segunda-feira, 2 de março de 2009

Solidariedade à ação dos trabalhadores que evitaram mais um massacre pelas milícias armadas que rondavam dois acampamentos do MST em Pernambuco

Posso entender latifundiários da UDR, o Ministro Gilmar Mendes, os presidentes da Câmara e do Senado, Michel Temer e José Sarney criminalizando o MST, exigindo corte de verbas governamentais das entidades que apóiam sua logística, enfim, defendendo leis que protegem a propriedade privada e sua acumulação. Mas não consigo entender como a maior parte dos 50 milhões de pobres no Brasil, que tem uma vida medonha graças a essas leis, possa ainda concordar com a sua continuidade. Entretanto, a explicação não é difícil, pelo contrário. A miséria e a pobreza são de tal modo degradantes e exercem um efeito tão paralisante sobre a natureza humana que nenhuma classe consegue realmente ter consciência de seu próprio sofrimento. 


Pode-se até admitir que os 50 milhões de pobres do Brasil tenham virtudes, mas elas devem ser lamentadas. Muitas vezes ouvimos que alguns até devolvem dinheiro encontrado em bolsos de roupas doadas, em lixeiras de supermercados, em pastas esquecidas por executivos. Alguns fazem coisas assim, sem dúvida, mas os melhores entre eles jamais o farão. Permanecerão ingratos, descontentes, desobedientes e rebeldes e com razão. Consideram os sistemas de proteção social e políticas de renda mínima uma forma inadequada e ridícula de restituição parcial, uma esmola sentimental, geralmente acompanhada de uma tentativa impertinente, por parte dos políticos, de tiranizar a vida de quem a recebe. Por que deveriam sentir gratidão pelas migalhas que caem dos cofres do governo? Eles deveriam estar nadando nele e agora começam a percebê-lo. Quanto ao descontentamento, qualquer homem que não se sentisse descontente com o péssimo ambiente e o baixo nível de vida que lhe são reservados seria realmente muito estúpido.


Qualquer pessoa que tenha lido a história da humanidade aprendeu que a desobediência é a virtude original do homem. O progresso é uma consequência da desobediência e da rebelião. Muitas vezes elogiamos os pobres que conseguem viver de renda mínima e bolsa família. Mas esperar que esses pobres atravessem suas vidas com este dinheiro é algo grotesco e insultante. Seria como aconselhar um homem que está morrendo de fome a comer menos; um trabalhador urbano ou rural que permanecesse assim seria totalmente imoral. Nenhum homem deveria estar sempre pronto a mostrar que consegue viver como um animal mal alimentado. Deveria recusar-se a viver assim, roubar, fazer greve ou ocupar fazendas -- o que para muitos é uma forma de roubo.


Quanto à mendicância, é muito mais seguro mendigar do que roubar, mas é melhor roubar do que mendigar. Não! Um pobre que é ingrato, descontente, rebelde e que se recusa a viver de renda mínima e bolsa família terá, provavelmente, uma verdadeira personalidade e uma grande riqueza interior. De qualquer forma, ele representará uma saudável forma de protesto. Quanto aos pobres virtuosos devemos ter pena deles mas jamais admirá-los. Eles entraram num acordo particular com o inimigo e venderam os seus direitos por um preço muito baixo. Devem ser também extraordinariamente estúpidos. 


É preciso que outras pessoas (agitadores) venham apontar o sofrimento dos pobres e mesmo assim muitas vezes não acreditam nelas. O que os latifundiários e patrões dizem sobre os agitadores é totalmente verdadeiro. Os agitadores são um bando de pessoas intrometidas que se infiltram num determinado segmento da comunidade totalmente satisfeito com a situação em que vive e semeiam o descontentamento nele. É por isso que os agitadores são necessários. Sem eles, em nosso estado imperfeito, a civilização não avançaria. A abolição da escravatura na América não foi uma consequência da ação direta dos escravos nem uma expressão do seu desejo de liberdade. A escravidão foi abolida graças à conduta totalmente ilegal de certos agitadores vindos de Boston e de outros lugares, que não eram escravos, não tinham escravos nem qualquer relação direta com o problema. Foram eles, sem dúvida, que começaram tudo. É curioso observar que dos próprios escravos eles só receberam pouquíssima ajuda material e quase nenhuma solidariedade. E quando a guerra terminou e os escravos descobriram que estavam livres, tão livres que podiam até morrer de fome livremente, muitos lamentaram amargamente a nova situação. Para o pensador, o fato mais trágico da Revolução Francesa não foi que Maria Antonieta tenha sido morta por ser rainha, mas que os camponeses famintos da Vendrée tivessem concordado em morrer defendendo a causa do feudalismo.


Tergiversado de The Soul of Man Under Socialism escrito em 1891 por Oscar Wilde

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