As manifestações de junho do ano passado não foram espontâneas, foram costuradas anos a fio nacionalmente pelo MPL. O aviso "se a tarifa não baixar São Paulo vai parar" ecoou de Kassab a Haddad na sede da Prefeitura de São Paulo, no Viaduto do Chá.
Quem atendeu ao protesto não estava para brincadeira. Povo não sai às ruas para jogar truco e provou isso em junho. O usufruto do transporte público digno e de qualidade é apenas um dos inúmeros direitos previstos na Constituição, mas negados na prática.
O bebê da passagem livre nos transportes urbanos em todo o país foi fecundado pelo MPL. O mesmo MPL que viu esse bebê crescer. E ainda esse MPL deveria fazer o parto. Esse parto, bem feito, abriria caminho em direção a novas conquistas com possibilidades ilimitadas. Conquistas como, por exemplo, expropriação para Reforma Agrária de um mínimo inicial de 10 km nas margens das rodovias, ferrovias e hidrovias federais; e autogestão generalizada, principalmente nas áreas da saúde, educação, moradia, lazer.
O que aconteceu?
A mentira sistemática da mídia mainstream, somada à brutalidade de fascistas motorizados atropelando e matando jovens manifestantes pelo país afora, aliada à perversidade institucionalizada da policial federal, estadual e municipal, não foram suficientes para conter a multidão disposta a alcançar seu alvo: o passe livre.
O parto, ou o desdobramento natural da grande assembléia na Avenida Paulista no sentido do encaminhamento da continuidade da luta pelo "passe livre" que o Brasil inteiro esperava não aconteceu. O bebê morreu junto com a mãe pela vergonhosa fuga do parteiro MPL.
O que se viu foi vacilação no sentido mais periférico da palavra. O vacilão MPL em vez de abrir seus ouvidos a voz dos milhões que atenderam seu chamado às ruas, preferiu negociar com o andar de cima, bem no estilo do pelego sindical.
Num primeiro momento o trapalhão MPL soltou nota dizendo que sua meta fora atingida, o retorno da tarifa aos R$ 3,00. Claro que haviam cartazes mencionando educação, saúde, mas o foco de toda movimentação popular era pela gratuidade do transporte público urbano em todo o país. O recado das ruas era claro. "Prossiga MPL, essa luta específica teve um início, um meio não-violento, e precisa ter um fim. Esse fim seria também o início da continuidade da luta nas demais áreas. Conte conosco, não recuaremos".
Infelizmente a trairagem emepelista prevaleceu. Correram para Brasília para ouvir conselhos daqueles que por todos os meios tentaram sufocar o clamor das ruas. E para espanto geral começaram a pedir exatamente o que os inimigos do passe livre queriam: que os manifestantes voltassem aos seus velhos sofás da sala e se concentrassem nos ditames do Jornal Nacional, nos alertas dos Datenas, e nos editoriais das Sherazades patrocinados por governos, bancos, latifundiários e corporações.
Para espanto e decepção de milhões de indignados e furiosos manifestantes, a montanha do MPL pariu um rato de R$ 0,20.
O que acontece hoje?
Envergonhado, o MPL saiu de cena. A tática black-bloc, repudiada tanto pelo anarquismo institucionalizado quanto pelos vermelhos eleitoralizados, assumiu corajosamente a tarefa de ressuscitar os cadáveres do bebê e da mãe. O que se viu em fevereiro ultimo foi o estado e o capital desferindo um golpe contra as bandeiras negras. Primeiro intimando manifestantes a comparecer em delegacias de polícia no mesmo dia e horário da manifestação convocada para dia 22 de fevereiro, para depois prender e arrebentar remanescentes ácratas, bem no estilo brutal do General Figueiredo.
Não foi por acaso a ausência total de bandeiras anarquistas no Grande Ato Contra a Copa em 13 de março no Largo da Batata. Como também não foi por acaso o ressurgimento tardio do MPL às manifestações. Foi necessário prender e arrebentar o negro para dar lugar ao bloco vermelho de vergonha comandado por Rui Falcão.