quinta-feira, 25 de julho de 2013

O ÚLTIMO BASTIÃO: BANDEIRAS, PEDRAS E MOLOTOVS

O ÚLTIMO BASTIÃO: BANDEIRAS, PEDRAS E MOLOTOVS

“Se não podes ser forte e não sabes ser débil, serás derrotado.” Sun Tzu – A Arte da Guerra

Está claro que democracia supõe a livre manifestação das minorias. Está também claro que há limites para a paciência do homem comum, da mesma forma que há um ponto de saturação quando o sal não mais se dissolve na água.

Quando, no 7º Ato Contra o Aumento das Tarifas, em 20 de junho, a multidão na Paulista clamou aos partidos para que abaixassem suas bandeiras partidárias, não o fez no sentido de podar o direito de livre manifestação. Agiu no senso comum de espantar um intruso que saltou sobre os ombros de um movimento que se dirigia em direção oposta à vontade do intruso.

O que motivou a multidão a rejeitar as bandeiras partidárias? 

Foram necessários 6 grandes Atos para que as 4 esferas de poder, municipal, estadual, federal e imprensa, percebessem que a luta pela redução das tarifas havia extravasado espaços geográficos restritos e alcançado todo território nacional. A voz de comando saíra do domínio do MPL, que já sabia disso no dia anterior quando deixou vazar que a batalha pela revogação do aumento da tarifa havia sido ganha, e que dali para a frente o patamar seria outro e o campo de ação mais amplo. Houve até um momento de dúvida sobre a realização o não do 7º ato, que acabou sendo confirmado como um momento de comemoração. A multidão de manifestantes rejeitou bandeiras partidárias no 7º ato porque já vinha sistematicamente fazendo isso nos atos anteriores, num sonoro não ao flagrante oportunismo dos partidos, que, comandados por marqueteiros como João Santana, que não por acaso é conhecido pela alcunha de Tio Patinhas, lançam mão de todo e qualquer artifício para alcançar sucesso em seus projetos de poder sobre o povo. O dístico "IHH, FUDEU, O POVO APARECEU!", passou a ser repetido com entusiasmo por inteligente unanimidade de Norte a Sul e de Leste a Oeste não apenas pelas capitais, mas por todo os municípios do país. Jô Soares disse que essa frase fala por si e que dispensa qualquer interpretação, e estava certo. O aparecimento do povo é o aparecimento do soberano. E diante do soberano naufragam todos os navios dos partidos, como sempre, abarrotados de ratos das mais variadas colorações e possuídos pelos típicos e históricos posicionamentos em relação ao poder.

O que motivou os partidos a alçar suas bandeiras partidárias no 7º Ato Contra o Aumento das Tarifas?

Os grandes derrotados nesse embate pela redução das tarifas foram os 4 poderes acima descritos. Vamos considerá-los um a um. 

1. A midia mainstream até onde pode ridicularizou os manifestantes. Em alguns editoriais chegaram a pedir que a polícia aumentasse a repressão contra "aqueles baderneiros", e nisso foram ouvidos. Indignada, a população sentiu-se ofendida e passou a enviar emails e tweets aos âncoras, comentaristas, editorialistas das TVs relatando os fatos com fotos e videos demonstrando cabalmente quem era de fato o baderneiro: a repressão governamental. 

2. O governo federal, como de praxe, manteve-se distante e indiferente. Agiu como um cão com o osso do poder entre os dentes. Monopolizando o acesso aos cofres públicos, que já acumulavam cerca de R$800 bilhões de janeiro a junho, e usando esse dinheiro em benefício particular. Do ponto de vista do governo, sair às ruas reivindicando supressão de R$ 0,20 ou R$ 0,10 ou R$ 0,30, no aumento das tarifas, era certamente coisa orquestrada por vândalos. 

3. O governo estadual, armado e venerado por PMs assassinos institucionalizados como a ROTA, por policiais civis corruptos cristalizados como o DENARC, não pensou duas vezes antes de brutalizar pessoas que, de forma crescente, desafiaram seu poder nas ruas. 

4. Por último, o governo municipal, o mais derrotado entre os derrotados. Haddad foi eleito numa composição política destituída de todo e qualquer sentido de ética e decência. Abdicação essa que, diga-se de passagem, tornou-se condição sine qua non para qualquer composição ou partido chegar ao poder. Há muito tempo desapareceram os projetos políticos em que a democracia reina e prevalece. O que vale são conchavos, muito, muito dinheiro. Marqueteiro político virou sinônimo de mercenário. Para o mercantilista e para o mercenário o que importa é destruir o concorrente. Quem manda é aquele que "não é fraco". Quem dá as cartas é aquele que tem poder. Quem dá a direção é aquele que tem dinheiro. Nesse campo palavras como ética, integridade, caráter, são motivos de piada. O recém-nascido e tão aguardado governo municipal do PT assumiu caras de natimorto. Ficou patente para a população de São Paulo que não haveria mudança. Haddad revelou-se a liquidificação resultante dos governos Maluf, Marta, Kassab.

Diante desse quadro negativo, Rui Falcão, como bom cão obediente aos seus donos, e seguindo as diretrizes vindas de cima, ordenou aos seus vassalos bem alimentados com dinheiro de ONGs e mal alimentados com bolsas família a ir para as ruas num gesto, no mínimo, tresloucado. Regado por marqueteiros, ele arriscou duas possibilidades. A primeira: "Aqueles manifestantes idiotas e despolitizados, felizes com o desconto de R$ 0,20 nas tarifas, nem iriam perceber nossas bandeiras partidárias gerando imagens preciosas na propaganda para as próximas eleições para o governo do Estado e da Federação".. A segunda: "Se nossas bandeiras partidárias forem rejeitadas pelos manifestantes agiremos da mesma forma que fazemos com a imprensa que ousa atacar nossos corruptos. Vamos chamá-los de antidemocráticos, direitistas, golpistas".

As pedras e os molotovs

Do lado dos manifestantes também há que se levantar autocríticas. Ações diretas como lançar pedras contra vidraças de agências bancárias e câmaras de vereadores, saques, etc., ou atirar coquetéis molotov contra as forças armadas do governo corrupto e repressor pode e deve ser encarado como o momento de saturação no qual a sociedade perde a capacidade de diluir e absorver os efeitos da corrupção consequente do crescente estrangulamento do sistema mercantil totalitário.

O fato da sociedade perder a solubilidade implica na ausência de governabilidade. Significa que o sistema representativo faliu. Que o povo disse basta! Mas mesmo diante dessa situação é necessário substituir o sistema fracassado por alguma outra coisa. Afinal, a vida continua. O cadáver da democracia representativa tem que ser enterrado e substituído por algo mais progressista, mais avançado. Essa é a grande questão.

Do ponto de vista tático, nessa altura do campeonato, é inteiramente inútil, quebrar vidraças de bancos ou de lojas. A insatisfação já foi demonstrada e repercutiu até mesmo no exterior. Pelo mundo inteiro ecoou o grande basta! do povo brasileiro. Continuar quebrando vidraças apenas irá aquecer a indústria e o comércio das vidraçarias. Vidraças quebradas não quebram bancos nem abalam parlamentos, palácios de governo ou de "justiça".

Da mesma forma, atirar molotovs contra policiais é tão contraproducente que o próprio Cabral, pelo que tudo indica, ordenou P2 a fazer isso segunda-feira última, para justificar a repressão contra o povo que protesta contra o crônico e incurável desperdício do dinheiro público praticado pelo sistema de governo representativo.

Batalhas importantes podem vencidas mediante a ação direta não violenta ou não-violência ativa, que pode ser implementada tanto por núcleos pequenos de 3 pessoas ou mais, como por multidões auto-organizadas compostas por centenas de milhares a milhões de pessoas.






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