segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Obamania


Por Robert Kurz


A Obamania mundial não representa qualquer consciência crítica, mas apenas a ilusão de uma cura do capitalismo com crescimento para todos. O programa, sem qualquer cobertura, de uma "economia social de mercado mundial", que também Angela Merkel tem mais ou menos na mala de mão, sugere “um ambiente de partida para um futuro otimista que só vive dos anseios nostálgicos da classe média." 

Sua promessa é de grandes mudanças. Sua aura parece indicar que o sujeito branco, protestante e anglo-saxônico já não pode manter o poder sozinho. É preciso amenizar a política de intervenção militar, estancar o fundamentalismo cristão e procurar um equilíbrio global. Trata-se de ratificar politico-economicamente o fim do radicalismo neoliberal do mercado. Muitos gostariam de recordar o New Deal de Roosevelt e o ordenamento de Bretton Woods no pós-guerra, com mercados financeiros rigorosamente regulamentados e câmbios fixos. 

Raramente um novo Presidente dos E.U.A. mobilizou tanto entusiasmo como Barack Obama. E raramente foi tão mísera a possibilidade de cumprir mesmo só uma única das esperanças despertadas. A Obamania mundial não representa qualquer consciência crítica, mas apenas a ilusão de uma cura do capitalismo com crescimento para todos. O programa, sem qualquer cobertura, de uma "economia social de mercado mundial", que também Angela Merkel tem mais ou menos na mala de mão, sugere um ambiente de partida para um futuro otimista que só vive dos anseios nostálgicos da classe média. É uma idéia sobretudo embaraçosa pensar que a face do capitalismo se há de humanizar justamente sob a pressão do colapso financeiro e da conjuntura econômica em queda. A crise da economia mundial não terá happy end. 

O 44º Presidente dos EUA herda um orçamento de Estado arruinado ainda antes da sua tomada de posse, com a queima de bilhões de dólares no financiamento da guerra e nos encargos do saneamento do sistema bancário a desbloquear. O crash da economia das bolhas financeiras, longe de terminado, não pode transformar-se num crescimento "normal" e "sério", pois não está à vista nenhum potencial auto-sustentado para isso. Em vez de um segundo New Deal, o que está em agenda é a gestão de emergência do capitalismo financeiro, que acaba de começar e muito provavelmente irá estender-se nos próximos meses ao sistema de cartões de crédito e aos hedge funds, assim como à indústria automóvel e aeronáutica. Socialmente, o que se pode esperar não é o fim dos baixos salários, mas uma gestão da miséria qualitativamente nova, quando o refluxo da queda conjuntural atingir os inchados setores de serviços, que faziam parte do crescimento fictício. Uma segunda Bretton Woods é que seguramente não vai haver. A "distensão" estatal da crise só é possível ainda através de uma política inflacionária do banco central dos EUA, que desvaloriza largos bilhões de dólares das reservas monetárias da Ásia e ameaça precipitar a dissolução do sistema monetário mundial. 

Contra a paralisia dos circuitos econômicos neurálgicos não há carisma mediático que valha. Obama irá mudar o capitalismo mais ou menos com a mesma paz e receptividade social com que outrora Gorbachev fez a "renovação democrática" do socialismo. Seu trabalho é o maior processo da história moderna que, ao contrário do bloco soviético, não deságua num contexto mais amplo do sistema capitalista, mas na desintegração aos solavancos do mercado mundial. Infelizmente, é de recear que o primeiro Presidente negro dos EUA não entre nos anais da história como figura luminosa, mas figura trágica que, precisamente na qualidade de afro-americano promovido, tenha sido predestinado pelo inconsciente coletivo para pagar a crise do capital mundial e da última potência mundial. 

Publicado originalmente em "Neues Deutschland“, 07.11.2008. Tradução ao galego de exit-online.org

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