terça-feira, 2 de julho de 2013

A Cusparada de Rui Falcão


Algumas ponderações sobre as palavras de Henrique Canary: “[Anarquistas] cumpriam um papel verdadeiramente vergonhoso” e “tentam proibir, inclusive por meio da força física, que os militantes dos partidos políticos exerçam uma liberdade elementar.”. E de Valério Arcary, em Estratégia e Análise: “Não deixem abaixar as bandeiras vermelhas”

Não quero aqui entrar no mérito de disputas ideológicas, disputas essas que em muito se aproximam das disputas entre torcidas organizadas.

No que diz respeito a torcer por um time, acho mais saudável e interessante brincar, jogar futebol, uma atividade comum entre muitos de nós, especialmente os da periferia, no tempo em que ainda haviam terrenos baldios, e ruas de terra sem carros, onde podíamos fincar estacas, arrumar uma bola, e escolher dois times um a um dos melhores para os piores, de forma que ninguém ficasse de fora.

No que diz respeito a disputas político-ideológicas, acho mais saudável e interessante ficar fora de toda essa discussão, acho mais profícuo e produtivo avançar na luta real e concreta do dia a dia, na luta nossa cotidiana contra governantes municipais, estaduais e federais que, apesar de só no ano passado sugarem dos trabalhadores -- é do nosso bolso que sai esse dinheiro -- R$1,56 trilhão em impostos municipais, estaduais e federais, raramente vemos qualquer mudança naquilo que afeta às nossas necessidades mais básicas: moradia, locomoção, educação, alimentação, requisitos estruturais para uma boa saúde.

Venho atendendo há anos as chamadas contra o aumento das tarifas nos transportes em São Paulo, lembro quando Kassab tomou posse e tempos depois anunciou aumento nas tarifas de ônibus. Lembro da enorme quantidade de policiais, e lembro também de uma tirada dos manifestantes em coro dizendo aos policiais que “aumento de passagem é problema social”, não caso de polícia. E se fosse caso de polícia o criminoso seria o prefeito que não fez seu trabalho, não o povo de onde saem os recursos.

Este ano, o prefeito mudou, tomou posse o prefeito da bandeira vermelha, bandeira que aliou-se a Maluf e outras repugnâncias. E veio o anúncio da nova tarifa, e novamente saímos às ruas, fiquei sabendo já na 3ª marcha, e atendemos, fazendo questão de carregar, junto com mais 6 ou 7 jovens, a bonita e enorme faixa pela tarifa zero, debaixo de chuva, enquanto ela esteve estendida.



E veio a 4ª marcha, e veio a 5ª marcha, todas crescendo em número e entusiasmo, apesar da também crescente violência policial. Nesses anos todos nessas marchas pela tarifa zero vi rostos de deboche, que me fizeram lembrar das palavras de Mahatma Gandhi,  “Primeiro eles te ignoram, depois riem de você, depois te brutalizam, e então você vence....”

É importante ressaltar que em nenhuma dessas marchas via-se bandeiras de partidos políticos. E isso era absolutamente natural. Seria surreal se na marcha contra o aumento de tarifas nos transportes, quando Kassab elevou o valor das passagens, encontrar ali uma bandeira do partido do Prefeito. Ao senso comum isso beiraria as raias da loucura. Não foi o prefeito apenas que elevou a tarifa, foram também aqueles que o alçaram ao poder, essas pessoas podem até não gostar, mas não podem se desvencilhar da responsabilidade de tê-lo eleito!

A sexta marcha seria a marcha da vitória na batalha, não na guerra. A vitória na guerra seria a tarifa zero, e essa tarifa zero poderia ser alcançada se a tática da ausência de bandeiras partidárias tivesse continuidade. Eu disse tática, não estratégia, nem entrave ideológico! A notícia da tarifa zero nos transportes na cidade de São Paulo, certamente se espalharia como fogo em palha seca por todos os municípios do país. Afinal, dos trabalhadores brasileiros só em 2012 foi sacada a quantia monumental de R$1,56 trilhão! Impossível que uma verba de tal monta não possa atender a um dos direitos constitucionais básicos da população!

Ver a bandeira do partido do prefeito sendo empunhada na marcha de comemoração, após uma sucessão de 5 marchas contra o aumento de tarifa anunciada pelo prefeito cujo partido a marcha -- pela lógica dos posicionamentos opostos -- hostilizava, evidentemente causava estupor e indignação. O que veio depois foi consequência, a causa foi a ausência de discernimento, de qualquer sinal de seriedade ou caráter, deste reaça Rui Falcão que contrapôs seu imundo pedaço de pano eleitoral à uma luta vitoriosa, se bem que ainda parcial, por conquista de direitos.

O gesto oportunista e tresloucado desse "falcão" virado em galinha cega, foi uma cusparada não só nos manifestantes que debaixo de chuva, frio, bombas e balas de borracha enfrentaram prisão e violência policial, mas também nos trabalhadores e estudantes de São Paulo como um todo. O povo nas ruas já começou a dar uma resposta a este sujeito e aos que o apoiam. A cidade não mais pertencerá a megacorporações e seus serviçais: polícia, políticos, governos, mas ao povo consciente e lutador, o legítimo soberano e dono de tudo. Não esqueceremos! Voltaremos fortalecidos! Nos aguarde!

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Clique e veja video do catracaço, CPTM Morumbi, São Paulo, junho de 2013

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