para implementar um retrocesso - militar talvez, mas sobretudo propagandístico - como paladinas dos direitos humanos e da democracia. Este discurso é pouco confiável naquela zona do mundo, donde Fidel e Chaves gozam de enorme crédito popular, mas se a América Latina se alinha, ativa ou passivamente, com o tirano, não apenas os contagiosos avanços populares, que sopram da Europa a Wisconsin, se verão inevitavelmente contidos, como também haverá uma nova fratura no campo anti-imperialista dos EUA, sempre vigilantes, como relojoeiro do mundo, que usarão tudo isso para recuperar o terreno perdido. Algo assim pode estar já ocorrendo como resultado de uma combinação de ignorância e de anti-imperialismo esquemático e sumário. Os povos árabes, que voltam aos palcos da história, precisam do apoio dos seus irmãos latinoamericanos. O mais importante agora é que a relação de forças no mundo não pode pagar por uma hesitação de Cuba e da Venezuela, sem que Cuba e Venezuela sofram também as consequencias, sofrendo com eles a América Latina e as esperanças de transformação a nível planetário.
Podemos alegar que sabemos pouco do que ocorre na Líbia e suspeitar da condenação ocidental, midiática e institucional, dos últimos dias. Podemos deixar por isso mesmo. Os imperialistas são muito espertos. Eles têm muitos interesses específicos na área, tem defendido até o fim seus ditadores, mas quando eles percebem que não tem mais jeito, os deixam cair e escolhem outra estratégia: apoiar processos democráticos de controle remoto, selecionar minorias pósmodernas como motor de mudança limitada para implantar, sem nenhuma vergonha - sabendo que a memória é curta e os reflexos da esquerda muito imediatos - um novo arco-íris da retórica democrática. Temos que nos opor a qualquer interferência ocidental, mas eu sinceramente não acredito que a NATO invadirá a Líbia; o que nós acreditamos é que esta ameaça, apenas sugerida, tem o efeito de desfocar e confundir o campo anti-imperialista, e isso ao ponto de nos fazer esquecer algo que deveríamos saber sempre: quem é Kaddafi. Esquecê-lo pode produzir pelo menos três efeitos terríveis: romper os laços com os movimentos árabes, dar legitimidade às acusações contra a Venezuela e Cuba e "dar novo prestígio" ao danoso discurso democrático imperialista. Um triunfo, sem dúvida, para os interesses imperialistas na região.
Gaddafi foi durante os últimos dez anos um grande amigo da UE e dos EUA e de seus ditadores aliados na região. Basta recordar as inflamadas declarações de apoio do Calígula líbio ao deposto Ben Alí, cujas milícias provavelmente forneceram forneceram armas e dinheiro nos dias posteriores a 14 de janeiro. Acrescente-se a isso a dócil colaboração de Gadafi aos EEUU no marco da "guerra ao terror". A colaboração política foi acompanhada de estreitos vínculos econômicos com a UE, inclusive a Espanha: a venda de petróleo à Alemanha, Itália, França e EEUU ocorreu paralelamente com a entrada na Líbia das grandes companhias ocidentais (a empresa espanhola Repsol, a British Petroleum, a francesa Total, a italiana ENI ou a austríaca OM), isso sem mencionar os suculentos contratos das construtoras européias, [brasileiras (Queirós Galvão, etc)] e espanholas, em Tripoli. Além disso, a França e os EEUU não deixaram de vender armas para que agora a matança venha de cima, por helicópteros e caças, contra seu próprio povo, seguindo o exemplo da Itália imperial desde 1911. Em 2008, a ex-secretária de Estado, Condoleeza Rice, deixou bem claro: "A Líbia e os Estados Unidos compartilham de interesses permanentes: a cooperação na luta contra o terrorismo, o comércio, a proliferação nuclear, África, os direitos humanos e a democracia".
Quando Gadafi visitou a França em dezembro de 2007, Ayman El-Kayman resumiu a situação em um parágrafo que reproduzo aqui: "Quase dez anos atrás, Gadafi deixou de ser para o Ocidente democrático um indivíduo pouco recomendável. Para ter seu nome retirado da lista estadunidense de Estados terroristas, ele reconheceu a responsabilidade pelo atentado de Lockerbie. Para normalizar suas relações com o Reino Unido, deu os nomes de todos os republicanos irlandeses que haviam sido treinados na Líbia. Para limpar a barra com os Estados Unidos, deu todas as informações que tinha sobre os líbios suspeitos de participação na jirad junto a Bin Laden e renunciou a suas "armas de destruição em massa", além de pedir à Síria que fizesse o mesmo. Para normalizar as relações com a União Européia, transformou-se no guardião dos campos de concentração, donde estão encarcerados milhares de africanos que se dirigiam à Europa. Para normalizar suas relações com seu sinistro vizinho Ben Alí, entregou-lhe os opositores do regime refugiados na Líbia".
Como se vê, Gadafi não é nem revolucionário nem aliado - nem mesmo do ponto de vista tático - dos revolucionários do mundo. Em 2008, Fidel e Chávez (com o Mercosul) justamente denunciaram a "diretiva vergonhosa" européia que reforçava já há muito tempo a severa perseguição na Europa da humanidade desnuda nos barcos e nos abrigos. De todos os crimes de Gaddafi talvez o mais sério e o menos conhecido é a sua cumplicidade com a política de imigração da UE, especialmente na Itália, como o carrasco dos migrantes africanos. Quem quiser ricas informações sobre o assunto pode ler Il Mare di Mezzo, do bravo jornalista Gabriele Del Grande ou visitar seu site Fortresseurope, que revela alguns documentos assustadores. Desde 2006, a Human Rights Watch e AFVIC vem denunciando detenções arbitrárias e tortura em prisões líbias financiadas pela Itália. O acordo Berlusconi-Gadafi de 2003 pode ser lido em sua íntegra na página de Gabriele del Grande e suas consequencias se resumem sucinta e dolorosamente no grito de Farah Anam, fugitiva somali dos campos da morte líbios: "Prefiro morrer no mar a regressar à Líbia". Apesar das denúncias que falam de verdadeiras páticas de extermínio - ou precisamente por causa delas, que demonstram a eficácia de Gadafi como guardião da Europa - a Comissão Européia firmou em outubro uma "agenda de cooperação" para a "gestão dos fluxos migratórios" e o "controle das fronteiras", válido até 2013 e acompanhado da entrega à Líbia de 50 milhões de euros.
A relação da Europa com Gadafi beira à submissão. Berlusconi, Sarkozy, Zapatero e Blair o receberam com abraços em 2007 e o próprio Zapatero o visitou em Trípoli em 2010. Até mesmo o rei Juan Carlos foi a Trípoli em janeiro de 2009 para promover as empresas espanholas. Por outro lado, a UE não hesitou em humilhar-se e desculpar-se publicamente em 27 março de 2010 através do então chanceler espanhol, Miguel Angel Moratinos, por haver proibido 188 líbios cidadãos líbios de entrarem na Europa, a raiz do conflito entre Suiça e Líbia pela detenção de um filho de Gadafi em Genebra, acusado de maltratar seus empregados domésticos. E tem mais: a UE não emitiu o menor protesto quando o Gadhafi adotou represálias econômicas, comerciais e humanas contra a Suiça, nem mesmo quando efetuou um chamamento à guerra santa contra este país, nem mesmo quando declarou publicamente seu desejo de que a Suiça fosse varrida do mapa.
E se agora esses amigos imperialistas de Kadhafi - que vêem o mundo árabe se virar contra ele sem sua intervenção - condenam a ditadura líbia e falam em democracia, então nós vacilamos. Aplicamos as planilhas universais da luta antiimperialista, com suas teorias conspiratórias, com sua paradóxica desconfiança para com os povos, e pedimos tempo para que se dissolva a nuvem de pó levantada pelas bombas lançadas desde o ar - a fim de estar seguros de que embaixo não haja um cadáver da CIA. Isso quando não apoiamos diretamente, como o governo da Nicarágua, a um criminoso cujo mais leve contato só pode manchar para sempre qualquer um que se posicione como de esquerda ou progressista. Não é a OTAN que está bombardeando aos líbios, é Gadafi. "Misseis contra civis" é algo que não podemos aceitar. Mesmo antes de fazer perguntas, temos de condenar isso com toda energia e indignação. Mas vamos também fazer perguntas. Porque se perguntamos, as respostas que temos - por poucas que sejam - também devem mostrar de que lado devem estar agora os revolucionários do mundo. Oxalá Gadafi caia hoje, em vez de amanhã. Oxalá a América Latina compreenda que o que ocorre nesses momentos no mundo árabe tem a ver, não com planos maquiavélicos da UE e dos EEUU (que sem dúvida manobram nas sombras), mas com os processos abertos em Nossa América, a de todos, da ALBA e da dignidade, desde o princípio dos anos 90, seguindo a estrela de Cuba de 1958. A oportunidade é grande e pode ser a última para reverter definitivamente a atual relação de forças e isolar as potências imperialistas em um novo marco global. Não caiamos em armadilhas tão facilmente. Não desprezemos os árabes. Eles não são socialistas, não, mas nos últimos dois meses, de forma inesperada, colocaram a nu a hipocrisia da UE e dos EUA. Manifestaram seu desejo por uma verdadeira democracia, longe de qualquer tutela colonial, e abriram um espaço para pôr em dificuldades desde a esquerda, as tentativas de reconversão, também territorial, do capitalismo. É a América Latina da Alba, de Che e Playa Girón, cujo prestígio nessa zona estava intacto até ontem, que deve apoiar o processo antes que o relojoeiro do mundo gire a história para trás e a manipule a seu favor. Os países capitalistas têm "interesses", os socialistas só "limites". Muitos destes "interesses" estavam com Gadhafi, mas nenhum desses limites têm nada a ver com ele. É um criminoso e também um obstáculo. Por favor, companheiros revolucionários da América Latina, os camaradas revolucionários no mundo árabe estão pedindo que não apóiem Gadafi.
fonte: http://www.kaosenlared.net/noticia/pasa-libia-mundo-arabe-america-latina
tradução: Railton - http://taborita.blogspot.com/
Temos a impressão de que um grande processo emancipatório mundial pode ser abortado pela implacável ferocidade de Gadafi, a intervenção estadounidense e a pouca clarividência na América Latina
Temos a impressão de que um grande processo de emancipação mundial pode ser abortado pela ferocidade implacável de Kadafi, a intervenção dos EUA e a pouca clarividência na América Latina. Poderia descrever a situação: há uma zona no mundo religada por um forte sentimento de solidariedade interna. Dessa zona, onde há pouco tempo atrás só se esperava letargia ou fanatismo, surge uma onda de levantes populares que ameaça derrubar, um após outro, todos os aliados das potências ocidentais na região. Passando por cima das muitas diferenças locais, estes levantes tem algo em comum que certamente os distingue radicalmente das "revoluções" vermelhas e amarelas promovidas pelo capitalismo da órbita da ex-urss soviética: exigem democracia, sim, mas - longe de estarem fascinadas pela Europa e pelos EEUU - são detentores de uma radical, longa e enraigada tradição anti-imperialista, forjada em torno da Palestina e do Iraque. Não há nos levantes populares árabes ranço de socialismo, islamismo, e nem mesmo - o mais importante - de sedução eurocêntrica: trata-se ao mesmo tempo de revolta econômica misturada com revolução democrática, nacionalista e anticolonialista, o que abre de cara, quarenta anos depois de sua derrota, uma inesperada oportunidade para as esquerdas socialistas e panarabistas da região.
A América Latina progressista, cujos pioneiros processos emancipatórios constituiram a esperança do antiimperialismo mundial, deveria apoiar neste momento o mundo árabe, e sem reservas, adiantando-se à estratégia das potências ocidentais. Na esteira dos acontecimentos tais potências querem se aproveitar das ações tresloucadas de Gadafi para implementar um retrocesso - militar talvez, mas sobretudo propagandístico - como paladinas dos direitos humanos e da democracia. Este discurso é pouco confiável naquela zona do mundo, donde Fidel e Chaves gozam de enorme crédito popular, mas se a América Latina se alinha, ativa ou passivamente, com o tirano, não apenas os contagiosos avanços populares, que sopram da Europa a Wisconsin, se verão inevitavelmente contidos, como também haverá uma nova fratura no campo anti-imperialista dos EUA, sempre vigilantes, como relojoeiro do mundo, que usarão tudo isso para recuperar o terreno perdido. Algo assim pode estar já ocorrendo como resultado de uma combinação de ignorância e de anti-imperialismo esquemático e sumário. Os povos árabes, que voltam aos palcos da história, precisam do apoio dos seus irmãos latinoamericanos. O mais importante agora é que a relação de forças no mundo não pode pagar por uma hesitação de Cuba e da Venezuela, sem que Cuba e Venezuela sofram também as consequencias, sofrendo com eles a América Latina e as esperanças de transformação a nível planetário.
Podemos alegar que sabemos pouco do que ocorre na Líbia e suspeitar da condenação ocidental, midiática e institucional, dos últimos dias. Podemos deixar por isso mesmo. Os imperialistas são muito espertos. Eles têm muitos interesses específicos na área, tem defendido até o fim seus ditadores, mas quando eles percebem que não tem mais jeito, os deixam cair e escolhem outra estratégia: apoiar processos democráticos de controle remoto, selecionar minorias pósmodernas como motor de mudança limitada para implantar, sem nenhuma vergonha - sabendo que a memória é curta e os reflexos da esquerda muito imediatos - um novo arco-íris da retórica democrática. Temos que nos opor a qualquer interferência ocidental, mas eu sinceramente não acredito que a NATO invadirá a Líbia; o que nós acreditamos é que esta ameaça, apenas sugerida, tem o efeito de desfocar e confundir o campo anti-imperialista, e isso ao ponto de nos fazer esquecer algo que deveríamos saber sempre: quem é Kaddafi. Esquecê-lo pode produzir pelo menos três efeitos terríveis: romper os laços com os movimentos árabes, dar legitimidade às acusações contra a Venezuela e Cuba e "dar novo prestígio" ao danoso discurso democrático imperialista. Um triunfo, sem dúvida, para os interesses imperialistas na região.
Gaddafi foi durante os últimos dez anos um grande amigo da UE e dos EUA e de seus ditadores aliados na região. Basta recordar as inflamadas declarações de apoio do Calígula líbio ao deposto Ben Alí, cujas milícias provavelmente forneceram forneceram armas e dinheiro nos dias posteriores a 14 de janeiro. Acrescente-se a isso a dócil colaboração de Gadafi aos EEUU no marco da "guerra ao terror". A colaboração política foi acompanhada de estreitos vínculos econômicos com a UE, inclusive a Espanha: a venda de petróleo à Alemanha, Itália, França e EEUU ocorreu paralelamente com a entrada na Líbia das grandes companhias ocidentais (a empresa espanhola Repsol, a British Petroleum, a francesa Total, a italiana ENI ou a austríaca OM), isso sem mencionar os suculentos contratos das construtoras européias, [brasileiras (Queirós Galvão, etc)] e espanholas, em Tripoli. Além disso, a França e os EEUU não deixaram de vender armas para que agora a matança venha de cima, por helicópteros e caças, contra seu próprio povo, seguindo o exemplo da Itália imperial desde 1911. Em 2008, a ex-secretária de Estado, Condoleeza Rice, deixou bem claro: "A Líbia e os Estados Unidos compartilham de interesses permanentes: a cooperação na luta contra o terrorismo, o comércio, a proliferação nuclear, África, os direitos humanos e a democracia".
Quando Gadafi visitou a França em dezembro de 2007, Ayman El-Kayman resumiu a situação em um parágrafo que reproduzo aqui: "Quase dez anos atrás, Gadafi deixou de ser para o Ocidente democrático um indivíduo pouco recomendável. Para ter seu nome retirado da lista estadunidense de Estados terroristas, ele reconheceu a responsabilidade pelo atentado de Lockerbie. Para normalizar suas relações com o Reino Unido, deu os nomes de todos os republicanos irlandeses que haviam sido treinados na Líbia. Para limpar a barra com os Estados Unidos, deu todas as informações que tinha sobre os líbios suspeitos de participação na jirad junto a Bin Laden e renunciou a suas "armas de destruição em massa", além de pedir à Síria que fizesse o mesmo. Para normalizar as relações com a União Européia, transformou-se no guardião dos campos de concentração, donde estão encarcerados milhares de africanos que se dirigiam à Europa. Para normalizar suas relações com seu sinistro vizinho Ben Alí, entregou-lhe os opositores do regime refugiados na Líbia".
Como se vê, Gadafi não é nem revolucionário nem aliado - nem mesmo do ponto de vista tático - dos revolucionários do mundo. Em 2008, Fidel e Chávez (com o Mercosul) justamente denunciaram a "diretiva vergonhosa" européia que reforçava já há muito tempo a severa perseguição na Europa da humanidade desnuda nos barcos e nos abrigos. De todos os crimes de Gaddafi talvez o mais sério e o menos conhecido é a sua cumplicidade com a política de imigração da UE, especialmente na Itália, como o carrasco dos migrantes africanos. Quem quiser ricas informações sobre o assunto pode ler Il Mare di Mezzo, do bravo jornalista Gabriele Del Grande ou visitar seu site Fortresseurope, que revela alguns documentos assustadores. Desde 2006, a Human Rights Watch e AFVIC vem denunciando detenções arbitrárias e tortura em prisões líbias financiadas pela Itália. O acordo Berlusconi-Gadafi de 2003 pode ser lido em sua íntegra na página de Gabriele del Grande e suas consequencias se resumem sucinta e dolorosamente no grito de Farah Anam, fugitiva somali dos campos da morte líbios: "Prefiro morrer no mar a regressar à Líbia". Apesar das denúncias que falam de verdadeiras páticas de extermínio - ou precisamente por causa delas, que demonstram a eficácia de Gadafi como guardião da Europa - a Comissão Européia firmou em outubro uma "agenda de cooperação" para a "gestão dos fluxos migratórios" e o "controle das fronteiras", válido até 2013 e acompanhado da entrega à Líbia de 50 milhões de euros.
A relação da Europa com Gadafi beira à submissão. Berlusconi, Sarkozy, Zapatero e Blair o receberam com abraços em 2007 e o próprio Zapatero o visitou em Trípoli em 2010. Até mesmo o rei Juan Carlos foi a Trípoli em janeiro de 2009 para promover as empresas espanholas. Por outro lado, a UE não hesitou em humilhar-se e desculpar-se publicamente em 27 março de 2010 através do então chanceler espanhol, Miguel Angel Moratinos, por haver proibido 188 líbios cidadãos líbios de entrarem na Europa, a raiz do conflito entre Suiça e Líbia pela detenção de um filho de Gadafi em Genebra, acusado de maltratar seus empregados domésticos. E tem mais: a UE não emitiu o menor protesto quando o Gadhafi adotou represálias econômicas, comerciais e humanas contra a Suiça, nem mesmo quando efetuou um chamamento à guerra santa contra este país, nem mesmo quando declarou publicamente seu desejo de que a Suiça fosse varrida do mapa.
E se agora esses amigos imperialistas de Kadhafi - que vêem o mundo árabe se virar contra ele sem sua intervenção - condenam a ditadura líbia e falam em democracia, então nós vacilamos. Aplicamos as planilhas universais da luta antiimperialista, com suas teorias conspiratórias, com sua paradóxica desconfiança para com os povos, e pedimos tempo para que se dissolva a nuvem de pó levantada pelas bombas lançadas desde o ar - a fim de estar seguros de que embaixo não haja um cadáver da CIA. Isso quando não apoiamos diretamente, como o governo da Nicarágua, a um criminoso cujo mais leve contato só pode manchar para sempre qualquer um que se posicione como de esquerda ou progressista. Não é a OTAN que está bombardeando aos líbios, é Gadafi. "Misseis contra civis" é algo que não podemos aceitar. Mesmo antes de fazer perguntas, temos de condenar isso com toda energia e indignação. Mas vamos também fazer perguntas. Porque se perguntamos, as respostas que temos - por poucas que sejam - também devem mostrar de que lado devem estar agora os revolucionários do mundo. Oxalá Gadafi caia hoje, em vez de amanhã. Oxalá a América Latina compreenda que o que ocorre nesses momentos no mundo árabe tem a ver, não com planos maquiavélicos da UE e dos EEUU (que sem dúvida manobram nas sombras), mas com os processos abertos em Nossa América, a de todos, da ALBA e da dignidade, desde o princípio dos anos 90, seguindo a estrela de Cuba de 1958. A oportunidade é grande e pode ser a última para reverter definitivamente a atual relação de forças e isolar as potências imperialistas em um novo marco global. Não caiamos em armadilhas tão facilmente. Não desprezemos os árabes. Eles não são socialistas, não, mas nos últimos dois meses, de forma inesperada, colocaram a nu a hipocrisia da UE e dos EUA. Manifestaram seu desejo por uma verdadeira democracia, longe de qualquer tutela colonial, e abriram um espaço para pôr em dificuldades desde a esquerda, as tentativas de reconversão, também territorial, do capitalismo. É a América Latina da Alba, de Che e Playa Girón, cujo prestígio nessa zona estava intacto até ontem, que deve apoiar o processo antes que o relojoeiro do mundo gire a história para trás e a manipule a seu favor. Os países capitalistas têm "interesses", os socialistas só "limites". Muitos destes "interesses" estavam com Gadhafi, mas nenhum desses limites têm nada a ver com ele. É um criminoso e também um obstáculo. Por favor, companheiros revolucionários da América Latina, os camaradas revolucionários no mundo árabe estão pedindo que não apóiem Gadafi.
fonte: http://www.kaosenlared.net/noticia/pasa-libia-mundo-arabe-america-latina
tradução: Railton - http://taborita.blogspot.com/
sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011
quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011
O Descaminho da Era Kadafi
Por Carlos Carvalho Cavalheiro 24/02/2011 às 22:27
Artigo discute o desvio dos ideais da Revolução Líbia de 1969, a qual, no discurso ideológico, pregava a soberania popular
Há algum tempo não se ouvia falar em Muamar Kadafi, o coronel líbio que, aos 27 anos liderou uma revolução de caráter socialista-islâmico pondo fim ao reinado absolutista e corrupto do rei Idris I.
Desde 1951, Idris comandava o país que, a despeito de possuir petróleo, contava com uma população extremamente pobre e uma economia frágil. A renda per capita era estimada, naquela época, em 40 dólares. Liderando um grupo de soldados e oficiais rebeldes, em setembro de 1969, Kadafi liderou uma revolução que mudou os rumos do país e acabou com o reinado de 18 anos de Idris.
Na década de 1970, o mesmo Muamar Kadafi lança "O Livro Verde", no qual expõe suas ideias para a reconstrução de um país baseado em valores como a Democracia direta (sem representantes políticos), o socialismo islâmico e uma nova sociedade pautada pela organização tradicional.
Hoje vemos toda essa História entrando numa espiral de descaminho, se contradizendo e desmentindo sua própria consciência. O mesmo homem que disse: "Nada pode substituir o povo" e que "A democracia é o poder do povo pelo povo"; é o mesmo que autoriza e ordena ataques genocidas a esse mesmo povo quando este ousa exercer o que lhe é mais legítimo: o direito de escolher seu próprio destino!
O sonho da República Livre e soberana se desfaz com a triste realidade que se imprime nos jornais: centenas de pessoas estão sendo mortas na Líbia e já não há como distinguir o atual regime com aquele derrubado na década de 1950.
Através dos ideais da revolução líbia criou-se uma organização intitulada Mathaba, cujo um dos princípios é "prestar solidariedade aos povos que lutam pela sua emancipação".
É o caso de se perguntar: Não passou da hora da Mathaba ajudar a própria Líbia?
Como no livro "A Revolução dos Bichos", de George Orwel, nos deparamos com a cena em que homens e porcos se juntam e o povo, que a tudo assiste, cria a consciência de que, assim juntos, não há como distingui-los.
22.02.2011.
Carlos Carvalho Cavalheiro
Email:: carlosccavalheiro@yahoo.com.br
extraído de: http://prod.midiaindependente.org/pt/blue/2011/02/487222.shtml
Artigo discute o desvio dos ideais da Revolução Líbia de 1969, a qual, no discurso ideológico, pregava a soberania popular
Há algum tempo não se ouvia falar em Muamar Kadafi, o coronel líbio que, aos 27 anos liderou uma revolução de caráter socialista-islâmico pondo fim ao reinado absolutista e corrupto do rei Idris I.
Desde 1951, Idris comandava o país que, a despeito de possuir petróleo, contava com uma população extremamente pobre e uma economia frágil. A renda per capita era estimada, naquela época, em 40 dólares. Liderando um grupo de soldados e oficiais rebeldes, em setembro de 1969, Kadafi liderou uma revolução que mudou os rumos do país e acabou com o reinado de 18 anos de Idris.
Na década de 1970, o mesmo Muamar Kadafi lança "O Livro Verde", no qual expõe suas ideias para a reconstrução de um país baseado em valores como a Democracia direta (sem representantes políticos), o socialismo islâmico e uma nova sociedade pautada pela organização tradicional.
Hoje vemos toda essa História entrando numa espiral de descaminho, se contradizendo e desmentindo sua própria consciência. O mesmo homem que disse: "Nada pode substituir o povo" e que "A democracia é o poder do povo pelo povo"; é o mesmo que autoriza e ordena ataques genocidas a esse mesmo povo quando este ousa exercer o que lhe é mais legítimo: o direito de escolher seu próprio destino!
O sonho da República Livre e soberana se desfaz com a triste realidade que se imprime nos jornais: centenas de pessoas estão sendo mortas na Líbia e já não há como distinguir o atual regime com aquele derrubado na década de 1950.
Através dos ideais da revolução líbia criou-se uma organização intitulada Mathaba, cujo um dos princípios é "prestar solidariedade aos povos que lutam pela sua emancipação".
É o caso de se perguntar: Não passou da hora da Mathaba ajudar a própria Líbia?
Como no livro "A Revolução dos Bichos", de George Orwel, nos deparamos com a cena em que homens e porcos se juntam e o povo, que a tudo assiste, cria a consciência de que, assim juntos, não há como distingui-los.
22.02.2011.
Carlos Carvalho Cavalheiro
Email:: carlosccavalheiro@yahoo.com.br
extraído de: http://prod.midiaindependente.org/pt/blue/2011/02/487222.shtml
quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011
terça-feira, 22 de fevereiro de 2011
A Tradição Libertária no Oriente Próximo e Rússia
Para uma melhor compreensão desse imenso barril de pólvora (para não dizer de petróleo) econômico, político e social, em que se converteu, principalmente o Oriente Próximo, segue o texto abaixo
Por Kenneth Rexroth
No Oriente Próximo, onde apareceu pela primeira vez, a vida comunal da aldeia neolítica tem sido desvirtuada e inviabilizada pelas invasões do Estado e da economia externa até os dias presentes. Até a Segunda Guerra Mundial ou até a descoberta do petróleo nos arredores, a vida em uma aldeia isolada do Oriente Médio era em muitos aspectos semelhante a que teve durante oito mil anos. Assim, não é surpreendente o entra e sai de movimentos comunalistas no mesmo local do nascimento do Estado centralizado, nem o porque deles terem falhado, com uma larga economia baseada na irrigação, silos regionais, e planejamento racional da agricultura, tudo isso exigiu um aparato administrativo centralizado.
A religião persa oficial, o zoroastrianismo, poderia ser considerada um reflexo do Estado centralizado do Oriente Próximo, com seu sistema de palácio e monarca absoluto. O yasnas de ZendAvesta contêm muitas máximas dirigidas contra o comunismo, contra o desrespeito aos nobres, contra o pacifismo, e contra a comunidade pirata nômade, contudo, contem também algumas tendências comunalistas, funcionando secretamente, para emergir na religião de Mazdak nos anos posteriores da dinastia sassaniana.
Mazdak nasceu no final do século V e os seus discípulos esparramaram sua doutrina tão rapidamente sobre a Pérsia que eles logo converteram um grande número de pessoas importantes e eventualmente, o próprio Rei Kawaz.
Para Mazdak a fonte de todo mal era devido à ação malévola dos diabos, Inveja, Ira, Ganância, que tinham destruído a igualdade primitiva e a comunidade do homem. Os discípulos de Mazdak mantinham todas as coisas em comum incluindo, de acordo com seus inimigos, as mulheres. Como a maioria dos hereges eles foram acusados de serem viciados em orgias sexuais. Por outro lado eles também foram acusados de extremo ascetiscismo, vegetarianismo, e a recusa em matar sob qualquer circunstancia. O comunismo não era incidental para o mazdaismo, mas central. Os grandes pecados mortais eram relacionados a possessividade e violência, e as maiores virtudes eram aquelas da comunidade do amor.
Temos informações incompletas sobre o que aconteceu depois da conversão do rei, mas os efeitos sociais parecem ter sido drásticos e supostamente devem ter conduzido à sua deposição temporária pelo seu irmão Jamasp. Em sua restauração seu filho, Khusraw I (Chosroes I), enganou Mazdak cortejando todos seus discípulos, recebendo a submissão formal de Khusraw e a pública profissão da nova religião. Quando os mazdaitas entraram nos jardins reais para participar de um grande banquete, cada grupo foi agarrado e enterrado de cabeça para baixo com os pés para fora. Khusraw conduziu Mazdak pelo jardim e disse, "veja a colheita que sua má doutrina produziu", e enterrou-o, de cabeça para baixo, entre seus seguidores.
O massacre, que aconteceu em A.D. 528, não exterminou a seita. Na ascensão de Khusraw três anos depois começou uma nova perseguição e os mazdaitas foram caçados ao longo da Pérsia. Porém, um remanescente parece ter continuado agindo secretamente, passando suas doutrinas e práticas às seitas estrangeiras que surgiram dos ismaelitas e haxixins, cismáticos do corpo principal do Islã. Por seus esforços em defender o zoroastrianismo foi dado a Khusraw o título de Nushirwan-Anushak-Ruban — "espírito imortal" — e ainda é venerado pelos persas como um herói religioso.
Infelizmente não sabemos praticamente nada dos detalhes desse fato, que no final das contas foi o episódio histórico principal. Algumas das fontes do zoroastianismo, islamismo e cristianismo, vieram através de testemunhas oculares, substituídas abusivamente por economistas e sociólogos. Sabemos menos ainda sobre o comunismo atribuido ao círculo interno dos primitivos manichaeanos, cujos oponentes se chamavam zandiques, que correspondem com os cathari entre os últimos albigenses europeus descendentes dos manichaeanos. O comunismo entre os zandiques aparentemente foi praticado por uma minoria que escolheu seguir conselhos de perfeição semelhante aos monges cristãos. Muito mais que o mazdaismo, que floresceu dentro dos limites do império sassaniano, o manichaeanismo, e depois o agnosticismo, influenciou profundamente o desenvolvimento da heresia islâmica. Desde então, mais especialmente em seus primeiros dias, o islã participou especialmente no caráter de uma imenso bando de nômades conduzidos por caravanas mercantes, invadindo sociedades estabelecidas dentro de seu perímetro de expansão — a guerra do estepe contra a areia — sempre havia um elemento de comunalismo pirata em sua ética social e em menor grau em sua prática. Embora Maomé fosse um comerciante e falasse para as comunidades mercantis de Meca e Medina, a distinção entre invasores beduinos e comerciantes mercadores é bem nebulosa. O posterior evoluiu do anterior e permaneceu dependente dele. A diferença essencial estava entre pilhagem e lucro. O bando nômade compartilhava a pilhagem, o comerciante guardava seu lucro para si. Assim essas comunidades islâmicas de hereges que praticaram o comunismo normalmente eram os piratas do deserto e da estepe, como os haxixins, uma sociedade secreta de extorcionistas.
A fonte da maior heresia islâmica não está no corpo principal do mohammedanismo, o sunnism, a religião da maioria dos árabes e dos habitantes das terras conquistadas e mantidas, mas no chia, a religião da Pérsia. Os chutas rejeitam a noção de um califa eleito e de um clero que sempre funciona como um tipo de rabinato com um corpo legislativo sujeito à discussão — como no Talmud — a favor de um califa hereditário descendente do profeta Ali, o genro de Maomé, que por uma linha de divindade ordenava sete ou doze sucessores, dependendo da seita, imams que adquiriam o caráter de emanações diretas da deidade. Na Pérsia essa linhagem também descende do último dos reis sassanianos pela filha Yazdigird, Harar, a gazela, esposa do mártir Husayn, e mãe de Ali Asghar. Assim, combinado a uma linha hereditária, ocorre uma mística encarnação divina no Rei Persa, (o helenístico Basileus ó Sotef) e em Ahura Mazda. O iman final é oculto, para ressurgir apenas no fim do mundo na forma de um Salvador ou Mahdi, normalmente inacessível, mas representado diante das pessoas através de missionários, ou dais, que o revelam clandestinamente. As vezes mahdi e imam são identificados ou, como na dinastia Fatimid do Egito, funcionam como verdadeiros governantes. Entre os ismaelitas o último desaparecido é Sete que reaparecerá, como na Segunda Vinda de Cristo, no fim do mundo. Na maioria das seitas ismaelitas ele é a emanação final da série de sete, não confundir com os sete imams que são todos espiritualmente idênticos, mas de um caráter metafísico, gnóstico, similar aos aions dos valentinianos gnósticos ou aos sephiroth da kabala judia. Nós estamos lidando aqui com emanacionismo, soteriologia, e um apocalipticismo que remonta ao amanhecer da religião no Oriente Próximo — por exemplo, a egípcia "teologia de Memphite", encontra analogia na mahayana budista. A semelhança com a forma prevalecente do zoroastrianismo, uma religião que se pronunciou amplamente nos haxixins antes da conquista muçulmana, como uma de suas expressões mais hereges. O chiísmo tem sido qualificado como a revolta da Pérsia contra o sunismo árabe, embora o chiísmo tenha florescido por um tempo no Egito, e até mesmo em lugares distantes como Espanha e Indonésia. É a atual religião na Pérsia, e dos ismaelitas na índia cujo mahdi é Aga Khan.
Tanto em estrutura como em doutrina a maioria das formas avançadas de chiísmo se assemelha aos boxes chineses, um governo hierárquico inacessível, uma religião oculta, uma série inclusiva de mistérios cujo segredo final é que não há mistério algum. A atração de tal religião e sociedade secreta é grande, especialmente quando associada com o poder mundano atual.
Contemporaneamente, ao estabelecimento da dinastia fatimida em Trípoli no final do século IX e à conquista do Egito em 972 A.D. uma seita estreitamente relacionada com os carmathianos desenvolveu-se na parte mais baixa do vale mesopotâmico e ao longo da costa noroeste do Golfo Persa.. O califado do sunita ortodoxo Abbasid em Bagdá ficou preocupado com uma grande revolta de escravos negros, a insurreição de Zanj. Os carmathianos tentaram uma aliança com os líderes de Zanj. Isso provou ser impossível, mas eles puderam estabelecer uma oposição paralela, depois da supressão da revolta de Zanj os carmathianos não apenas controlaram secretamente a costa norte do Golfo Persa, como também organizaram a subversão no lêmem, na Síria, e na própria Bagdá. Em 900 A.D. as tropas do califado foram derrotadas em Basra e dali em diante os carmathianos passaram a controlar Bahrayn, eventualmente Basra, e muitas outras cidades entre a Mesopotâmia e a Arábia, cortando as rotas de peregrinagem para Meca, e normalmente as conexões marítimas de Bagdá. Aqui eles estabeleceram o que provavelmente foi a única sociedade comunista a controlar um grande território, mantendo esse controle por mais de uma geração, antes do século XX.
Os carmathianos também atacavam as caravanas de peregrinos para Meca, muitas vezes matando milhares de pessoas, atacaram cidades tão longínquas quanto Damascus, onde eles parecem ter estabelecido um considerável corpo de seguidores secretos. Finalmente eles atacaram a própria Meca e levaram a Pedra Preta sagrada, o objeto mais santo do Islã, junto com uma imensa pilhagem (928 A.D.). Dentro do próprio bahrayn havia um completo e absoluto comunismo. Os cidadãos não pagavam nenhum tributo ou imposto; seu bem-estar estava garantido desde o nascimento até a morte, na doença ou na saúde. Todo trabalho duro, servil, ou desagradável era executado por escravos negros que parecem ter sido os remanescentes derrotados da revolta de Zanj que fugiram para seus semi-aliados e voluntariamente preferiram a escravidão com os carmathianos do que o extermínio com os sunitas. Os ortodoxos acusaram os carmathianos de comunidade de mulheres (as mulheres eram de todos) e de todas as formas de orgias. Na verdade eles eram estritamente monógamos, uma casta militar um pouco parecida com os guardiães de Platão ou os Cavaleiros Teutônicos, conduzindo uma vida severamente rígida, pura e regulada. O uso de vinho e todos os vícios secundários eram estritamente proibidos. As mulheres não usavam véus, circulavam livremente em público e exerciam uma influência considerável. Os carmathianos não eram obrigados a cumprir as ordenanças específicas do Islã, nem mesmo encontros de sexta-feira, orações diárias, ou comer alimentos sagrados. As práticas esotéricas do mohammedanismo foram substituídas pelo culto à Luz, um misticismo contemplativo relacionado ao sufismo, bem parecido com o do maior teólogo sufi, Ibn ei Arabi. Como os sufis os carmathianos se vestiam exclusivamente de branco e colocavam grande ênfase na moral e na pureza física. Nós ainda estamos no mundo dos essênios, do therapeutae, e da luz pela emanação da luz dos philo judaeus. Se algumas acusações de seus perseguidores ou algumas tradições secretas de ocultismo dos cavaleiros templares forem verdadeiras, esta é a fonte.
Em 1084 A.D. Bahrayn foi subvertida, mas surgiu um outro domínio ismaelita, uma nova irmandade de mistério e aventura, os haxixins, que se estendeu ao longo do Norte da Síria e no Mar Cáspio. Baseado em uma série de comunidades-fortalezas no remoto deserto ou em áreas montanhosas das quais Alamut foi a mais famosa e a que mais tempo durou, os haxixins estiveram ativos durante todo o período das Cruzadas como uma irmandade secreta de extorcionistas — e haxixins — que espalhou o terror por todo o Oriente Próximo. Eles pilhavam, influenciavam politicamente, e impunham respeito tanto em cristãos como em muçulmanos. O comunismo autoritário dos carmathianos abriu caminho para um puro autoritarismo. Seus adeptos eram provavelmente controlados por uma espécie de hipnose de massa induzida pelo excessivo uso do haxixe, daí seu nome, haxixins. Suas fortalezas foram destruídas e eles foram exterminados quase que completamente pelos mongóis sob o comando de Hulagu, que aparentemente nutria um ódio especial contra eles. Depois de capturarem o grande mestre de Alamut, o enviaram para Hulagu, mas escapou, eles sobreviveram como seguidores de Aga Khan.
Os carmathianos e os haxixins são os primeiros claros exemplos de uma sociedade comunal de mútuo-benefício vivendo da pilhagem de outras comunidades. Tal organismo pode ser apenas intersticial e funciona nos pontos divisórios entre as classes de um Estado altamente organizado, nas brechas entre dois Estados antagônicos, ou na periferia das sociedades altamente organizadas. Este é o comunismo da gangue urbana ou bando pirata de ladrões em tempos de desorganização social — como o bando imortalizado pela novela chinesa, The Water Margin (Ali Men Are Brothers), e naturalmente, nos contos de Robin Hood. Os carmathianos floresceram do antagonismo entre fundamentalistas árabes e civilizações persas. Os haxixins, a mais famosa das muitas comunidades similares que praticava um esoterismo religioso, sobreviveram saqueando seus vizinhos ao longo das fronteiras ao Norte da Pérsia, no Cáucaso, ao longo do Mar Cáspio, e por todo Oxus, o atual Afeganistão.
Antes das Cruzadas, a civilização islâmica era incomparavelmente mais adiantada e rica do que a Europa Ocidental. As Cruzadas em si eram uma espécie de brigada religiosa, da mesma maneira que o islã tinha sido, quando os beduínos e mercadores da Arábia pilharam o império bizantino. Assim não é extraordinário que o tipo de organização inventada pelos carmathianos e haxixins acabou sendo adotada pelos cruzados. Os cavaleiros templares e outras ordens militares eram no princípio sociedades similares, autoritárias, comunistas, de bandidos religiosos, só distinguidos pelos seus votos de celibato.
Se aceitarmos qualquer uma das acusações feitas contra os templários quando foram suprimidos por Filipe, o Belo, em 1307, veremos que eles não apenas copiaram a estrutura organizacional dos haxixins como também sua classificação esotérica, que conduzia a um deísmo céptico, acompanhado por ritos e práticas que os ortodoxos consideraram blasfemas e obscenas. Os templários foram acusados de cuspir na cruz em sua iniciação, de pederastia institucionalizada, e de orgias noturnas, mas eles foram suprimidos porque haviam se tornado a organização mais rica da Europa e um estado dentro do estado, independente de reis e do papado, como também uma imensa corporação de "banqueiros internacionais".
Nas costas do Báltico e no interior, os cavaleiros teutônicos tinham uma organização semelhante à dos militares ordenados cruzados exceto quando se fixavam em um território específico. Da mesma forma que os templários sucederam aos haxixins e carmathianos, os cavaleiros teutônicos foram os sucessores das comunidades pagas varangianas que povoavam as vias fluviais desde o Báltico até o Mar Negro, comunidades fortificadas de mercadores-guerreiros escandinavos consideradas parte das populações mais bárbaras entre os Finns, Letts, e eslavos. Aparentemente eles praticaram uma economia de bando de ladrões, compartilhando a riqueza, mas com a maior parte do roubo indo para seus chefes. Eles não eram celibatários como os cavaleiros teutônicos. Suas mulheres eram escravas concubinas tomadas de povos circunvizinhos, e em alguns casos aparentemente eram imoladas quando seu chefe ou senhor morria. Uma das principais mercadorias de comércio dos impérios bizantino e persa era o tráfico de escravos loiros. As colônias varangianas da grande Rússia nunca conseguiram se unir para formar um único estado escandinavo, embora estabelecessem as fundações da monarquia kievan, e até mesmo os Romanovs reivindicavam ser descendentes deles. Porém, durante algum tempo, no período viking, osjomsvikings da cidade-fortaleza de Jomsburg, em algum lugar na costa do sudoeste do Báltico (o local nunca foi identificado com certeza) funcionou como um estado comparável à Noruega, Suécia, e Dinamarca.
A conquista dos mongóis destruiu o poder escandinavo na Rússia e arrasou a região do Báltico. Da mesma forma que os mongóis subjugaram o interior e destruíram os domínios eslavos e varangianos no princípio do século XIII, os cavaleiros teutônicos mudaram suas atividades da Terra Santa para a Prússia paga sujeitando a população finlandesa e eslava numa guerra de genocídio, e eventualmente chegaram a controlar toda costa ao sul do Báltico.
Este tipo predatório, parasítico, de associação em mútuo benefício, gradualmente abandonou suas características comunistas e religiosas para, no começo da era capitalista, emergir nas grandes companhias de comércio orientais, nas companhias holandesas e nas companhias inglesas da índia oriental e corporações semelhantes, tomando a forma de algo parecido com uma mistura de brigadas militares com mercadores.
Em tais sociedades as relações contratuais jurídicas ou implícitas que prevalecem entre os sócios e que são escassamente sentidas, são trocadas por uma calorosa fraternidade de homens unidos pelo constante perigo e pela esperança de riqueza sem trabalho duro. Obediência, lealdade até a morte, completa devoção pela causa, ajuda sacrificatória para irmãos em angústia, coisas como estas florescem muito mais em sociedades de bandidos do que entre cidadãos refinados de uma comunidade estável. Como um corpo que cresce em antagonismo aos valores das sociedades às quais não pertence, sejam mais civilizadas ou mais bárbaras. Essa relação ganhou força apresentando uma face misteriosa a todos os estranhos, desenvolvendo onerosos ritos de iniciação e de graduação progressiva. Nos círculos mais altos que deliberadamente treinam e manipulam os graus mais inferiores, normalmente prevalece um completo ceticismo e quando alguém é admitido ao governo, ao alto conselho, o último segredo a ser revelado é que não há segredo algum. Outra característica de tal sociedade foi a impiedosa purgação de todos os sócios desde a base até o topo que não conseguiam se adaptar a mudanças rápidas no governo ou na política. Tais comunidades dependeram de obediência absoluta e da mais perfeita forma de autoridade que se estreita continuamente até que desaparece no topo de um pináculo, o princípio metafórico da própria autoridade. Tais sociedades, como os templares, os jesuítas, os bolcheviques, sempre encheram as grandes sociedades circunvizinhas de terror, sendo tema de lendas horrorizantes, e de cruéis perseguições.
Historiadores científicos dedicados a uma ponderação não-emocional das evidências, e normalmente comprometidos pelo evangelho social do neoliberalismo, quase sempre negaram as acusações de conduta ultrajante e obscena lançadas contra sociedades secretas, grupos heréticos, e movimentos ocultos, como produtos das mentes doentias de seus acusadores. Isso se deve em parte a um compromisso anterior com a doutrina da bondade inerente do homem.
Foram dedicadas muitas páginas para provar que os carthaginianos não sacrificavam bebês a Moloch, que nunca houve pederastia no Monte Athos, ou que as bruxas não passavam de mulheres loucas ou velhas. Se desejar, alguém pode rejeitar uma evidência, mas certamente há um monte de outras evidências apontando para o lado oposto. As bruxas da Europa e da Nova Inglaterra podem ter confessado debaixo de tortura coisas que nunca fizeram, mas no mundo inteiro, na Ásia, África, e na América primitiva as bruxas e chamans faziam precisamente as mesmas coisas.
* * *
A relação social que prevaleceu na comunidade da aldeia neolítica nas férteis regiões agrícolas desde os estepes da grande Eurásia até as planícies do Danúbio através da Ucrânica e da Sibéria — que o ecólogo americano chamaria de clímax da pradaria de grama extensa — suportou por milênios, de certo modo até o século XX. O ambiente era tal que permitia um excedente agrícola sumamente estável, baseado em pequenos grãos e na domestificação sedentária de animais domésticos para a obtenção de carne e leite. Tais comunidades estavam continuamente sujeitas à invasão de pastores nômades que vagavam ao longo do grande mar de estepe que se estendia diante deles. A maioria dos estados centralizados penetravam nessas comunidades de pastores através de nômades, que por muitas gerações iam e vinham, infiltrando-se cada vez mais dentro dessas comunidades.
Até a imposição da servidão na era moderna, o modo de vida adotado em uma típica aldeia ucraniana ou na Grande Rússia remonta de um tempo tão longínquo que é necessário seguir seus rastros arqueológicos, tal modo de vida provou ser singularmente resistente tanto ao estilo eslavo de feudalismo como a sua servidão posterior. A comunidade camponesa eslava sobreviveu à abolição da servidão e as únicas tentativas parcialmente bem sucedidas de estado e as novas classes altas até mesmo para "libertar os servos" e estabelecer um trabalho assalariado e uma agricultura de semeadura — que permitiria a acumulação primitiva necessária ao desenvolvimento capitalista. Até mesmo a longa luta dos bolcheviques para industrializar a agricultura, as pequenas comunidades, e substituir cidades agrícolas por vastas fazendas e coletivos estatais nunca foi completamente bem sucedida. A agricultura coletivizada da moderna Rússia, embora altamente racionalizada e comunalista (talvez na teoria), fica bem aquém na produtividade per capita por acre da Europa Ocidental, bem menor que a americana em termos de agricultura em larga escala, e há muito provou ser menos produtiva que nos velhos tempos das fazendas mistas de duzentos acres do meio oeste americano. Isto é verdade não apenas nas terras eslavas, como também especialmente na Ucrânia, considerada uma das terras mais férteis do mundo.
Milhares de anos atrás, quando o primeiro homem entrou nessa região, ele desenvolveu um modo de vida e uma espécie de comunidade, quase perfeitamente ajustada àquele meio ambiente especial. Qualquer tentativa de alterá-lo trouxe apenas desordem, ineficiência e desmoralização. Durante cinqüenta anos todo congresso do Partido Comunista ou Soviético se deparou com uma crise agrícola permanente, porém os fatos sempre foram disfarçados pela oratória.
A literatura russa e a teoria revolucionária, com exceção do marxismo, é pontilhada pelo misticismo da comunidade camponesa russa. Tipicamente, os socialistas revolucionários, em sua maioria partidários da Revolução Russa, esperavam reorganizar a sociedade russa tendo como modelo a sociedade camponesa, a mir, ou até mesmo a unidade administrativa da classe alta, a zemstvo — em outras palavras eles pretendiam realizar uma espécie de camponesação de toda estrutura industrial e cívica. Na realidade, os primitivos sovietes eram compostos por trabalhadores, cidadãos comuns, soldados, marinheiros, em sua maioria vindos, durante uma ou duas gerações, de aldeias camponesas. Estes sovietes cresceram espontaneamente na revolução de 1905.
Não há dúvida de que a comunidade camponesa foi altamente influenciada pelo movimento populista revolucionário Narodnaya Volya — "a vontade do povo" do século dezenove — dos revolucionários socialistas. Milhares de homens e mulheres jovens bem educados "iam até o povo" acreditando que se o camponês fosse educado ele reproduziria espontaneamente um comunismo eslavo especial que resgataria a sociedade industrial — eventualmente em todo o mundo. Os fatos brutais da vida camponesa são bem retratados nas narrativas de Chekhov, e é provável que os revolucionários sociais esquerdistas encontraram dificuldades em introduzir em aldeias neolíticas a ética da modernidade fabril e bancária pela qual os bolcheviques pretendiam industrializar a agricultura. Some-se a isso o fato de que formas comunais com origem na mais remota antigüidade, reaparecem naturalmente, se bem que brevemente, na Revolução de 1905, e na Revolução de 1917 até que os sovietes e as fazendas comunais fossem suprimidas pelos bolcheviques dois anos após o ataque implementado pelo poder.
Nos tempos modernos, naturalmente, as aldeias e comunidades não eram comunistas. Estavam bem distantes de compartilhar as coisas em comum. A pobreza e o grau de exploração tornava o camponês desesperadamente avarento. Porém, a dissensão russa é caracterizada por uma tendência global voltada para o comunismo. O anabatismo russo aparece na história ao mesmo tempo que no Ocidente — durante o século XVI — mas, como no Ocidente, há indicações de que adotou uma existência oculta e clandestina que remonta aos primeiros séculos do cristianismo na Rússia. As duas principais seitas batistas, a doukhobors e a molokani, brotaram continuamente fora dos grupos comunalistas que usualmente eram radicalmente suprimidos, porém inofensivas e insignificantes. Este processo teve seqüência nas comunidades imigrantes no Canada, América do Sul, e Estados Unidos, mas nenhum dos movimentos cismáticos durou muito tempo. Há um certo número de seitas extremadas que se assemelham um pouco com os gnósticos e manichaeans, e que podem ser relacionadas com o movimento paulican-bogomile-cathari-albigensian que se espalhou na Idade Média desde a Ásia Menor até o sul da França. Outros grupos como os shlisti e os skoptsi, que embora praticassem cultos orgiásticos e extáticos, eram celibatários ao ponto de se castrar, semelhantes aos mandeanos dos pântanos da Mesopotamia, ou a alguns dos cultos mais extremados que se desenvolveram fora do Islã xiíta, como ocorreu no cristianismo. A base camponesa e a selvagem perseguição sofrida criou freqüentemente a prática de um comunismo forçado entre eles, mas nunca estabeleceram comunidades permanentes onde todas as coisas eram possuídas em comum.
Depois que os huteritas e menonitas se instalaram na Rússia eles exerceram uma certa influência na sociedade camponesa ao seu redor. Lá ainda existem anabatistas que falam o russo e os que são essencialmente menonitas, mas não há notícia de comunidades puramente russas que seguem o modo de vida estrito do comunalismo huterita.
Nos primeiros anos que se seguiram após os bolcheviques tomarem o poder, estes esperavam usar o comunalismo inerente à dissensão russa no desenvolvimento de um programa de fazendas comunais, distintas das fazendas coletivas. Durante algum tempo tais fazendas, lideradas por dissidentes e seculares, floresceram a despeito da intromissão burocrática. Com a ordem de Stalin para a coletivização da agricultura, o Plano Qüinqüenal, e a supressão de toda dissidência política, como a "trotskysta", tanto as fazendas comunais como as fazendas dissidentes foram suprimidas, e oficialmente liquidadas. É provável que durante as grandes purgações foram exterminados cinqüenta por cento de todos os dissidentes russos, especialmente aqueles cujo modo de vida pudesse ser interpretado como heresia política.
Entre todos aqueles que idealizaram a comunidade camponesa eslava e o comunalismo inerente aos dissidentes russos, sem dúvida o mais influente, enquanto pessoa única não como partidário populista, foi Leo Tolstoi. Sob sua inspiração muitas pequenas comunidades de intelectuais se dedicaram ao comunismo, pacifismo, vegetarianismo, e à disseminação de uma religião mística e secularizada que se espalhou pela Rússia e por todo mundo principalmente nos finais do século XIX e no princípio do século XX. Freqüentemente, como os anabatistas poloneses, os proprietários de terras transformavam suas propriedades em comunidades, convidavam seus amigos boêmios da cidade, e "seus" camponeses para compartilhar na edificação do núcleo de uma sociedade nova no útero da velha. Como era de se esperar, poucas delas duraram mais que um par de anos e as histórias tragicômicas a respeito delas chegaram até nossos dias. Embora se saiba que houve muitas comunidades desse tipo, algumas delas exitosas, não há nenhum registro delas em nenhum idioma do Oeste Europeu, a menos que o checo seja classificado como tal. Os iugoslavos e os checos durante o breve período de sua história de liberdade intelectual mostraram um grande interesse por todos os aspectos da história, religiosa e secular, camponesa e industrial, dos grupos e movimentos comunistas.
Uma característica especial do desenvolvimento russo no final do século XIX e começo do século XX foi o estabelecimento de industriais ricos, que também eram grandes proprietários de terras, que subsidiavam em algo grau várias comunidades de artistas. Estes, naturalmente, embora fortalecidos em suas comunidades, estavam longe de ser agrupamentos econômicos comunistas. Entre eles estavam alguns dos principais artistas da Rússia pre-revolucionária, os quais exerceram uma profunda influência na arte russa e indiretamente nos primeiros conceitos dos baileis russes. Na medida que seus membros emigravam, sua influência se estendeu também até o Ocidente. No famoso bauhau, quase todos seus líderes eram comunistas livres e muitos deles estiveram na Rússia nos primeiros e excitantes dias pré-revolucionários, e passaram sua breve existência na República de Weimar, numa tentativa de realizar suas esperanças destroçadas enquanto construtivistas, confuturistas e outros modernistas na forma de uma comunidade de artistas que dedicaria seu trabalho e ensino revolucionando a mente da sociedade capitalista. Aliás, Hitler destruiu o bauhaus e dispersou os artistas, a maioria deles se tornaram completos capitalistas atuando em projetos de desenho industrial e de arquitetura nos Estados Unidos.
Considerações sobre os levantes populares no Norte da África
O que está acontecendo hoje no Norte da África é o seguinte: de cada 3 barris de petróleo produzidos no mundo 2 saem dali, e essa riqueza toda tá concentrada nas mãos de meia dúzia de famílias. Essa situação não poderia sustentar-se eternamente, daí o levante. Toda essa rebeldia tornou-se possível devido à uma nova tecnologia de comunicação. Pessoas comuns com um mínimo de recursos, conhecimento e condições, podem comunicar-se entre si a partir de qualquer lugar do mundo. Isso nunca aconteceu na história da humanidade.
Ao mesmo tempo em que essa tecnologia de comunicação horizontal avança ela progressivamente toma o lugar das velhas formas de comunicação verticais, monopolizadas pelos detentores do poder político, militar e econômico.
Enquanto uma câmera fixa da TV Estatal de Mubarak apontava para ruas desertas, sugerindo calma e estabilidade no Cairo, no mesmo momento, milhares de celulares e microfilmadoras colhiam imagens da Praça Tharir, sugerindo exatamente o contrário da emissora Governamental, e as enviavam para emissoras de TV como a Al Jazeera, twitter, facebook, para quem quisesse ver.
A cada dia fica mais claro para o homem comum que esses grandes meios de comunicação de massa têm como objetivos principais ganhar dinheiro satisfazendo a sanha pela satisfação de desejos criados artificialmente por essas próprias mídias e ou manter o status quo político e econômico, para resguardar os interesses daqueles que detém esses poderes.
Essas revoltas que eclodem no Norte da África estão diretamente relacionadas com a má distribuição de renda, com a má distribuição de riqueza.
Em minhas viagens pelo Egito e Marrocos pude testemunhar ofertas de pernoite que variavam de 20 a 2.000 dólares a diária em hotéis. Coisas assim despertam a consciência nas pessoas. Há algo de muito errado nesse mundo. E não é preciso ler Marx nem Bakunin para saber disso.
Esse quadro não é exclusivo do Norte da África, ele está presente em toda Europa, Ásia, Américas, em toda parte.
Os egípcios, líbios, Tunisianos, abriram um rombo num muro que parecia intransponível. Essas revoltas podem chegar a qualquer lugar da terra, pois em toda parte, hoje e como nunca, há grandes concentrações de riquezas e poder nas mãos de poucas pessoas.
Nossos irmãos árabes estão mostrando o caminho: Coragem, determinação e disposição de oferecer a própria vida, se preciso for, por justiça e liberdade. Quem se habilita?
Pichações na Líbia
"Não tenha medo do seu opressor", diz pichação do "Soug Aljoumaa de Trípoli". Grupo composto de jovens manifestantes que queimam estabelecimentos governamentais e delegacias de polícia, mas poupam escolas e bancos. Não são jovens drogados, como Gadafi os acusa.
segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011
sábado, 19 de fevereiro de 2011
Da Tunísia para o Cairo, do Cairo para Riad?
Por keh adaptado
"Será que essa turbulência chegará até aqui? Preferiria não viver a descobrir" Karen Elliott House
Adaptado a partir de um texto de Karen Elliott House: Da Tunísia para o Cairo, do Cairo para Riad? - WSJ.com
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Em qualquer regime autoritário, a instabilidade parece impensável até o momento da turbulência, e isso é verdade hoje na Arábia Saudita. A influência estadunidense no Oriente Médio, já em franca decadência, tende a piorar. Os EUA em breve enfrentarão as consequências surpreendentes da instabilidade na Arábia Saudita, seu mais importante aliado entre os países árabes.
Apesar da crença da inabalabilidade da Arábia Saudita por causa de seus bilhões de dólares em receitas de petróleo. E apesar de seu unipresente sistema de inteligência ter até agora permitido a manutenção do regime comprando lealdade ou intimidando sua população passiva, as coisas podem sair totalmente dos trilhos.
O risco do governo da família al Saud pode ser resumido em uma frase: o fosso entre governantes e os jovens cresce drasticamente na medida em que a lacuna de informação entre governantes e governados aumenta. A média de idade do triunvirato real que decide tudo é de 83 anos, enquanto que 60% dos sauditas têm menos de 18 anos de idade. Graças à televisão via satélite, Internet e meios de comunicação social, os jovens sabem da corrupção nos orgãos governamentais. Além disso, 40% dos sauditas vivem na pobreza e quase 70% não podem adquirir uma casa. Estes sauditas vivem vidas de Terceiro Mundo, sofrem com educação deficiente e não encontram empregos no setor privado, onde 90% de todos os funcionários são não-sauditas importados. Através dos novos meios de comunicação os jovens comparam sua situação miserável com a condição nababa dos sheiks que vivem próximos ao Golfo e no Ocidente.
Ao longo dos anos, a família real, agora com cerca de 7.000 príncipes, permeia todos os cantos da vida na Arábia Saudita, mas perdeu o respeito do público nesse processo. Quase tudo na Arábia Saudita, desde negócios privados a governamentais, é encabeçado ou controlado pelos principes.
Para agravar o problema tais governantes reais estão doentes, velhos, quase todos estão fora do forma. O rei Abdullah teve que afastar-se, há três meses recebe tratamento médico nos EUA e no Reino de Marrocos. O príncipe Sultan, 85 anos, com câncer e Alzheimer, raramente é visto em público. Completando o triunvitato das decisões, o vice-primeiro ministro, príncipe Naif, tem 77 anos e sofre de diabetes e osteoporose.
Quem ocupará o lugar deles? Ninguém sabe. O que assusta muito a família real e muitos sauditas é que a sucessão, que historicamente tem passado de irmão para irmão, em breve terá de saltar para uma nova geração. Isso significa que apenas um ramo da família terá o poder, uma receita para um potencial conflito. Ou seja, 34 das 35 linhas sucessórias do fundador da família podem perder seus privilégios.
Na esteira dos recentes acontecimentos no Cairo, alguns preocupados jovens príncipes sinalizam o desejo de sustar a corrupção, atender demandas da população, e reformar a inútil burocracia governamental. "Estamos unidos na Arábia Saudita e manteremos a cola que mantém essa união", disse um deles.
O que esses príncipes reformistas não conseguem entender -- nem mesmo reconhecer diante de estranjeiros -- é o fato de muitos jovens sauditas não respeitarem nem temerem a família real . Pelo contrário, cada vez mais se ressentem da indignidade inerente de ter de mendigar direito público aos príncipes como se fosse favor.
Frustrados diariamente por estas indignidades, os jovens sauditas experimentam drogas, roubam carros e vandalizam propriedades governamentais. Os sauditas em todos os níveis da sociedade tornam-se cada vez mais iníquos, imitando os seus dirigentes, fazendo o que podem para se safar. Um recente alvo da ira jovem é um novo sistema de vigilância por câmeras. O sistema é repetidamente vandalizado por jovens que afirmam que as multas enriquecem o ministro do Interior, que também é responsável pelas invasivas agências de inteligência no reino. O jovens sauditas protestam contra a corrupção real e contra a intromissão estatal em suas vidas.
De qualquer forma, entre os sauditas, há os que não desejam a democracia. Eles temem que tradicionais divisões tribais, falta de políticas e de organização social, aumentem a desordem, mesmo entre os religiosos conservadores com suas 70.000 mesquitas. Se no Egito, a Irmandade Muçulmana é considerado uma ameaça potencial, o mesmo pode ser dito na Arábia Saudita onde grupos assim campeiam por toda parte.
Os sauditas querem o mesmo padrão de serviços fornecidos pelos governos ricos: boa educação, emprego, saúde decente. Eles reivindicam o direito de intervir nos problemas políticos e econômicos que afetam suas vidas. No entanto, quando um professor de religião na Universidade Imam sugeriu em novembro, via Internet, aos sauditas publicar suas conversas privadas sobre a sucessão, foi preso.
"A diferença entre reforma e reivindicações de nossos jovens é cada vez maior", adverte um príncipe sênior. "É uma corrida contra o tempo porque os jovens cansaram do status quo, cansaram de conversa". A Arábia Saudita não é o Egito. Mas, mesmo aqui, na mais estável e desenvolvida das sociedades árabes, o tempo está se esgotando.
sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011
Medica Chora em Bahrein
segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011
Trotskismo & Islamismo
O trotskismo atual — com sua ilusão neoleninista — a cada momento desmentido pela realidade da sociedade capitalista moderna, tanto burguesa como burocrática, encontra naturalmente um campo de aplicação privilegiado nos países "subdesenvolvidos" formalmente independentes, onde a miragem de uma variante qualquer de socialismo estatal e burocrático é conscientemente manipulada (como simples ideologia do desenvolvimento econômico) pelas classes dirigentes locais. A composição híbrida destas classes configura mais ou menos nitidamente um degradado espectro burguês-burocrático.
O seu jogo, em escala internacional, entre estes dois pólos do poder capitalista existente (burgues e burocrático), assim como os seus compromissos ideológicos com o islamismo, exprimem a realidade híbrida da sua base social e acabam por retirar a este último subproduto do socialismo ideológico toda a seriedade, salvo a policial.
Uma burocracia formada pelo enquadramento da luta nacional e da revolta agrária dos camponeses tende, como na China, a aplicar o modelo estalinista de industrialização numa sociedade menos desenvolvida que a Rússia de 1917. Nos 30 anos da ditadura de Mubarak, sua burocracia foi capaz de industrializar o Egito contando apenas com a pequena burguesia e os quadros do exército no poder.
A Argélia ( hoje está em pleno furor revolucionário), que no fim da sua guerra de independência constituíra a burocracia como direção paraestatal durante a luta, procurou um ponto de equilíbrio para fundir-se com a fraca burguesia nacional.
Enfim, as antigas colônias da África negra até hoje abertamente ligadas à burguesia ocidental, americana ou européia, formam uma burguesia formada -- na maior parte das vezes, a partir do poder dos chefes tradicionais do tribalismo -- pela posse do Estado.
Os países onde o imperialismo estrangeiro permanece o verdadeiro senhor da economia, chegaram a um estágio onde os compradores receberam, em compensação da sua venda dos produtos artesanais, a propriedade de um Estado artesanal, independente face às massas locais mas não face ao imperialismo. Neste caso, trata-se de uma burguesia artificial que não é capaz de acumular, mas que simplesmente delapida, tanto a parte de mais valia do trabalho local que lhe cabe, como os subsídios estrangeiros dos Estados ou monopólios que são seus protetores.
A evidência da incapacidade destas classes burguesas a desempenhar a função econômica normal da burguesia ergue perante cada uma delas uma subversão segundo o modelo burocrático mais ou menos adaptado às particularidades locais que quer apoderar-se da sua herança. Mas o próprio êxito de uma burocracia no seu projeto fundamental de industrialização contém necessariamente a perspectiva do seu revés histórico: ao acumular capital ela acumula proletariado num país onde ele ainda não existia.
Esse novo proletariado que, pelo Poder Popular, hoje sacode Marrocos, Argélia, Tunisia, Egito, Líbano, Síria, Jordânia, Yemen, Bahrain, Irã, atropela ideologias trotskistas, neoleninistas ou neoestalinistas, enquanto aterroriza burocracias, burguesias e impérios. Que esse novo proletariado traga a inspiração que falta ao nosso mundo pelo seu exemplo de luta, coragem, determinação e desejo de liberdade.
=========================
Patetuitadas no Egito:
diretodoEgito Brasileiro no Egito
Hj tirei a bandeira da Conlutas na pça. Em 1min, 2 homens de terno chegaram, tiraram uma foto e foram embora sem dizer nada. Terno alinhado
Foram dois aspones de parlamentares do PSTU tirando fotos para ilustrar a manchete na capa do Conlutas: "PSTU derruba Mubarak!"
diretodoEgito Brasileiro no Egito
Mais cedo, carta de solidariedade da CSP-Conlutas foi lida num dos palcos da praça Tahrir para milhares de pessoas #egypt #egito #jan25
10 Feb Favorite Retweet Reply
"para milhares de pessoas". Tu não te manca, cara!
brunocsfa Bruno Alves
http://www.youtube.com/watch?v=FJsg-gXU4ZY cobrindo uma revolução, como fez Jonh Reed, @diretodoEgito @pstu, meu partido é assim
10 Feb Favorite Retweet Reply
Agora ele acha que é o Jonh Reed! E que o partido dele é a mais alta expressão da canalha bolchevique! Só falta o Zé Maria substituindo o Lênin em cima da carroça.
FabricioPSTU VIVA O SOCIALISMO!
Fonte: @diretodoegito #jan25 #Egypt O POVO DEVE GOVERNAR O EGITO! TODO O PODER AOS ORGANISMOS DA PRAÇA #Tahrir
10 Feb Favorite Retweet Reply
Aqui ele troca "todo poder aos conselhos" por "todo poder aos organismos da praça [partido bolchevique]", talvez tenha sido uma troca como essa que, instituída por Trotsky, diluiu os conselhos de Kronstad!
Alguém pergunta
jrpenteado João Ricardo
@diretodoegito mano, ce mora aqui no brasil? e fala árabe? quem que tá te bancando aí?
10 Feb
Patetuitada:
leofreirejr Leôndidas Freire Jr
@
@zemaria_pstu @diretodoEgito Mubarak já foi agora é #ForaReithorLuísJrdaUFPI !!!
11 Feb Favorite Retweet Reply
Talvez o novo reitor agradeça repondo as despesas dessa estúpida viagem ao Cairo.
@noelnit
Rodrigo Noel Souza ✔
@marcellobertolo Concordo em parte. O @diretodoEgito noticiou fatos q nao eram ditos pela midia tradic.,alem de ser o 1o a noticiar a queda!
11 Feb via Mobile Web Favorite Retweet Reply
Merece um Oscar pela melhor cobertura! kkkk!
diretodoEgito Brasileiro no Egito
@
@marcellobertolo @noelnit um problema q tive aqui é o sigilo da direção do mov. Tb estao treinados pra falar só o programa comum.
12 Feb Favorite Retweet Reply
Ele ainda não aprendeu que na revolução a direção vem de baixo para cima e não de cima para baixo como no PSTU e nos golpes militares perpetrados por cães treinados (soldados do exército e polícia)
rosakenny kênia
@
@diretodoEgito impressionante como eles são bons em celebrar sem uma gota de álcool. devíamos aprender com eles, haha
12 Feb Favorite Retweet Reply
Alguém diga a esse pateta que no Islã ninguém toma esse veneno chamado bebida alcoólica
diretodoEgito Brasileiro no Egito
ñ consegui voltar p hotel com o tq de recolher, policia fechou o café. recebi hospitalidade de professores da usp, ótimos camaradas. #Egito
13 Feb Favorite Retweet Reply
Esses professores da USP devem ser os enviados especiais da Reitoria para avaliar os revolucionários. KKK!
O seu jogo, em escala internacional, entre estes dois pólos do poder capitalista existente (burgues e burocrático), assim como os seus compromissos ideológicos com o islamismo, exprimem a realidade híbrida da sua base social e acabam por retirar a este último subproduto do socialismo ideológico toda a seriedade, salvo a policial.
Uma burocracia formada pelo enquadramento da luta nacional e da revolta agrária dos camponeses tende, como na China, a aplicar o modelo estalinista de industrialização numa sociedade menos desenvolvida que a Rússia de 1917. Nos 30 anos da ditadura de Mubarak, sua burocracia foi capaz de industrializar o Egito contando apenas com a pequena burguesia e os quadros do exército no poder.
A Argélia ( hoje está em pleno furor revolucionário), que no fim da sua guerra de independência constituíra a burocracia como direção paraestatal durante a luta, procurou um ponto de equilíbrio para fundir-se com a fraca burguesia nacional.
Enfim, as antigas colônias da África negra até hoje abertamente ligadas à burguesia ocidental, americana ou européia, formam uma burguesia formada -- na maior parte das vezes, a partir do poder dos chefes tradicionais do tribalismo -- pela posse do Estado.
Os países onde o imperialismo estrangeiro permanece o verdadeiro senhor da economia, chegaram a um estágio onde os compradores receberam, em compensação da sua venda dos produtos artesanais, a propriedade de um Estado artesanal, independente face às massas locais mas não face ao imperialismo. Neste caso, trata-se de uma burguesia artificial que não é capaz de acumular, mas que simplesmente delapida, tanto a parte de mais valia do trabalho local que lhe cabe, como os subsídios estrangeiros dos Estados ou monopólios que são seus protetores.
A evidência da incapacidade destas classes burguesas a desempenhar a função econômica normal da burguesia ergue perante cada uma delas uma subversão segundo o modelo burocrático mais ou menos adaptado às particularidades locais que quer apoderar-se da sua herança. Mas o próprio êxito de uma burocracia no seu projeto fundamental de industrialização contém necessariamente a perspectiva do seu revés histórico: ao acumular capital ela acumula proletariado num país onde ele ainda não existia.
Esse novo proletariado que, pelo Poder Popular, hoje sacode Marrocos, Argélia, Tunisia, Egito, Líbano, Síria, Jordânia, Yemen, Bahrain, Irã, atropela ideologias trotskistas, neoleninistas ou neoestalinistas, enquanto aterroriza burocracias, burguesias e impérios. Que esse novo proletariado traga a inspiração que falta ao nosso mundo pelo seu exemplo de luta, coragem, determinação e desejo de liberdade.
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Patetuitadas no Egito:
diretodoEgito Brasileiro no Egito
Hj tirei a bandeira da Conlutas na pça. Em 1min, 2 homens de terno chegaram, tiraram uma foto e foram embora sem dizer nada. Terno alinhado
Foram dois aspones de parlamentares do PSTU tirando fotos para ilustrar a manchete na capa do Conlutas: "PSTU derruba Mubarak!"
diretodoEgito Brasileiro no Egito
Mais cedo, carta de solidariedade da CSP-Conlutas foi lida num dos palcos da praça Tahrir para milhares de pessoas #egypt #egito #jan25
10 Feb Favorite Retweet Reply
"para milhares de pessoas". Tu não te manca, cara!
brunocsfa Bruno Alves
http://www.youtube.com/watch?v=FJsg-gXU4ZY cobrindo uma revolução, como fez Jonh Reed, @diretodoEgito @pstu, meu partido é assim
10 Feb Favorite Retweet Reply
Agora ele acha que é o Jonh Reed! E que o partido dele é a mais alta expressão da canalha bolchevique! Só falta o Zé Maria substituindo o Lênin em cima da carroça.
FabricioPSTU VIVA O SOCIALISMO!
Fonte: @diretodoegito #jan25 #Egypt O POVO DEVE GOVERNAR O EGITO! TODO O PODER AOS ORGANISMOS DA PRAÇA #Tahrir
10 Feb Favorite Retweet Reply
Aqui ele troca "todo poder aos conselhos" por "todo poder aos organismos da praça [partido bolchevique]", talvez tenha sido uma troca como essa que, instituída por Trotsky, diluiu os conselhos de Kronstad!
Alguém pergunta
jrpenteado João Ricardo
@diretodoegito mano, ce mora aqui no brasil? e fala árabe? quem que tá te bancando aí?
10 Feb
Patetuitada:
@diretodoEgito
Brasileiro no Egito
@jrpenteado Oi!sim, no brasil, estudo árabe (aqui dependo + d tradução), e quem banca a cobertura são os trabalhadores que constroem o pstu.
11 Feb
Seria mais honesto dizer: Quem banca são os 62% que meu deputado ganhou de aumento.
leofreirejr Leôndidas Freire Jr
@
@zemaria_pstu @diretodoEgito Mubarak já foi agora é #ForaReithorLuísJrdaUFPI !!!
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Talvez o novo reitor agradeça repondo as despesas dessa estúpida viagem ao Cairo.
@noelnit
Rodrigo Noel Souza ✔
@marcellobertolo Concordo em parte. O @diretodoEgito noticiou fatos q nao eram ditos pela midia tradic.,alem de ser o 1o a noticiar a queda!
11 Feb via Mobile Web Favorite Retweet Reply
Merece um Oscar pela melhor cobertura! kkkk!
diretodoEgito Brasileiro no Egito
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@marcellobertolo @noelnit um problema q tive aqui é o sigilo da direção do mov. Tb estao treinados pra falar só o programa comum.
12 Feb Favorite Retweet Reply
Ele ainda não aprendeu que na revolução a direção vem de baixo para cima e não de cima para baixo como no PSTU e nos golpes militares perpetrados por cães treinados (soldados do exército e polícia)
rosakenny kênia
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@diretodoEgito impressionante como eles são bons em celebrar sem uma gota de álcool. devíamos aprender com eles, haha
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Alguém diga a esse pateta que no Islã ninguém toma esse veneno chamado bebida alcoólica
diretodoEgito Brasileiro no Egito
ñ consegui voltar p hotel com o tq de recolher, policia fechou o café. recebi hospitalidade de professores da usp, ótimos camaradas. #Egito
13 Feb Favorite Retweet Reply
Esses professores da USP devem ser os enviados especiais da Reitoria para avaliar os revolucionários. KKK!
Chomsky: EUA seguem seu manual no Egito
Em entrevista a Amy Goodman, do Democracy Now, Noam Chomsky analisa o desenrolar dos protestos no Egito e o comportamento do governo dos Estados Unidos diante deles. Na sua avaliação, o governo Obama está seguindo o manual tradicional de Washington nestas situações: "Há uma rotina padrão nestes casos: seguir apoiando o tempo que for possível e se ele se tornar insustentável – especialmente se o exército mudar de lado – dar um giro de 180 graus e dizer que sempre estiveram do lado do povo, apagar o passado e depois fazer todas as manobras necessárias para restaurar o velho sistema, mas com um novo nome".
Nas últimas semanas, os levantes populares ocorridos no mundo árabe provocaram a destituição do ditador Zine El Abidine Bem Ali, o iminente fim do regime do presidente egípcio Hosni Mubarak, a nomeação de um novo governo na Jordânia e a promessa do ditador de tantos anos do Yemen de abandonar o cargo ao final de seu mandato. O Democracy Now falou com o professor do MIT, Noam Chomsky, acerca do que isso significa para o futuro do Oriente Médio e da política externa dos EUA na região. Indagado sobre os recentes comentários do presidente Obama sobre Mubarak, Chomsky disse: “Obama foi muito cuidadoso para não dizer nada; está fazendo o que os líderes estadunidenses fazem habitualmente quando um de seus ditadores favoritos têm problemas, tentam apoiá-lo até o final. Se a situação chega a um ponto insustentável, mudam de lado”.
Amy Goodman: Qual é sua análise sobre o que está acontecendo e como pode repercutir no Oriente Médio?
Noam Chomsky: Em primeiro lugar, o que está ocorrendo é espetacular. A coragem, a determinação e o compromisso dos manifestantes merecem destaque, E, aconteça o que aconteça, estes são momentos que não serão esquecidos e que seguramente terão consequências a posteriori: constrangeram a polícia, tomaram a praça Tahrir e permaneceram ali apesar dos grupos mafiosos de Mubarak. O governo organizou esses bandos para tratar de expulsar os manifestantes ou para gerar uma situação na qual o exército pode dizer que teve que intervir para restaurar a ordem e depois, talvez, instaurar algum governo militar. É muito difícil prever o que vai acontecer.
Os Estados Unidos estão seguindo seu manual habitual. Não é a primeira vez que um ditador “próximo” perde o controle ou está em risco de perdê-lo. Há uma rotina padrão nestes casos: seguir apoiando o tempo que for possível e se ele se tornar insustentável – especialmente se o exército mudar de lado – dar um giro de 180 graus e dizer que sempre estiveram do lado do povo, apagar o passado e depois fazer todas as manobras necessárias para restaurar o velho sistema, mas com um novo nome.
Presumo que é isso que está ocorrendo agora. Estão vendo se Mubarak pode ficar. Se não aguentar, colocarão em prática o manual.
Amy Goodman: Qual sua opinião sobre o apelo de Obama para que se inicie a transição no Egito?
Noam Chomsky: Curiosamente, Obama não disse nada. Mubarak também estaria de acordo com a necessidade de haver uma transição ordenada. Um novo gabinete, alguns arranjos menores na ordem constitucional, isso não é nada. Está fazendo o que os líderes norteamericanos geralmente fazem.
Os Estados Unidos tem um poder constrangedor neste caso. O Egito é o segundo país que mais recebe ajuda militar e econômica de Washington. Israel é o primeiro. O mesmo Obama já se mostrou muito favorável a Mubarak. No famoso discurso do Cairo, o presidente estadunidense disse: “Mubarak é um bom homem. Ele fez coisas boas. Manteve a estabilidade. Seguiremos o apoiando porque é um amigo”.
Mubarak é um dos ditadores mais brutais do mundo. Não sei como, depois disso, alguém pode seguir levando a sério os comentários de Obama sobre os direitos humanos. Mas o apoio tem sido muito grande. Os aviões que estão sobrevoando a praça Tahrir são, certamente, estadunidenses. Os EUA representam o principal sustentáculo do regime egípcio. Não é como na Tunísia, onde o principal apoio era da França. Os EUA são os principais culpados no Egito, junto com Israel e a Arábia Saudita. Foram estes países que prestaram apoio ao regime de Mubarak. De fato, os israelenses estavam furiosos porque Obama não sustentou mais firmemente seu amigo Mubarak.
Amy Goodman: O que significam todas essas revoltas no mundo árabe?
Noam Chomsky: Este é o levante regional mais surpreendente do qual tenho memória. Às vezes fazem comparações com o que ocorreu no leste europeu, mas não é comparável. Ninguém sabe quais serão as consequências desses levantes. Os problemas pelos quais os manifestantes protestam vem de longa data e não serão resolvidos facilmente. Há uma grande pobreza, repressão, falta de democracia e também de desenvolvimento. O Egito e outros países da região recém passaram pelo período neoliberal, que trouxe crescimento nos papéis junto com as consequências habituais: uma alta concentração da riqueza e dos privilégios, um empobrecimento e uma paralisia da maioria da população. E isso não se muda facilmente.
Amy Goodman: Você crê que há alguma relação direta entre esses levantes e os vazamentos de Wikileaks?
Noam Chomsky: Na verdade, a questão é que Wikileaks não nos disse nada novo. Nos deu a confirmação para nossas razoáveis conjecturas.
Amy Goodman: O que acontecerá com a Jordânia?
Noam Chomsky: Na Jordânia, recém mudaram o primeiro ministro. Ele foi substituído por um ex-general que parece ser moderadamente popular, ou ao menos não é tão odiado pela população. Mas essencialmente não mudou nada.
Tradução: Katarina Peixoto
Fonte: Carta Maior
domingo, 13 de fevereiro de 2011
Algumas diferenças entre revolução proletária e revolução burguesa
A revolução burguesa é violenta. A revolução proletária é pacífica.
A revolução burguesa faz uso da coersão. A revolução proletára faz uso da não colaboração à burguesia e à aristocracia.
A revolução burguesa implementa classes de especialistas, etc. A revolução proletária dissipa todas as classes sociais.
A revolução burguesa promove a disputa entre nações, etnias, grupos, pessoas, comunidades e sociedades. A revolução proletária promove a colaboração entre nações, etnias, grupos, pessoas, comunidades e sociedades.
A revolução burguesa prefere matar a morrer. A revolução proletária prefere morrer a matar.
A revolução burguesa procura corrigir abusos pelo uso da força. A revolução proletária corrige abusos pelo consenso entre minorias e maiorias.
A revolução proletária deixa de ser revolução e deixa de ser proletária ao olhar para trás, ao reeditar os métodos da aristocracia e da burguesia. A revolução burguesa nos promete o futuro repetindo no presente a mesma opressão do passado.
A revolução proletária é simultaneamente presente e futuro, caminho e meta. As práticas no presente já são uma antevisão do futuro, e os caminhos que percorre não são alheios à sua meta. A revolução proletária traz consigo a certeza de que o dia já raiou mesmo que as trevas da noite ainda não tenham sito totalmente dissipadas.
A revolução burguesa reforça o estéril status quo. A revolução proletária restaura a sociedade à profícua comunidade orgânica de relações humanas não-coercitivas, que é a expressão natural da sociedade.
A revolução burguesa aparelha o Estado. A revolução proletária desmancha o Estado.
A revolução burguesa privilegia a ideologia em detrimento da prática. A revolução proletária privilegia a prática em detrimento da ideologia.
Na revolução burguesa prevalece a hierarquia. Na revolução proletária prevalece a acracia.
Na revolução burguesa as celebridades jogam o jogo no campo enquanto as massas assistem das arquibancadas. Na revolução proletária as massas jogam o jogo no campo enquanto as celebridades assistem das arquibancadas.
A meta da revolução burguesa é a tomada do poder. A meta da revolução proletária é a anulação do poder.
A revolução burguesa assemelha-se ao Mar Morto: mata toda vida concentrando poder e riquezas como o Mar Morto mata toda vida concentrando sal. A revolução proletária promove a vida como um Rio Amazonas.
A revolução burguesa envenena o corpo normal da economia destruindo o trabalho local da família humana, diluindo o agrupamento das associações voluntárias. A revolução proletária promove o corpo normal da economia, restaura o trabalho local da família humana, faz proliferar as associações voluntárias.
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