A Necessidade de Uma Mídia de Esquerda
Por Ricardo Santos em 10/02/2015 na edição 837
Começo este artigo a partir de duas constatações. A primeira: desde a
reeleição de Dilma Rousseff, observo o seguinte: ao abrir meus e-mails,
verifico que 92% deles são contrários ao governo Dilma. O restante, 8%,
faz alguma crítica aos tucanos. A segunda: os seis jornais de maior
circulação no Brasil – Folha de S.Paulo (SP), Super Notícia (MG), O
Globo (RJ), O Estado de S.Paulo (SP), Extra (RJ) e Zero Hora (RS) – são
de direita, de acordo com a Associação Nacional de Jornais (2012). De
esquerda, temos o Brasil de Fato, CartaCapital e Caros Amigos. Tem mais:
isso, sem mencionar a mídia eletrônica, que é ideologicamente
comprometida com a grande burguesia.
Na verdade, de esquerda temos pouquíssimas mídias de
alcance nacional, isto é, se comparadas às mídias tradicionais à
direita. O jornalista Rui Martins foi cirúrgico ao dizer que não temos
grandes jornais de esquerda no país.
No artigo “Dois perfis, duas crises”, Luciano Martins Costa
faz a seguinte reflexão: “O governo de Geraldo Alckmin venceu a crise
de abastecimento de água no campo da comunicação. O governo de Dilma
Rousseff perdeu em todas as crises que encara (…) e corre o risco de
enfrentar um processo de impeachment alimentado pela imprensa. Geraldo
Alckmin fala bastante, mas nada diz. Dilma Rousseff não fala, e quando
fala não diz.”
Um desequilíbrio em termos de informação
Uma constatação. Ultimamente, tento compreender o motivo
que leva o eleitor e a mídia de São Paulo a fechar os olhos para a falta
d’água no estado e o propinoduto do metrô paulista. No entanto, esse
mesmo eleitorado e a mesma imprensa adotam uma postura de bombardeio
pesado e constante em relação à corrupção na Petrobras.
Um dado significativo que poucos sabem. Segundo Martins, em
relação à Petrobras apenas 33% do capital pertencem ao Estado e 67%
estão em mãos privadas. É claro que existe corrupção na empresa. Essa
dura realidade vem desde o tempo da ditadura militar (1964-85). E tem
muito mais: a cobertura da crise hídrica e da Petrobras é absurdamente
desigual. Enfim, temos dois pesos e duas medidas com Alckmin e Dilma. Em
bom português: com Alckmin a mídia é servil; com Dilma, a artilharia é
pesada. Trocando em miúdos: falta uma mídia de esquerda, de forte
penetração nacional. Na mesma medida da imprensa de direita. Melhor
dizendo: há desequilíbrio abissal no consumo de informação. Aliás, não
resta dúvida por que há um predomínio do pensamento à direita, neste
país, em nossa opinião.
Para finalizar este artigo, a verdade é uma só: uma boa
parte dos brasileiros leem Folha de S.Paulo, O Globo e O Estado de
S.Paulo. Uma minoria lê CartaCapital e Brasil de Fato. Essa
desigualdade, no tocante à informação, ocorre porque faltam, no país,
grandes veículos midiáticos de esquerda. Resultado: isso gera
exponencialmente um desequilíbrio em termos de informação e tem como
consequência a complacência, da população e mesmo da imprensa, em
relação ao pensamento majoritário da direita. Quem perde com isso é o
país.
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Ricardo Santos é professor de História e jornalista
Texto extraído do Observatório da Imprensa
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