quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

A Caldeira de Hamburgo em São Paulo

Desde sábado passado repercutem pelas redes sociais vídeos e fotos mostrando a Polícia Militar de São Paulo aplicando a tática alemã Hamburger Kessel ("caldeira de Hamburgo"), usada em 1986 pela polícia daquela cidade. Naquela ocasião, o batalhão formou uma corrente humana, encurralando mais de 800 manifestantes por cerca de 13 horas, impedindo-os em seus direitos básicos, constitucionais, humanos e até mesmo fisiológicos. Não podiam nem mesmo comer, beber, urinar. Uma Zona de Exceção, um campo de concentração instalado provisoriamente bem no meio da cidade, aos olhos de todos.

O Tribunal Administrativo de Hamburgo julgou aquela ação ilegal considerando o direito constitucionalmente garantido. Ao fim do processo, os policiais responsáveis ​​pela operação tiveram que cumprir uma pena imposta pelos juízes. O Tribunal Distrital, anos mais tarde, obrigou o Estado a pagar uma compensação a cada um dos manifestantes vítimas do abuso policial.


(Fotos: a primeira é em Hamburgo 1986 e, a segunda, em São Paulo 2014)

Além de brutal, a cúpula da PM de São Paulo tornou-se também estúpida. Ao divulgar vídeos onde policiais aparecem replicando essa técnica de repressão ditatorial na Segunda Manifestação Contra a Copa, ocorrida no Município de São Paulo em 22 de fevereiro de 2014, o Estado cria provas contra si mesmo. Ações policiais como essa, ilegais, amorais, ditatoriais, importadas de Hamburgo ou seja lá de onde for, são condenáveis e inadmissíveis em regimes democráticos, dado que a Constituição Federal Brasileira garante o direito à reunião e livre manifestação. A PM de São Paulo adotou um procedimento fascista e repugnante.

Mesmo com todas as indenizações que o Estado foi obrigado a pagar aos manifestantes na Alemanha, nova tentativa de uso do kettling ocorreu na Baixa Saxônia (em Hitzacker, 2002), ação igualmente considerada ilegal pelo Judiciário.


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segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

JÉRÔME GO HOME

JÉRÔME GO HOME!

Sábado passado, fui mais um que marcou presença no 2º Ato Contra a Copa. Revi alguns manifestantes de outras jornadas, muitos deles nem sei o nome, cumprimentamo-nos. Foi com alegria e ânimo que a marcha subiu a Avenida Ipiranga. Nada ocorreu de extraordinário até a marcha ser brutalmente atacada por PMs ensandecidos, vide vídeo, na Rua Xavier de Toledo, no Centro.

Desde a Praça da República, eu exibia uma cartolina amarela escrita "JÉRÔME, GO HOME". Foi quando ao chegar em frente à entrada do Metrô Anhangabaú, sem qualquer motivo, policiais começaram a gritar ordens, enquanto nos derrubavam com escudos e nos batiam com cassetetes. O ataque foi tão repentino e violento que em um segundo lançou vários jovens ao chão. Tentei equilibrar-me mas acabei caindo com os pés prensados. Um manifestante que caiu sobre minhas pernas, perguntou-me se eu estava bem. Respondi que não. Ele movimentou-se e pude ficar em pé.

Nesse momento veio à minha mente o preceito de Henry David Thoreau de desobediência civil, uma forma de protesto político não violento, que se opõe a alguma ordem que possui um comportamento de injustiça ou contra um governo visto como opressor pelos desobedientes.

Não me pareceu correto obedecer a ordem "SENTA PORRA! SENTA CARALHO" vinda dos PMs.

Primeiramente, exercíamos ali o direito pétreo (artigo 5, inc. XVI da Constituição Federal de 88) de todo brasileiro de manifestar livremente opiniões, ideias e pensamentos, conceito basilar nas democracias modernas. Em segundo lugar, se havia criminosos ali, não eram os manifestantes, mas aqueles que os impediam de exercer seu legítimo direito de protestar.

Levantei-me, ignorei as ordens dos PMs e olhei ao redor. Vi que os círculos compostos pelos PMs fechavam uma grade humana em torno dos manifestantes.. Mas percebi um vão ao lado de uma PM. Gesticulei que iria sair por ali. Enquanto ia naquela direção, alguns participantes do ato, sentados no chão, pediam para que me deixassem sair, certamente pelos meus 62 anos.

Embora mulher, a PM avantajada, que parecia uma porta, olhou para mim com raiva e gritou: SENTA! SENTA! Lembrei-lhe meu direito de ir e vir, previsto na lei. E que ela, ao me impedir a passagem, estava cometendo um crime. Esse momento foi registrado nesse vídeo. Sou aquele de camiseta preta listrada e boina preta, que aparece em pé falando com a policial, na segunda metade do vídeo.

Bola de cristal? Não! De couro

O Pico da repressão em 22 de fevereiro em São Paulo, no AI-5 da "Democracia", superou o ponto mais alto da brutalidade a noite de 13 de junho, quando, em São Paulo, os manifestantes foram cercados pela tropa de choque da Polícia Militar, que tentou dispersar o protesto e impedir que chegasse à Avenida Paulista atirando bombas de efeito moral, spray de pimenta e balas de borracha contra 22 mil pessoas que seguiam o caminho entoando o coro “Sem violência!”. Muitas pessoas foram detidas por estarem portando tintas, camisetas de partidos ou movimentos sociais e, principalmente, pelo porte de vinagre - substância utilizada para atenuar os efeitos do gás lacrimogêneo.

O que pode-se deduzir disso? No terceiro ato contra a Copa do Mundo marcado para o dia 13 de março, às 18h, no Largo da Batata, zona oeste de São Paulo, a população de São Paulo e arredores tende a dar uma resposta que poderá superar em grau, gênero e número as jornadas de junho.

Nestes tempos de internet, governantes, aparelhos de repressão e mídia mainstream não conseguem mais esconder a verdade como sempre fizeram.