por Phyllis Bennis
O que vemos é um enorme ataque por parte de Israel contra Gaza, que lembra muito, em muitos aspectos, a Operação Chumbo Fundido de 2008, de 2009, também iniciada logo após a primeira eleição do presidente Obama. A agressão ocorreu antes da posse, em ambos os casos.
No presente caso vemos esta enorme escalada após um cessar-fogo de dois dias negociado pelo Egito, e em grande parte cumprido. Israel respondeu a esse cessar-fogo assassinando o líder de Gaza, Ahmed Jaabari, que entre outras coisas era realmente líder da ala militar do Hamas, mas nos últimos anos também ocupou o papel de principal negociador com Israel, entre outras coisas, na soltura do soldado israelense Ghalit, em troca da libertação de mais de mil prisioneiros palestinos. Nesse contexto, ele vinha negociando através de vários intermediários, tanto no Egito como no interior do movimento de não-violência israelense, por um cessar-fogo de longo prazo entre o Hamas e Israel. Então, como já aconteceu antes, quando as negociações entre israelenses e palestinos estavam em andamento, Israel responde à possibilidade de negociações sérias com o assassinato dos envolvidos nas negociações. Isso acontecera anos atrás, quando um outro líder do Hamas foi assassinado em Gaza, enquanto ele estudava o texto proposto de um acordo final de paz. Isso ocorreu em 1996. Então isso não é nada novo.
Precisamos entender essas coisas considerando o contexto bélico estadunidense e a dependência dos EUA dos tais assassinatos programados. Isso torna muito mais difícil para nós, que tentamos mudar a política dos EUA, exigir que os EUA pressionem Israel impedindo esses assassinatos programados, pois sabemos que tais assassinatos estão bem no centro do palco da política estadunidense no Afeganistão, no Paquistão, no Iêmen, na Somália, e talvez em outros lugares. Mas há também outros aspectos a considerar.
Estamos diante de uma grande questão: afinal, quem se defende de quem? A História é determinada pelo início do funcionamento do relógio. E neste caso, o que estamos ouvindo muito bem por toda parte a partir dos meios de comunicação dos Estados Unidos é que Israel respondeu aos foguetes palestinos, que palestinos lançaram foguetes, que os palestinos disparam foguetes, e Israel retruca. De vez em quando ouve-se algo sobre vítimas palestinas, mas principalmente ouve-se apenas sobre foguetes palestinos, sobre Israel reagindo aos ataques palestinos.
Neste caso, é verdade que antes do assassinato houve o disparo de um míssil anti-tanque por parte dos palestinos, por uma das facções armadas palestinas, contra um grupo de soldados israelenses, e que vários deles ficaram feridos. Daí surge uma nova questão: bem, qual a razão do disparo de tal míssil naquela ocasião?
Voltemos para a última segunda-feira, por exemplo, quando as forças israelenses mataram um jovem na Faixa de Gaza que se aproximava da cerca da fronteira. Sua família e outros disseram que ele tinha problemas mentais, que era mentalmente doente, que não tinha ideia de onde estava. Os israelenses afirmam que avisaram para não se aproximar da cerca. Ele não ouviu, não entendeu, ou não prestou atenção, e eles o mataram. Em outro ataque, dois dias depois, na quinta-feira, militares israelenses enviaram tanques e um trator para Gaza, invadiram o território de Gaza, e mataram a tiros uma criança de 13 anos de idade, perto de um parque infantil, cerca de 1.200 metros, mais de um quilômetro de distância de onde os soldados estavam.
Então, tudo isso ocorre sem que ninguém realmente preste atenção. É só quando há uma enorme escalada (neste caso, do lado israelense pelo assassinato de um importante líder do Hamas) que as pessoas começam a prestar atenção. Isso pode resultar em um grave perigo: temo que a discussão pública, de alguma forma, adote um novo padrão de normalidade; Ou seja, se Israel apenas responde aos ataques, essa visão tarda o reconhecimento de que trata-se de uma ocupação.
A forma de ocupação de Gaza é diferente. Não é com soldados israelenses no território. Os soldados e colonos sairam em 2005. Mas a lei internacional diz muito claramente que ocupação define-se como controle de um território a partir do exterior, por parte de um governo externo, e é precisamente isso que temos em Gaza. Essa ocupação toma a forma de um cerco militar israelense que comanda as fronteiras, que determina quem pode entrar, quem pode sair, que bens podem entrar ou sair, que controla os mares em torno de Gaza, que constrói um muro que cerca Gaza completamente, que controla as fronteiras, que controla o espaço aéreo, que bombardeia o aeroporto de modo que nenhum avião possa pousar, que impede os pescadores de Gaza de sair mais de uma milha para o mar -- esta ocupação é de uma forma diferente. E a menos que compreendamos que essa é a causa do nível de violência que vemos, não teremos condições de acabar com ela.
A primeira coisa que tem que acontecer, é claro, é a chamada para um cessar-fogo imediato de ambos os lados. Mas a menos que entendamos o contexto da ocupação, essa trégua não durará muito.
http://www.youtube.com/watch?v=2qoMyV3jzjA
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