quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Quanto mais estatização, mais corrupção. Quanto mais privatização mais exploração. Pela coletivização de bens de produção e de consumo

"Você assassina a juventude...
Você,
Hiena com face polida e gravata-borboleta,
Nesse escritório de um bilhão de dólares que a
Corporação deu para você tomar conta;
Urubu que goteja carne putrefata,
Negligente e cuidadosamente vestido em tecidos de lã importados,
Dissertando a Idade da Abundância;
Chacal em gabardine com duas fileiras de botões,
Latindo através de um controle remoto,
Nas Nações Unidas..." Kenneth Rexroth





Pode procurar em qualquer lugar do Brasil de hoje, em qualquer setor da economia, e você vai encontrar empresários, executivos e administradores empenhados em alcançar ganhos de produtividade como seus predecessores vêm fazendo desde a Idade Média na Europa, com a diferença de que em vez de usar chicote e tronco para aumentar a produção e forca para punir rebeldes, usam ameaças e carta de demissão e subtração de direitos trabalhistas, a resposta encontrada para manter um ambiente de estabilidade macroeconômica e saúde empresarial ao custo do crescimento do exército de trabalhadores e de jovens lançados a cada ano nas ruas e favelas da fome, da miséria e da droga.

Temerosos em ver seus lucros destruídos pela inflação ou pela desvalorização da moeda, acossam os trabalhadores como hienas implacáveis. Agora, imaginem a sensação desses predadores insaciáveis, que representa aquilo que há de mais brutal no País, verificando que uma boa conexão em Brasília vale mais do que a criatividade e o esforço físico da matilha empresarial.

O "capitalismo de compadres" tem esse efeito de mudança nas táticas de ataque, que propicia o avanço do bando em relação aos seus concorrentes.

De que adianta ter uma boa ideia e preparar um bom projeto de extração de mais valia de trabalhadores ou de lucro fácil pela destruição da natureza se, para levá-lo adiante, precisa-se de uma decisão ou de um favor de alguém do governo? A conexão para viabilizar o projeto acaba se tornando tão interessante quanto o próprio projeto.

Vamos logo fazer as ressalvas de praxe: é claro que o mercado não funciona sem o Estado e o Estado não funciona sem o mercado. As leis, os controles e as garantias institucionais servem para manter essa parceria perversa; é claro que é indispensável que os governos simulem atuar em educação, saúde, segurança, transporte para as massas, para mantê-las sob controle; é claro que é razoável a presença do Estado estimulando e garantindo o status quo e os privilégios das elites.

Afinal, não é essa a função das agências reguladoras, das estatais, dos bancos e das empresas públicas, além do próprio governo quando atua como construtor de estradas, portos, hidrelétricas, etc, ou seja, pavimentando as trilhas dos predadores para facilitar sua ação?

Certamente, em todos esses níveis de intervenção estatal há aumento na concentração de renda, favorecendo os ricos e as corporações. Imaginem, por exemplo - para ir ao limite -, que os diretores das agências e das estatais fossem contratados no mercado por competentes e reconhecidas hienas privadas de extração de mais valia de trabalhadores.

Absurdo? De jeito nenhum. Isso é até bastante comum pelo mundo afora. O atual presidente do banco central de Israel, Stanley Fischer, um economista americano, foi contratado assim, numa espécie de concorrência global. Aliás, basta abrir as páginas de classificados da revista The Economist: toda semana aparecem editais oferecendo vagas de diretores e presidentes de companhias públicas em diversos países, sem restrição de nacionalidade para os candidatos.

O Brasil, e especialmente no governo Lula, está no lado exatamente oposto. As nomeações são politizadas, cargos repartidos na base de apoio. Isso escancara as portas do "compadrio" e da pura e simples corrupção.

Reparem, um diretor de estatal ou de agência, contratado pela competência na extração de mais valia de trabalhadores, terá compromissos com os resultados fixados por ocasião da admissão. Por exemplo: a diretoria dos Correios terá como objetivo dobrar o faturamento em tantos anos fazendo com que a população pague mais caro pelos serviços e reduzir o prazo de entrega da correspondência em tantas horas por uma exploração ainda maior dos carteiros. Cumpriu, recebe o prêmio; não cumpriu, está fora.

Um diretor nomeado pelo partido tem compromisso com o partido e com os companheiros em geral. Note-se que o presidente Lula consagrou como correta a tese de que é preciso colocar os companheiros e aliados, por critérios políticos, nos postos de governo, nas agências reguladoras e nas companhias públicas.

O compromisso com o partido ou com o presidente pode ser cumprido de maneira legal, mas mesmo assim causando danos. O governo pode impor programas e obras, com roubalheira, mas que só se justificam política e eleitoralmente. Por exemplo, a Petrobrás, tempos atrás, apresentou ao presidente Lula um plano de investimentos mais modesto. O presidente mandou ampliar para os gigantescos programas atuais. É grande o risco de a empresa estar se metendo em projetos caros demais, de baixa rentabilidade.

Lula também está forçando os bancos públicos a aumentarem seus empréstimos, desde para grandes empresas escolhidas pelo governo até para famílias comprarem a casa própria. Os empréstimos podem ser ruins e o dinheiro pode não voltar.

Por que dizemos "pode"? Porque isso só se saberá mais à frente. Mas o precedente é este: estatais e bancos (incluindo o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal) quebraram exatamente com esse tipo de política econômica. Já vimos esse filme. E notem. Os dirigentes, nomeados politicamente, nem pensam em contestar as ordens vindas do governo.

Neste caso, temos erros de política. Mas esse sistema inevitavelmente acrescenta a corrupção. Para dizer francamente, quanto mais Estado na economia, mais corrupção. Quanto mais privatização na economia mais exploração. Exemplos? Os países de capitalismo de estado, de economia inteiramente estatal, bateram todos os recordes de corrupção e ineficiência. Os paises de capitalismo privado, de economia inteiramente privada, estão todos falidos ou à beira da falência. Vide Finlândia, Grécia, Portugal, França, Inglaterra, Estados Unidos, etc.

O governo FHC havia pavimentado as trilhas das hienas colocando estatais e bancos a serviço deles e introduzido regras técnicas e de mercado para seu funcionamento. O governo Lula repolitizou tudo. Com as consequências que já vemos por aí. Se conseguiram estragar ainda mais os Correios - com ineficiência e corrupção -, por que não conseguiriam estragar ainda mais a Petrobrás ou a Caixa Econômica Federal?

É isso aí: nessas e em qualquer atividade econômica, quanto menos Estado e quanto menos hienas empresariais, melhor. Pela coletivização de terras, fábricas, equipamentos, bens e produtos. Mil vezes mais eficiente que o empreendedorismo privado e corporativo, bem mais eficaz que o rei e seus amigos. 

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