terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Gravação da PF sobre tentativa de suborno a delegado federal

Texto da gravação da PF sobre tentativa de suborno a delegado federal

Escutas telefônicas gravadas pela Polícia Federal divulgadas nesta segunda-feira pelo "Jornal Nacional", da TV Globo, detalham a suposta tentativa de suborno de enviados do banqueiro Daniel Dantas, do banco Opportunity, a um delegado federal.

O objetivo seria retirar das investigações da PF sobre crimes financeiros o nome do banqueiro e de pessoas de sua família. De acordo com as escutas, o consultor Hugo Chicaroni e Humberto Braz, assessor de Dantas, foram flagrados em encontros e telefonemas oferecendo propina ao delegado.

Suspeito de vazar informações sigilosas da operação para o ex-deputado Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP), Gilberto Carvalho, chefe de gabinete do presidente Lula, negou ontem ter repassado dados ao petista. Mas confirmou ter conversado com ele, por telefone, no dia 28 de maio, para tratar sobre uma suposta ameaça que Humberto Braz estaria sofrendo.

O trecho divulgado pelo jornal traz diálogos entre investigados na Operação Satiagraha, da Polícia Federal, que investiga a suposta prática dos crimes de lavagem de dinheiro, gestão fraudulenta, evasão de divisas, formação de quadrilha e tráfico de influência para a obtenção de informações privilegiadas em operações financeiras. A operação resultou na prisão de Daniel Dantas, do investidor Naji Nahas, do ex-prefeito de São Paulo Celso Pitta e mais 14 pessoas.

No último domingo, o único investigado que estava foragido, Humberto Braz, se entregou à polícia. Além de Braz, também continua preso Hugo Chicaroni.

Leia os diálogos na íntegra:

HUGO CHICARONI - Hoje ele é o braço direito do Daniel.
DELEGADO - Ele é de confiança mesmo?
HUGO CHICARONI - Pode ficar sossegado.
HUGO CHICARONI - A historia de só livrar três tá bom, ta ótimo.
DELEGADO - Isso é importante, porque quanto menos puder...
DELEGADO - Precisa saber exatamente o quê que é.
DELEGADO - Não dá pra fazer milagre.
HUGO CHICARONI - São as pessoas que trabalham com ele, até onde eu sei, é o Daniel, a irmã e o filho.
HUGO CHICARONI - Ele se preocupa com hoje, com hoje. Lá pra cima, o que vai acontecer, lá ele não tá nem ai, porque ele resolve.
DELEGADO - Tá tudo controlado.
HUGO CHICARONI - Ele resolve. STJ, STF...ele resolve. O cara tem trânsito político ferrado.
HUGO CHICARONI - Ele (Humberto) falou: eu tenho 500 mil dólares para tratar desse assunto.
DELEGADO - 500 mil?
HUGO CHICARONI - É. 500 mil dólares.
HUGO CHICARONI - Tá na mao.
DELEGADO - Então tá certo. Não vamos nem conferir.
HUGO CHICARONI - Não. Eu não conferi. Esses pacotinhos ele me entregou em sacos de supermercado.
HUGO CHICARONI - Eu só pus dentro de uma outra sacola e botei aqui.
DELEGADO - Quantos pacotes têm?
HUGO CHICARONI - São cinquenta...dá dez pacotes.
DELEGADO - Pode ver com calma que eu não vou deixar com vocês esses documentos.
DELEGADO - Tem sonegação, tem lavagem, tem evasão de divisa, tem outros crimes contra o centro financeiro, gestão fraudulenta. São vários crimes, uma investigação dessas sempre começa pequena e cresce.
HUGO CHICARONI - Já que ele já ofereceu 500 mil, pede um milhão de dólares. Pra ele chegar em 700, 800.
DELEGADO - Isso é dólares também?
HUGO CHICARONI - Não, não, não, isso é em reais.
DELEGADO - tá.

DANIEL DANTAS - Oi Naji, alô.
NAJI NAHAS - Você anda sumido.
DANIEL DANTAS - Você está no Brasil ou está fora?
NAJI NAHAS - Não...estou em São Paulo.
DANIEL DANTAS - Ah...tá...em São Paulo. Ah tá bom. Então, eu vou pedir pra te procurar aí, tá bom?
NAJI NAHAS - Tá bom.

GILBERTO CARVALHO - O general me deu o retorno agora. É o seguinte, não há nenhuma pessoa designada na presidência na Abin, com esse nome. A placa do carro não existe, é fria, tá. Eles aqui acham que a única alternativa é que tenha sido caso de falsificarem documento, eles não consideram possível que seja da Abin. Eu não falei com o Luiz Fernando, ainda, mas não tem jeito. A Policia Federal não usa a PM. Eles não se misturam de jeito nenhum, tá. Então, eu acho que o mais provável é que o cara tava armando mesmo alguma coisa. Mas com documento falso que também no Rio é muito comum, porque daqui não tem. Eu pedi, insisti, fiz com o máximo cuidado, tal.
LUIZ EDUARDO GREENHALGH - Seria bom dar um toque no Luiz Fernando também, hein?
GILBERTO CARVALHO - Eu vou dar, eu vou dar. Amanhã cedo eu tenho que falar com ele, vou levantar isso pra ele também.
LUIZ EDUARDO GREENHALGH - Tá, tá bom. Tem um delegado chamado Protógenes Queiroz, que parece que é um cara meio descontrolado, viu?
GILBERTO CARVALHO - Ah é?
LUIZ EDUARDO GREENHALGH - É.
GILBERTO CARVALHO - Ele tá onde, o Protógenes, agora?
LUIZ EDUARDO GREENHALGH - Tá aí, aí em Brasília.GILBERTO CARVALHO - Ah, aqui em Brasília.

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