segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Sakineh e os fariseus do século XXI



Para quem não sabe, a iraniana Sakineh Mohammadi Ashtiani, mãe de dois filhos, foi condenada em maio de 2006 a receber 99 chibatadas por ter um "relacionamento ilícito" com um homemEncarcerada, declarada culpada, e agora prestes a ser executada. Em um pais onde ser mulher pode ser crime. Crime às vezes passivel de morte. Morte por apedrejamento. Morte por enforcamento.

Não se sabe ao certo as condições da prisão e da condenação dela, talvez nunca se saiba. Assim como também nunca se saberá ao certo as condições em torno do assassinato de Neda Agha Soltan, atingida por um tiro no peito enquanto protestava em meio a uma multidão em Teerã contra os resultados suspeitos da última eleição presidencial.

As coisas nunca ficam suficientemente claras dentro desses regimes capitalistas de estado e ou de mercado, nem dentro de qualquer sociedade dividida em classes, onde poderes fraudulentos e econômicos falam mais alto do que cidadãos que não possuem voz para se defender e às vezes nem mesmo recursos básicos para viver com dignidade.

O presidente do Brasil anda usando o nome de Sakineh em seus comícios eleitorais. É razoável que Lula, ou qualquer outro que tenha coração, procure por todos os meios salvar do apedrejamento ou do enforcamento uma mulher acusada de suposto adultério. Mas não é razoável simpatizar ao mesmo tempo com o principal carrasco dela. Ahmadinejad preside um pais que vem desrespeitando os direitos humanos mais básicos. Não dá para ser ao mesmo tempo pró condenada e pró condenador, ou abraça uma causa ou repudia a outra, ou fica no sol ou na sombra.

Não é de se estranhar essa identificação de Lula com o presidente do Irã. Ambos surgiram de movimentos nascidos no meio de classes proletárias. Ambos foram alçados por trabalhadores. Ambos foram cooptados por exploradores de trabalhadores. Ambos estão hoje a serviço do mesmo sistema que no início combateram, mas que depois, por detrás de portas fechadas, passaram a defender com unhas e dentes. Esses dois ícones do farisaísmo do século XXI tem muito em comum.

A história está encharcada dessas criaturas desprovidas de coluna dorsal moral e espiritual, seres que travam as engrenagens das lutas libertárias em seus momentos mais vitais. Que poderiam mudar para melhor o curso da história. Que poderiam salvar vidas como a de dona Sakineh. Mas que, pela sua natureza covarde, não o fazem, nem jamais o farão. Que Deus nos livre desses malditos fariseus e salve mulheres como Sakineh.

João 8:1 Jesus, entretanto, foi para o monte das Oliveiras.
João 8:2 De madrugada, voltou novamente para o templo, e todo o povo ia ter com ele; e, assentado, os ensinava.
João 8:3 Os escribas e fariseus trouxeram à sua presença uma mulher surpreendida em adultério e, fazendo-a ficar de pé no meio de todos,
João 8:4 disseram a Jesus: Mestre, esta mulher foi apanhada em flagrante adultério.
João 8:5 E na lei nos mandou Moisés que tais mulheres sejam apedrejadas; tu, pois, que dizes?
João 8:6 Isto diziam eles tentando-o, para terem de que o acusar. Mas Jesus, inclinando-se, escrevia na terra com o dedo.
João 8:7 Como insistissem na pergunta, Jesus se levantou e lhes disse: Aquele que dentre vós estiver sem pecado seja o primeiro que lhe atire pedra.
João 8:8 E, tornando a inclinar-se, continuou a escrever no chão.
João 8:9 Mas, ouvindo eles esta resposta e acusados pela própria consciência, foram-se retirando um por um, a começar pelos mais velhos até aos últimos, ficando só Jesus e a mulher no meio onde estava.
João 8:10 Erguendo-se Jesus e não vendo a ninguém mais além da mulher, perguntou-lhe: Mulher, onde estão aqueles teus acusadores? Ninguém te condenou?
João 8:11 Respondeu ela: Ninguém, Senhor! Então, lhe disse Jesus: Nem eu tampouco te condeno; vai e não peques mais.

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