domingo, 2 de março de 2014

O Caminho da Vitória Contra o Capitalismo

Muito se fala e se escreve sobre como derrotar o Capitalismo. Não vou tratar aqui dos males desse sistema, nem de defini-lo. Mas não poderia deixar de nomear as duas formas de capitalismo, igualmente perversas: o Capitalismo de Estado e o Capitalismo de Monopólios, associadas por Debord como espetáculo concentrado e espetáculo difuso.

Para quem não acredita na inevitável derrocada do capitalismo, sugiro um passeio pela história humana, das origens do comunalismo até aos nossos dias, e o estudo, aprendizado e sobretudo prática dos caminhos que levam até zonas autônomas temporárias ou permanentes. Reconfortantes momentos históricos em que a propriedade privada foi concretamente abolida e o Estado negado.

Para derrotar o capitalismo basta não colaborar com ele. Simples assim. Mas como diz o provérbio chines, "simples não quer dizer fácil".

Não colaborar com o capitalismo pode significar prisão, como a que sofreu Henry David Thoreau ao recusar pagar imposto. Pode significar também muito sofrimento, dor e até mesmo a morte. A desobediência é o calcanhar de Aquiles do capitalismo. O Estado requer obediência, o patrão exige obediência, o partido precisa da obediência, o exército e a polícia tem base na obediência incondicional dos seus soldados. Ter um rei ou governador significa submeter-se ao estado, instrumento do capitalismo, e desobedecê-lo pode significar ser lançado numa gehenna* social.

Não vamos falar aqui de sofrimento ou dor daqueles que se submetem por uma causa, vamos nos ater à morte. Será que vale a pena morrer na luta pela destruição do Estado e do Capital? Eu não sei. A resposta deixo ao leitor, mas quero delinear aqui muitos que morreram e morrem por causa menos nobre, todos os dias.

Destaco aqui dois "heróis" da F1, Michael Schumacher e Ayrton Senna. O primeiro agoniza em estado vegetativo no leito de um hospital na Alemanha, o segundo tem seus restos mortais depositados em um cemitério do bairro do Morumbi em São Paulo. Ninguém pode afirmar que o que ocorreu a eles foi obra do azar ou do acaso. Ambos sabiam que a prática de esportes radicais implica em aumento do risco de morte. E resolveram, mesmo assim, dedicar suas vidas a essa causa. Não os julgo nem condeno, cada um trata de si. Mas quero formular outra pergunta: Será que vale a pena, seja lá qual for o motivo, correr o risco de morrer na prática de esportes radicais?

Muitos dirão: “Morreremos de qualquer jeito”. Sim, é verdade, mas não seria melhor arriscar a vida por uma causa mais nobre?

E os soldados? Quantos não se alistam forçosamente em exércitos ou voluntariamente disputam empregos em órgãos de polícia, colocando seus corpos como bucha de canhão à disposição do Capital e do Estado, apontando suas armas contra sua própria classe e irmãos?

Há também toda espécie de bandidos que, acuados pela aversão à escravidão assalariada e pela não satisfação das suas necessidades básicas, ou até mesmo por amor ao poder, ouro e fama, resolvem tornar-se políticos, traficantes de drogas, ou punguistas comuns. Essas atividades, obviamente, envolvem altos riscos. Não são poucos governantes depostos e mortos pelos próprios governados. São freqüentes as notícias sobre traficantes mortos em confrontos com a polícia, e ultimamente, infelizmente, ouvem-se relatos de ladrões ordinários sendo linchados até a morte pela população.

Muitos também colocam suas vidas em risco submetendo-se a cirurgias e tratamentos chamados “estéticos”. Querem olhar no espelho e ver os mesmos corpos fotoshopados estampados nas revistas. Homens e mulheres saudáveis atendem prontamente aos apelos de clínicas e comerciantes ávidos por dinheiro.

Eu poderia aqui continuar debulhando ao infinito inúmeros casos de pessoas que se sujeitam à possibilidade de morte antes do tempo por atender aos reclames da TV, da moda, da fama, do ouro, do Estado, do Capital.

Se, usando o argumento mais comum, vamos morrer todos um dia, e vamos mesmo, por qual razão essa multidão que gosta tanto de adrenalina, não arrisca sua vida em prol de uma vida plena e abundante? Por qual razão, para ela, valeria mais a pena morrer pela obediência aos caminhos da fama, da propriedade e do dinheiro do que pela desobediência aos caminhos da injustiça e da desigualdade? Que tal começarmos a experimentar desobedecer e recusar trilhar pelos caminhos do Estado e do Capital?

(*) vale em torno da Cidade Antiga de Jerusalém, e que veio a tornar-se um depósito onde o lixo era incinerado. Atualmente é conhecido como Uádi er-Rababi.

Fontes bibliográficas

Não-resistência cristã, Adin Ballou

Sociedade do Espetáculo, Guy Debord

Socialismo libertario: Ni capitalismo de monopolio, ni capitalismo de Estado, Abraham Guillén

Comunalismo, das Origens ao Século XX, Kenneth Rexroth

Andar a Pé, Henry David Thoreau

Passagens bíblicas antigoverno

Marcos 10:42,43

I Samuel 8:1-22

Oseias 13:9,10

Isaías 3:2- 4

Oseias 5:1

Atos 4:32

Atos 2.44-47

Lucas 12:23-34

Isaías 2:4

Miqueias 4:3,4

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