terça-feira, 24 de março de 2009

A autorreplicação da sociedade de classes na prevalencia da prática do discurso sobre a prática do diálogo



Na história, as sociedades divididas em classes receberam muitos nomes. Há quem diga que o que mais se ajusta é "Sociedade do Espetáculo".

"O espetáculo é o discurso ininterrupto que a ordem presente faz sobre si própria, o seu monólogo elogioso. É o autorretrato do poder no momento da sua gestão totalitária das condições de existência. A aparência fetichista de pura objetividade nas relações espetaculares esconde o seu caráter de relação entre homens e entre classes: uma segunda natureza parece dominar o nosso meio ambiente com as suas leis fatais. Mas o espetáculo não é necessariamente um produto do desenvolvimento técnico do ponto de vista do desenvolvimento natural. A sociedade do espetáculo é, pelo contrário, uma formulação que escolhe o seu próprio conteúdo técnico. O espetáculo, considerado sob o aspecto restrito dos «meios de comunicação de massa» -- sua manifestação superficial mais esmagadora -- que aparentemente invade a sociedade como simples instrumentação, está longe da neutralidade, é a instrumentação mais conveniente ao seu automovimento total. As necessidades sociais da época em que se desenvolvem tais técnicas não podem encontrar satisfação senão pela sua mediação. A administração desta sociedade e todo o contato entre os homens já não podem ser exercidos senão por intermédio deste poder de comunicação instantâneo, é por isso que tal «comunicação» é essencialmente unilateral; sua concentração se traduz acumulando nas mãos da administração do sistema existente os meios que Ihe permitem prosseguir administrando. A cisão generalizada do espetáculo é inseparável do Estado moderno, a forma geral da cisão na sociedade, o produto da divisão do trabalho social e o órgão da dominação de classe". Tese 24 de A Sociedade do Espetáculo, Debord

O discurso que reivindica para si a expressão da verdade total, quando não se opõe à verdade, limita sua percepção. É, pois, imprescindível a contraposição, o confronto, o questionamento, a dúvida. As considerações e reflexões contrárias ao que é exposto devem fluir livres como o vento, sem constrangimentos, em qualquer situação, em igualdade de condições, sem hierarquias, sem limitações de tempo ou espaço.   

Como no método científico, o dialética e a coerencia daqueles que defendem suas posições deve fixar a experimentação como guia. Chega-se à verdade experimentalmente. Ou seja, a procura pela verdade é mais importante do que a manutenção das convicções. Os canais para novas abordagens à verdade devem sempre estar abertos, pois a perspicácia de outras novas abordagens pode conduzir à verdade. 

Uma sociedade livre, onde cada homem vale um homem e cada mulher uma mulher, traria as  revelações pessoais de cada um ao conjunto para discernimento e clareza.   

Como uma seta que avança inabalável em direção ao alvo, ferindo o ar, superando situações, a busca pela verdade deve seguir firme, pois sempre se revelará correta quando confirmada pela experimentação. Assim, no caminhar em tal ou qual direção, cada passo deve ser cuidadosamente delineado, e apesar do caminho não se mostrar previamente conhecido, chegará o momento em que ele se tornará aparente. Quando o caminho não abrir, a condução correta da direção será reformulada.

Numa sociedade onde o diálogo prevalece sobre o discurso, a procura conjunta pela verdade encontrará seu alvo na tomada dialética das decisões que a afeta, sem abalar a unidade. Numa sociedade livre a unidade nunca seria normalmente unanimidade, um acordo sem dissensão. A unidade seria mais freqüentemente um acordo que, embora reconhecendo a dissensão, manteria todos juntos, e apesar das diferenças, e avançaria adiante mantendo os valores comuns.   

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