sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Precisamos mesmo desses governos?















Precisamos mesmo desses governos?
Que prendem famintos que buscam alimento?
Que destroem nossas florestas?
Que agridem o pobre que protesta?
Que compram armas?
Que bombardeiam o povo nas ruas?
Que atiram balas de borracha contra nós?
Que disparam balas letais?
Que falsificam nossos alimentos?
Que criam guerras entre nações, povos e homens?
Que impedem o lavrador de ter livre acesso à terra?
Que promovem e eternizam desigualdades?
Que dividem a sociedade em classes sociais?
Que propagam o ódio?
Que disseminam a mentira?
Que roubam e torturam os mais fracos?
Que ferem, reprimem e matam quem reclama seus direitos?
Quem infestam nosso mundo com arrogância e usura?
Que perseguem por toda parte homens que só querem viver em paz?
Na cidade do México, em Teerã, em Moscou, em Havana, em Caracas, no Cairo, em Bagdad, em São Paulo, em Nova Iorque, em Londres, Em Paris?
Até quando estaremos sujeitos a essa praga chamada governo?


Em 1990 - o ditador Hosni Mubarak completava 10 anos de poder no Egito - após um mês de trabalho no Kibbutz Shoval em Israel, peguei minha mochila e segui para Tel-Aviv para tomar um ônibus para o Cairo. Ao passarmos pela faixa de Gaza, tivemos que descer para revista. Horas depois, já na cidade do Cairo, desembarquei. Um taxi me conduziu a um Youth Hostel previamente escolhido. Já era tarde. Cansado, fui dormir. Pela manhã, já na rua, tomei um susto ao ver-me assediado por meia dúzia de mulheres vestidas de preto. Elas estavam com as mãos estendidas e pediam esmola. Afastei-me dali correndo. Embrenhei-me por ruas e becos do Cairo. Como bom traveller, derivei para conhecer a cidade como ela realmente era, não como se apresentava nos mapas turísticos. Vi construções bem velhas e feias. Favelas verticais. Construções ensebadas que pareciam estar ali há séculos. Tomei uma sopa rápida em um bar lotado e depois, numa banca de rua, comi pão pita recheado com verduras e frios. Passei numa loja para revelar as fotos tiradas em Israel e no Egito, às quais, dias depois no aeroporto de Tel-Aviv, foram quase todas confiscadas por soldados israelenses.

As impressões que ficaram? Como esquecer aquele menino do lado de fora de uma estação ferroviária no interior do Egito, com os olhos cobertos por moscas, pedindo-me um lápis. Como quem diz, "veja como sou pobre, e sempre vou sê-lo pois nem mesmo um lápis posso ter".

A pobreza dos que não tem o suficiente para viver é subproduto da riqueza dos que tem mil vezes mais do que precisam. Esse é o retrato das cidades e do interior do Egito, que lembra as cidades e o interior do Brasil, especialmente o Nordeste. Um oceano de gente paupérrima vivendo com no máximo um salário mínimo, pontilhado por algumas ilhas de milionários.

Que os ventos da revolta que sopram hoje pela Europa, pelo mundo árabe no Oriente Médio e Norte da África, possam também soprar por aqui.

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