sábado, 3 de setembro de 2011

Governo dos EUA cria perfis falsos nas redes sociais

Operação de espionagem estadunidense manipula redes socias na internet.



Os militares dos EUA estão a desenvolver um software que permitirá secretamente manipular sítios de redes sociais ao usar entidades virtuais falsas para influenciar conversações na internet e espalhar assim propaganda pró-estadunidense.

Uma corporação Californiana venceu o concurso para um contrato com o Comando Central dos EUA (Centcom) que supervisiona as operações armadas dos EUA no Oriente Médio e Asia central, para desenvolver o que é descrito como um "serviço de gerência de entidades virtuais" que permitirá a um militar dos EUA controlar até 10 entidades virtuais espalhadas por diversos cantos do mundo.

O projeto foi comparado por peritos da internet às tentativas da China para controlar e restringir a liberdade de expressão na rede. Os críticos certamente irão queixar-se de deixar militares americanos criar um falso consenso nas conversações na net, abafar opiniões menos convenientes e comentários ou reportagens que não correspondam aos seus objetivos.

A descoberta de que os militares americanos estão a desenvolver entidades falsas na net - conhecida pelos usuários da media social como "sock muppets" - poderá encorajar outros governos, companhias privadas e ONG's a fazerem o mesmo.

O contrato com a Centcom estipula que cada entidade virtual falsa tenha um histórico e dados de apoio convincentes de forma que até 50 controladores situados nos EUA sejam capazes de operar essas mesmas entidades falsas das suas estações de trabalho "sem medo de serem desmascarados por adversários sofisticados".

O porta-voz da Centcom, Comandante Bill Speaks disse: "Essa tecnologia dará apoio ao rastreamento de "blogs" de língua estrangeira para que o Centcom reaja diante da propaganda extremista e violenta fora dos EUA".

Ele disse que nenhuma das intervenções seria em Inglês porque seria ilegal "atingir o público dos EUA" com esta tecnologia e que qualquer uso da língua inglesa na media social pela Centcom seria claramente criminoso. As linguagens em que as intervenções serão feitas serão: Árabe, Farsi, Urdu e Pashto.

A Centcom disse que não vai intervir em sítios dos EUA em Inglês ou qualquer outra lingua e especificamente disse que não iria intervir em redes sociais como o Facebook ou Twitter.

Quando desenvolvido, este software poderá permitir aos militares americanos trabalhar intensamente numa localidade para responder a conversações emergentes na net com qualquer número de mensagens coordenadas, "posts" em blogs, "chatrooms" entre outras intervenções. Os detalhes do contrato sugerem que a localização seria a base aérea MacDill situada perto de Tampa, Florida onde fica o Comando de Operações Especiais dos EUA.

O contrato com a Centcom requer para cada controlador um "servidor virtual privado" localizado nos EUA e outros que aparentarão estar fora dos EUA para dar a impressão que as entidades são pessoas reais localizadas em partes diferentes do mundo.

Fará também "traffic mixing", fundindo o uso dessa mesma entidade falsa com o uso de pessoas fora da Centcom de maneira que permitirá um "excelente disfarce e poder de dissimulação".

O contrato de multi-entidades foi talvez concebido como parte de um programa chamado "Operação Ernest Voice" (OEV) que foi primeiro desenvolvido no Iraque como uma arma de guerra psicológica contra a presença na net de adeptos da al-Qaida e outros grupos que se opuserem às forcas de coalizão.

Desde então, a OEV expandiu-se em um projeto no valor de 200 milhões de dólares, que provavelmente foi usado contra jihadistas no Paquistão, Afeganistão e no Oriente Médio.

A OEV e visto, por comandantes americanos, como peça vital de contra-terrorismo e o programa de contra-radicalização. Em provas prestadas ao comitê dos serviços armados do senado dos EUA no ano passado, o General David Petraeus, na altura comandante do Centcom, descreveu a operação como um esforço para "contrapor-se à ideologia e propaganda extremista e para se certificar de que vozes credíveis seriam ouvidas na região". Ele disse que o objectivo dos militares dos EUA era ser o "primeiro a chegar com a verdade".

Neste mês o sucessor de Petraeus, General James Mattis, disse ao mesmo comitê que o OEV "apoia todas as atividades associadas com o denegrir narrativa inimiga, incluindo o envolvimento na internet e capacidade de distribuição de produtos na internet".

Centcom confirmou que  2.76 milhões de dólares do contrato foram atribuídos a Ntrepid, uma corporação nova registrada em Los Angeles. Não se desvendou se o projeto de multi-entidades ja estava em operação ou a discussão de contratos relacionados.

Ninguém da parte da Ntrepid esteve disponível para comentar.

No seu depoimento ao comitê do Senado, o General Mattis disse: "a OEV procura destabilizar o recrutamento e treino de homens-bomba; negar lugares seguros para os nossos adversários; e contra-agir a ideologia e propaganda extremista." Ele disse também que o Centcom estava a trabalhar em conjunto "com os parceiros das forcas de coalizão" para desenvolver novas técnicas e táticas que os EUA poderá usar "para agir contra o adversário no domínio da internet".

De acordo com um relatório do inspetor geral do departamento da defesa dos EUA no Iraque, a OEV era gerida por forcas multinacionais e não pela Centcom.

Quando foi questionado se houve envolvimento por parte de militares do Reino Unido na OEV, o Ministro da Defesa do Reino Unido disse que "não encontrava provas de tal facto". O Ministro recusou a dizer se houve envolvimento nos programas de gerencia de entidades falsas, dizendo: "Nao comento sobre a nossa capacidade cibernética".

A OEV foi discutida no ano passado num encontro de especialista em guerrilha eletrônica em Washington DC, onde um oficial da Centcom disse aos delegados que o seu proposito era "comunicar mensagens criticas e agir contra a propaganda dos nossos adversários".

A Gerencia de entidades falsas pelos militares americanos enfrentaria desafios legais se fosse usado contra cidadãos americanos, onde um numero de pessoas que se envolveram em "sock puppetry" foram condenados.

No ano passado, um advogado de Nova York que se fez passar por um educador foi condenado a prisão depois de ser julgado por "personificação criminal" e roubo de identidade.

Não esta claro se o programa de gerencia de entidades falsas iria contra as leis do Reino Unido. Peritos legais dizem que não anda longe de se enquadrar no Ato de Falsificação e Forjamento de 1981, que diz que "a pessoa é culpada de falsificação se fizer um instrumento falso, com a intenção de induzir alguém a aceitar algo como genuíno e pela razão de aceitar fazer ou não fazer esse ato que prejudica alguém". No entanto, isto só se aplica se um sitio ou rede social pudesse provar que sofreu "prejuízo" como resultado.

-Este artigo foi emendado no dia 18 de Março de 2011 para remover referencias ao Facebook e ao Twitter, feito durante o processo de edição, e para adicionar um comentário da Centcom, recebido depois da publicação, de que nao esta a usar esses sítios para os seus fins.

Extraído de:   http://www.guardian.co.uk/technology/2011/mar/17/us-spy-operation-social-networks?CMP=twt_iph

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