Demorou, mas foram os próprios líderes mundiais que reacenderam os protestos.
Há quase dez anos não se via o que ocorreu em Londres nesta semana por conta da reunião do G20, grupo de países que respondem por 90% do PIB global.
O grupo reúne o G8 (Estados Unidos, Japão, Alemanha, França, Reino Unido, Canadá, Itália e Rússia), a União Europeia e mais 11 nações emergentes (Brasil, Argentina, México, China, Índia, Austrália, Indonésia, Arábia Saudita, África do Sul, Coreia do Sul e Turquia).
As últimas manifestações do tipo, contra a OMC (Organização Mundial do Comércio), o FMI e Banco Mundial representam a continuação do processo de lutas históricas que o proletariado vem travando, como a que ocorreu na Rússia em 1905, no Brasil em 1917, na Alemanha em 1918-19, na Alemanha em 1918-19, na Itália em 1920, nas Astúrias em 1934, na Espanha em 1936-37, na Hungria em 1956, na França e Checoslováquia em 1968, em Portugal em 1974-75, e na Polônia em 1980-81; muitos outros movimentos desde a revolução mexicana de 1910 até a luta anti-apartheid na África do Sul, contiveram momentos de caráter popular antes de caírem sob o controle burocrático. A luta agora dá mais um passo à frente.
Os manifestantes mostram sua agenda de ação direta, diametralmente distinta do ranço eleitoral/sindical da social-democracia e dos estúpidos esforços governistas, Lula entre eles, e empresariais pela ressurreição do defunto sistema que os sustenta.
Numa ponta, os líderes mundiais vêem o empobrecimento crônico que já sugou em poucos meses US$ 50 trilhões da riqueza mundial. Na outra, milhões de homens e mulheres padecem na demissão, no corte em limites de cartões de crédito e no escárnio dos bônus, expressos em milhões de dólares, pagos aos executivos das empresas falidas --a recompensa às vedetes do agravamento da doença incurável que quase matou o sistema na Grande Depressão.
A materialização da revolta nas ruas de Londres diante da cimeira do G20 sinaliza o alastramento das ações que há meses queimam a Grécia e que, apesar do boicote social-democrata, tendem a inflamar toda Europa. Em 1933, também na capital britânica, houve um encontro parecido. A foto mostra a delegação francesa que participou de conferência entre as grandes potências em 1933, em Londres, no auge da Grande Depressão. O sistema tomou fôlego. Hoje os dias são outros, sua morte é eminente.
Os alvos dos protestos foram o RBS (Royal Bank of Scotland) e a sede do Banco da Inglaterra, pivôs da perda de bilhões de libras dos contribuintes britânicos na atual crise financeira global. Janelas foram despedaçadas e portas arrombadas em meio à gritaria geral. Outros bancos secundários também sofreram com a fúria dos manifestantes.
Os descontentes também se reuniram e trocaram sopapos com a polícia em Trafalgar Square. Praça, no coração de Londres, muito conhecida pelo banquinho onde qualquer um pode subir e proferir idéias, antítese das potentes câmeras e microfones que o sistema dedica aos seus governantes e mercadores.
No final de abril, haverá outro encontro de caráter global. Desta vez em Washington, quando o FMI e o Banco Mundial devem se reunir. Não é pequena a chance dos novos protestos superarem os emblemáticos protestos de Seattle, principalmente porque nos EUA a situação geral é muito pior do que no resto do mundo desenvolvido.
Projetadas para colher alguns lambaris, as redes de proteção social ou segurança na área do emprego na Europa e Japão, diante das toneladas de sardinhas do momento atual tendem a se romper com o tempo. Nos EUA, onde tais redes nunca existiram, as demissões não cessam. A expectativa é que superem 750 mil em março, sobre quase 1,2 milhão em janeiro e fevereiro. A sangria entrou em uma velocidade sem precedentes.
Muitos dos que torciam pela chegada do fundo do poço começam a por as barbas de molho. E começam a perceber, conforme Marx demonstrou, que o poço não tem fundo. O Banco Mundial já fala em retração global de 1,7% em 2009, quase o dobro da prevista pelo FMI há um mês. A OCDE, que reúne os países mais desenvolvidos, em -2,75%.
A quebradeira dos bens privados ou públicos representa o mesmo que a bala de prata ou a estaca de madeira cravada no coração do vampiro do mito popular. Para dar lugar a um novo, o velho edifício têm que ruir ou ser demolido do topo à base. O fato é que esse tisuname está apenas começando. No passado, na Ação Global dos Povos, os manifestantes contrários ao FMI, Banco Mundial e OMC protestaram, com argumentos políticos, científicos, históricos e culturais, diante de um mundo incrédulo atento às mentiras da mídia corporativa e passivo diante da violência policial que alcançou seu ápice em Gênova, em 20 de julho de 2001 quando um manifestante italiano, Carlo Giuliani, foi morto por um tiro de pistola disparado por um “carabinieri” contra a multidão durante as manifestações contra a Reunião de Cúpula do Grupo dos Oito ocorrido em Gênova de 19 a 21 de julho de 2001.
Desta vez, a ficha caiu. O mundo começa a perceber quem estava mais próximo da verdade.
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