terça-feira, 25 de novembro de 2008
terça-feira, 18 de novembro de 2008
Pedro Helchitsky (1390-1460)
O cenário de Helchitsky
Acredita-se que Pedro Helchitsky nasceu ao sul da Boêmia em 1390, embora alguns afirmem que o ano real de seu nascimento foi 1374. Sabe-se muito pouco sobre sua vida. Historiadores o descrevem de formas diferentes: Servo, agricultor independente, escudeiro, nobre, sapateiro, pastor e waldense. Certa vez, Helchitsky chamou a si mesmo de pastor, mas esta descrição remonta ao tempo em que viveu em Praga entre 1419–1421. Usando seus rudimentares conhecimentos de latim dedicou-se à literatura, política e questões religiosas. Foi uma personalidade incomum para o homem medieval sem uma educação acadêmica regular. Após 1421 ele viveu e trabalhou no vilarejo nativo de Chelcice, perto de Vodnany. Ele produziu 56 obras, em sua maior parte ainda não publicadas, acessíveis apenas em manuscritos originais. Seu pensamento foi influenciado por Thomas de Štítný, John Wycliffe, Jan Hus e pela tradição waldense. Ele morreu por volta de 1460.
As idéias de Helchitsky
O pensamento de Pedro Helchitsky inclui idéias posteriormente adotadas pelos moravianos, anabatistas, quakers. Ele foi o primeiro escritor pacifista da Renascença, antecipando Erasmus e Menno Simons em cerca de 100 anos.
Igreja e Estado
Helchitsky chamou o Papa e o Imperador (a igreja e o estado) "como deturpadores da verdadeira fé", porque estabeleceram a igreja na base de um império secular. Helchitsky acreditava que os cristãos precisam seguir a lei do amor, e que não deve sujeitar-se à autoridade estatal. Ele ensinou que o crente não deve aceitar a chancelaria do governo, sua autoridade, e nem mesmo tomar parte no governo pecaminoso. Ele argumenta que a pena de morte e outras formas de punições violentas são errôneas. Suas posições sobre o governo são similares às dos cristãos anarquistas defendidos por Leo Tolstoi. Tolstoi menciona a obra de Helchitsky' em seu livro de 1894 O Reino de Deus Está em Vós.
"O homem que obedece a Deus não necessita de qualquer outra autoridade (sobre ele)." — Pedro Helchitsky
Não-violência e guerra
Por volta de 1420, Helchitsky ensinou que a violência não deveria ser usada em questões religiosas. Helchitsky usou a parábola do trigo e do joio[6] (Mateus 13:24–30) para mostrar que deve ser permitido aos pecadores e aos santos viverem juntos até a colheita. Ele achava errado até mesmo matar o pecador, e assim os cristãos deveriam recusar o serviço militar. Ele argumentou que se os pobres recusassem os senhores não teriam ninguém para mandar para a guerra para lutar por eles. Helchitsky ensinava que nenhum poder físico pode destruir o mal, e que os cristãos deveriam aceitar a perseguição sem retaliar. Ele acreditava que a guerra era o pior mal, e os soldados não passavam de assassinos. Ele se opôs até mesmo à guerra defensiva. Ele acreditava no exemplo de Jesus e do Evangelho como exemplos da paz.
Vida comunal
Helchitsky foi um comunista no sentido original cristão, e achava que deveria haver igualdade completa na comunidade cristã. Que não deveria haver nenhum rico ou pobre, uma vez que o cristão renunciou tanto à propriedade quanto ao estado. Ele sustentava que os cristãos poderiam expelir as pessoas más da comunidade, mas que não poderiam obrigar ninguém a ser bom. Ele acreditava na igualdade, mas que o Estado não poderia impô-la à sociedade, e qualificou a desigualdade social como uma criação do Estado, que começa e que acaba com ele. De acordo com Kautsky em Communism in Central Europe in the Time of the Reformation, "A natureza da primeira organização dos Irmãos Boêmios não é muito clara, pois os irmãos posteriores tinham vergonha da origem comunista deles, e procuravam por todos os meios esconder este fato." Algumas das afirmações de Helchitsky apontam no sentido de que ele achava que apenas os pobres eram cristãos autênticos.
Sacerdócio do crente
Helchitsky criticou o uso da força em questões de fé. Ele ensinava que o cristão deveria se esforçar pelo estabelecimento da justiça sem qualquer tipo de coersão, que não deveria forçar ninguém a ser bom e que a bondade deveria ser voluntária. Ele acreditava que o cristão deve amar a Deus e ao próximo, e que se deve converter pessoas desse modo, nunca pela força. Ele sustentava que qualquer tipo de ação movida pela força é má, e que os cristãos não deveriam participar em lutas pelo poder político.
Obras de Helchitsky
On Spiritual Warfare, escrito em 1421, foi sua maior obra. Nela, Helchitsky argumenta que os taboritas tinham participado na violência por causa do diabo e da luxúria pelas coisas do mundo. Ele também criticou os chiliastas (milenaristas), a guerra física, e destacou que a dívida faz com que quem empresta tenha poder sobre os devedores. Em On the Triple Division of Society Helchitsky criticou a nobreza, o clero e a classe média. Ali descreve como eles sujeitam as pessoas comuns e as "montam como se fossem bestas". Seu livro mais abrangente e um dos últimos, escrito por volta de 1443, foi a Rede da Fé. Nele mostrou como os apóstolos tratavam todas as pessoas como iguais, e consideravam Cristo como única cabeça. Neste livro ele afirma que o imperador e o papa foram as duas grandes baleias que arrebentaram a rede da fé. Ainda incluiu também um extenso comentário no Concílio de Basel.
Influência de Helchitsky
Helchitsky tem sido qualificado como "o pensador vanguardista no movimento da reforma hussita checa do século XV." Ele certamente foi uma mente influente entre os irmãos Boêmios contemporâneos. Adiante de seu próprio tempo, sua influência pode ser vista nos moravianos (Unitas Fratrum), Unidade de Irmãos (Jednota Bratrská), e na União Batista da República Checa (também conhecida como União dos Irmãos Batistas. Importantes similaridades podem ser vistas entre seus ensinamentos e os da Continental Anabatistas e, em menor grau, entre os English Baptists, embora não haja nenhuma conexão direta. Ele enfatizou o Novo Testamento como exclusiva e definitiva fonte do conhecimento da vontade de Deus. Ele reconhece apenas dois sacramentos: o batismo e a Ceia do Senhor. Ele encoraja as pessoas a ler e interpretar a Bíblia por si mesmas.
A obra de Helchitsky, especificamente A Rede da Fé, influenciou Leo Tolstoi e é mencionado em seu livro O Reino de Deus Está em Vós. Seu nome aparece como Helchitsky em muitas traduções inglesas.
sexta-feira, 14 de novembro de 2008
Concentração de Riqueza
quarta-feira, 12 de novembro de 2008
Arsenal de bombas para apressar a queda definitiva e irreversível do sistema
Sonegação de impostos
Corrida aos bancos (saque)
Compra exclusiva do essencial
Deserção em massa das forças armadas
Kautsky estava certo quando demonstrou que em certos momentos o movimento da história é irresistível, não importa quais sejam as intenções ou os esforços do homem, enquanto em outros o homem tem uma limitada possibilidade de modificar, desviar, frear ou dividir o curso dos acontecimentos.
Guido Mântega tem razão em uma coisa, há uma luz no fim do túnel, trata-se do farol de um trem vindo em sua direção. O que você prefere, estar ao lado do Mântega ou dentro do trem?
É inútil
1) O socorro de trilhões de dólares e euros para os bancos.
2) A corrida para salvar empresas pelo mundo afora.
3) O fôlego às montadoras de automóveis, seus estoques permanecerão encalhados nos pátios.
4) A propaganda em cima da qualidade do veículo, das vantagens do financiamento, dos juros zero!
5) A aliança para salvar as montadoras.
6) A estatização de parte dessas empresas.
7) Liberar uma linha de crédito de R$ 4 bilhões para financiar a compra de veículos de todo o país.
8) Tentar segurar o efeito da crise financeira na chamada "vida real",
9) Estimular o atual setor produtivo voltado para o emprego, a renda e o voto.
10) Colocar bilhões à disposição de empréstimos para as empresas,
11) Ampliar o prazo para pagamento de impostos.
12) Estimular o atual modelo de construção civil.
13) Tentar segurar o colapso do setor de imóveis, dos bancos nos EUA e no mundo.
É util
1) Comprar apenas coisas para uso, nunca para status.
2) Rejeitar aquilo que possa te viciar.
3) Preferir doar a acumular.
4) Recusar deixar-se influenciar pela propaganda.
5) Aprender apreciar coisas sem possuí-las.
6) Apreciar mais a natureza.
7) Desconfiar dos que dizem: 'Compre agora, pague depois!'
8) Quando disser algo, lembrar-se dos preceitos de Cristo sobre lisura e honestidade.
9) Rejeitar qualquer coisa que provoque opressão em outras pessoas.
10) Evitar tudo aquilo que te desvia de teu principal objetivo.
11) Serenamente conversar sobre tais coisas com seus familiares e amigos
12) Combater a mentira
13) Combater a riqueza fugindo da pobreza e combater a pobreza fugindo da riqueza
14) Ocupar reiterada e pacíficamente as terras e fazê-las imediatamente produzir alimentos;
15) Ocupar os prédios públicos e colocá-los sob o controle e gestão de conselhos locais
16) Não aceitar demissões em massa;
17) Ocupar as empresas na medida em que vão fechando e adaptá-las para que produza algo útil e limpo (que não gere lixo nem poluição);
18) Ocupar redes de supermercados e transformá-los em centros de distribuição sob gestão dos conselhos.
19) Ocupar Igrejas e adaptá-las como mictórios públicos;
20) Fazer todo o possível para evitar o colapso de setores essenciais como alimento, moradia, vestuário, higiene, etc:
terça-feira, 11 de novembro de 2008
Declaração de princípios da Sociedade de Amigos. Boston, 1838.
Nós, abaixo assinados, acreditamos ter o dever, para conosco e para com a causa tão cara a nossos corações, para com o país em que vivemos e para com o mundo inteiro, de proclamar a nossa fé, expressando os princípios que professamos, a finalidade por nós buscada e os meios que temos intenção de usar para chegar a uma revolução benéfica, pacífica e geral.
Eis os nossos princípios:
Não reconhecemos qualquer autoridade humana. Não reconhecemos senão um só rei e legislador, um juiz e líder da humanidade. Nossa pátria é o mundo inteiro; nossos compatriotas são todos os homens. Amamos todos os países como nosso próprio país, e os direitos de nossos compatriotas não nos são mais caros do que os de toda a humanidade. Por isto, não admitimos que o sentimento de patriotismo possa justificar a vingança de uma ofensa ou de um mal feito ao nosso país.
Reconhecemos que o povo não tem o direito de se defender dos inimigos externos, nem de atacá-los. Reconhecemos ainda que os indivíduos isolados não podem ter este direito em suas relações recíprocas, não podendo a unidade ter direitos maiores do que os da coletividade. Se o governo não deve se opor aos conquistadores estrangeiros que visam à ruína de nossa pátria e à destruição de nossos concidadãos, da mesma forma não pode opor a violência aos indivíduos que ameaçam a tranqüilidade e a segurança públicas. A doutrina, ensinada pelas igrejas, de que todos os países da terra são criados e aprovados por Deus, e de que as autoridades, que existem nos Estados Unidos, na Rússia, na Turquia etc. Emanam de Sua vontade, não é apenas estúpida, como também blasfematória. Esta doutrina representa nosso Criador como um ser parcial, que estabelece e encoraja o mal. Ninguém pode afirmar que as autoridades existentes, em qualquer país que seja, ajam com seus inimigos segundo a doutrina e o exemplo de Cristo.
Nem mesmo seus atos podem ser agradáveis a Deus. Não podem, portanto, ter sido estabelecidos por Ele, e devem ser derrubados, não pela força, mas pela regeneração moral dos homens.
Não reconhecemos como cristãs e legais não apenas as guerras — ofensivas ou defensivas — mas também as organizações militares, quaisquer que sejam: arsenais, fortalezas, navios de guerra, exercícios permanentes, monumentos comemorativos de vitórias, troféus, solenidades de guerra, conquistas através da força, enfim, reprovamos igualmente como anticristã qualquer lei que nos obrigue ao serviço militar.
Em conseqüência, consideramos impossível para nós não apenas qualquer serviço ativo no Exército, mas também qualquer função que nos dê a missão de manter os homens no bem pela ameaça de prisão ou de condenação à morte. Excluímo-nos, então, de todas as instituições governamentais, repelimos qualquer política e recusamos todas as honrarias e todos os cargos humanos.
Não nos reconhecendo o direito de exercer funções nas instituições governamentais, recusamos também o direito de eleger para estes cargos outras pessoas. Consideramos que não temos o direito de recorrer à justiça para nos fazer ser restituído o que nos foi tirado e acreditamos que, ao invés de fazer uso da violência, estamos obrigados a "deixar também o manto àquele que nos roubou a veste" (Mt 5,40).
Preconizamos que a lei criminal do Antigo Testamento — olho por olho,dente por dente — foi anulada por Jesus Cristo e que, segundo o Novo Testamento, todos os fiéis devem perdoar seus inimigos em todos os casos, sem exceção, e não se vingar. Extorquir dinheiro à força, prender, mandar para a cadeia ou condenar à morte não se constitui, evidentemente, em perdão, e sim em vingança.
A história da humanidade está cheia de provas de que a violência física não contribui para o reerguimento moral e de que as más inclinações do homem somente podem ser corrigidas através do amor; de que o mal não pode desaparecer senão por meio do bem; de que não se deve contar com a força do próprio braço para se defender do mal; de que a verdadeira força do homem está na bondade, na paciência e na caridade; de que só os pacíficos herdarão a terra e de que aqueles que com a espada ferirem pela espada perecerão.
Por isso, tanto para garantir com mais segurança a vida, a propriedade, a liberdade e a felicidade dos homens, quanto para seguir a vontade d'Aquele que é o Rei dos reis e o Senhor dos senhores, aceitamos de todo o coração o princípio fundamental da não-resistência ao mal por meio do mal, porque acreditamos firmemente que este princípio, que atende a todas as circunstâncias possíveis da nossa existência e ao mesmo tempo exprime a vontade de Deus, deve finalmente triunfar. Não pregamos uma doutrina revolucionária. O espírito da doutrina revolucionária é um espírito de vingança, de violência e de morte, sem temor a Deus e sem respeito pela personalidade humana, e não queremos nos deixar penetrar senão pelo espírito do Cristo. Nosso princípio fundamental de não-resistência ao mal por meio do mal não nos permite insurreições, nem rebeliões, nem violências. Submetemo-nos a todas as regras e a todas as exigências do governo, exceto àquelas que sejam contrárias aos mandamentos do Evangelho. Não resistiremos de outra forma a não ser submetendo-nos passivamente às punições que poderão ser infligidas devido à nossa doutrina. Suportaremos todas as agressões sem deixar de, pelo nosso lado, combater o mal onde quer que o encontremos, no alto ou embaixo, no terreno político, administrativo ou religioso, e procuraremos atingir, servindo-nos de todos os meios possíveis, a fusão de todos os reinos terrestres num só reino de Nosso Senhor Jesus Cristo. Consideramos como verdade indiscutível que tudo aquilo que seja contrário ao Evangelho deve ser definitivamente destruído. Acreditamos, como o profeta, que virá um tempo em que as espadas serão transformadas em relhas e as lanças em foices, e que devemos trabalhar sem demora, na medida de nossas forças, para a concretização dessa profecia.
Em conseqüência, aqueles que fabricam, vendem ou se servem de armas contribuem para os preparativos da guerra e se opõem pela mesma razão ao poder pacífico do Filho de Deus na Terra.
Após a exposição de nossos princípios, dizemos agora de que modo esperamos alcançar nosso objetivo. Esperamos vencer "por meio da loucura da pregação".
Procuraremos difundir nossas idéias entre todos os homens, pertençam eles a qualquer nação, religião ou classe social. Para tanto, organizaremos palestras públicas, difundiremos programas e opúsculos, constituiremos sociedades e enviaremos petições a todas as autoridades públicas.
Em suma, empenhar-nos-emos, com todos os meios de que dispusermos, para produzir uma revolução radical nas opiniões, nos sentimentos e nos costumes da nossa sociedade, em tudo o que concerne à ilegitimidade da violência contra os inimigos internos ou externos.
Empreendendo esta grande obra, compreendemos perfeitamente que nossa sinceridade talvez nos prepare cruéis provações.
Nossa missão pode nos expor a muitos ultrajes e a muitos sofrimentos,e também à morte. Seremos incompreendidos, ridicularizados e caluniados.Uma tempestade se erguerá contra nós. O orgulho e a hipocrisia, a ambição e a crueldade, os chefes de Estado e os poderosos, tudo pode se voltar contra nós.Não foi de outro modo tratado o Messias que procuramos imitar na medida de nossas forças. Mas tudo isto não nos amedronta. Não colocamos nossa esperança nos homens, mas no Nosso Senhor Onipotente. Se recusamos qualquer proteção humana, é porque temos para nos sustentar apenas a nossa fé, mais poderosa do que tudo. Não nos maravilharemos com as provações e ficaremos felizes por haver merecido poder compartilhar dos sofrimentos de Cristo.
Assim, então, entregamos nossas armas a Deus, confiantes em Sua palavra de que aquele que abandonar campos e casas, irmão e irmã, pai e mãe, mulher e filhos, para seguir Cristo, receberá cem vezes mais e herdará a vida eterna.
Acreditando firmemente, apesar de tudo o que poderia cair sobre nós, no indubitável triunfo, em todo o mundo, dos princípios expostos nesta declaração, aqui pomos nossas assinaturas, confiando no bom senso e na consciência dos homens, mas ainda mais no poder divino, ao qual nos reportamos.
(*) Esse manifesto foi escrito em Boston pelo quacre, abolicionista, jornalista, defensor dos direitos feministas, Willian Garrison. Mas o primeiro a torná-lo mundialmente conhecido foi o escritor russo Leon Tolstoi através de seu livro "O Reino de Deus está em vós". Com o título de "Não-Resistência", Garrison, em 1838, propõe uma associação que visa contribuir para o restabelecimento da paz entre os homens e fornecer os meios adequados para fazer cessar a guerra. Essa declaração afirma que a paz universal não pode ser erigida sem o reconhecimento público do mandamento da não-resistência ao mal com a violência (Mt 5,39) em toda sua amplitude. Preceito que já vinha sendo praticado pelos quacres com os quais Harrison mantinha relações de amizade.
segunda-feira, 10 de novembro de 2008
Obamania
Por Robert Kurz
A Obamania mundial não representa qualquer consciência crítica, mas apenas a ilusão de uma cura do capitalismo com crescimento para todos. O programa, sem qualquer cobertura, de uma "economia social de mercado mundial", que também Angela Merkel tem mais ou menos na mala de mão, sugere “um ambiente de partida para um futuro otimista que só vive dos anseios nostálgicos da classe média."
Sua promessa é de grandes mudanças. Sua aura parece indicar que o sujeito branco, protestante e anglo-saxônico já não pode manter o poder sozinho. É preciso amenizar a política de intervenção militar, estancar o fundamentalismo cristão e procurar um equilíbrio global. Trata-se de ratificar politico-economicamente o fim do radicalismo neoliberal do mercado. Muitos gostariam de recordar o New Deal de Roosevelt e o ordenamento de Bretton Woods no pós-guerra, com mercados financeiros rigorosamente regulamentados e câmbios fixos.
Raramente um novo Presidente dos E.U.A. mobilizou tanto entusiasmo como Barack Obama. E raramente foi tão mísera a possibilidade de cumprir mesmo só uma única das esperanças despertadas. A Obamania mundial não representa qualquer consciência crítica, mas apenas a ilusão de uma cura do capitalismo com crescimento para todos. O programa, sem qualquer cobertura, de uma "economia social de mercado mundial", que também Angela Merkel tem mais ou menos na mala de mão, sugere um ambiente de partida para um futuro otimista que só vive dos anseios nostálgicos da classe média. É uma idéia sobretudo embaraçosa pensar que a face do capitalismo se há de humanizar justamente sob a pressão do colapso financeiro e da conjuntura econômica em queda. A crise da economia mundial não terá happy end.
O 44º Presidente dos EUA herda um orçamento de Estado arruinado ainda antes da sua tomada de posse, com a queima de bilhões de dólares no financiamento da guerra e nos encargos do saneamento do sistema bancário a desbloquear. O crash da economia das bolhas financeiras, longe de terminado, não pode transformar-se num crescimento "normal" e "sério", pois não está à vista nenhum potencial auto-sustentado para isso. Em vez de um segundo New Deal, o que está em agenda é a gestão de emergência do capitalismo financeiro, que acaba de começar e muito provavelmente irá estender-se nos próximos meses ao sistema de cartões de crédito e aos hedge funds, assim como à indústria automóvel e aeronáutica. Socialmente, o que se pode esperar não é o fim dos baixos salários, mas uma gestão da miséria qualitativamente nova, quando o refluxo da queda conjuntural atingir os inchados setores de serviços, que faziam parte do crescimento fictício. Uma segunda Bretton Woods é que seguramente não vai haver. A "distensão" estatal da crise só é possível ainda através de uma política inflacionária do banco central dos EUA, que desvaloriza largos bilhões de dólares das reservas monetárias da Ásia e ameaça precipitar a dissolução do sistema monetário mundial.
Contra a paralisia dos circuitos econômicos neurálgicos não há carisma mediático que valha. Obama irá mudar o capitalismo mais ou menos com a mesma paz e receptividade social com que outrora Gorbachev fez a "renovação democrática" do socialismo. Seu trabalho é o maior processo da história moderna que, ao contrário do bloco soviético, não deságua num contexto mais amplo do sistema capitalista, mas na desintegração aos solavancos do mercado mundial. Infelizmente, é de recear que o primeiro Presidente negro dos EUA não entre nos anais da história como figura luminosa, mas figura trágica que, precisamente na qualidade de afro-americano promovido, tenha sido predestinado pelo inconsciente coletivo para pagar a crise do capital mundial e da última potência mundial.
Publicado originalmente em "Neues Deutschland“, 07.11.2008. Tradução ao galego de exit-online.org
quinta-feira, 6 de novembro de 2008
15 professores de economia neoclássica se suicidaram pela crise capitalista
Por Heinz Dieterich
1. Os teólogos do capital
A “notícia” do suicídio de 15 professores de economia neoclássica pela crise do capitalismo de Estado é, por suposto, falsa. Para que fosse certa, teria que existir ética científica nas faculdades de economia dos neoliberais. E isso é justamente o que mais falta nos templos dessa confraria. Hoje em dia, as faculdades de economia e advocacia são, sem dúvida, os departamentos mais moralmente corruptos e cínicos de nossas universidades. Por isso, o povo mexicano chama advogados de “advogangsters” e economistas de “banqueiros ladrões”.
2. A verdade de Marx
Em um evento que organizei recentemente em “minha” universidade, perguntei a um amigo e colega “reconhecido catedrático da faculdade” se não tinha problemas de consciência ensinando teologia neoclássica como conhecimento científico. Diante do assombro dos estudantes, ele contestou com uma brutal verdade: “Bom, para isso nos pagam”. Com efeito. Em toda sociedade de classes as relações de produção regem as interações dos sujeitos.
3. O santo Graal
Todo debate econômico e político sobre o capitalismo e sua alternativa civilizatória, o socialismo do século XXI, gira em torno de dois aspectos do mercado: a) seu caráter sistêmico, b) a possibilidade e necessidade de substituí-lo. A pergunta decisiva desse debate é a da substituição do mercado; porém, é impossível contestá-la sem prévia explicação de seu caráter sistêmico (determinista, probabilístico, caótico, etc.).
4. O pecado original
A mentira constitutiva da teologia econômica burguesa consiste na ficção de que a crematística capitalista dos últimos 250 anos tem sido uma economia de mercado. A verdade é que essa crematística sempre tem existido como capitalismo de Estado e que não pode existir em outra forma empírica. A causa deste fenômeno radica no tempo e na natureza dos mecanismos de retroalimentação (feedback) do mercado.
5. Mercado, entropia e mono sapiens
O mercado é um sistema dinâmico complexo, cujas tendências evolutivas o dirigem até à assimetria, tal como sucede em certos sistemas da natureza. Para descrever e explicar o comportamento desses sistemas naturais freqüentemente se recorre à segunda lei da termodinâmica (entropia). A aplicação desse procedimento ao mercado tem aportado conhecimentos macroestatísticos úteis. Porém, o mercado opera como subsistema de um entorno sócio-humano, baseado no mono sapiens, e isto faz com que sua cibernética se torne mais complexa.
6. Dialética da retroalimentação
As tendências assimétricas da crematística moderna e, por fim, as crises recorrentes do sistema não significam que este termine deterministicamente na autodestruição ou em um salto qualitativo em direção a formas concretas superiores da realidade (socialismo do século XXI). O gênio científico de Marx/Engels capturou essa particularidade da relação Crematística-Estado capitalista e diagnosticou corretamente a lógica condutiva do mercado e sua relação com o Estado, um século antes que aparecesse a ciência cibernética. Hegel e Norbert Wiener, todavia, na piperina de produção biológica, batizaram esses comportamentos sistêmicos de “dialéticos”.
7. O mercado como Caliban
O mercado funciona sob certas condições gerais, como um sistema auto-regulativo ou cibernético, de considerável sofisticação e eficiência. Porém seus mecanismos e tempos de retroalimentação negativa (correção de disfuncionalidades) são tão destrutivos e longos, que põem em perigo a estabilidade do macro-sistema sócio-político. Isto obriga à intervenção do Estado, seja para estabilizar, seja para revolucionar.
O mercado é um produto da evolução social humana, porém é um produto “cego”, o que explica porque seus mecanismos de retroalimentação positivos ou entrópicos se assemelham mais a certos sistemas naturais que a sistemas sociais desenhados com a intenção humanística. O seguinte exemplo ilustra a diferença:
Se em um bosque ocorre uma praga (insetos) e seus mecanismos de retroalimentação negativa não conseguem neutralizar a ameaça, as árvores secam e perecem. Seco, o bosque se incendiará em algum momento, o fogo matará a praga e o sistema volta a nascer -- ou fica extinto para sempre. Qualquer dos dois desenlaces é insignificante em qualquer escala: para os indivíduos afetados (objetos, árvores, micro organismos), para o sistema superior (biosfera terrestre, nível médio) e para o universo (nível macro).
8. A comunidade de resistência e a barbárie institucionalizada
Esta situação muda qualitativamente na sociedade humana, porque seus indivíduos não são objetos (árvores) mas objetos-sujeitos (mono sapiens), que se convertem em comunidade de resistência, não só de vítimas, diante da barbárie institucionalizada da burguesia: a genética darwiniana do mercado, a férrea vontade de exploração de sua classe dominante e a repressividade classista de seu aparato estatal.
9. A lupemburguesia e seus servidores acadêmicos neoliberais
A crise financeira atual da burguesia atlântica tem duas causas principais: a) a corrupção política endêmica de sua classe política que se manifesta em suas alianças com o capital financeiro, bloqueando sua função sistêmica de agente de feedback negativo; b) a necessidade eleitoral de sustentar conjunturas econômicas artificiais por quaisquer meios que sejam.
O sistema financeiro de Bretton Woods (1944) contava com um feedback negativo integrado, o padrão ouro, que consistia no compromisso do governo estadunidense de converter qualquer quantidade de dólares, a moeda mundial, em ouro. Os custos da guerra do Vietnam e da “Johnson’s Great Society” deram um fim a este padrão. Em 1971 Richard Nixon aboliu essa obrigação do governo estadunidense.
Desaparecido o respaldo material-financeiro, a força do dólar se reduziu à fé do mundo de que a estabilidade das instituições e a força econômico-militar estadunidense eram inquebrantáveis, aceitando, em conseqüência, qualquer quantidade de dólares que Washington imprimisse. Diante dessa fé, não importava que a lupemburguesia e sua criminosa classe política financiassem gigantescos déficits fiscais e de conta corrente em torno de dois milhões de dólares diários, convertendo cada vez mais o dólar em puro papel.
Quando estalou a atual bolha imobiliária-financeira, antecedida nos anos oitenta pela bolha de poupanças e empréstimos e nos anos noventa pela dot.com (internet/telecom), o cínico circo neoliberal terminou. A conta do desastre causado pela oligarquia dos empresários, gerentes, políticos, farsantes acadêmicos e magos midiáticos se pagará com a destruição de dezenas de milhões de vidas em todo o mundo.
Enquanto isso os catedráticos neoliberais baixam a voz e seguem cobrando seus bons soldos. Mas um grande paradigma histórico os consola em sua temporal solidão. Se os teólogos da Igreja Católica não se suicidaram coletivamente diante do telescópio de Galileu, por que o fariam eles diante do desmoronamento físico de seu santuário dogmático em Wall Street?
Sócrates deve estar em algum lugar, rindo-se para não chorar de tristeza.
Tradução - Vera Vassouras
URL:: www.rebelión.org