sábado, 27 de julho de 2013

Sem Vandalismo ou Sem Pacifismo?

Nem um e nem outro!

E o rapaz mascarado respondeu que "vandalismo é o que fazem nas escolas, cheias de gente sem educação", e depois arrematou que "manifestação pacífica é passeio pela cidade". E está certo!

Mas aqui também cabe algumas considerações:

Quando um grupo sai às ruas com uma causa justa e a polícia baixa o pau, a tendência é a população aderir, e quanto maior a violência policial maior será a solidariedade por parte do povo. E essa postura de sair às ruas em massa revela um desejo de mudança que pode evoluir para assembleias suficientemente massivas a ponto de diluir os poderes da Democracia Representativa e progressivamente instituir a Democracia Direta.

Quando um grupo sai às ruas quebrando vidraças e a polícia baixa o pau, e o grupo corre em debandada, a tendência é a população não aderir. Não se trata aqui de defender o chamado "pacifismo". Pacifismo é coisa de UPPs do Rio. Pacifismo são capacetes azuis da ONU. Pacifismo são tropas do governo dos Estados Unidos invadindo o Iraque. Pacifismo é a tal Guerra Contra as Drogas na América Latina.

Não se trata aqui de defender o chamado "moralismo". Moralismo é coisa de partido político que quer apenas preservar a aparência. Moralismo é coisa de marqueteiro. Moralismo é prática de político profissional que pensa apenas no voto antes da eleição e que depois de eleito pensa apenas em roubar. Moralismo é chamar-se Papa Bergoglio e mudar nome para Francisco. Moralismo é Zé Dirceu dizendo na surdina para Hélio Bicudo que "bolsa família significa 40 milhões de votos".

Não se trata aqui nem de pacifismo nem de moralismo. Há uma diferença diametral entre "manifestação pacífica" e "manifestação não-violenta ativa".

Realmente, "manifestação pacífica" é mesmo um passeio. É simplesmente sair caminhando pela cidade cantando mil slogans diferentes. É como expor uma lente ao sol sem estabelecer um foco. É como dizer ao poder estabelecido que há descontentamento mas sem defini-lo com clareza. É como um bebê chorando de manha. E pior que tudo, pacifismo é sair pelas ruas em 7 de setembro posando para agências de propaganda pagas a peso de ouro, para gravar cenas que serão usadas futuramente na TV no horário eleitoral por candidatos a deputado federal, governador e presidente da república!

Já a "manifestação não-violenta ativa" é completamente diferente. Trata-se de tática. Tática de guerra contra o Sistema. A desobediência ativa não-violenta pode ter mais poder do que mil bombas atômicas! Há um foco bem definido. Pode ser, por exemplo, a exigência de tarifa zero em ônibus, trem e metrô, em todo o município de São Paulo. O grau de organização pode ser tal que já não adianta mais qualquer tipo de repressão policial, bombas de gás, balas de borracha ou de chumbo. A maioria não corre diante da agressão. Há determinação e disposição. Diante da brutalidade policial os manifestantes sentam-se no chão, e por mais que sejam agredidos não saem em fuga. E quanto mais a polícia bater, agredir, ferir, até mesmo matar, mais perto ficará a vitória pois a ideia não morre. Essa tática é simples. Mas como diz o provérbio chines "simples não quer dizer fácil"!

Fácil é juntar-se a um grupo pequeno vestido de preto, cobrir o rosto com uma bandana, e misturar-se ao grupo maior que não tem medo de mostrar a cara, para depois quebrar vidraças, lançar molotov contra a polícia e sair correndo como um cão danado. É espetacular quebrar vidraças? É! É espetacular lançar molotov contra a tropa de choque? É! Mas tudo começa e termina no espetacular. Quando alguém quebra uma vidraça com pedras, barras de ferro, e depois corre, é porque sabe que praticou uma atitude inconsequente. Quando alguém lança um coquetel molotov contra a PM, e depois corre, está apenas fazendo um showzinho para chamar a atenção sobre si mesmo. É uma atitude tão infantil como apertar a campainha das casas e sair correndo. Não muda nada! Não faz a luta avançar! Não atrai adesão em massa!

Se queremos juntar os amigos para mostrar no youtube e dizer: "esse aqui quebrando a vidraça sou eu", ou "esse ali tacando o molotov nos coxas sou eu, cara!". Então continuemos fazendo isso. Quebra e corre. Taca e corre. Junta os amigos e mostra. Até cansarmos ou enjoarmos. Ou até sermos presos.

Mas se queremos de fato virar essa sociedade de cabeça para baixo, derrubar os podres poderes judiciários, legislativos, executivos, midiáticos, e instituir a democracia direta, temos que fazer bem mais do que lançar objetos em coisas ou pessoas e sair em debandada!

Quebrar vidraças apenas aquece a indústria vidraceira e seu comércio. Lançar molotov em policiais apenas fornece desculpas para eles colocarem em prática a única coisa que sabem fazer e para a qual foram treinados: ferir e matar.

Vandalizemos o Sistema Representativo em prol da construção da Democracia Direta. Vandalizemos o Sistema Mercantil Totalitário em prol do controle dos meios de produção e de vida pelo povo soberano.

quinta-feira, 25 de julho de 2013

O ÚLTIMO BASTIÃO: BANDEIRAS, PEDRAS E MOLOTOVS

O ÚLTIMO BASTIÃO: BANDEIRAS, PEDRAS E MOLOTOVS

“Se não podes ser forte e não sabes ser débil, serás derrotado.” Sun Tzu – A Arte da Guerra

Está claro que democracia supõe a livre manifestação das minorias. Está também claro que há limites para a paciência do homem comum, da mesma forma que há um ponto de saturação quando o sal não mais se dissolve na água.

Quando, no 7º Ato Contra o Aumento das Tarifas, em 20 de junho, a multidão na Paulista clamou aos partidos para que abaixassem suas bandeiras partidárias, não o fez no sentido de podar o direito de livre manifestação. Agiu no senso comum de espantar um intruso que saltou sobre os ombros de um movimento que se dirigia em direção oposta à vontade do intruso.

O que motivou a multidão a rejeitar as bandeiras partidárias? 

Foram necessários 6 grandes Atos para que as 4 esferas de poder, municipal, estadual, federal e imprensa, percebessem que a luta pela redução das tarifas havia extravasado espaços geográficos restritos e alcançado todo território nacional. A voz de comando saíra do domínio do MPL, que já sabia disso no dia anterior quando deixou vazar que a batalha pela revogação do aumento da tarifa havia sido ganha, e que dali para a frente o patamar seria outro e o campo de ação mais amplo. Houve até um momento de dúvida sobre a realização o não do 7º ato, que acabou sendo confirmado como um momento de comemoração. A multidão de manifestantes rejeitou bandeiras partidárias no 7º ato porque já vinha sistematicamente fazendo isso nos atos anteriores, num sonoro não ao flagrante oportunismo dos partidos, que, comandados por marqueteiros como João Santana, que não por acaso é conhecido pela alcunha de Tio Patinhas, lançam mão de todo e qualquer artifício para alcançar sucesso em seus projetos de poder sobre o povo. O dístico "IHH, FUDEU, O POVO APARECEU!", passou a ser repetido com entusiasmo por inteligente unanimidade de Norte a Sul e de Leste a Oeste não apenas pelas capitais, mas por todo os municípios do país. Jô Soares disse que essa frase fala por si e que dispensa qualquer interpretação, e estava certo. O aparecimento do povo é o aparecimento do soberano. E diante do soberano naufragam todos os navios dos partidos, como sempre, abarrotados de ratos das mais variadas colorações e possuídos pelos típicos e históricos posicionamentos em relação ao poder.

O que motivou os partidos a alçar suas bandeiras partidárias no 7º Ato Contra o Aumento das Tarifas?

Os grandes derrotados nesse embate pela redução das tarifas foram os 4 poderes acima descritos. Vamos considerá-los um a um. 

1. A midia mainstream até onde pode ridicularizou os manifestantes. Em alguns editoriais chegaram a pedir que a polícia aumentasse a repressão contra "aqueles baderneiros", e nisso foram ouvidos. Indignada, a população sentiu-se ofendida e passou a enviar emails e tweets aos âncoras, comentaristas, editorialistas das TVs relatando os fatos com fotos e videos demonstrando cabalmente quem era de fato o baderneiro: a repressão governamental. 

2. O governo federal, como de praxe, manteve-se distante e indiferente. Agiu como um cão com o osso do poder entre os dentes. Monopolizando o acesso aos cofres públicos, que já acumulavam cerca de R$800 bilhões de janeiro a junho, e usando esse dinheiro em benefício particular. Do ponto de vista do governo, sair às ruas reivindicando supressão de R$ 0,20 ou R$ 0,10 ou R$ 0,30, no aumento das tarifas, era certamente coisa orquestrada por vândalos. 

3. O governo estadual, armado e venerado por PMs assassinos institucionalizados como a ROTA, por policiais civis corruptos cristalizados como o DENARC, não pensou duas vezes antes de brutalizar pessoas que, de forma crescente, desafiaram seu poder nas ruas. 

4. Por último, o governo municipal, o mais derrotado entre os derrotados. Haddad foi eleito numa composição política destituída de todo e qualquer sentido de ética e decência. Abdicação essa que, diga-se de passagem, tornou-se condição sine qua non para qualquer composição ou partido chegar ao poder. Há muito tempo desapareceram os projetos políticos em que a democracia reina e prevalece. O que vale são conchavos, muito, muito dinheiro. Marqueteiro político virou sinônimo de mercenário. Para o mercantilista e para o mercenário o que importa é destruir o concorrente. Quem manda é aquele que "não é fraco". Quem dá as cartas é aquele que tem poder. Quem dá a direção é aquele que tem dinheiro. Nesse campo palavras como ética, integridade, caráter, são motivos de piada. O recém-nascido e tão aguardado governo municipal do PT assumiu caras de natimorto. Ficou patente para a população de São Paulo que não haveria mudança. Haddad revelou-se a liquidificação resultante dos governos Maluf, Marta, Kassab.

Diante desse quadro negativo, Rui Falcão, como bom cão obediente aos seus donos, e seguindo as diretrizes vindas de cima, ordenou aos seus vassalos bem alimentados com dinheiro de ONGs e mal alimentados com bolsas família a ir para as ruas num gesto, no mínimo, tresloucado. Regado por marqueteiros, ele arriscou duas possibilidades. A primeira: "Aqueles manifestantes idiotas e despolitizados, felizes com o desconto de R$ 0,20 nas tarifas, nem iriam perceber nossas bandeiras partidárias gerando imagens preciosas na propaganda para as próximas eleições para o governo do Estado e da Federação".. A segunda: "Se nossas bandeiras partidárias forem rejeitadas pelos manifestantes agiremos da mesma forma que fazemos com a imprensa que ousa atacar nossos corruptos. Vamos chamá-los de antidemocráticos, direitistas, golpistas".

As pedras e os molotovs

Do lado dos manifestantes também há que se levantar autocríticas. Ações diretas como lançar pedras contra vidraças de agências bancárias e câmaras de vereadores, saques, etc., ou atirar coquetéis molotov contra as forças armadas do governo corrupto e repressor pode e deve ser encarado como o momento de saturação no qual a sociedade perde a capacidade de diluir e absorver os efeitos da corrupção consequente do crescente estrangulamento do sistema mercantil totalitário.

O fato da sociedade perder a solubilidade implica na ausência de governabilidade. Significa que o sistema representativo faliu. Que o povo disse basta! Mas mesmo diante dessa situação é necessário substituir o sistema fracassado por alguma outra coisa. Afinal, a vida continua. O cadáver da democracia representativa tem que ser enterrado e substituído por algo mais progressista, mais avançado. Essa é a grande questão.

Do ponto de vista tático, nessa altura do campeonato, é inteiramente inútil, quebrar vidraças de bancos ou de lojas. A insatisfação já foi demonstrada e repercutiu até mesmo no exterior. Pelo mundo inteiro ecoou o grande basta! do povo brasileiro. Continuar quebrando vidraças apenas irá aquecer a indústria e o comércio das vidraçarias. Vidraças quebradas não quebram bancos nem abalam parlamentos, palácios de governo ou de "justiça".

Da mesma forma, atirar molotovs contra policiais é tão contraproducente que o próprio Cabral, pelo que tudo indica, ordenou P2 a fazer isso segunda-feira última, para justificar a repressão contra o povo que protesta contra o crônico e incurável desperdício do dinheiro público praticado pelo sistema de governo representativo.

Batalhas importantes podem vencidas mediante a ação direta não violenta ou não-violência ativa, que pode ser implementada tanto por núcleos pequenos de 3 pessoas ou mais, como por multidões auto-organizadas compostas por centenas de milhares a milhões de pessoas.






quarta-feira, 17 de julho de 2013

Taborita responde ao Rick's Café sobre a "Revolta do Vinagre" no Brasil

¿Cuál es la situación real del pueblo brasileño? Tengamos presente que tiene más de 192 millones de personas.

 Como acha que está a situação de um povo que nesta altura do ano já pagou em tributos quase R$830 bilhões (fonte http://www.impostometro.com.br/ ) sem ter quase nenhum retorno? Sendo forçado a

a) comprar automóveis para se locomover, pois o transporte dito público é caro e de péssima qualidade?

b) pagar planos de saúde, médicos, hospitais e laboratórios particulares, pois os serviços de saúde pública são da pior qualidade?

c) pagar escolas particulares, pois as escolas públicas básicas, de primeiro e segundo grau são da pior qualidade?

 ¿Qué problemas cotidianos de salud, educación, vivienda, trabajo y transporte hay en los diferentes estados de Brasil? 

Na área da saúde, há uma epidemia de diabetes e de hipo e hipertensão no Brasil, o que tornou-se uma mina de ouro para a indústria farmacêutica e para os médicos, que ganham comissões para cada remédio que prescrevem em seus receituários. O modelo de medicina no Brasil não é a cura pela eliminação da causa do mal, mas o paliativo através de remédios que além de não curar, agravam ainda mais os problemas.

Na área da educação, enquanto estudantes, apenas nos preparam para responder questões que cairão na prova. Não somos preparados para analisar, discutir, estudar problemas que afetam diretamente nossas vidas. Isso, aliás, foi considerado crime no tempo da ditadura. O autoritarismo foi incorporado pelas nossas escolas, professores e diretores. Some-se a isso os baixíssimos salários e o pouco preparo na área de educação. O resultado é o pior possível.

Na área de habitação, são exatamente aqueles que mais precisam que pagam os juros mais caros na compra de materiais de construção. O proletariado brasileiro, por força da necessidade, aprendeu a construir sua própria casa, mas ainda mora em favelas por não dispor de dinheiro para comprar terreno e material de construção para erguer uma moradia salutar. Há movimentos de ocupação de edifícios abandonados nos grandes centros urbanos, e movimentos de trabalhadores rurais sem terra, mas tais grupos, longe de ser autônomos, estão nas mãos de políticos profissionais que usam tais entidades para fins eleitorais.

As condições de trabalho são as piores possíveis, basta ver o salário mínimo no Brasil de R$678,00 o que equivale a 229 €! Só para ter uma idéia, uma casa com um quarto, na periferia de São Paulo, dificilmente é alugada por menos de R$500,00. Com essa política de miséria estão canalizando nossos jovens em direção às drogas e ao crime.

As condições nos trens, ônibus e metrô, são absolutamente precárias. As massas são transportas como gado. Isso já é crônico. Estou com 60 anos de idade, desde minha adolescência até hoje não vi qualquer melhoria nessa área. Pelo contrário tudo piora e cada vez mais.

Preocupada com a crescente degradação da qualidade de vida aqui em São Paulo, minha esposa viajou ano passado para o Estado de Tocantins para estudar a possibilidade de nos mudarmos para lá. Ela retornou arrasada! Nos municípios do interior onde passou não viu outra coisa senão prostituição infantil, corrupção dos órgãos públicos, fome e miséria generalizada. Diante do que viu pelo interior do Brasil, as condições precárias em que vivemos em São Paulo pareceram o Paraíso. O Brasil está à beira de uma revolução! Após 513 anos de opressão chegamos finalmente a um ponto de saturação. Não há outro caminho senão a reviravolta. Mas essa Revolução e essa Reviravolta não será possível sem que o mesmo ocorra nos demais países do mundo. Nosso inimigo real, grande, verdadeiro, são as megacorporações que tomaram para si cada centímetro cúbico de nosso planeta. A luta não é apenas dos brasileiros, é também dos espanhóis, franceses, estadunidenses, etc.

¿Qué avances reales se han producido en Brasil en circunstancias básicas como la educación, la salud, la vivienda, el trabajo o las infraestructuras en los últimos veinte años?

Na educação não houve avanço, houve retrocesso. Eu, em minha adolescência, tive o privilégio de usufruir o tempo em que escolas públicas eram bem melhores que as privadas. Os ricos, normalmente relapsos, não conseguiam estudar em escolas públicas, o nível de ensino era alto e não conseguiam acompanhar, o que os fazia buscar escolas particulares onde sem esforço conseguiam graduar-se. Com o tempo a situação se inverteu completamente. Hoje, nossas escolas públicas de primeiro e segundo grau estão abarrotadas de analfabetos funcionais. Houve retrocesso também no nível superior, nas universidades. O governo federal, ao invés de construir novas universidades, direciona dinheiro para pagar vagas para alunos em universidades particulares, onde o estudante é considerado mais uma fonte de lucro do que qualquer outra coisa. O ensino médio e superior está mais voltado a satisfazer interesses tecnológicos e mercantis de corporações e megacorporações do que abastecer a juventude de sabedoria e conhecimento, o verdadeiro desafio da Universidade.

Há retrocesso também na saúde. Não há avanço na saúde de uma população quando quase todos os recursos são direcionados para tratar com efeitos da má alimentação, do trabalho extenuante, repetitivo, desagradável, e da má qualidade de vida. Por mais que se construam hospitais, por mais médicos que se formem, sempre serão insuficientes para um povo escravo, que bebe água contaminada, que mora em cômodos onde não bate sol, e que se alimenta de frutas, verduras, legumes, sementes, encharcadas de agrotóxicos.

Não vejo avanços no setor de habitação. Os planos de habitação que martelam todos os dias em jornais, revistas e TV, não saem do papel pois são concebidos apenas para serem superfaturados pelas empreiteiras, enganar o povo e gerar votos no dia da eleição. A maior parte dos trabalhadores no Brasil é pobre demais para poder comprar uma casa, e rico demais para poder ter direito a um apartamento ou casa construído pelo governo para as classes menos favorecidas. Então ou vivem apertados na casa dos pais ou sofrem pagando aluguel.

Como pode ter avanços no trabalho se o salário mínimo no Brasil continua sendo um dos mais miseráveis do mundo? È necessário levar em conta também que tanto no interior do Brasil como nas grandes capitais não são raras as notícias sobre a exploração do trabalho escravo.

No que toca a infra-estruturas logísticas, energéticas, etc., elas são voltadas exclusivamente para atender as necessidades do sistema mercantil totalitário. Não há qualquer canal aberto à participação popular nessas discussões. Tratam rios, florestas, praias como se fosse tudo propriedade particular, para uso e usufruto do capital.

De 1964 até 1985, houve retrocesso, claro. Vivíamos debaixo de uma ditadura. Todo povo sofreu, mas a classe que mais sofreu foi o proletariado. Muitos artistas, políticos, militares e intelectuais que foram perseguidos ou exilados, hoje recebem gordas indenizações. Mas aqueles que resistiram nas favelas, cortiços e nas regiões distantes no interior do Brasil, nunca são nem mesmo lembrados.

De 1986 até maio de 2013 o povo brasileiro descobriu que ainda está debaixo de uma ditadura. A anterior declarada. A atual velada. O povo brasileiro descobriu que assim como os Generais da Ditadura nunca o consultava sobre o que fazer ou sobre como aplicar os recursos arrecadados com impostos, da mesma forma, os políticos “democraticamente eleitos” também não o consulta sobre o que fazer ou sobre como aplicar os recursos arrecadados com os impostos. O povo brasileiro -- e isso foi demonstrado ontem (11) na fracassada jornada promovida por partidos e centrais sindicais, onde pessoas pobres foram contratadas por R$50,00 para portar bandeiras partidárias e vestir camisetas sindicais na marcha – já não mais aceita representantes. O povo brasileiro quer a democracia direta. E está buscando meios para vê-la funcionar na prática.

Cómo se encuentran los diferentes grupos sociales concienciados y cuál es la fuerza de su unión y participación ante los problemas comunes del pueblo brasileño.

No início da década de 1980, diferentes grupos sociais organizados nas áreas de habitação, trabalho, saúde, abastecimento, democracia direta, transporte, educação, cultura, foram formados, inclusive no bojo da resistência à ditadura, mas não durou muito tempo para que tais grupos fossem aparelhados pelos sindicatos e partidos políticos e direcionados exclusivamente para fins eleitorais. Restaram pouquíssimas organizações políticas independentes que, embora conseguissem sustentar-se em guetos, não conseguiram alcançar as massas. Na medida do possível, mesmo com parcos recursos, não cansaram de denunciar a manipulação e o aparelhamento da luta por parte das forças conservadoras que diziam representar os trabalhadores.

Como persona que te dedicas a investigaciones, ¿qué se está haciendo bien en el sistema judicial brasileño, qué carencias o errores se cometen y cómo es su lucha contra los casos de corrupción?

Embora possua bacharelado em Administração, considero-me autodidata e repudio toda e qualquer especialização nas áreas do conhecimento. O sistema judicial brasileiro, que compõe o 3º Poder, consegue ser mais corrupto que o poder Legislativo e Executivo. E essa afirmação foi endossada por um jurista respeitado, que combateu esquadrões da morte em São Paulo, o Dr. Hélio Bicudo. Embora os tribunais trabalhistas tendam a favorecer os trabalhadores em suas demandas, ainda está longe de considerar-se isento e justo. Ultimamente surgiram juristas corajosos como Eliana Calmon no Superior Tribunal de Justiça e o Ministro do Supremo Tribunal Federal Joaquim Barbosa, denunciando “ladrões togados”. Mas ambos representam uma inexpressiva minoria em meio ao oceano de lama do Poder Judidiário.

Hace poco, podían ver los lectores del Rick´s Café y de las redes sociales un documental poco conocido sobre la represión a las manifestaciones pacíficas de ciudadanos para reivindicar que sus derechos sean respetados. Tres preguntas, la primera, ¿cómo han reaccionado las personas que participaron en esas manifestaciones pacíficas después de verse agredidas o coaccionadas?

Na cidade de São Paulo houveram 7 grandes atos pela revogação do aumento na tarifa de transportes. Só não participei do 1º e 2º ato. Foi um exemplo típico de que quando a causa é justa, a repressão provoca um efeito contrário. O número, ânimo e disposição de participantes se multiplica exponencialmente. As pessoas que participaram dessas manifestações pacíficas reagiram com indignação. Como não havia líderes a repressão tomou como principais alvos os jornalistas. Até então os jornais, rádio e TV ridicularizavam os manifestantes, mas quando viram seus fotógrafos, cinegrafistas e jornalistas brutalizados pela polícia militar, mudaram de lado e passaram a narrar o verdadeiro sentido das manifestações. No sétimo ato na Avenida Paulista (a Wall Street de São Paulo) a adesão da população foi praticamente total.

La segunda, ¿qué importancia está teniendo en la concienciación del resto del pueblo brasileño para que se vayan sumando a esa lucha para mejorar las condiciones de vida personales, intergeneracionales y colectivas?

A conscientização do resto do povo está ocorrendo pela progressiva participação direta. Pessoas que nunca antes haviam se somado voluntariamente a qualquer ato político aos poucos convencem a si mesmos que não haverá mudança se deixarem suas lutas nas mãos de sindicatos e de políticos profissionais.

La tercera, ¿qué repercusión estáis viendo que haya tenido a nivel internacional?

Fora as manchetes nos jornais em várias partes do mundo, vejo apatia e desinteresse por parte dos movimentos sociais, especialmente na Europa. Suspeito que há até uma certa antipatia por parte dos tradicionais grupos de esquerda, que se acostumaram a ver a si mesmos como líderes e não como iguais, quando se juntam às massas. A esquerda brasileira que aparelhou os sindicatos e que tomou o poder em Brasília e em quase metade dos municípios do Brasil, revelou-se tão corrupta quanto o centro e direita, com os quais fez profundas alianças, e passaram conjuntamente a apropriar-se de recursos bilionários e a ostentar luxos extraordinários, pensando que, órfão de líderes, o povo jamais sairia às ruas como aconteceu.

¿Qué visión se percibe en Brasil de fenómenos humanos, intergeneracionales y cívicos como el 15 M en España, o las reacciones de los pueblos en buena parte de Europa?

O Brasil acompanha atento, interessado, entusiasmado, cada lance das grandes movimentações populares desde o 15M na Espanha. Eu diria até que a Revolta do Vinagre no Brasil, guardadas as devidas proporções e diferenças, inspirou-se na Primavera Árabe, no 15M na Espanha, no Occupy Wall Street e no recente levante na Turquia.

Uno de los grandes recursos de Brasil es su naturaleza, su medio ambiente, siendo el Amazonas uma de sus maravillas. ¿Qué se está haciendo para preservarlo debido a las ya conocidas deforestaciones?

Como ocorre em todo o mundo, o Sistema Mercantil Totalitário tomou as rédeas no Brasil, e em nome do lucro fácil e rápido vem numa velocidade estonteante envenenando nossos rios, e derrubando nossas florestas. São tantas as denúncias e tantos os descalabros que ficaria extenso e extenuante descrevê-los aqui um a um. Deixo a vosso cargo estudar o trabalho impecável de Telma Monteiro sobre o tema.

quarta-feira, 3 de julho de 2013

Esporte: Espetáculo da Mentira

Esporte

O esporte é a segunda grande diversão, distrai, entretém, brilha intermitente, decepciona, ilude, enfim, é um truque social que atrai a atenção do povo no ocidente. Talvez os leitores pensem que técnica nada tem a ver com esporte. Estão errados. A técnica joga um duplo papel. Em primeiro lugar, no esporte, a técnica transforma sua prática pelo seu rigor. Em segundo, a técnica faz do esporte o espetáculo ideal da televisão e assim o transforma. Mencionaremos simplesmente o primeiro aspecto de passagem, pois seu estudo na sociedade tecnológica não é tão relevante aqui. Os esportistas profissionais estão quebrando constantemente recordes conforme as técnicas melhoram. Enquanto procuram continuamente por resultados melhores, as técnicas se transformam e suas exigências se estendem a todos os aspectos da vida (regimes, etc.). O resultado é profissionalismo. Mas a aplicação maior da técnica no esporte depende do discurso tecnológico. Se a competição fosse simplesmente uma brincadeira, um jogo (como é feito usualmente no esporte), e se fosse simplesmente uma questão individual (como no golfe), não haveria a aplicação de técnicas extremas. O discurso tecnológico transformou o esporte em um gigantesco espetáculo, em campeões fabricados, estrelas, e ídolos do estádio.

       A difusão maciça pela mídia e pelo poder da propaganda sobre as massas muda o esporte. O discurso tecnológico o transforma em uma questão nacional e global onde se faz pouco caso de suas regras áureas: honestidade, lealdade, jogo limpo.

       Para se ter uma idéia de como o público foi cativado pelo esporte basta apenas considerar o lugar de destaque que ocupa na mídia. Na televisão, em todos os canais, não há um dia sequer que não dedique vários minutos ao esporte. Os jornais permitem-lhe mais espaço. É impressionante como durante todo o ano algo sempre está acontecendo nos esportes a cada dia: futebol, basquete, tênis, fórmula I, onde aparece gente disputando, nadando, correndo, etc.. Cada dia o público tem que ter sua dose de emoção e de paixão. Os campeonatos e os jogos televisionados internacionais. As pesquisas mostram que 50 por cento de todos os televisores ficam ligados em jogos televisionados ao vivo. O que é equivalente a três grandes redes mostrando fa mesma coisa ao mesmo tempo. Na França o preço para o direito de transmissão em 1985 era 500.000 francos (aproximadamente $100.000) por tais jogos podem render anualmente até 3.500, 000. francos ($700.000).  

       Naturalmente, uma transmissão nesta escala é permeada de propaganda. Os sinais são colocados todos os ambientes. Os anúncios colocaram nos franceses uma paixão pelas marcas patrocinadoras das equipes, e as torcidas carregam as marcas das empresas. Estes logos custam milhões, e naturalmente, anunciar pesado no esporte proporciona cada vez mais retorno. Isso não seria possível se a televisão e o rádio não inculcasse constantemente o esporte na linha de frente de toda a transmissão francesa como algo indispensável.

       Alguns jornais provincianos devotam suas primeiras páginas aos eventos, ostentando-os com fotografias coloridas. O jogo do dia é mais importante do que um acordo internacional ou uma tentativa de assassinato. O jogo é a notícia mais importante. Como sempre, há uma ação recíproca, porque a mídia focaliza os eventos esportivos, o que resulta em que mais pessoas se interessem aumentando a demanda. A mídia pode então aumentar a quantidade, a intensidade e a exaltação dos esportes, porque promovem uma demanda pública.

       Mas o que acontece com o esporte assim tecnizado e tornado espetáculo? Primeiramente, temos uma transição ao profissionalismo total. O profissionalismo não é coisa nova, mas devido ao forte suporte financeiro torna-se exclusivo. O esporte foi inventado para ser uma brincadeira. As pessoas se envolveriam quando fora do trabalho. Pouco a pouco o profissionalismo ganhou terreno. Hoje o único esporte "verdadeiro" é o profissional. Temos assim um fenômeno duplamente notável. Por um lado os jogadores são comprados. O clube mais rico terá os melhores jogadores. A soma paga para comprá-los chega aos milhões. Muitos clubes entram em débito. Assim eles têm que levantar o dinheiro. Algumas cidades os subsidiam pesadamente devotando muito mais dinheiro a seus clubes do que à prevenção social ou à reabilitação de prisioneiros. Há anúncios constantes visando trazer mais espectadores. Torna-se necessário construir novos estádios e os recursos da cidade são novamente direcionados nesse sentido. O imposto pago por cidadãos que não se interessam por tais coisas é direcionado para pagar essas despesas malucas.

       Assim, aqueles que não são fortes nem capazes de praticar hábeis performances não são completamente normais. O profissionalismo torna o perfeccionismo técnico possível. Mas trás também algumas conseqüências sérias. Meninos de quatorze anos sem tais habilidades são treinados excessivamente até oito horas por dia, de modo que aos dezoito possam começar a jogar em público, mas sua carreira se encerra quando se aproxima dos trinta. Não saberão então fazer nada mais, não terão nenhuma outra habilidade, e não serão capazes de qualquer outra coisa. Durante cerca de dez anos de atividade esportiva eles poderão fazer uma fortuna que lhes permita viver sem trabalhar o resto de suas vidas. Tanto para os clubes como para os atletas, o esporte transformou-se em uma questão de dinheiro. Em nome do tecnicismo esportivo, e em nome daqueles que se entregam ao discurso tecnológico, o esporte, bem como os deuses do estádio, todos tornaram-se súditos do rei dinheiro. O socialismo é não melhor, porque está sob as mesmas pressões. Pode haver menos competição financeira entre clubes mas há uma competição mais burocrática!

       Outro efeito do mercantilismo profissional pode ser visto na composição das equipes.  Na Formula I, em escuderias como a Renault, Fiat, ou Porsche, as equipes podem ser compostas por pessoas de qualquer país: brasileiros, africanos, italianos, portugueses, etc.  Originalmente, o time de uma cidade era composto por gente dessa cidade, de tal forma que uma cidade realmente disputava contra outra.  Mas o que é que acontece hoje?  Simplesmente, o clube ganhador é aquele que contrata os melhores profissionais do mercado pagando mais por eles!

       Se no esporte vale tudo, então não haverá nenhuma hesitação em aplicar a mais extrema brutalidade. Em cada partida televisionada que eu vejo, fico cada vez mais impressionado pela brutalidade nas partidas.  Vemos isso até mesmo na natação!  Isso é mais patente, naturalmente, no boxe, que há muito deixou de ser uma arte para transformar-se em mero desencadear da violência. Vemos isso também no tênis. Ficamos espantados com a pancada da raquete. Parece ferreiros no trabalho. Não é por acaso que os campeões de tênis recebem nomes como "foguete" e "dinamite". Mas onde está o tênis do dia-a-dia com sua graça e leveza? Borotra, Lenglen, e Tilden não jogaram como açougueiros, brandindo suas raquetes como clavas. Essa brutalidade é ligada à violência da competição e também à transmissão para milhões de espectadores, porque a brutalidade é visualmente muito mais lucrativa. Não é por acaso que a brutalidade dos jogadores afeta o público, gerando milhares de fanáticos obsecados, que não são mais esportistas do que eu, mas que por causa das partidas que assistem, acabam finalmente, como vemos repetidas vezes na televisão, super excitados, violentos, e quebrando tudo pelo caminho. Eles simplesmente foram contaminados pelos deuses do estádio e pelo poder televisivo do espetáculo, em que eles próprios repentinamente se tornam os atores.
 
       Acredito que quanto maior a propagação do tecnicismo esportivo, mais quebra-quebra veremos nos estádios, apenas pelo fato de haver conflitos violentos entre grandes rivais, sejam lá quais forem suas cores. Os torcedores mostram-nos o resultado do total fascínio em suas manifestações.

       Em contraste com o que escrevi, é bom recordar a maneira como uma sociedade tradicional pôde integrar e controlar o mais violento de todos os esportes, a tourada. Uma luta entre o "bruto" e o homem, que poderia degenerar mais facilmente em bestialidade total. Mas isto não aconteceu. O jogo bárbaro foi ritualizado, de forma que a violência ocorre de forma precisa, onde a brutalidade é substituída por um elegante controle, e o comportamento coletivo é ajustado dentro de um tipo de ética comunal. O que era um massacre transformou-se numa arte nobre. Mas hoje vemos o oposto. Assim, a falha principal da técnica e do discurso tecnológico, que envolve a primazia do sucesso, está no fato de desencadear o fanatismo popular.

       O fato do esporte ser agora um espetáculo é patente em todos os níveis. Me vem na mente agora a ridícula gesticulação dos jogadores. Quando mudam o placar, por exemplo, ele caem de joelhos, invocam os céus com gestos exagerados, urram junto com os demais membros da equipe, abraçam e felicitam uns aos outros enquanto a multidão ruge. Aquilo torna-se mais importante que qualquer evento político. Mas gesticulam assim apenas porque há câmeras mostrando-os em milhões dos televisores. Ou seja, todos os jogadores sabem que trata-se de uma exibição, e se comportam de acordo com a absoluta necessidade de divertir o público. É o resultado do princípio: "joguem, joguem, do resto a gente cuida".

       Chamo a atenção para outras três conseqüências do discurso tecnológico. Primeiramente, a decepção dos esportes. Temos como um exemplo a celebração do que são chamados "Jogos Olímpicos". Mas os jogos olímpicos reais eram algo completamente diferente. Não eram apenas um evento espetacular; incluíam canto, teatro, leitura de poesia, etc.. Eram também uma ocasião em que as cidades gregas se congregavam, mesmo em tempos de guerra. Durante os jogos havia uma trégua, um cessar fogo, a unidade grega era restaurada, e eu suponho que as conversações diplomáticas aproveitavam da ocasião para resolver problemas. Mas nossos "Jogos Olímpicos" são o oposto disso. São uma ocasião para sanções contra países, para divisões, para expressões de conflito. Alguns países recusam ir ao país que sedia os jogos, e assim por diante. Este ou aquele país é excluído (por exemplo, Irã ou Coréia do Norte). Ou seja os jogos viram uma modalidade de combate. Transformam-se assim em uma grande demonstração da tremenda transformação que o esporte sofreu devido à tecnologização da sociedade (não a sua politização, porque nunca o mundo foi tão político quanto o mundo grego). Os adversários devem ser esmagados a todo o custo. Esta é a cruel e corrupta lei da técnica e agora também do esporte, esse esporte tornou-se parte da trágica mística do público expectador e que é exaltado por toda a mídia, que cobre figurões esportistas com honras antes reservadas a generais, e glória nunca antes vista, de modo que os jogos claramente não são mais vistos como jogos mas como competições mortais, encontro cruéis, uma verdadeira batalha maniqueísta. Nossos Jogos Olímpicos hoje, portanto, não são jogos olímpicos reais de paz e de diálogo mas jogos de feroz rivalidade. Esta é a lei da técnica e também do esporte moderno. O discurso tecnológico exalta o poder do esporte, que é o poder de um país como um todo. O esporte é tão importante que o presidente de França tem que adiar um discurso para permitir que os cidadãos prestem atenção ao campeonato europeu na tela da televisão!

       Um segundo efeito é que a importância do esporte é tão dominante que um evento esportivo é transmitido quando não há nada para exibir na programação diária. Não há um único dia em que o público passe sem shows e espetáculos. Monstruosidades são criadas, como o rally de Paris a Dacar, por exemplo, um desperdício absurdo e um insulto a países onde a fome é abundante, exibindo o poder ocidental diante da pobreza do terceiro mundo, um exemplo de completa vaidade. Não me entenda mal; Eu não estou contestando a coragem, a resistência, a habilidade, ou a energia dos participantes. O que eu destaco é que em um mundo em que a coragem, a inteligência e a resistência podem ser mostradas em milhares de maneiras adequadas, é totalmente absurdo e mesmo odioso desperdiçar tais qualidades em coisas assim tão imbecis. Por que estes desbravadores tão cheios de energia não trabalharam em prol do terceiro mundo, transportando necessárias provisões ao coração de África em rotas tão difíceis quanto as de Dacar? Por que não navegam em navios do Greenpeace? Ano passado um repórter de televisão que cobria o rally com a missão importante de emitir imagens para milhões de telespectadores foi morto em um helicóptero tornando-se assim o foco das atenções com um enfoque heroico. A única coisa sadia foi dita por Cavanna sob o título: "morreu como um idiota para o Paris-Dacar".

       Finalmente, um bom artigo sobre a corrida de barcos de Rhum publicado no periódico Réforme destaca como o público mobilizado para este evento (500.060 assistiram à abertura em St. Malo). O texto chamava a atenção ao fato de que este esporte é realmente uma proeza no campo da publicidade com os patrocinadores arcando com as despesas dos barcos, e com uma enorme pesquisa técnica para melhorar seu desempenho (como no caso dos carros da fórmula I, um típico desperdício por parte de uma sociedade com pesados distúrbios econômicos), e a técnica que ocupa um lugar proeminente na corrida com satélites e computadores é usada para certificar-se de que todos os telespectadores não deixem de acompanhar o mais ligeiro incidente. Este é um bom exemplo de sublimes meios usados para alcançar ridículos resultados, o esporte é uma brincadeira sem nenhuma particular importância fora de seu contexto. Mas porque este artigo excelente recebeu o título: "tecnologia a serviço da fantasia"? Vale a pena analisar este título. A "tecnologia" não está a serviço de tudo. Dominou, despertou e impôs sua própria fantasia. Neste ponto estamos com Castoriadis (L'Institution imaginaire de la société). Na medida quem que a fantasia se isntitucionaliza, ela hipnotiza, fascina, diverte, e vicia através do espetáculo, esvaziando todo o significado que lhe é próprio, roubando sua finalidade, desprovendo seu valor, não criando nada, sendo algo puramente passivo, alimentado como mercadoria, e a sociedade como um todo não obtêm outro resultado a não ser a poeira e a fumaça que se dispersa tão rapidamente quanto a imagem emocionante mas insignificante do esporte. Enfim, é de pouca importância o fato de que o esporte se transformou em um instrumento do grande capital. "Necessitamos expor e denunciar a mitologia mistificadora do esporte, que, para o benefício de grandes investidores se transformou em um travesti das brincadeiras de circo".

       Carece também de grande importância o fato do esporte ser controlado pelo estado, cimentado pela ideologia da classe média, e governado por relações de produção, vocacionado como sub estrutura capitalista. Esta crítica cheirando a dogmatismo esquerdista, embora tenha o mérito de destruir o papo idealistico e humanístico sobre os virtudes do esporte, comete o erro de confiar em análises da sociedade de 1900. Os grandes investidores de hoje, que têm certamente uma influência decisiva, não são mais tão radicais quanto à técnica, o mesmo ocorreu nos falecidos países socialistas. O fator dominante no esporte é agora o discurso tecnológico, a droga indispensável da mídia ocidental, o esporte tornou-se meramente uma ferramenta de ganhar mais dinheiro. E o esporte tem que curvar-se às necessidades deste discurso, tem que submeter-se aos imperativos dos grandes investidores, que lucram por ele, o mesmo ocorreu nos falecidos estados socialistas!

Traduzido e adaptado do livro “Le bluff technologique” de Jacques Ellul,

www.oocities.com/projetoperiferia

terça-feira, 2 de julho de 2013

A Cusparada de Rui Falcão


Algumas ponderações sobre as palavras de Henrique Canary: “[Anarquistas] cumpriam um papel verdadeiramente vergonhoso” e “tentam proibir, inclusive por meio da força física, que os militantes dos partidos políticos exerçam uma liberdade elementar.”. E de Valério Arcary, em Estratégia e Análise: “Não deixem abaixar as bandeiras vermelhas”

Não quero aqui entrar no mérito de disputas ideológicas, disputas essas que em muito se aproximam das disputas entre torcidas organizadas.

No que diz respeito a torcer por um time, acho mais saudável e interessante brincar, jogar futebol, uma atividade comum entre muitos de nós, especialmente os da periferia, no tempo em que ainda haviam terrenos baldios, e ruas de terra sem carros, onde podíamos fincar estacas, arrumar uma bola, e escolher dois times um a um dos melhores para os piores, de forma que ninguém ficasse de fora.

No que diz respeito a disputas político-ideológicas, acho mais saudável e interessante ficar fora de toda essa discussão, acho mais profícuo e produtivo avançar na luta real e concreta do dia a dia, na luta nossa cotidiana contra governantes municipais, estaduais e federais que, apesar de só no ano passado sugarem dos trabalhadores -- é do nosso bolso que sai esse dinheiro -- R$1,56 trilhão em impostos municipais, estaduais e federais, raramente vemos qualquer mudança naquilo que afeta às nossas necessidades mais básicas: moradia, locomoção, educação, alimentação, requisitos estruturais para uma boa saúde.

Venho atendendo há anos as chamadas contra o aumento das tarifas nos transportes em São Paulo, lembro quando Kassab tomou posse e tempos depois anunciou aumento nas tarifas de ônibus. Lembro da enorme quantidade de policiais, e lembro também de uma tirada dos manifestantes em coro dizendo aos policiais que “aumento de passagem é problema social”, não caso de polícia. E se fosse caso de polícia o criminoso seria o prefeito que não fez seu trabalho, não o povo de onde saem os recursos.

Este ano, o prefeito mudou, tomou posse o prefeito da bandeira vermelha, bandeira que aliou-se a Maluf e outras repugnâncias. E veio o anúncio da nova tarifa, e novamente saímos às ruas, fiquei sabendo já na 3ª marcha, e atendemos, fazendo questão de carregar, junto com mais 6 ou 7 jovens, a bonita e enorme faixa pela tarifa zero, debaixo de chuva, enquanto ela esteve estendida.



E veio a 4ª marcha, e veio a 5ª marcha, todas crescendo em número e entusiasmo, apesar da também crescente violência policial. Nesses anos todos nessas marchas pela tarifa zero vi rostos de deboche, que me fizeram lembrar das palavras de Mahatma Gandhi,  “Primeiro eles te ignoram, depois riem de você, depois te brutalizam, e então você vence....”

É importante ressaltar que em nenhuma dessas marchas via-se bandeiras de partidos políticos. E isso era absolutamente natural. Seria surreal se na marcha contra o aumento de tarifas nos transportes, quando Kassab elevou o valor das passagens, encontrar ali uma bandeira do partido do Prefeito. Ao senso comum isso beiraria as raias da loucura. Não foi o prefeito apenas que elevou a tarifa, foram também aqueles que o alçaram ao poder, essas pessoas podem até não gostar, mas não podem se desvencilhar da responsabilidade de tê-lo eleito!

A sexta marcha seria a marcha da vitória na batalha, não na guerra. A vitória na guerra seria a tarifa zero, e essa tarifa zero poderia ser alcançada se a tática da ausência de bandeiras partidárias tivesse continuidade. Eu disse tática, não estratégia, nem entrave ideológico! A notícia da tarifa zero nos transportes na cidade de São Paulo, certamente se espalharia como fogo em palha seca por todos os municípios do país. Afinal, dos trabalhadores brasileiros só em 2012 foi sacada a quantia monumental de R$1,56 trilhão! Impossível que uma verba de tal monta não possa atender a um dos direitos constitucionais básicos da população!

Ver a bandeira do partido do prefeito sendo empunhada na marcha de comemoração, após uma sucessão de 5 marchas contra o aumento de tarifa anunciada pelo prefeito cujo partido a marcha -- pela lógica dos posicionamentos opostos -- hostilizava, evidentemente causava estupor e indignação. O que veio depois foi consequência, a causa foi a ausência de discernimento, de qualquer sinal de seriedade ou caráter, deste reaça Rui Falcão que contrapôs seu imundo pedaço de pano eleitoral à uma luta vitoriosa, se bem que ainda parcial, por conquista de direitos.

O gesto oportunista e tresloucado desse "falcão" virado em galinha cega, foi uma cusparada não só nos manifestantes que debaixo de chuva, frio, bombas e balas de borracha enfrentaram prisão e violência policial, mas também nos trabalhadores e estudantes de São Paulo como um todo. O povo nas ruas já começou a dar uma resposta a este sujeito e aos que o apoiam. A cidade não mais pertencerá a megacorporações e seus serviçais: polícia, políticos, governos, mas ao povo consciente e lutador, o legítimo soberano e dono de tudo. Não esqueceremos! Voltaremos fortalecidos! Nos aguarde!

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Clique e veja video do catracaço, CPTM Morumbi, São Paulo, junho de 2013

A POLÍTICA ANTIDEMOCRÁTICA DOS POLÍTICOS PROFISSIONAIS E DAS CENTRAIS SINDICAIS

Se política é participação, antipolítica é a negação dessa participação. Desse panorama podemos ver partidos políticos e centrais sindicais oficiais como antidemocráticos e antipoliticos, pelo monopólio da participação.

Eles aparecem em redes de TV fazendo discurso e propaganda das idéias deles, às vezes diametralmente opostas à vontade popular, fazem discursos que nem de longe contemplam os desejos e aspirações de 230 milhões de brasileiros, que também querem expor seus pontos de vista, mas que nunca tiveram canais para isso.

A única opção que os políticos profissionais oferecem ao povo é votar em nomes escolhidos por lobbyes formados por megacorporações onde o interesse particular sufoca o interesse público. Sindicatos apenas rifam mão-de-obra e usam trabalhador como trampolim para eleger seus chefes.

O grande recado da Revolta do Vinagre, que desencadeou a Primavera Brasileira que se espalha por todo o país, é: o povo despertou, disse basta! E quer voz e vez. Quer decidir sem intermediários o destino dos impostos que paga, se é que tem mesmo que pagá-los.

Na Islandia a internet deu os meios para a horizontabilização da política. Qualquer pessoa pode expressar-se, discutir idéias de seu interesse, decidir, e colocá-las em prática no âmbito da administração da sociedade, quebrando de vez com o monopólio, com a política antipolitica dos políticos profissionais, e com a peleguice e intermediação dos sindicatos.